segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

 Livro grátis para quem gosta de poemas.

Para receber , sem ônus, um exemplar do Aforismos Irreverentes e outros poemas, por favor, enviei o seu endereço postal ao e-mail jwsjbr@gmail.com 

É uma pequena seleção de poemas que dediquei  a todos os homens e mulheres que, por qualquer forma, sob qualquer circunstância, em qualquer tempo, foram tolhidos no Divino Direito de ser felizes à sua maneira.

Jorge





quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

 As raposas e as galinhas.



Na época em que os animais falavam, em um momento crítico, os galináceos estavam muito assustados. Não era para menos. Todas as noites o galinheiro era acordado com os gritos de pavor dos que estavam sendo devorados por enormes raposas. Estas eram insaciáveis. Comiam as vitimas com penas e tudo. Até o cacarejo era abafado, pois os que mais gritavam eram os primeiros  a ser devorados. Nada saciava a gula das raposas. 



Cansados das noites mal dormidas e de tanto tremer de medo, as aves fizeram uma reunião para discutir o problema e as possíveis  soluções. Todas compareceram. A gravidade da situação provocou uma mobilização geral. Uma galinha gorda, idosa, de penas brancas, líder do movimento, tomou a palavra. Ela relatou os acontecimentos e enumerou as causas que as vitimava: o confinamento entre as telas de arame que as impedia de fugir; e  a impotência frente a um inimigo poderoso, que tinha as chaves do portão e que agia sem restrições. Após  o dito,  deu a palavra aos demais.


Um jovem carijó, recém formado em sociologia na Unicamp, conhecido pelo seu idealismo, com a autoridade que todos os bens intencionados tem, tomou a palavra:

  • meus camaradas, o problema tem solução. Não há razão para o pânico. Todo o nosso desafio se limita à “vontade política”. Vamos nomear uma comissão para negociar novos termos de convivência com as raposas. Uma assembleia geral será formada e voltaremos a viver tranquilamente sob uma nova lei e ordem. 


O galinheiro entusiasmou-se com o discurso e em peso, exceto um velho galo, aprovou a ideia. A comissão foi formada e uma reunião agendada. No dia marcado, o jovem carijó, tomando a liderançapropôs às raposas  um pacto que civilizasse as relações conflituosas das partes,  e ofereceu de  saída: diariamente, colocar  algumas galinhas no portão de  entrada como um quinhão para comprar a paz . Mas, como contrapartida, as raposas não mais teriam  as chaves do galinheiro. E ponderava: com  isto poderemos  dormir tranquilos  e as raposas terão a sua ração diária sem precisar gastar energia para subjugar as vítimas. 


A surpresa foi geral quando as raposas caíram em gargalhadas, seguida  da decepção com a resposta:


  • Se podemos  ter tudo  porque faríamos essa concessão? Só um sonhador poderia imaginar que nós   iríamos aceitar limites ao nosso apetite. Aliás, a partir de amanhã, coloquem as galinhas no portão, que, após  matar a fome,  entraremos para nos divertir. A caçada tem um aspecto lúdico que a oferenda não tem. 



A comissão retornou ao galinheiro, cabisbaixa, sem saber o que dizer para atender aos  curiosos  que se acotovelavam para ouvir as boas notícias. A frustração foi geral ao saber do mau resultado. O murmúrio foi também: 

  • Ah!..Oh!.. Naaão...! Só nos faltava essa!!! E em uníssono: O que fazer agora!? O  velho galo, de esporas quebradas de tanto lutar pelas frangas novas, que não foi ouvido quando alertou  para o irrealismo  da proposta do jovem carijó, tomou a palavra:



  • Companheiros e companheiras, a sabedoria aconselha a aprender com as bem sucedidas  experiências alheias.  Nada de inventar a roda! Os humanos, que não são melhor dotados intelectualmente do que nós, enfrentaram situação semelhante. Alguns tiveram êxito. Os bem sucedidos foram os que reduziram o número de raposas. Os insucessos ficaram com os que acreditaram ser possível reduzir-lhes o apetite. Se nós  temos o  fazendeiro que, para  ser rico,  nos quer  saudáveis, gordas e boas poedeiras por muitos anos, os humanos  têm o Estado que, para ser forte, quer todos prósperos para pagar os investimentos e as despesas da governança. Nós, como eles, sofremos com  as nossas insaciáveis raposas. Lá elas só  foram contidas quando perderam a chave do galinheiro. É o que temos de conseguir!


O jovem carijó, com o amor próprio ferido, não se conteve: é tudo muito bonito, mas como os humanos conseguiram reduzir o tamanho do governo para conter as raposas, se são elas que fazem as leis?


O velho galo, com a fleuma própria da idade, sinalizando  concordância:  realmente é um senhor desafio! Os ansiosos, acreditaram  que apoiando-se nas pessoas, mudariam  as regras da governança e tudo estaria bem encaminhado. Estes, sem exceção, fracassaram.  Os que conseguiram a solução foram os que pensaram a longo prazo. Os bem sucedidos foram os que  trabalharam para que a opinião pública exigisse dos governantes a redução das raposas organizando o Estado sobre um governo mínimo. Não serão os políticos que reduzirão o tamanho do governo, a menos que exista  uma forte pressão da  opinião pública. Um galinheiro só será aquilo em que acreditam os seus galináceos. 

 


São Paulo, dezembro de 2020.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

 Machiavelli, se vivo fosse.


