domingo, 31 de maio de 2020

Esses Moços, Pobre Moços...

Esses moços, pobres moços
Ah! Se soubessem o que eu sei
Não amavam, não passavam
Aquilo que já passei.

Lupicínio Rodrigues


A vida é um jogo de ganhos e perdas, que ao seu  final  mostra ser ora   enriquecida com as  aventuras, bem ou mal sucedidas, ora   empobrecida, pela perda dos amigos, das ilusões e  pela redução da visão de  futuro. Infelizmente os  amigos não voltam mais, as desilusões ficam  e o  horizonte dos sonhos é limitado. Obrigatoriamente   tornarmo-nos  imediatistas. O mediato não nos pertence mais. O bom senso nos coloca na posição de só plantar se contarmos com alguém, não nós, para  colher. 

Com este condicionamento,  em um país sem rumo, chegamos  no limiar da existência com o sentir de ser difícil manter o sonho  no país do futuro. E de não ser nada fácil aos  jovens  enfrentarem o duplo desafio: um  mundo,  que perdeu as referências;   e um país escravo das ideias retrógradas de   um populismo-estatizante-burocratico . Principalmente por estarmos  saindo de cena, por vencimento do prazo de validade,  e, por isto,   poupados dos tempos desafiadores à sobrevivência que virão, tenho pena desses moços que  vão passar tudo o que já passei e muito mais. Se o desafio da nossa juventude era crescer junto com o desenvolvimento da nação, hoje é não afundar junto à decadência dos valores morais, da degradação da qualidade de vida e com uma  economia inviabilizada.Os  próximos tempos serão de decepções e frustrações, e eles irão descobrir que o   desenvolvimento de uma nação não é uma fatalidade, é uma exceção. Há continentes inteiros estagnados há  milênios. E  nós há mais de uma década, por estarmos  presos na armadilha de um sistema de governo  baseado nas virtudes de pessoas (?) e não de instituições confiáveis. Isto exige a  reforma profunda do estado, mas como   conseguir  se  os que detém o poder  têm  interesse no status quo? Só um milagre ou uma revolução fará com que as   raposas devolvam  as chaves dos galinheiros. 


Lupicinio Rodrigues, compositor de sambas imortais, que encantaram a minha mocidade, como o Moços, Pobre Moços , cujos versos tocava-nos  profundamente   por falar no amor em uma idade em que o libido estava fervendo. Naquela época, ao som da canção , víamos como absurda a ideia de  deixar de amar. Hoje, pensando naqueles versos, temos como absurdo se pôr fé no  futuro que espera os  jovens deste país -  futuro que está sendo liquidado pelos poderosos de plantão . O que nos remete a ter  pena desses moços, pobres moços, que estão sendo desafiados a sobreviver, sem matar os seus sonhos, em um país que insisti em assassinar todas as esperanças . 


As Minha Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
31 de maio de 2020.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

O Cavalo Do Inglês 

Era uma vez um inglês que decidiu treinar o seu cavalo a não mais comer. As vantagens eram evidenciadas na economia com  os alimentos, a redução do trabalho e a  eliminação do estrume. O desafio era desacostumar o semovente do mau hábito. Começou diminuindo as porções , como não   percebeu diferença no comportamento do animal, alternou a alimentação a dia sim, dia não. Os resultados mostravam que a sua experiência estava no caminho certo. Depois de seguidas reduções, com visível sucesso, limitou de vez o trato a somente água, até que uma manhã encontrou o cavalo morto. Surpreso, lamentou: Pena que ele morreu antes de adaptar-se ao jejum absoluto. Estava indo tão bem!

Era uma vez, a nossa , um grupo de governantes  que decidiu combater um  coronavírus forçando a mudança de hábitos da população para evitar contágios. Proibir  as pessoas de trabalhar, do convívio social e de circular, eram vantagens indiscutíveis, pois estariam diluindo no tempo a contaminação - desde que não existia cura e nem vacina disponível para o vírus. Ao contrário do caso do cavalo, que iludiu o inglês, esta experiência foi só desilusão. A adesão ao projeto foi  decepcionante. Os sacrifícios eram injustos, discriminatórios: o isolamento só existia na prática para as camadas privilegiadas ( uma minoria ), que tem a dispensa abastecida e a casa quase vazia. As  empresas viam-se caindo no abismo de braços amarrados, sem horizonte a não ser demitir e fechar as portas, deixando espaço para concentração no setor ao sacrificar as  pequenas e as médias. Ademais o  bicho humano, um ser gregário, necessita de contato social, de carinho e de vida amorosa. Certamente uma desvantagem à docilidade do equino à castração.

