Desafiando De Gaulle.
A principal e mais bonita avenida de Paris, a partir da Porte Maillot, é uma entre tantas homenagens do povo francês ao General Charles de Gaulle. Herói maior da resistência francesa, ex-presidente da França e fundador da Quinta República, é reconhecido como o líder político mais importante do país, depois de Napoleão Bonaparte. Militar, intelectual, grande orador e escritor, estadista, escreveu a Constituição Francesa. Foi convocado a salvar a nação do caos que se seguiu ao fim da Segunda Guerra. Eleito presidente, renunciou ao mandato após ser derrotado em um plebiscito de assunto de menor importância, o qual promoveu justamente para tomar pulso da opinião pública. Ao ser solicitado a explicar o resultado desfavorável, depois do tanto que havia feito pela França, respondeu com o maior realismo: o povo não vota pelo passado, mas pelo futuro. Retirou-se do governo para Colombey-les-Deux-Eglisées, onde escreveu a sua biografia e foi enterrado. Igual vítima da ingratidão foi outro gigante da história, Sir Winston S. Churchill, que foi, após ter salvo a Inglaterra do nazismo, derrotado nas eleições para o parlamento inglês.
Como os franceses e os ingleses, evidentemente respeitadas as dimensões, temos um presidente a quem devemos a alforria à escravidão dos socialistas/petistas, que governaram o Brasil, depois dos militares até o governo do Presidente Michel Temer. Depois de 17 meses deste governo, a euforia geral cedeu e as pesquisas de opinião, equivalentes ao plebiscito de De Gaulle, registram uma tendência declinante no apoio ao Presidente Bolsonaro. A opinião pública guarda semelhança com os vírus, que vão, como em uma epidemia, contaminando gradualmente as massas, expandindo-se exponencialmente. No caso de um colégio eleitoral, os contaminados são votos perdidos ou ganhos. E , segundo as pesquisas de avaliação, é crescente uma epidemia de reprovação deste governo . Passados os 100 dias do período da graça, este tem sido um voo constante no meio de forte turbulência. Estamos apreensivos, olhando pela janela, com os cintos apertados, à espera de uma palavra do comandante que transmita segurança. Mas qual o que! Os sinais só aumentam o desconforto. As sucessivas rusgas no governo são sentidas como um baque, uma sensação de queda, o que faz desta uma viagem desconfortável. Cada demissão põe em questão a competência na formação e comando de uma equipe de governo. Cada atrito com as outras áreas do poder, põe em dúvida a habilidade política ( no bom sentido ) de exercer a liderança que se espera de um presidente da república . Cada surpresa ( e são muitas ) tira a tranquilidade de se viver uma vida com um mínimo de previsibilidade. Estamos nos cansando dos sobressaltados!
Ao embarcar neste voo, comandado pelo então candidato Bolsonaro, os seus eleitores confiaram em uma tripulação que dava a esperança de dias melhores com: - o fim do toma lá dá cá, - o combate indiscriminado à corrupção, - o pagamento da dívida pública com a receita das privatizações, - a desburocratização e enxugamento do governo, - a abertura da economia, - a reforma política e tributária, - e a reforma da Previdência. Dos nomes que avalizavam a necessária modernização do governo, todos ou foram afastados ou perderam o brilho. As propostas que encantavam, só a da Previdência aconteceu. A economia, em vez da recuperação prometida, vinha deteriorando-se e , como castigo maior, fomos surpreendidos com a tragédia da pandemia. Foi como se um raio atingisse um avião já desgovernado, enfraquecido e com os eleitores do presidente divididos em idealistas e pragmáticos:
- Os idealistas , concientes da inoperância do governo, da falta de liderança , da distância entre o discurso e a ação e a pandemia, assumem a triste realidade de que este governo acabou. Há de se cuidar da sucessão para não devolver o país aos adversários;
- Os pragmáticos, crentes ser melhor proteger o existente para não comprometer o conquistado, justificam todas as atuais mazelas e apostam na gratidão dos eleitores - desafiando De Gaulle de que o povo não vota pelo passado, mas pelo futuro.
As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob.
10 de maio de 2020.
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