Machiavelli seria aprendiz de cientista político,  se vivo fosse. O jogo do poder, tema do O Príncipe, era mais aberto e declarado do que acontece no mundo atual. Os Medici em Florença e  os Bórgias no Vaticano não escondiam o uso do veneno, dos punhais e do  estrangulamento como instrumento político. Todos sabiam que todos tinham o assassinato, o calabouço e a prevaricação como métodos de alcançar ou manter o poder. Lucrécia Bórgia usava e abusava do sexo e dos venenos para atender aos interesses do Papa Alexandro Vl, seu pai. Todos traiam a todos sem cerimônias. Hoje, ainda que o risco de vida seja menor, mas não eliminado, no jogo do poder,  a dupla face acentuou-se. A falsidade não passa desapercebida aos espectadores atentos, os que leem nas entrelinhas ou fazem parte da trama. Naqueles tempos não havia as frituras , matava-se e ponto. Hoje, com a população informada em tempo real e a vida humana menos desvalorizada, os detentores do poder obrigam-se a uma nova liturgia para tirar da frente os obstáculos aos seus projetos. Mudaram os métodos, mas o escrúpulo é o mesmo - nenhum!


Trump, O “Príncipe” do mais poderoso  império de toda a história da humanidade, mente seguidamente,  sem cerimônias:distorce a verdade com versões incríveis; usa e abusa dos amigos e aliados, que joga na lata dos descartáveis; ignora todos os acordos internacionais como as crianças fazem quando estão cansadas nas brincadeiras; elege  a China como inimigo, mas afaga como amigo Xi, o Presidente chinês... Tudo o que interfere no seu interesse pessoal, na opinião dele, é  condenável e assim deve ser visto pela opinião pública. Como as narrativas dos príncipes são filtradas, nem sempre pode-se depreender das entrelinhas o leit motif das suas decisões. Os nossos príncipes, não fazem feio nessa competição mundial de falta de caráter, fazem coro à defesa de:

  • um governo inchado de empresas ineficientes como instrumento de melhor servir o interesse coletivo, mas na verdade as querem como instrumentos do seu jogo político;
  • uma máquina burocrática, cara e inoperante, à pretexto de  controlar  à ganância dos cidadãos ;
  •  leis e artigos restringindo a liberdade de escolher do cidadão, que precisa ser protegido por ser inepto. Justamente esse cidadão que é capaz de sobreviver administrando um salário mínimo, quando seu lúcido protetor declara não poder viver com muitos múltiplos deste salário. 


 Machiavelli, se vivo fosse, como aprendiz  da ciência política moderna, em vez de pensar nos príncipes , escreveria um manual para ensinar o homem comum, como defender-se dos governos e da sua burocracia, que só cuidam  das eleições e  de achacar o povo com as exóticas  tomadas de três pontos , caixa de socorro nos carros, quarentena irracional, taxas, multas e radares unicamente para arrecadar para a farra salarial da burocracia.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

 


 

 

 

 

 

 

 

O cartesianismo.

 

 

Na Introdução de seu Discurso sobre o Método, publicado em 1637, Descartes impressiona quase tanto quanto no conteúdo. Nela, o autor comenta que se surpreendia ao ter melhores resultados acadêmicos do que colegas reconhecidamente mais inteligentes. Analisando o processo, identificou como causa o fato de ter intuitivamente adotado um método de análise dos problemas que lhe dava vantagens sobre os demais. O Discurso sobre o Método, ou método cartesiano, foi resultado desta observação. Baseava-se no ceticismo de nada aceitar como verdade sem questionar e submeter os problemas a um método    de avaliação básicas *.

 

O método cartesiano provocou uma revolução na Filosofia pelo estímulo aos questionamentos e à experimentação.  Mas, decorridos 383 anos da sua divulgação, ele ainda é ignorado nas práticas da vida por pessoas reconhecidamente bem equipadas intelectualmente. Há um certo empirismo, um comodismo mental que induz a não pensar diferentemente do tradicional. Passa-se por cima dos desafios e aceitam-se as propostas como verdades absolutas sem questioná-las. Com isto, despreza-se a premissa básica do cartesianismo com prejuízo dos resultados; o pensamento original é rejeitado em princípio. Não se ousa pensar fora das ideias que fujam do senso comum e desconsidera-se quem o faz.

 

A análise de um caso prático pode ser mais didática do que explorar abstrações teóricas. Assim vejamos, tomando como exemplo o trânsito de uma cidade caótica como São Paulo, que tem como desafio conseguir a melhor equação entre o fluxo dos veículos e a redução dos acidentes. As medidas adotadas são influenciadas pelos resultados conhecidos e pelo mimetismo. Como os acidentes calam mais na opinião pública, coloca-se em segundo plano o fluxo de veículos, cujos malefícios (perdas de tempo no trânsito, desgaste material, aumento dos custos do trabalho, rebaixamento das condições de vida...) não são quantificados. As velocidades vão sendo reduzidas a cada piora no resultado de acidentes. Evidentemente, com o aumento do número de veículos em circulação, os acidentes aumentam e os limites da velocidade são diminuídos até que, por ironia, alguém sugira proibir de vez o uso dos veículos*. 

 

Enquanto o Metrô não chega, outras medidas poderiam ser tomadas tendo em conta o princípio do questionamento e da experimentacao. Nesta linha,uma ideia, não conservadora, seria mudar de perspectiva  e tentar fazer o contrário: liberar a velocidade nas vias de ligação bairro/centro (23 de Maio, Marginais...) para aumentar o fluxo e aproveitar os momentos de baixo trânsito. Certamente os motoristas dariam preferência por estas vias, liberando as vias secundárias e assim melhorando o escoamento do trânsito na cidade** Cuidar-se-ia da Segurança, dando alternativas aos pedestres e orientação de prevenção. Em vez de proibir, orientar... e dar liberdade a cada um decidir o que entende como o mais adequado. Ninguém cuida de mim melhor do que eu mesmo!  Não faz sentido manter a cidade travada para tutelar cidadãos suicidas, à semelhança de proibir a venda de armas para reduzir os homicídios. O mal está no uso e não no instrumento, como o senso comum sabe.