Esta tentativa de castrar a sociedade  gerou reações:

 - primeira , o questionamento à imposição ditatorial dos  políticos, que tratam a sociedade como a de seres incapazes. Apoiando-se no parecer de ditos cientistas, sem unanimidade e nem comprovação matemática, com achismos, como se infalíveis eles fossem.  Vale lembrar que a ciência, a exemplo de Ptolomeu, Copérnico  e Galileu, defendeu inúmeras falácias e colocou-se  no lado errado em alguns  capítulos cruciais na história da humanidade;
 - segunda, os resultados não foram  convincentes, vis a vis com experiência não ditatorial de outros países, cujos resultados não diferem * da quarentena ou não;
 -  terceira ,a percepção de uma  crise em que  os políticos estão desacreditados, pois visivelmente exibem-se ao  público com vistas às próximas eleições;  
- quarta, como  explicar  que a única solução para enfrentar a pandemia seja a receita da época da peste, arguia Selma Santa Cruz **.  E, para completar, o próprio governo batiza  a sequência do confinamento como “inteligente”, reconhecendo que o anterior não o foi.


A reação manifesta-se na desobediência civil em curso,  com o risco de uma crise social indesejável, encontrando  razões  nas ameaças  da fome, do tédio , da servidão e para não  ser sacrificado pelo confinamento, como o cavalo do inglês,  que morreu antes de adaptar-se ao jejum absoluto, na experiência que  estava  indo tão bem!

As Minhas Reflexões 
Jorge Wilson Simeira Jacob
28 de maio de 2020


** Revista Oeste, edição de 22.05.2020, Uma Quarentena Sem Fim, de Selma Santa Cruz.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Apesar Dos Pesares.

“Apresso-me em rir de tudo, por medo de ser obrigado a chorar.”
 P.A. de Beaumarchais


O brasileiro é conhecido por ser espirituoso, criativo e dotado de bom humor. Características que nos colocam em vantagem à nações sem uma ou sem nenhuma delas. Nacionalmente nem todos temos  a verve dos cariocas,  que fazem limonadas de todos os limões. Não há acontecimento, favorável  ou trágico, que não vire aqui piada de pronto. Não por outra razão  somos identificados,  no mundo, como um povo alegre por natureza. O brasileiro é por índole brincalhão. O nosso humor , ao estilo italiano,  se alimenta mais do deboche, da malícia e  da gozação. É  um humor no geral explícito, direto, enquanto o dos britânicos, mestres da  ironia e do sarcasmo, é sútil, velado, exige interpretação. Para nós uma Presidente, com raciocínio  confuso como o do Cantinflas, é avaliada como sofredora de limítrofe mental.  Os seus  discursos sobre o vento ou como dobrar metas inexistentes ou de necessariamente ter cachorro no Dia das Crianças são piadas transparentes, que, de tão absurdas,  dispensam reflexões e nos levam  diretamente às gargalhadas.

 O fato acima possivelmente seria visto por um fleumático britânico como uma possível ironia, de tão chocantes serem as colocações. E em  sendo um tirada espirituosa não seria uma idiotia, mas uma provocação à nossa inteligência.  O mesmo enfoque dariam eles   às tiradas do nosso Presidente ao sugerir: tubaína como solução para o coronavírus, aparentando descaso com o sofrimento alheio;  não estuprar a deputada, por ser feia; e a escalar um humorista para responder às perguntas da imprensa no portão do Alvorada. Como também avaliariam como irônico um político raivoso que, indiferente à tragédia alheia, ousa até  a louvar  a natureza pela crise do  coronavírus para justificar o tamanho do governo. Tudo bem, mesmo que um mínimo de alegria faça parte  até de conversa em  velório, mas tudo tem limites. E estes são tênues   a separar  a galhofa  da ironia, entre ser espirituoso ou idiota, o erotismo da  pornografia...





