domingo, 22 de novembro de 2020

 


 Meus caros


O noticiário e a boca pequena estão focados no assunto Covid- 19. Se a informação é valiosa, o predomínio da desinformação é lamentável. E este tem prevalecido, causado por interesses em jogo - políticos e comerciais. Quem consegue abstrair-se dos debates, isentar-se emocionalmente, não se  sente  seguro com o visível jogo das lideranças dos políticos e dos cientistas. Um assunto desta gravidade não deveria ser debatido como se religião fosse. Há contradições e confusão de todos os lados. À cada posicionamento,  para quem para para pensar, não termina em uma boa resposta, mas na dúvida, no por que. 


Pensando na própria pele e por curiosidade intelectual, acreditando não ter sido incorporado à manada, tenho lido bastante do assunto. Claro que não li tudo, mas o suficiente para descartar muitas das teses correntes. Uma posição que coincide com a minha visão do caso é o artigo anexo, que pela predominância do bom senso e análise competente dos dados, merece ser divulgado - que é o faço.




COVID -19 : onde estão os cientistas? Onde está a OMS?

Por Irapuan Costa Júnior 

Jornal Opção, Goiânia 


Se o vírus não prospera no calor africano, por que há tantos infectados na África do Sul quantos os há na Itália? Por que a mortalidade é duas vezes maior no país europeu?

A ciência, atarantada com as novidades do Covid-19, nada sabe do mecanismo de seu contágio e de sua mortalidade. Incapaz de apontar rumos de prevenção e cura, a ciência deixou nas mãos dos políticos, ainda mais perdidos que os cientistas, a tarefa de combater os efeitos da virose pandêmica, e os resultados têm sido desastrosos, não só para a saúde dos infectados, como para a economia de todos. E qual o papel da OMS em tudo isso? Nenhum, na verdade. Nenhum, no único momento de sua existência em que poderia justificá-la. Para que serve a OMS, se nessa pandemia não tem sido de nenhuma serventia? Para nada, é a triste mas inevitável resposta. Certos estão os governos que cessaram sua contribuição para ela. Desperdício.

?Vamos mostrar algumas discrepâncias entre os avanços da pandemia em países de populações equivalentes, ora vizinhos, ora em continentes diversos, e comentá-las, para que os leitores possam fazer também suas indagações. Sem dúvida, existirão falhas nas estatísticas de algumas nações, seja por deficiências governamentais, seja por interesses políticos. Mas mesmo essas falhas não podem esconder a enorme disparidade que a pandemia causou em diferentes países, o que a OMS deveria estar examinando de perto – afinal tem cientistas muito bem pagos para isso – para assim determinar as razões do sucesso de alguns e estendê-lo para todos. Estamos raciocinando com dados da semana que passou, esclareça-se.

Comecemos com um país europeu — a Espanha — e outro africano — o Quênia. Vejamos o quadro abaixo:

País                           População                     Infectados            Mortes por Covid

Espanha                   47 milhões                     1.185.678                    35.878

Quênia                     47 milhões                          55.877                       1.013

Pergunta para a OMS: o que explica a diferença entre os contágios? Por que há vinte vezes mais contagiados na Espanha do que no Quênia? Por que morrem trinta vezes mais por Covid na adiantada Espanha do que no atrasado país africano? Os cientistas da Organização por acaso deixaram Genebra e viajaram à África para pesquisar o fenômeno e tirar dele os benefícios do que descobrissem?  Não que eu saiba. Ficamos no campo das conjecturas: o vírus não se desenvolve no calor africano – especulou-se. Vejamos então o exemplo seguinte:

País                            População                      Infectados          Mortes por Covid

África do Sul            59 milhões                        726.823                     19.411

Itália                          60 milhões                        709.335                     38.826

Pergunta para a OMS: se o vírus não prospera no calor africano, por que há tantos infectados na primaveril África do Sul quantos os há na Itália, em pleno outono? E por que a mortalidade é duas vezes maior no país europeu de primeiro mundo? Alguém pesquisou “in loco”? Estiveram na África do Sul os cientistas da OMS? Não, ao que me consta. Observam de longe o efeito sem indagar da causa.