 

descobrir quais são as conclusões possíveis e nunca aceitar nada como verdadeiro à primeira vista; fazer vários experimentos e dividir o problema em quantas partes for possível; analisar os resultados e pensar de forma ordenada; pegar as conclusões ( que devem estar de acordo com o passo 1 ) e, se possível, mixá-las para chegar a apenas 1 conclusão através da lógica, prestando atenção nos detalhes.

 

**Não só a ignorância de um método decisório é  a responsável por práticas irracionais, mas também falam alto a perda de arrecadação dos radares, que é a menina dos olhos dos governantes e das  empresas que exploram o serviço, que usam a prevenção de acidentes como pretexto.

 

***A Alemanha tem as autobahns, sem limite de velocidade há décadas, uma experiência válida sob todos os aspectos, inclusive de segurança.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

 

Vai Faltar Areia No Saara!


Há inúmeras , felizmente cada vez menos, pessoas que esperam do governo a criação de riqueza. As experiências fracassadas ( sem excessão) mataram as ilusões do governo ser bom gestor de qualquer atividade econômica. O mito do rei Midas, que tinha o poder de  transformar  em ouro tudo o que tocava, não tem nada a ver com os governantes. A não ser no poder de destruir, desorganizar, desvalorizar tudo o que lhes cai na mão. A diferença de Midas e dos governos intervencionistas, está que Midas transformava lixo em ouro e os governos conseguem fazer o contrário. O poder de Midas voltou-se contra ele, o dos governantes, contra nós. Eles não foram aquinhoados com o  poder de fazer riquezas, mas de fazer miséria. Tudo o que cai em suas mãos ou não funciona, custa caro e não é confiável. Enquanto a iniciativa privada cria valor, o governo destrói. Tudo, de minas de ouro, poços de petróleo, ferrovias..., só se prestam a criar vassalagem, corrupção e desvirtuamento das funções das empresas. Esta incompetência é universal, desde as expedições exploratórias financiadas por Fernando e Izabel , Reis da Espanha, que descobriram as Américas, passando por Colbert com a empresas francesas de produção de louças, tapeçarias e móveis, até as empresas estatais para produção da moeda, exploração de petróleo, administração dos correios e a cartelização do sistema bancário, tudo atraiu o interesse político dos governantes para atender aos seus projetos pessoais.


O atendimento ao jogo político e aos interesses  dos governantes superaram sempre as desvantagens impingidas aos consumidores.Os indivíduos, cuidadosos dos seus interesses, deveriam proibir que os governantes cuidassem mais do que o essencial: o monopólio da segurança, o império da lei, as relações internacionais e a defesa da soberania nacional. Todo o restante deveria ficar por conta da iniciativa privada, que tem o toque de Midas, a função de criar e distribuir riquezas. Porém com o uso de falácias, manipulação, demagogias os governantes conseguem obnubilar a visão do cidadão. Foram famosas algumas delas: O Petróleo É Nosso! A iniciativa Privada Não tem recursos para as grandes obras! A Ganância dos empresários precisa ser contida!*  A Segurança Nacional corre risco se empresas de capital estrangeiro dominarem atividades estratégicas! E por aí vai! O tempo, porém, é a mãe da verdade! O governo só é competente quando não tem competidores**! Se apostar corrida com um cocho, perde. Como administra mal e fora de foco, o recurso da sua gestão é o monopólio e/ou os subsídios. Este exercício, porém, chegou ao fim, pois a corda foi esticada além do limite. O preço pago pela nação está insuportável: estagnação econômica da décadas, impostos acima da capacidade contributiva do cidadão e a geração da maior corrupção da história. Mesmo assim a privatização não avança. O governo é inepto para criar riqueza e principalmente para corrigir os seus erros. Mas é insuperável na destruição de valor. Se entregarem o deserto de Saara para o governo administrar em pouco tempo teremos escassez de areia, segundo Milton Friedman.


* a ganância do servidor publico deve ser mais temida do que a do empresário. Este está limitado pelo interesse de manter o cliente, ao contrário do burocrata que tem como ambição as benesses do seu cargo, legítimas ou não. As operações das empresas do governo vão de desmando, em desmando, de mal serviço a pior serviço até  sua desmoralização.

**Como sabiamente dizia o Presidente Castelo Branco: se a Petrobras é competente, não precisa do monopólio, se não o é, não o merece!


segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

 O Capitalismo Criou A Classe Média.


Não há exagero em lembrar que nós respiramos o ar sem dar-nos conta da sua importância, a menos que ele nos falte. Habituados ao oxigênio em troca de nada, o temos como um direito adquirido. Assim também, como se natural fosse, contamos com o desenvolvimento econômico e social como uma fatalidade, que não  exige  contrapartida. Dizemos: É só questão de tempo!Acreditam muitos que dias melhores  sempre cairão do céu. Lamentavelmente a verdade é totalmente diversa. A  evolução positiva da riqueza das nações é uma exceção. A maior parte do mundo vive na pobreza há milênios. Entre elas muitas  com bom nível educacional e boa organização política. Sem contar as que retrocederam, como a Argentina, a Venezuela, a Grécia... 