Um povo alegre não pode ser sério, diria a presidenta. E como  cada povo tem o governo que merece... O nosso é uma  amostra do espírito folgazão do brasileiro, que tem como vocação:  o jeitinho, as leis-vacinas ( que nem sempre pegam ) e a  lei do Gerson. A alegria nacional estampada no colorido do Carnaval, na ginga do nosso futebol e na sensualidade das mulatas seria uma fatalidade a nos fazer merecer  ter na presidência ou uma idiota a nos fazer rir ou um  trapalhão  a nos  fazer chorar?!!!
Apesar dos pesares, é melhor rir de tudo antes que sejamos obrigados a  chorar por tudo!

As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
21 de maio de 2020.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

 The Unhappy End

Henry D. Thoreau escreveu o famoso A Desobediência CivilLeon Tolstói, um dos mais famosos escritores do mundo venerava este ensaio e o recomendou, por carta, a um jovem indiano preso na África do Sul. Este jovem indiano era Mahatma Gandhi.

Entre as influências nefastas resultantes da atual pandemia está o crescimento do governo. O medo do coronavírus insuflado na multidão a torna dócil às restrições à sua liberdade e corrompida pelas benesses dos governos. Estes, ao contrário de políticas democráticas, bem sucedidas, de  Taiwan*, Suécia**e Nova Zelândia, a pretexto de salvar vidas, tolhe a liberdade individual com  atos ditatoriais à chinesa e à OMS. Não se dão conta de que este abuso de autoridade  tem limites. Não aprenderam com  Thoreau que o melhor governo é o que menos governa e nem  que   todos  os homens têm  o direito de revolução; isto é, o direito de recusar obediência ao governo, e de resistir a ele, quando sua tirania ou sua ineficiência são grandes e intoleráveis. Exemplar , ele  adotou a desobediência civil recusando-se a pagar impostos por não tolerar o uso do seu dinheiro para sustentar a escravidão e a guerra contra o México; Gandhi o fez por não suportar o domínio Inglês. Enquanto Thoreau rebelou-se solitariamente, mas deu fundamentos à liberdade individual;  Gandhi liderou a nação à desobediência civil e, sem disparar um tiro, deu liberdade à  Índia.

Estas lições da história vem à propósito da atual política governamental de confinamento,  que está tornando-se uma tirania a ameaçar a sobrevivência de grande parte da sociedade. O esgarçamento do tecido social já está dando mostras dos limites de tolerância da população. Os índices de adesão à quarentena estão em queda e a quantidade de casos de desobediência civil estão em alta e , insensatamente, as restrições estão aumentando.   O preocupante neste jogo é que as autoridades, diante da ineficiência das suas medidas, sintam-se desafiadas e,  para reafirmar o poder, por vaidade ou outra razão qualquer, perdem a racionalidade. Colocar em risco  a sobrevivência dos menos favorecidos é um jogo de alto risco. Quando alguém não tem mais o que perder, ele pode tornar-se ousado, perigoso e os resultados podem  sair do controle. 

Já está tornando-se consenso que o viced-19 não será vencido. Veio para ficar. Temos que nos adaptar para viver com ele. O desafio será menor, evidentemente, quando e  se uma significativa parcela da população estiver inoculada - o que estima-se é coisa para um ano. Portanto, uma flexibilização é inevitável.  O confinamento total  e prolongado é insustentável -  uma tirania  ineficiente e intolerável . As massas não podem dar-se a este  luxo; e o governo  também não, simplesmente porque a alternativa seria a fome e o colapso da economia. O tempo está contra nós. A dicotomia vida ou fome é falsa. A escolha não pode ser emocional. Racional é o possível, o sustentável. E não será possível uma política que não se sustente. Ao término dos programas de manutenção de empregos subsidiados pelo governo - sem o fim da quarentena -  corremos o risco de uma  desobediência civil , do caos, que nem salvará vidas nem  empregos - para ser  o the unhappy end desta crise. 