Façamos mais uma comparação, agora com os três países mais adiantados da Europa, cujas populações são bastante próximas, como equivalente é seu grau de desenvolvimento:

País                            População                      Infectados          Mortes por Covid

Alemanha                 83 milhões                        552.060                    10.541

França                       67 milhões                     1.458.999                    37.057

Reino Unido             66 milhões                     1.038.054                    46.807

Saberia a OMS responder sobre a disparidade de contágio e de mortalidade entre os três países europeus? Já se debruçou sobre isso, e informou ao mundo sobre as razões do relativo sucesso alemão sobre os vizinhos e fez recomendações com base em seus estudos? Ou permanece aninhada em sua confortável sede, na Suíça? Só diretores, a OMS tem 34. Quantos estão viajando pelos países menos afetados e pesquisando as razões do relativo sucesso para leva-las aos países mais afetados? Não acham que deve haver uma explicação para o sucesso de alguns países no combater o vírus? Pensam que é preferência dos deuses por uns e não por outros?

Mais uma comparação, agora do Brasil com a Nigéria, país africano com população quase idêntica à nossa:

País                           População                      Infectados          Mortes por Covid

Brasil                        212 milhões                    5.545,705                   160.074

Nigéria                     206 milhões                         62.964                        1.146

Veja só, leitor: para cada nigeriano infectado ou morto, lamentamos cerca de cem brasileiros com o mesmo infortúnio. Sem que ninguém do ramo pesquise as razões. Que Ciência é essa que só estuda e indaga nos gabinetes e laboratórios e não onde os fenômenos se processam? E sem perdoar a OMS, vamos reconhecer que a culpa se expande: Onde estão nossos cientistas que não fazem essas perguntas e não correm atrás das respostas? E nossa imprensa, nossos colunistas arrogantes, sempre ágeis em culpar o Governo Federal pelos males da pandemia? Por que não exercem seu poder investigativo e ajudam a responder essas indagações?

Vamos um pouco mais adiante: o que acontece no país mais adiantado do mundo? Com quem comparar os EUA neste transe? Com a transcontinental Indonésia, se estamos comparando países de populações equivalentes:

País                           População                      Infectados          Mortes por Covid

Estados Unidos       330 milhões                   9.206.975                    230.995

Indonésia                 267 milhões                      412.784                       13.943

Aqui também nos surpreendemos: os EUA têm renda per capita vinte vezes maior que a Indonésia, mas são vinte vezes mais afetados pelo Covid, seja em contágio, seja em mortes. Não é de espantar? Ninguém pesquisa as causas? Pois há sempre uma causa a explicar cada efeito. E aqui não há que se culpar apenas a OMS. A pujança da ciência americana, com suas três centenas de prêmios Nobel já deveria ter encontrado, se buscasse com determinação, respostas a essas indagações que estamos fazendo. Estará ela tão estupefata como a ciência do resto do mundo? Sem respostas, sigamos em frente, para a maior de todas as perguntas. Façamos uma última comparação, agora entre os dois gigantes populacionais do mundo:

País                      População                      Infectados          Mortes por Covid

Índia                      1.402 milhões                    8.229.313                    122.607

China                     1.361 milhões                         91.397                        4.739

Não há como não nos estarrecermos diante desta comparação. O que ocorre nos dois países mais populosos do mundo para que sejam atingidos de maneira tão brutalmente diversa? A China, a rigor, não sentiu os efeitos do Covid, se cotejada com a Índia. Esta teve quase 100 afetados para cada contaminado na China. Com o agravante de o vírus ter origem chinesa, e ter se liberado quando o mundo estava desavisado de seu poder de destruição, só chegando à Índia muitos dias depois.

As perguntas são inevitáveis, mesmo deixando atrás de nós todas as teorias conspiratórias: Por que o vírus se disseminou tão pouco na China, se foi lá que ele surgiu e colheu de surpresa os serviços médicos chineses? Se ele lá foi contido – e indiscutivelmente o foi – por que meios isso aconteceu? Têm os chineses alguma resistência congênita? Se é assim, podem rapidamente desenvolver uma vacina. Foi com prevenção que se defenderam? Tinham já os chineses uma vacina que se mostrou eficiente contra o Covid e foi extensamente usada? Tinham algo de efetivo no reforçar a imunidade dos chineses, uma hidroxicloroquina de indiscutível e imediato efeito? Ou foi uma medicação de cura, usada nos primeiros sintomas e fulminantemente eficaz? Não existem milagres, como não existem fenômenos sem causa que lhes dê origem. Algo explicará o indiscutível sucesso chinês no limitar os efeitos da pandemia, e as razões desse sucesso já deveriam ter se estendido ao mundo todo, para combater a doença. Deveriam os chineses esclarecer e difundir seus métodos. Aliás, devem isso ao mundo, como originários e disseminadores do vírus, mesmo que sem intenção. E deveriam os cientistas do OMS estar na China, estudando todos os aspectos da pandemia desde os primeiros sinais de alarme, coisa que não fizeram. Deveria a comunidade científica mundial, principalmente a dos países mais adiantados ter a humildade de trabalhar com seus colegas chineses e saber deles o que fizeram para vencer, tão cabalmente como venceram, o vírus que deixaram escapar. Essa a última, a grande, a estarrecedora pergunta, cuja resposta mudaria o estado atual de sofrimento e pânico: por que ninguém faz isso?