Ao longo de milênios  predominou a estagnação.  A crença na possibilidade do desenvolvimento  é recente. Até  a revolução industrial, as atividades limitavam-se à pesca, à  caça e  à agricultura. A ocupação da mão de obra, então ociosa, só tinha, como alternativa ao trabalho o campo, alguma atividade artesanal, a dedicação à guerra e ao serviço religioso.Não havia a indústria e os serviços. Os camponeses , que eram a grande massa, viviam na penúria, enquanto a nobreza, uma minoria, vivia na ociosidade. O tempo era preenchido nas guerras, como extensão das caçadas. Os recursos eram investidos em pirâmides, castelos, igrejas e conventos para comprar para o rei a unção papal. Nada sobrava para a grande massa. Estas nasciam e morriam na miséria. O equivalente à atual classe média era restrito ao pequeno artesão burguês.


A situação só começou a mudar depois da Idade Média, época da trevas. O fator desencadeador  do novo modelo foi o período tido como o Iluminismo, época das luzes*.  Os iluministas ao desvendarem os segredos do Universo abalaram o carisma da igreja, como representantes de Deus na Terra . Enquanto a religião católica explicava a vida apelando para a fé e aos dogmas,  o Iluminismo usava  da razão e encontrava respostas na ciência. A perda da credibilidade da Igreja  foi seguida da menor capacidade de influenciar as massas e os próprios reis**. Com isto perdendo o poder de barganha política e econômica, que era negociado em troca da benção da Igreja. Não por outra razão o Vaticano ***usou de todos os recursos para calar a ciência, sendo os trezentos anos da Inquisição e as Cruzadas  marcas negras na sua história . Perdeu a Igreja e também os reinados com o fim  da crença de serem os reis uma concessão divina. Os  reinados sem  a sustentação divina  foram sendo substituídos por governos democráticos, dando ao povo o  poder de exigir  melhores condições de vida. 


A partir da  revolução industrial, propiciada pelas ideias dos iluministas, vem o advento  do capitalismo e o fim do feudalismo. As populações concentram-se  nas cidades criando   oportunidades de trabalho para  a mão de obra liberada dos exércitos, do serviço e das obras religiosas. A  produtividade, conseguida com as descobertas e inovações, trouxe aumento da oferta de produtos rurais  e industrializados com o salto na produtividade. A miséria começa a ser reduzida com a mudança do modelo econômico baseado no mercantilismo  para o capitalismo. A produção em massa exige consumo equivalente, o que força a redução dos preços para serem acessíveis a maior número de consumidores. O mercado exigiu das  empresas  métodos mais eficientes . Elas, pressionadas pela competição, encontram como a melhor solução para equacionar o desafio: a redução dos preços e o aumento dos  salários***.  E assim o capitalismo criou a classe média****.


  • Iluminismo ou o  “século das luzes”,  pode ser entendido como uma ruptura com o passado e o início de uma fase de progresso da humanidade. Essa fase é marcada por uma revolução na ciência, nas artes, na política e na doutrina jurídica, por exemplo. O Iluminismo foi um movimento intelectual europeu surgido na França no século XVII, que defendia o uso da razão sobre o da fé para entender e solucionar os problemas da sociedade, dando e as bases para o desenvolvimento do liberalismo.

**  Napoleão Bonaparte  toma a coroa imperial  das mãos do papa e auto-coroou-se desprezando a unção papal. Mas consciente  do poder da igreja, ao ser questionado se não temia a guerra, ...respondeu que não, desde que tivesse os bispos a seu favor. 

*** a história do Vaticano é semelhante à de outros impérios, que conheceram a ascensão e a queda . Até a idade média, organizada nos princípios de um reinado, com a sua corte, nobreza, exércitos, e coletores de dinheiro( os sacerdotes ) tinha hegemonia no Ocidente. Ao não disputar territórios, mas as almas, não colidiam com os outros impérios. Quando tinham interesses territoriais,  faziam uso ( mão de gato ) dos reis católicos, dependentes da sua unção, como nas Cruzadas. As exceções  foram as disputas pelas cidades-reinos da atual Itália , comandadas pelos Bórgias. O Iluminismo tirou, ao quebrar o carisma religioso e propiciar a revolução industrial, deu início a quebra da hegemonia católica e redução da miséria. Não pode ser esquecida a contribuição relevante da Reforma Protestante e atualmente a invasão dos crentes muçulmanos e dos pentecostais para a decadência do poder do Vaticano. A disputa pelos fiéis está intimamente vinculada ao poder econômico. Concordando ou não com Weber, a redução da miséria aconteceu nos países que se libertaram da influência religiosa do catolicismo.

**** O   capitalismo criou  a classe média, deixando para o passado a divisão entre a massa miserável e a nobreza. A pequena  burguesia, que Karl Marx prévia desapareceria,  foi mais uma das suas fracassadas profecias. Quanto  maior o desenvolvimento do modelo capitalista, maior e mais rica é a classe média. Ao contrário do comunismo, que continuou dividido em duas classes - a nomenclatura ( os nobres antigos ) e as massas.


domingo, 22 de novembro de 2020

 


 Meus caros


O noticiário e a boca pequena estão focados no assunto Covid- 19. Se a informação é valiosa, o predomínio da desinformação é lamentável. E este tem prevalecido, causado por interesses em jogo - políticos e comerciais. Quem consegue abstrair-se dos debates, isentar-se emocionalmente, não se  sente  seguro com o visível jogo das lideranças dos políticos e dos cientistas. Um assunto desta gravidade não deveria ser debatido como se religião fosse. Há contradições e confusão de todos os lados. À cada posicionamento,  para quem para para pensar, não termina em uma boa resposta, mas na dúvida, no por que. 


Pensando na própria pele e por curiosidade intelectual, acreditando não ter sido incorporado à manada, tenho lido bastante do assunto. Claro que não li tudo, mas o suficiente para descartar muitas das teses correntes. Uma posição que coincide com a minha visão do caso é o artigo anexo, que pela predominância do bom senso e análise competente dos dados, merece ser divulgado - que é o faço.




COVID -19 : onde estão os cientistas? Onde está a OMS?

