quarta-feira, 24 de julho de 2019


Os Ônus e os Bônus.

“É incrível como este indivíduo bruto, sem nenhuma cultura, ao analisar o mundo dos negócios,  transita pela floresta com a facilidade de um elefante , levando no peito todos os obstáculos - pensava o Príncipe ouvindo o discurso de Calogero”,  no texto do  IL  Gattopardo de Tomasi de Lampedusa.

O Príncipe Salinas , homem culto, membro da nobreza tradicional da Sicília, consciente da decadência econômica do seu império, se surpreende com a competência do futuro sogro de sua filha.

O Príncipe  não é uma  exceção ao se  surpreender    que a sua cultura, nobreza e refinamento intelectual  não o habilitavam a ser  mais bem sucedido na administração dos seus negócios do que um burguês vulgar, sem nenhuma das suas qualificações.

A exceção notável foi ter identificado  as peculiaridades   exigidas para as  diferentes tarefas. Ele, um intelectual ( book smart ) , está  para o mundo dos livros, e o seu interlocutor,   um burguês, homem de senso comum ( street smart )para o das coisas práticas, materiais.

A regra é que os intelectuais,  não atentos as habilidades adequadas à  cada atividade,  tem  dificuldade em  aceitar  que o seu conhecimento não receba do mercado prêmio material superior ao dos burgueses. 

Como pode um semi-analfabeto, dono de uma banca de feira, ter remuneração superior às suas? Esta  desigualdade  lhes é desconfortável. E buscam justificativas nas “falhas do mercado”, que entendem ser  um vício da economia de mercado a  ser corrigida pela virtude da economia de comando socialista. 

Não entendem por ignorar  que o sucesso empresarial exige outro tipo de talento, como: alerta às oportunidades, disposição ao risco, aceitação das frustrações, tenacidade, ambição e boa dose de sorte. Uma dosagem para matar leão! Tanto que poucos tentam e  perseveram, mesmo com a expectativa de  prêmio  compensador. É um bilhete de loteria, onde  poucos são premiados, mas qualquer um pode tentar.

É grande a probabilidade de que Calogero tenha sido o único empreendedor a ser   reconhecido por um intelectual  pelo seu espírito realizador -  a despeito de diplomas e leituras. E  aceito, não como uma aberração de mercado, uma injustiça social, mas como alguém com sensibilidade, autoestima e energia para tornar um sonho  em realidade.

Nestas diferenças estão  os ônus e bônus de cada um. Aos intelectuais os títulos honoríficos, os diplomas e o prestígio; e aos burgueses os bônus materiais. 

Cada um com a sua escolha!


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