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

 






                                                  

 O Milagre Do Zé Ninguém.


Nos seus quase 120 anos nenhum brasileiro foi à Suécia receber um Prêmio Nobel. Já os Estados Unidos lideram disparados o ranking com 369 agraciados. Porém, considerando o quociente de realização ( população versus premiados ) o destaque vai para os judeus. O Brasil com uma maiores populações do mundo ( ⅔ dos Estados Unidos ) , uma expressiva e próspera comunidade judaica, perde  até para os minúsculos Portugal e Chile, com dois premiados cada um. O Prêmio Nobel tem um significado simbólico, é um parâmetro do nível de desenvolvimento intelectual de uma sociedade. Nós não vencemos nem ao menos o Nobel da Paz. E nem o reconhecido talento judeu destacou-se no meio da nossa cultura. Há algo estranho por aqui!


As razões não são fáceis de serem explicadas. Mas algumas especulações podem  colocar um pouco de luz nas causas deste fraco desempenho. A primeira delas é o nível de escolaridade americana(1), que culmina com as suas 2.618 universidades, muitas delas  entre as melhores do mundo. As suas bolsas de estudos atraem uma elite internacional de estudantes, que formam um celeiro de talento para todas as atividades intelectuais e empresariais. Outro aspecto é a cultura da competição e da responsabilidade. Não só os alunos e os professores competem, mas as próprias universidades. Estas procuram ter os melhores esportistas, artistas, professores para angariar prestígio e com isto os melhores alunos - um círculo virtuoso, que premia o mérito. Importante - o bom curriculum é condição básica de êxito na vida e poder de pagar o ensino, se financiado (2).O ensino superior gratuito não arde no bolso da família e acaba não sendo valorizado. Pode ser elogiável, mas compromete os resultados.



Nem tudo porém é negativo. Não somos inferiores, o que nos aniquila desde a base  é o complexo de vira-latas (3) ,fruto de um protecionista que limita à competição e a responsabilidade. Os nossos homens públicos insistem em incutir no cidadão comum um sentimento de inferioridade. Há um excesso de soberba ao pretender tutelar a sociedade e até a dar aulas de finanças ao cidadão comum - o que nos humilha e apequena a nossa  autoestima. Se, ao contrário, eles trocassem a arrogância por uma dose de modéstia, mostrando respeito pela competência dos que sobrevivem com um salário mínimo (4) e aprendessem com eles como se administra o dinheiro, poderíamos  dar ao Brasil o Nobel de Economia com a tese - O Milagre do Zé Ninguém.



(1) O brasileiro lê, em média, 2 livros completos por ano. Os Argentinos e uruguaios leem 4 livros por ano. Chilenos e Norte americanos estão na casa dos 5 livros, em média, por ano.

(2)  As universidades americanas financiam os estudantes e oferecem gratuitamente bolsas de estudos para os talentosos. A disputa é tão intensa que chegam a enviar convites aos bem dotados  para visitar a escola com todas as despesas pagas - inclusive transporte aéreo. Este foi o caso de uma neta que ganhou uma bolsa da Universidade de Los Angeles, que escolheu depois de ter sido abordada pelas concorrentes. 

(3) - Por "complexo de vira-lata" entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.

Nelson Rodrigues 

(4) - Os que tratam o Zés Ninguém como incapazes  teriam legitimidade se conseguissem viver com o salário deles. Eles sim tem o que ensinar.