Por Irapuan Costa Júnior 

Jornal Opção, Goiânia 


Se o vírus não prospera no calor africano, por que há tantos infectados na África do Sul quantos os há na Itália? Por que a mortalidade é duas vezes maior no país europeu?

A ciência, atarantada com as novidades do Covid-19, nada sabe do mecanismo de seu contágio e de sua mortalidade. Incapaz de apontar rumos de prevenção e cura, a ciência deixou nas mãos dos políticos, ainda mais perdidos que os cientistas, a tarefa de combater os efeitos da virose pandêmica, e os resultados têm sido desastrosos, não só para a saúde dos infectados, como para a economia de todos. E qual o papel da OMS em tudo isso? Nenhum, na verdade. Nenhum, no único momento de sua existência em que poderia justificá-la. Para que serve a OMS, se nessa pandemia não tem sido de nenhuma serventia? Para nada, é a triste mas inevitável resposta. Certos estão os governos que cessaram sua contribuição para ela. Desperdício.

?Vamos mostrar algumas discrepâncias entre os avanços da pandemia em países de populações equivalentes, ora vizinhos, ora em continentes diversos, e comentá-las, para que os leitores possam fazer também suas indagações. Sem dúvida, existirão falhas nas estatísticas de algumas nações, seja por deficiências governamentais, seja por interesses políticos. Mas mesmo essas falhas não podem esconder a enorme disparidade que a pandemia causou em diferentes países, o que a OMS deveria estar examinando de perto – afinal tem cientistas muito bem pagos para isso – para assim determinar as razões do sucesso de alguns e estendê-lo para todos. Estamos raciocinando com dados da semana que passou, esclareça-se.

Comecemos com um país europeu — a Espanha — e outro africano — o Quênia. Vejamos o quadro abaixo:

País                           População                     Infectados            Mortes por Covid

Espanha                   47 milhões                     1.185.678                    35.878

Quênia                     47 milhões                          55.877                       1.013

Pergunta para a OMS: o que explica a diferença entre os contágios? Por que há vinte vezes mais contagiados na Espanha do que no Quênia? Por que morrem trinta vezes mais por Covid na adiantada Espanha do que no atrasado país africano? Os cientistas da Organização por acaso deixaram Genebra e viajaram à África para pesquisar o fenômeno e tirar dele os benefícios do que descobrissem?  Não que eu saiba. Ficamos no campo das conjecturas: o vírus não se desenvolve no calor africano – especulou-se. Vejamos então o exemplo seguinte:

País                            População                      Infectados          Mortes por Covid

África do Sul            59 milhões                        726.823                     19.411

Itália                          60 milhões                        709.335                     38.826

Pergunta para a OMS: se o vírus não prospera no calor africano, por que há tantos infectados na primaveril África do Sul quantos os há na Itália, em pleno outono? E por que a mortalidade é duas vezes maior no país europeu de primeiro mundo? Alguém pesquisou “in loco”? Estiveram na África do Sul os cientistas da OMS? Não, ao que me consta. Observam de longe o efeito sem indagar da causa.

Façamos mais uma comparação, agora com os três países mais adiantados da Europa, cujas populações são bastante próximas, como equivalente é seu grau de desenvolvimento:

País                            População                      Infectados          Mortes por Covid

Alemanha                 83 milhões                        552.060                    10.541

França                       67 milhões                     1.458.999                    37.057

Reino Unido             66 milhões                     1.038.054                    46.807

Saberia a OMS responder sobre a disparidade de contágio e de mortalidade entre os três países europeus? Já se debruçou sobre isso, e informou ao mundo sobre as razões do relativo sucesso alemão sobre os vizinhos e fez recomendações com base em seus estudos? Ou permanece aninhada em sua confortável sede, na Suíça? Só diretores, a OMS tem 34. Quantos estão viajando pelos países menos afetados e pesquisando as razões do relativo sucesso para leva-las aos países mais afetados? Não acham que deve haver uma explicação para o sucesso de alguns países no combater o vírus? Pensam que é preferência dos deuses por uns e não por outros?

Mais uma comparação, agora do Brasil com a Nigéria, país africano com população quase idêntica à nossa:

País                           População                      Infectados          Mortes por Covid

Brasil                        212 milhões                    5.545,705                   160.074

Nigéria                     206 milhões                         62.964                        1.146

Veja só, leitor: para cada nigeriano infectado ou morto, lamentamos cerca de cem brasileiros com o mesmo infortúnio. Sem que ninguém do ramo pesquise as razões. Que Ciência é essa que só estuda e indaga nos gabinetes e laboratórios e não onde os fenômenos se processam? E sem perdoar a OMS, vamos reconhecer que a culpa se expande: Onde estão nossos cientistas que não fazem essas perguntas e não correm atrás das respostas? E nossa imprensa, nossos colunistas arrogantes, sempre ágeis em culpar o Governo Federal pelos males da pandemia? Por que não exercem seu poder investigativo e ajudam a responder essas indagações?