As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
14 de maio de 2020.


*Nota - carta publicada na The ECONOMIST, secção Letters de 28. 03. 2020

Taiwan’s response to covid-19 
Countries are indeed struggling to cope with covid-19 (“The politics of pandemics”, March 14th). But China’s approach is not the only way to suppress its spread. Taiwan has relatively few cases of the disease. Learning harsh lessons from the sars crisis in 2003, the government of Taiwan acted swiftly and established a central command centre in order to respond to the outbreak. Taiwan’s health minister held press conferences almost every day to provide updates and information. Tests on travellers from Wuhan, the Chinese city where the outbreak started, began in December, one month ahead of China. Technology using big-data analysis was applied for intensive health monitoring.
Despite being excluded from participating in the World Health Organisation because of pressure from China, Taiwan sent an early warning to the international health body about the risk of transmission of the coronavirus between humans at the end of December. However, the warning was not shared with other countries by the who because of its relationship with China. That error ultimately delayed the global response to the pandemic. The politics of pandemics, which exists inside the who as well as between states, should be unacceptable to any country that cares about public health.
The Chinese propaganda machine is trying to convince the world that its draconian response to the coronavirus is the only way to combat its spread; other countries are following its lead. Taiwan proves that democracies can successfully fight the virus without an authoritarian response. Given the nature of China’s autocratic system, Taiwan should serve as a better democratic model for managing pandemics.
DAVID LIN
Taipei Representative Office in the United Kingdom
London







**The Swedish way
Sweden shunned a hard lockdown. Was that wise?
The Economist .

s bleary-eyed Europeans squint in the sun, freshly released from coronavirus lockdowns, worries about a second wave of infections are on everybody’s mind. Life cannot return completely to normal until a vaccine is available. What sort of semi-normal life might work in the meantime is the big question. Sweden may hold the answer.
In March, when governments across Europe seemed to be competing to impose the toughest anti-viral measures—from closing borders to forbidding people from venturing out even for a walk—Sweden resisted the temptation. It banned gatherings of more than 50 people. But nurseries and schools for children under 16 have remained open (with older students tele-learning from home). Bars, restaurants and gyms also stayed open, though with social-distancing rules. People were asked to work from home if they could. And the elderly, who are most at risk of dying if infected, were told to stay at home to protect themselves.
Sweden chose this path because it looked at the longer term, says Johan Giesecke, an epidemiologist advising the authorities. Full lockdowns are stop-gap measures, he says, and European governments rushed to put them in place without plans for what would replace them.
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Swedes have been sensible. Use of public transport has fallen significantly. A third of people say they avoid going to their workplace (by working from home, for example)—up from 10% in mid-March. Daily restaurant turnover fell by 70% in the month through April 22nd. Elisabeth Peters, who is 67 and lives on one of the islands off the west coast of Sweden, believes there has been a “huge change” in people’s behaviour, aligned with official advice. Some people are not seeing their grandchildren at all now, she says. When her children and grandchildren visit everyone stays outside all day and keeps at a distance from her and her husband.
On first glance, Sweden seems to have paid a heavy price for choosing less stringent measures to keep people apart. By May 13th it had recorded 33 covid-19 deaths per 100,000 people, a rate more than three times that of Denmark and seven times higher than in Finland, which had shut schools and restaurants in March. Even so, Sweden’s mortality rate has been much lower than that in Britain, France and Spain. Swedes largely approve of their country’s approach, with two-thirds saying in polls that the government is handling the epidemic well.
Time will tell whether Sweden chose a better strategy than other countries, says Jussi Sane of the Finnish Institute for Health and Welfare, because the costs of lockdowns—in terms not only of economic damage but also harm to people’s mental health—are yet to be tallied. European countries will see more covid-19 deaths when people start moving about, because the share of those infected so far (and thus presumably immune, at least for some time) is still in the single digits. Mr Giesecke reckons that Stockholm will reach “herd immunity”, the 40-60% rate of infection needed to halt the spread of the coronavirus, by June. He thinks that when European countries count deaths a year from now their figures will be similar, regardless of the measures taken and the numbers now. The economic damage in Sweden, however, may be smaller. 

