segunda-feira, 9 de novembro de 2020

                                Misero Chi A Loro S’Affida. (1)

O político é volúvel, qual pluma ao vento 

Muda de voz e de pensamento 

Sempre um rosto adorável e gracioso 

Em lágrimas ou em risos, é mentiroso

O político é volúvel, pelo poder dá a vida

Misero chi a loro s’affida. (2)


O trecho  acima, é um plágio da La Donna è Mobile, uma das árias da  ópera Il Rigolleto, uma das mais populares do repertório de Giusepe Verdi. Os libretos, em geral,  são modestos em relação à genialidade musical, que encanta  os amantes da mais completa expressão da arte - a ópera. Os enredos são de pequeno valor literário. Il Rigolleto, baseado no romance O Rei Se Diverte, de Vítor Hugo, destaca-se como crítica política ao abuso do poder, à corrupção, luxúria e estupro sexual na  corte do Rei Luiz XII, da França. Uma realidade  em quase todos os  ambientes onde  o poder político pode dar   vazão ao pior da  natureza humana. Uma crítica atemporal, universal !


O libretista Francesco Maria  Piave, forçado pela censura, adapta o personagem principal na figura imaginaria  do Duque de Mantova, que, devasso, demonstra não ter a mínima consideração pelas mulheres ao cantar a famosa ária La Donna è Mobile. Como se a volubilidade fosse uma característica feminina! Sem se dar conta de que a causa é  serem as mulheres  mais sensíveis e  sentimentais; ou é por não disfarçarem como os homens as suas emoções, dando margem a uma ideia equivocada.  Na realidade somos todos volúveis, em maior ou menor proporção, na medida das circunstâncias.


Se um Verdi fosse atualizar o enredo e encomendasse um libreto sobre a vida na corte brasilense este não  seria uma tragédia. Seria uma ópera bufa, tal o absurdo das situações nos seus dois atos. Teria como cenário os anexos do Congresso; - o ano seria 2018; - os personagens seriam o Duque de Mantova, pretendente ao trono ocupado pela rainha Maria, a  Doida e seus acólitos.


Primeiro Ato -  (No gabinete do Duque )

Alguns assessores apresentavam os  resultados das últimas pesquisas,  e concluíam: -  a decepção das massas com o líder Dom Luis l, o Puro, patrono dos corruptos; - as condenações da Lava-Jato ; - e o desencanto com as mágicas da Nova Matriz Econômica. Todos estavam de acordo com existir uma oportunidade política. Seria coroado rei quem  fosse de encontro  às aspirações populares, no momento indignadas com “aselites” no poder e o seu “jeito de governar”. As massas exigiam o fim da corrupção, dos  privilégios, do desemprego e da deterioração da qualidade  de vida. O momento era   propício para um  salvador da pátria - religioso, moralizador  dos costumes e patriota. O Duque,  intuitivo, volúvel como o vento, incontinente captou a mensagem e transmudou-se em estadista,  lançou o lema: Brasil acima de tudo e Deus acima de todos e  mandou o recado: - diga ao povo que fico !  irei acabar com o aparelhamento do governo;  - o  ensino será libertado das ideologias;  - um mago das finanças pagará todas as dívidas do governo privatizando tudo; - será proibido proibir trabalhar;-  o governo será o mínimo para deixar o dinheiro nas mãos dos que melhor sabem como usá-lo.


Segundo Ato ( 2 anos após a eleição)

O Duque,  coroado rei , em reunião social nos salões reais, junto de outros vassalos ( os antigos foram substituídos) vangloriando-se da popularidade, exibe  o seu pouco apreço aos seus súditos cantando a ária O Político É Volúvel da Ópera , Misero Chi A Loro S’Affida.


 Notas:

(1)Este texto, como sempre faço, foi submetido à cinco leitores de vieses diversos para ser criticado, antes de ser divulgado. Um deles, cujas opiniões também respeito muito,  ponderou a inoportunidade de desprestigiar o atual  governo. Apontou ele que o nosso  desapontamento não nos permite esquecer a próxima eleição. Não temos uma terceira via. Não teremos opção melhor na próxima eleição, como não tivemos na anterior. Assim queimar este governo pode ser um suicídio . Concordei com a observação, realmente não temos uma alternativa. Os potenciais candidatos ou não têm chance ou são personagens de filme de terror. Entendo, porém,  que os eleitores esclarecidos tem como prioridade a escolha do regime político antes da do indivíduo. Foi por pensar assim que  votei no Bolsonaro e votarei novamente,  se as escolhas forem entre esta fachada de um misto espúrio de liberalismo-conservadorismo-populismo e a realidade do populismo socializante. Os indivíduos são mais fáceis de serem removidos do que as ideias erradas. Estas nos perseguem desde Vargas, e a cada fracasso reagem com mais do mesmo, na tragédia de não se aprender com os erros.


(2) miserável quem neles confia. 



As Minhas Reflexões.

Jorge Wilson Simeira Jacob

08 de novembro de 2020.











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