Vamos um pouco mais adiante: o que acontece no país mais adiantado do mundo? Com quem comparar os EUA neste transe? Com a transcontinental Indonésia, se estamos comparando países de populações equivalentes:

País                           População                      Infectados          Mortes por Covid

Estados Unidos       330 milhões                   9.206.975                    230.995

Indonésia                 267 milhões                      412.784                       13.943

Aqui também nos surpreendemos: os EUA têm renda per capita vinte vezes maior que a Indonésia, mas são vinte vezes mais afetados pelo Covid, seja em contágio, seja em mortes. Não é de espantar? Ninguém pesquisa as causas? Pois há sempre uma causa a explicar cada efeito. E aqui não há que se culpar apenas a OMS. A pujança da ciência americana, com suas três centenas de prêmios Nobel já deveria ter encontrado, se buscasse com determinação, respostas a essas indagações que estamos fazendo. Estará ela tão estupefata como a ciência do resto do mundo? Sem respostas, sigamos em frente, para a maior de todas as perguntas. Façamos uma última comparação, agora entre os dois gigantes populacionais do mundo:

País                      População                      Infectados          Mortes por Covid

Índia                      1.402 milhões                    8.229.313                    122.607

China                     1.361 milhões                         91.397                        4.739

Não há como não nos estarrecermos diante desta comparação. O que ocorre nos dois países mais populosos do mundo para que sejam atingidos de maneira tão brutalmente diversa? A China, a rigor, não sentiu os efeitos do Covid, se cotejada com a Índia. Esta teve quase 100 afetados para cada contaminado na China. Com o agravante de o vírus ter origem chinesa, e ter se liberado quando o mundo estava desavisado de seu poder de destruição, só chegando à Índia muitos dias depois.

As perguntas são inevitáveis, mesmo deixando atrás de nós todas as teorias conspiratórias: Por que o vírus se disseminou tão pouco na China, se foi lá que ele surgiu e colheu de surpresa os serviços médicos chineses? Se ele lá foi contido – e indiscutivelmente o foi – por que meios isso aconteceu? Têm os chineses alguma resistência congênita? Se é assim, podem rapidamente desenvolver uma vacina. Foi com prevenção que se defenderam? Tinham já os chineses uma vacina que se mostrou eficiente contra o Covid e foi extensamente usada? Tinham algo de efetivo no reforçar a imunidade dos chineses, uma hidroxicloroquina de indiscutível e imediato efeito? Ou foi uma medicação de cura, usada nos primeiros sintomas e fulminantemente eficaz? Não existem milagres, como não existem fenômenos sem causa que lhes dê origem. Algo explicará o indiscutível sucesso chinês no limitar os efeitos da pandemia, e as razões desse sucesso já deveriam ter se estendido ao mundo todo, para combater a doença. Deveriam os chineses esclarecer e difundir seus métodos. Aliás, devem isso ao mundo, como originários e disseminadores do vírus, mesmo que sem intenção. E deveriam os cientistas do OMS estar na China, estudando todos os aspectos da pandemia desde os primeiros sinais de alarme, coisa que não fizeram. Deveria a comunidade científica mundial, principalmente a dos países mais adiantados ter a humildade de trabalhar com seus colegas chineses e saber deles o que fizeram para vencer, tão cabalmente como venceram, o vírus que deixaram escapar. Essa a última, a grande, a estarrecedora pergunta, cuja resposta mudaria o estado atual de sofrimento e pânico: por que ninguém faz isso?

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

 






                                                  

 O Milagre Do Zé Ninguém.


Nos seus quase 120 anos nenhum brasileiro foi à Suécia receber um Prêmio Nobel. Já os Estados Unidos lideram disparados o ranking com 369 agraciados. Porém, considerando o quociente de realização ( população versus premiados ) o destaque vai para os judeus. O Brasil com uma maiores populações do mundo ( ⅔ dos Estados Unidos ) , uma expressiva e próspera comunidade judaica, perde  até para os minúsculos Portugal e Chile, com dois premiados cada um. O Prêmio Nobel tem um significado simbólico, é um parâmetro do nível de desenvolvimento intelectual de uma sociedade. Nós não vencemos nem ao menos o Nobel da Paz. E nem o reconhecido talento judeu destacou-se no meio da nossa cultura. Há algo estranho por aqui!


As razões não são fáceis de serem explicadas. Mas algumas especulações podem  colocar um pouco de luz nas causas deste fraco desempenho. A primeira delas é o nível de escolaridade americana(1), que culmina com as suas 2.618 universidades, muitas delas  entre as melhores do mundo. As suas bolsas de estudos atraem uma elite internacional de estudantes, que formam um celeiro de talento para todas as atividades intelectuais e empresariais. Outro aspecto é a cultura da competição e da responsabilidade. Não só os alunos e os professores competem, mas as próprias universidades. Estas procuram ter os melhores esportistas, artistas, professores para angariar prestígio e com isto os melhores alunos - um círculo virtuoso, que premia o mérito. Importante - o bom curriculum é condição básica de êxito na vida e poder de pagar o ensino, se financiado (2).O ensino superior gratuito não arde no bolso da família e acaba não sendo valorizado. Pode ser elogiável, mas compromete os resultados.



Nem tudo porém é negativo. Não somos inferiores, o que nos aniquila desde a base  é o complexo de vira-latas (3) ,fruto de um protecionista que limita à competição e a responsabilidade. Os nossos homens públicos insistem em incutir no cidadão comum um sentimento de inferioridade. Há um excesso de soberba ao pretender tutelar a sociedade e até a dar aulas de finanças ao cidadão comum - o que nos humilha e apequena a nossa  autoestima. Se, ao contrário, eles trocassem a arrogância por uma dose de modéstia, mostrando respeito pela competência dos que sobrevivem com um salário mínimo (4) e aprendessem com eles como se administra o dinheiro, poderíamos  dar ao Brasil o Nobel de Economia com a tese - O Milagre do Zé Ninguém.



(1) O brasileiro lê, em média, 2 livros completos por ano. Os Argentinos e uruguaios leem 4 livros por ano. Chilenos e Norte americanos estão na casa dos 5 livros, em média, por ano.

(2)  As universidades americanas financiam os estudantes e oferecem gratuitamente bolsas de estudos para os talentosos. A disputa é tão intensa que chegam a enviar convites aos bem dotados  para visitar a escola com todas as despesas pagas - inclusive transporte aéreo. Este foi o caso de uma neta que ganhou uma bolsa da Universidade de Los Angeles, que escolheu depois de ter sido abordada pelas concorrentes. 