As Minhas Reflexões 

Jorge Wilson Simeira Jacob

11 novembro de 2020




segunda-feira, 9 de novembro de 2020

                                Misero Chi A Loro S’Affida. (1)

O político é volúvel, qual pluma ao vento 

Muda de voz e de pensamento 

Sempre um rosto adorável e gracioso 

Em lágrimas ou em risos, é mentiroso

O político é volúvel, pelo poder dá a vida

Misero chi a loro s’affida. (2)


O trecho  acima, é um plágio da La Donna è Mobile, uma das árias da  ópera Il Rigolleto, uma das mais populares do repertório de Giusepe Verdi. Os libretos, em geral,  são modestos em relação à genialidade musical, que encanta  os amantes da mais completa expressão da arte - a ópera. Os enredos são de pequeno valor literário. Il Rigolleto, baseado no romance O Rei Se Diverte, de Vítor Hugo, destaca-se como crítica política ao abuso do poder, à corrupção, luxúria e estupro sexual na  corte do Rei Luiz XII, da França. Uma realidade  em quase todos os  ambientes onde  o poder político pode dar   vazão ao pior da  natureza humana. Uma crítica atemporal, universal !


O libretista Francesco Maria  Piave, forçado pela censura, adapta o personagem principal na figura imaginaria  do Duque de Mantova, que, devasso, demonstra não ter a mínima consideração pelas mulheres ao cantar a famosa ária La Donna è Mobile. Como se a volubilidade fosse uma característica feminina! Sem se dar conta de que a causa é  serem as mulheres  mais sensíveis e  sentimentais; ou é por não disfarçarem como os homens as suas emoções, dando margem a uma ideia equivocada.  Na realidade somos todos volúveis, em maior ou menor proporção, na medida das circunstâncias.


Se um Verdi fosse atualizar o enredo e encomendasse um libreto sobre a vida na corte brasilense este não  seria uma tragédia. Seria uma ópera bufa, tal o absurdo das situações nos seus dois atos. Teria como cenário os anexos do Congresso; - o ano seria 2018; - os personagens seriam o Duque de Mantova, pretendente ao trono ocupado pela rainha Maria, a  Doida e seus acólitos.


Primeiro Ato -  (No gabinete do Duque )

Alguns assessores apresentavam os  resultados das últimas pesquisas,  e concluíam: -  a decepção das massas com o líder Dom Luis l, o Puro, patrono dos corruptos; - as condenações da Lava-Jato ; - e o desencanto com as mágicas da Nova Matriz Econômica. Todos estavam de acordo com existir uma oportunidade política. Seria coroado rei quem  fosse de encontro  às aspirações populares, no momento indignadas com “aselites” no poder e o seu “jeito de governar”. As massas exigiam o fim da corrupção, dos  privilégios, do desemprego e da deterioração da qualidade  de vida. O momento era   propício para um  salvador da pátria - religioso, moralizador  dos costumes e patriota. O Duque,  intuitivo, volúvel como o vento, incontinente captou a mensagem e transmudou-se em estadista,  lançou o lema: Brasil acima de tudo e Deus acima de todos e  mandou o recado: - diga ao povo que fico !  irei acabar com o aparelhamento do governo;  - o  ensino será libertado das ideologias;  - um mago das finanças pagará todas as dívidas do governo privatizando tudo; - será proibido proibir trabalhar;-  o governo será o mínimo para deixar o dinheiro nas mãos dos que melhor sabem como usá-lo.


Segundo Ato ( 2 anos após a eleição)

O Duque,  coroado rei , em reunião social nos salões reais, junto de outros vassalos ( os antigos foram substituídos) vangloriando-se da popularidade, exibe  o seu pouco apreço aos seus súditos cantando a ária O Político É Volúvel da Ópera , Misero Chi A Loro S’Affida.


 Notas:

(1)Este texto, como sempre faço, foi submetido à cinco leitores de vieses diversos para ser criticado, antes de ser divulgado. Um deles, cujas opiniões também respeito muito,  ponderou a inoportunidade de desprestigiar o atual  governo. Apontou ele que o nosso  desapontamento não nos permite esquecer a próxima eleição. Não temos uma terceira via. Não teremos opção melhor na próxima eleição, como não tivemos na anterior. Assim queimar este governo pode ser um suicídio . Concordei com a observação, realmente não temos uma alternativa. Os potenciais candidatos ou não têm chance ou são personagens de filme de terror. Entendo, porém,  que os eleitores esclarecidos tem como prioridade a escolha do regime político antes da do indivíduo. Foi por pensar assim que  votei no Bolsonaro e votarei novamente,  se as escolhas forem entre esta fachada de um misto espúrio de liberalismo-conservadorismo-populismo e a realidade do populismo socializante. Os indivíduos são mais fáceis de serem removidos do que as ideias erradas. Estas nos perseguem desde Vargas, e a cada fracasso reagem com mais do mesmo, na tragédia de não se aprender com os erros.


(2) miserável quem neles confia. 



As Minhas Reflexões.

Jorge Wilson Simeira Jacob

08 de novembro de 2020.