Os Ônus e os Bônus.
“É incrível como este indivíduo bruto, sem nenhuma cultura, ao analisar o mundo dos negócios, transita pela floresta com a facilidade de um elefante , levando no peito todos os obstáculos - pensava o Príncipe ouvindo o discurso de Calogero”, no texto do IL Gattopardo de Tomasi de Lampedusa.
O Príncipe Salinas , homem culto, membro da nobreza tradicional da Sicília, consciente da decadência econômica do seu império, se surpreende com a competência do futuro sogro de sua filha.
O Príncipe não é uma exceção ao se surpreender que a sua cultura, nobreza e refinamento intelectual não o habilitavam a ser mais bem sucedido na administração dos seus negócios do que um burguês vulgar, sem nenhuma das suas qualificações.
A exceção notável foi ter identificado as peculiaridades exigidas para as diferentes tarefas. Ele, um intelectual ( book smart ) , está para o mundo dos livros, e o seu interlocutor, um burguês, homem de senso comum ( street smart )para o das coisas práticas, materiais.
A regra é que os intelectuais, não atentos as habilidades adequadas à cada atividade, tem dificuldade em aceitar que o seu conhecimento não receba do mercado prêmio material superior ao dos burgueses.
Como pode um semi-analfabeto, dono de uma banca de feira, ter remuneração superior às suas? Esta desigualdade lhes é desconfortável. E buscam justificativas nas “falhas do mercado”, que entendem ser um vício da economia de mercado a ser corrigida pela virtude da economia de comando socialista.
Não entendem por ignorar que o sucesso empresarial exige outro tipo de talento, como: alerta às oportunidades, disposição ao risco, aceitação das frustrações, tenacidade, ambição e boa dose de sorte. Uma dosagem para matar leão! Tanto que poucos tentam e perseveram, mesmo com a expectativa de prêmio compensador. É um bilhete de loteria, onde poucos são premiados, mas qualquer um pode tentar.
É grande a probabilidade de que Calogero tenha sido o único empreendedor a ser reconhecido por um intelectual pelo seu espírito realizador - a despeito de diplomas e leituras. E aceito, não como uma aberração de mercado, uma injustiça social, mas como alguém com sensibilidade, autoestima e energia para tornar um sonho em realidade.
Nestas diferenças estão os ônus e bônus de cada um. Aos intelectuais os títulos honoríficos, os diplomas e o prestígio; e aos burgueses os bônus materiais.
Cada um com a sua escolha!
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