(3) - Por "complexo de vira-lata" entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.

Nelson Rodrigues 

(4) - Os que tratam o Zés Ninguém como incapazes  teriam legitimidade se conseguissem viver com o salário deles. Eles sim tem o que ensinar.



As Minhas Reflexões 

Jorge Wilson Simeira Jacob

11 novembro de 2020




segunda-feira, 9 de novembro de 2020

                                Misero Chi A Loro S’Affida. (1)

O político é volúvel, qual pluma ao vento 

Muda de voz e de pensamento 

Sempre um rosto adorável e gracioso 

Em lágrimas ou em risos, é mentiroso

O político é volúvel, pelo poder dá a vida

Misero chi a loro s’affida. (2)


O trecho  acima, é um plágio da La Donna è Mobile, uma das árias da  ópera Il Rigolleto, uma das mais populares do repertório de Giusepe Verdi. Os libretos, em geral,  são modestos em relação à genialidade musical, que encanta  os amantes da mais completa expressão da arte - a ópera. Os enredos são de pequeno valor literário. Il Rigolleto, baseado no romance O Rei Se Diverte, de Vítor Hugo, destaca-se como crítica política ao abuso do poder, à corrupção, luxúria e estupro sexual na  corte do Rei Luiz XII, da França. Uma realidade  em quase todos os  ambientes onde  o poder político pode dar   vazão ao pior da  natureza humana. Uma crítica atemporal, universal !


O libretista Francesco Maria  Piave, forçado pela censura, adapta o personagem principal na figura imaginaria  do Duque de Mantova, que, devasso, demonstra não ter a mínima consideração pelas mulheres ao cantar a famosa ária La Donna è Mobile. Como se a volubilidade fosse uma característica feminina! Sem se dar conta de que a causa é  serem as mulheres  mais sensíveis e  sentimentais; ou é por não disfarçarem como os homens as suas emoções, dando margem a uma ideia equivocada.  Na realidade somos todos volúveis, em maior ou menor proporção, na medida das circunstâncias.


Se um Verdi fosse atualizar o enredo e encomendasse um libreto sobre a vida na corte brasilense este não  seria uma tragédia. Seria uma ópera bufa, tal o absurdo das situações nos seus dois atos. Teria como cenário os anexos do Congresso; - o ano seria 2018; - os personagens seriam o Duque de Mantova, pretendente ao trono ocupado pela rainha Maria, a  Doida e seus acólitos.


Primeiro Ato -  (No gabinete do Duque )

Alguns assessores apresentavam os  resultados das últimas pesquisas,  e concluíam: -  a decepção das massas com o líder Dom Luis l, o Puro, patrono dos corruptos; - as condenações da Lava-Jato ; - e o desencanto com as mágicas da Nova Matriz Econômica. Todos estavam de acordo com existir uma oportunidade política. Seria coroado rei quem  fosse de encontro  às aspirações populares, no momento indignadas com “aselites” no poder e o seu “jeito de governar”. As massas exigiam o fim da corrupção, dos  privilégios, do desemprego e da deterioração da qualidade  de vida. O momento era   propício para um  salvador da pátria - religioso, moralizador  dos costumes e patriota. O Duque,  intuitivo, volúvel como o vento, incontinente captou a mensagem e transmudou-se em estadista,  lançou o lema: Brasil acima de tudo e Deus acima de todos e  mandou o recado: - diga ao povo que fico !  irei acabar com o aparelhamento do governo;  - o  ensino será libertado das ideologias;  - um mago das finanças pagará todas as dívidas do governo privatizando tudo; - será proibido proibir trabalhar;-  o governo será o mínimo para deixar o dinheiro nas mãos dos que melhor sabem como usá-lo.


Segundo Ato ( 2 anos após a eleição)

O Duque,  coroado rei , em reunião social nos salões reais, junto de outros vassalos ( os antigos foram substituídos) vangloriando-se da popularidade, exibe  o seu pouco apreço aos seus súditos cantando a ária O Político É Volúvel da Ópera , Misero Chi A Loro S’Affida.


 Notas:

(1)Este texto, como sempre faço, foi submetido à cinco leitores de vieses diversos para ser criticado, antes de ser divulgado. Um deles, cujas opiniões também respeito muito,  ponderou a inoportunidade de desprestigiar o atual  governo. Apontou ele que o nosso  desapontamento não nos permite esquecer a próxima eleição. Não temos uma terceira via. Não teremos opção melhor na próxima eleição, como não tivemos na anterior. Assim queimar este governo pode ser um suicídio . Concordei com a observação, realmente não temos uma alternativa. Os potenciais candidatos ou não têm chance ou são personagens de filme de terror. Entendo, porém,  que os eleitores esclarecidos tem como prioridade a escolha do regime político antes da do indivíduo. Foi por pensar assim que  votei no Bolsonaro e votarei novamente,  se as escolhas forem entre esta fachada de um misto espúrio de liberalismo-conservadorismo-populismo e a realidade do populismo socializante. Os indivíduos são mais fáceis de serem removidos do que as ideias erradas. Estas nos perseguem desde Vargas, e a cada fracasso reagem com mais do mesmo, na tragédia de não se aprender com os erros.


(2) miserável quem neles confia. 



As Minhas Reflexões.

Jorge Wilson Simeira Jacob

08 de novembro de 2020.











sábado, 31 de outubro de 2020

                                                                    O Valor Da Semântica.



