domingo, 10 de maio de 2020


Desafiando  De Gaulle.


A principal e mais bonita avenida de Paris, a partir da Porte Maillot, é uma entre tantas homenagens do povo francês ao General Charles de Gaulle. Herói maior da resistência francesa, ex-presidente da França e fundador da Quinta República, é reconhecido como o líder político mais importante do país, depois de  Napoleão Bonaparte.  Militar, intelectual, grande orador e escritor, estadista, escreveu a Constituição Francesa. Foi convocado a salvar a nação do caos que se seguiu ao fim da Segunda Guerra. Eleito presidente, renunciou ao mandato após ser derrotado em um plebiscito de assunto  de menor importância, o qual  promoveu justamente para tomar pulso da opinião pública. Ao ser solicitado a explicar o resultado desfavorável, depois do tanto que havia feito pela França, respondeu com o maior realismo: o povo não vota pelo  passado, mas pelo futuro.  Retirou-se  do governo para Colombey-les-Deux-Eglisées, onde escreveu a sua biografia e foi enterrado. Igual  vítima da ingratidão foi  outro gigante da história,  Sir Winston S. Churchill, que foi, após ter salvo  a Inglaterra do nazismo, derrotado nas eleições para o parlamento inglês.

Como os franceses e os ingleses, evidentemente respeitadas as dimensões, temos um presidente a quem devemos a alforria à escravidão dos socialistas/petistas, que governaram o Brasil, depois dos militares até o governo  do Presidente Michel Temer. Depois de 17 meses deste governo, a euforia geral cedeu e  as  pesquisas de opinião, equivalentes ao plebiscito de De Gaulle, registram   uma tendência declinante no apoio ao Presidente Bolsonaro. A opinião  pública guarda semelhança com os vírus, que vão, como em uma epidemia, contaminando  gradualmente as massas, expandindo-se exponencialmente.   No caso de um colégio eleitoral, os contaminados são votos perdidos ou ganhos. E , segundo as pesquisas de avaliação, é crescente uma  epidemia  de  reprovação deste governo . Passados os 100 dias do período da graça, este  tem sido um voo constante no meio de forte turbulência. Estamos apreensivos, olhando pela janela, com os cintos apertados, à espera de uma palavra do comandante que transmita segurança. Mas qual o que! Os sinais só aumentam o desconforto. As sucessivas rusgas no governo são sentidas como um baque, uma sensação de queda, o que faz desta uma viagem desconfortável. Cada  demissão põe em questão a competência na formação e comando de uma equipe de governo. Cada atrito com as outras áreas do poder, põe em dúvida a habilidade política ( no bom sentido ) de exercer a liderança que se espera de um presidente da república . Cada surpresa ( e são muitas ) tira a tranquilidade de se  viver uma vida com um mínimo de previsibilidade. Estamos nos cansando dos sobressaltados!

Ao embarcar neste voo, comandado pelo então candidato Bolsonaro, os seus eleitores confiaram em uma tripulação que dava a esperança de dias melhores com: - o fim do toma lá dá cá, - o combate indiscriminado à corrupção, - o pagamento da dívida pública com a receita das privatizações, - a desburocratização e enxugamento do governo, - a abertura da economia, - a reforma política e tributária, -  e a reforma da Previdência. Dos nomes que avalizavam a necessária modernização do governo, todos ou foram afastados ou perderam o brilho. As  propostas que encantavam, só a da Previdência aconteceu. A economia, em vez da recuperação prometida,  vinha deteriorando-se e , como  castigo maior, fomos surpreendidos com a tragédia da pandemia. Foi como se  um raio atingisse  um avião já desgovernado, enfraquecido e com os eleitores do presidente   divididos em idealistas e pragmáticos:
  • Os idealistas , concientes da  inoperância do governo, da falta de liderança , da distância entre o discurso e a ação  e a pandemia,   assumem  a triste realidade de que este  governo acabou. Há de se cuidar da sucessão  para não devolver o país aos adversários;
  • Os pragmáticos, crentes  ser melhor  proteger o existente para  não comprometer o conquistado, justificam todas as atuais mazelas e apostam  na gratidão dos eleitores - desafiando   De Gaulle de que o povo não vota pelo  passado, mas pelo futuro.                                                 

As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob.
10 de maio de 2020.


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