Observação - para não receber mais estes e-mails, por favor responda este com um Não . Obrigado.

domingo, 10 de maio de 2020


Desafiando  De Gaulle.


A principal e mais bonita avenida de Paris, a partir da Porte Maillot, é uma entre tantas homenagens do povo francês ao General Charles de Gaulle. Herói maior da resistência francesa, ex-presidente da França e fundador da Quinta República, é reconhecido como o líder político mais importante do país, depois de  Napoleão Bonaparte.  Militar, intelectual, grande orador e escritor, estadista, escreveu a Constituição Francesa. Foi convocado a salvar a nação do caos que se seguiu ao fim da Segunda Guerra. Eleito presidente, renunciou ao mandato após ser derrotado em um plebiscito de assunto  de menor importância, o qual  promoveu justamente para tomar pulso da opinião pública. Ao ser solicitado a explicar o resultado desfavorável, depois do tanto que havia feito pela França, respondeu com o maior realismo: o povo não vota pelo  passado, mas pelo futuro.  Retirou-se  do governo para Colombey-les-Deux-Eglisées, onde escreveu a sua biografia e foi enterrado. Igual  vítima da ingratidão foi  outro gigante da história,  Sir Winston S. Churchill, que foi, após ter salvo  a Inglaterra do nazismo, derrotado nas eleições para o parlamento inglês.

Como os franceses e os ingleses, evidentemente respeitadas as dimensões, temos um presidente a quem devemos a alforria à escravidão dos socialistas/petistas, que governaram o Brasil, depois dos militares até o governo  do Presidente Michel Temer. Depois de 17 meses deste governo, a euforia geral cedeu e  as  pesquisas de opinião, equivalentes ao plebiscito de De Gaulle, registram   uma tendência declinante no apoio ao Presidente Bolsonaro. A opinião  pública guarda semelhança com os vírus, que vão, como em uma epidemia, contaminando  gradualmente as massas, expandindo-se exponencialmente.   No caso de um colégio eleitoral, os contaminados são votos perdidos ou ganhos. E , segundo as pesquisas de avaliação, é crescente uma  epidemia  de  reprovação deste governo . Passados os 100 dias do período da graça, este  tem sido um voo constante no meio de forte turbulência. Estamos apreensivos, olhando pela janela, com os cintos apertados, à espera de uma palavra do comandante que transmita segurança. Mas qual o que! Os sinais só aumentam o desconforto. As sucessivas rusgas no governo são sentidas como um baque, uma sensação de queda, o que faz desta uma viagem desconfortável. Cada  demissão põe em questão a competência na formação e comando de uma equipe de governo. Cada atrito com as outras áreas do poder, põe em dúvida a habilidade política ( no bom sentido ) de exercer a liderança que se espera de um presidente da república . Cada surpresa ( e são muitas ) tira a tranquilidade de se  viver uma vida com um mínimo de previsibilidade. Estamos nos cansando dos sobressaltados!

Ao embarcar neste voo, comandado pelo então candidato Bolsonaro, os seus eleitores confiaram em uma tripulação que dava a esperança de dias melhores com: - o fim do toma lá dá cá, - o combate indiscriminado à corrupção, - o pagamento da dívida pública com a receita das privatizações, - a desburocratização e enxugamento do governo, - a abertura da economia, - a reforma política e tributária, -  e a reforma da Previdência. Dos nomes que avalizavam a necessária modernização do governo, todos ou foram afastados ou perderam o brilho. As  propostas que encantavam, só a da Previdência aconteceu. A economia, em vez da recuperação prometida,  vinha deteriorando-se e , como  castigo maior, fomos surpreendidos com a tragédia da pandemia. Foi como se  um raio atingisse  um avião já desgovernado, enfraquecido e com os eleitores do presidente   divididos em idealistas e pragmáticos:
  • Os idealistas , concientes da  inoperância do governo, da falta de liderança , da distância entre o discurso e a ação  e a pandemia,   assumem  a triste realidade de que este  governo acabou. Há de se cuidar da sucessão  para não devolver o país aos adversários;
  • Os pragmáticos, crentes  ser melhor  proteger o existente para  não comprometer o conquistado, justificam todas as atuais mazelas e apostam  na gratidão dos eleitores - desafiando   De Gaulle de que o povo não vota pelo  passado, mas pelo futuro.                                                 

As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob.
10 de maio de 2020.