“O que chamamos de coisas  é onde traçamos a linha entre uma classe de coisas e outra depende dos interesses que temos e dos propósitos da classificação.  Por exemplo, os animais são classificados de uma forma pela indústria da carne, de outra forma pela indústria do couro, de outra forma pela indústria de peles e de outra forma ainda pelo biólogo.  Nenhuma dessas classificações é mais final do que qualquer uma das outras;  cada uma  delas é útil para seu propósito.

Language in Thought and Action,  Samuel Ichiye Hayakawa, (1)


A semântica é tão importante quanto ignorada no uso da linguagem. Hayakawa, em seu livro O Pensamento Na Linguagem E  Na Ação, desqualificava  as palavras como instrumento de precisão, por não  terem peso, cor ou medida. Elas podem significar uma coisa para quem fala ou escreve e outra para o ouvinte ou leitor. Para ganharem precisão as palavras necessitam da ajuda de um ou mais  adjetivos ou , como os exemplos acima, ter os interlocutores  em  sintonia com o significado, como um quadro negro que é verde; pois não, como concordância;  obrigado como recusa; o boi que no açougue vira vaca....  Significados alterados em  consequência do fato da língua  ter vida . Ela está em constante mutação no seu significado e até pronuncia. Nas diversas regiões do país muitos vocábulos ganharam ou perderam sentido. O que conta  é que cada um de o mesmo significado ao verbete, caso contrário não há entendimento.


Um purista da língua tem a obrigação de olhar com lentes de aumento cada letra de um texto. Seria o ideal se todos os que escrevem, inclusive este rabiscador, nunca caíssem na imprecisão decorrente da ignorância, generalização ou  simplificação. Aplicar as palavras com exatidão é atributo dos clássicos  da língua - uma minoria! A  deturpação semântica segue com a história. Tente ler um texto em português arcaico. Para não ir tão longe, ficando nos primórdios do Brasil, os descobridores que desbravavam os   sertões em busca de riquesas, eram chamados de bandeirantes. Nos meados do século passado, Assis Chateaubriand (2), denominava genericamente todos os homens de negócios  como Capitães Da Indústria , mesmo  não tendo  sido os descobridores das oportunidades,  bastava o envolvimento com uma empresa. A generalização foi ao ponto de aplicar a expressão a um indivíduo cujo único negócio eram milhares de pés de café. 


Na  economia, há não muitos anos, intelectuais como   Frank Knight, Peter Drucker,  Schumpeter,  Kirshner (3), reclassificaram  as funções dos homens de empresa,  fazendo uma distinção entre os que descobrem uma oportunidade e os que os sucedem administrando-as. Israel Kirshner(4) pontuava que a diferença entre um empreendedor ( entrepreneur ) e um  administrador( manager ) é a descoberta da oportunidade -  é o estado de alertness . Uma habilidade que não pode ser ensinada, ela é natural da pessoa.Todas as outras condições, segundo ele:  podem  ser compradas, emprestadas ou copiadas. Na prática o rigor semântico não é fácil de ser seguido. Bill Gates inventou a Microsoft, portanto, foi um empreendedor, mas a geriu por bom tempo, então, foi  um administrador. Hoje é um acionista. Como deve ser nominado? Amador Aguiar (4) era um bancário, no início da carreira, como diretor do Bradesco deveria ser considerado um empresário até que assumiu o poder na organização e revolucionou o sistema bancário, seria então um empreendedor. Um (Gates) começou em uma ponta extrema e o outro ( Amador ) na outra. Como devemos nos referir a eles?



Realmente a comunicação é uma arte, principalmente porque as palavras não quantificam e nem qualificam de per si, portanto o entendimento depende  da sintonia dos interlocutores. Como  era mais simples, ainda que menos precisa, quando não existiam classificações!  Eram bandeirantes por ter bandeira, capitães por analogia ao comando de um batalhão militar, empresário por ter vínculos com a empresa e empreendedor por ter o dom de criar riqueza. Como diria Hayakawa: nenhuma destas classificações é final, cada uma tem a ver com a  sua época e propósito. Este é o valor da semântica.


                                                                       As Minhas Reflexões.

Jorge Wilson Simeira Jacob

30 de outubro de 2020.



(1) Samuel Ichiye Hayakawa foi um acadêmico e político estadunidense. Foi educado nas escolas públicas de Calgary e Winnipeg, no Canadá. Recebeu a sua licenciatura na Universidade de Manitoba, em 1927; e graduação em Inglês pela Universidade McGill, em 1928, e pela Universidade de Wisconsin-Madison, em 1935. Nascimento: 18 de julho de 1906, Vancouver, Canadá


(2) Assis Chateaubriand 

Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, mais conhecido como Assis Chateaubriand ou Chatô, foi um jornalista, escritor, advogado, professor de direito, empresário, mecenas e político brasileiro. Destacou-se como um dos homens públicos mais influentes do Brasil entre as décadas de 1940 e 1960. Wikipédia


(4) Frank Knight (1967) e Peter Drucker (1970), o empreendedorismo refere-se a assumir riscos. Schumpeter amplia o conceito, afirmando que "o empreendedor é a pessoa que destrói a ordem econômica existente graças à introdução no mercado de novos produtos/serviços, pela criação de novas formas de gestão ou pela exploração de novos recursos, materiais e tecnologia". Assim, os empreendedores "não são simplesmente provedores de mercadorias ou de serviços, mas fontes de energia que assumem riscos em uma economia em constante transformação e crescimento." 


(4) Israel Kirshner - Competição E Espirito Empresarial . Entrepreneur é o que descobre a oportunidade.

Entrepreneurship is the alertness to and foresight of market conditions; it must necessarily precede actions taken in accordance with that alertness."


 (5) Amador Aguiar publicamente e em particular recusava ser classificado como banqueiro. Queria ser considerado bancário, que foi a sua origem.