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quinta-feira, 7 de maio de 2020

Infinito Enquanto Dure...


Que não seja imortal, posto que é chama,
mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Morais

Acabo de render-me ao socialismo. Descobri, no final de uma longa vida, as vantagens do paternalismo governamental. Bastou um mês em casa,  sem trabalhar, protegido de cobrança de aluguel, impostos, taxas,  para ver como a vida pode ser mais fácil. Gostei da experiência! Aderi ao lema - relax and enjoy, deixe que o governo cuida! Enquanto isto, durmo como anjo, leio tudo o que sempre tive vontade (mas não tinha tempo ),  assisto a filmes maravilhosos, ouço música ( lamento a cobrança da Netflix - o lazer deveria ser um direito constitucional ). Depois desta experiência, sou um socialista convertido. Antes  tarde do que nunca! Finalmente dei-me conta de que essa história de economia de mercado contraria a lei do menor esforço.  O confortável é ter  um governo-pai, que, prioritariamente, cuide do bem estar social: saúde grátis, férias prolongadas,  mesadas sem contrapartida  e empréstimos à mão cheia -   a serem pagos com emissão de títulos do tesouro e de moeda. Afinal a  riqueza deve estar à serviço da felicidade e não para ficar empoçada no patrimônio de uma minoria privilegiada.

A história da humanidade anda muito devagar, mas avança . Estamos deixando para traz a subordinação  à maldição bíblica de  ganhar o pão com o suor da testa, que nos escravizou  com falsas ilusões  da necessidade do trabalho, da poupança e da temperança. Ideias  que embasaram o ideário do regime  capitalista , valorizando a liberdade individual e a   responsabilidade como condição pela  própria  sobrevivência. Tudo  em nome de valores abstratos - dignidade, honra e liberdade, que exigiam não se  viver  do trabalho alheio.  Agora, com as férias da quarentena,  despertei  o paladar para a proposta socialista. Em  vez da ética capitalista de criar riqueza, com o trabalho duro, encantou-me a ideia  de direitos sem deveres para redução das desigualdades e  à serviço do bem estar social. Estamos, pois, avançando para um  futuro promissor, em que usaremos o nosso tempo para o lazer, cujo resultado será uma sociedade mais instruída, mais solidária e menos neurótica. 


Este futuro, depois da pandemia , fará parte do  novo normal, ficando estabelecido que o  velho normal ficou no passado. Vamos daí em frente pautar as  nossas vidas por outros paradigmas. O novo normal, no  sentido das relações sociais, será o governo robusto, o Big Brother onipotente, onipresente, onisciente , que cuidará paternalisticamente de todos os cidadãos...e não só do funcionário público. Ele disciplinará quando e quem pode trabalhar, onde e quando circular, determinanará  os pinos das tomadas elétricas, as caixas de socorro nos carros, o sal na comida, o uso de máscaras...Ele escolherá a nossa maneira de ser feliz. Ele pensara por cada um de nós . Ele e os burocratas, que não falham,  não tem ambições e interesses,  eliminarão as falhas de mercado que são a  expressão da vontade dos  consumidores , uns infantiloides sem capacidade de  fazer escolhas racionais. A quarentena abriu os meus olhos. Viver sem compromissos com contas a pagar, com mesadas do governo, sem funcionários e clientes a atender...estando em casa dedicado ao lazer, sem horário a cumprir,  realmente converte qualquer capitalista ao socialismo. O novo normal será o dar  a volta por cima à maldição bíblica -  nem mais suor na testa e nem menos gula pelo fruto proibido. Vamos todos usufruir das vantagens da irresponsabilidade. A dignidade não enche barriga- viva o socialismo! Que seja infinito enquanto dure a tripa cheia e a oferta de papel higiênico no super mercado. 


As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob

07 de maio de 2020.