sábado, 25 de julho de 2020

Um Cavalo De Picadeiro.


O  relato que se segue é um retrato da vida como ela é. Os fatos mencionados nele são observações, nem pessimistas e nem otimistas, mas a realidade  nua e crua...sem fantasias. Portanto, as  semelhanças com situações conhecidas nada mais são do que uma comprovação da sua existência. Vamos aos fatos!

Em uma escola de equitação, um velho cavalo passa o dia girando em círculo no redondel para  treino de principiantes na arte de cavalgar. São os conhecidos  cavalos de picadeiro. Cavaleiro novo, montaria velha! ensinam os mestres. Não é o cavaleiro que comanda a marcha, mas o animal. A inexperiência do aprendiz é superada pela  domesticidade da montaria, que, experiente,  corrige os erros dos principiantes.

Corisco é um desses cavalos. Quem o vê, alquebrado pelos anos, prestando-se a uma missão sem reconhecimento, não imagina a sua história. Nos seus bons tempos, era um belo exemplar da espécie pelo porte e beleza,  destacando-se  entre os melhores. Ele era um campeão, invencível, nunca perdia uma corrida entre os seus pares. Acumulava taças e prêmios valiosos. Era motivo de admiração e inveja no meio equestre. Porém, com o passar do tempo, na medida em que foi envelhecendo,  perdendo o vigor e a agilidade, deixou as competições e foi destinado a um campo de monta como reprodutor. O seu pedigree valorizava as suas crias, o que provocava grande interesse dos criadores. Assim,  fêmeas alinhadas faziam filas para serem fecundadas por ele. Elas, enquanto aguardavam a sua vez, ficavam em companhia de um animal castrado, que no papel de rufião as preparava  para a prenha. Poupava-se assim o tempo e o gasto de energia do garanhão. Função que durou enquanto Corisco manteve a virilidade, sendo na sequência castrado e destinado a ser um rufião de fêmeas para um outro que o substituiu. Ficando relegado à uma  posição secundária no processo de reprodução para finalmente ser condenado a uma escola para iniciantes.

Em uma outra escola, corre em paralelo a história de muitos cavalos de picadeiros -  uma que adestra os seres humanos para a vida. Nela  os iniciantes aprendem nos ombros de um corisco humano qualquer, e,  sem dar-lhes a mínima importância, os ignoram  quando realizam os seus sonhos de grandeza,  de conquistas e  de criadores  de  novas vidas ... para finalmente , como um modesto Corisco, descobrirem-se retornando ao princípio -  onde começaram como aprendizes  e onde  terminam  como um cavalo de picadeiro.



As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
25 de Julho de 2020.



quarta-feira, 8 de julho de 2020

 A Sua Cruz.

A vida corria tranquila. Cristo, ressuscitado, usufruía da paz celestial. Estava Ele , com olhar distante, rememorando a sua experiência terrestre, quando surge São Pedro, carregando a sua cruz, com ar desanimado. Pego de surpresa, Jesus pergunta:
  • O que aconteceu, Pedro? Você está com um ar de tristeza... 
  • Ah Jesus! Há tempos venho sofrendo calado. Sei que todos têm uma cruz para carregar; e que a vida não consiste só de  venturas, mas não concordo ter de arrastar a cruz mais pesada, mais rústica, mais comprida de todas... Uma peça desconfortável, que nem ao menos  tem meu nome aparente para dar-me prestígio. Tenho o maior dos sacrifícios e nenhum reconhecimento público. Considero a minha pena uma injustiça totalmente em desacordo com a sua pregação na Terra aos homens de boa vontade.                       
  • Pedro, sinto muito! Minha intenção foi premia-lo com a melhor de todas a serem distribuídas. Eu também tenho a minha, o que me torna sensível às reclamações. Vamos corrigir o erro! Agora é hora do almoço. Todos  deixaram as suas cruzes naquele monte. Escolha a que mais lhe agradar. Tenha  cuidado, pois a variedade é enorme!                      
Passaram-se dias. Jesus já tinha se esquecido do caso, quando vê Pedro passando feliz da vida com a sua cruz. Pedro! Chama Jesus:
  • Vejo você radiante, com um ar vitorioso, o que aconteceu?
  • Ah! Agora sim. Tive que experimentar todas as cruzes do mundo, mas valeu a pena! Achei uma sob medida para mim. Esta é muito confortável!
Com ar carinhoso, paternal, Cristo diz:
  • Pedro, ora Pedro! você não trocou...essa é a mesma cruz que Eu  lhe dei!
  • É verdade. ( envergonhado) Descobri na comparação o  valor dela. Foi preciso experimentar as cruzes dos outros para saber o quanto  eu era feliz.
  • É sempre assim, Pedro! Sempre achamos que a nossa cruz é a pior de todas. Na verdade, Eu dou a cada um uma cruz sob medida, mas  muitos reclamam. Só quando experimentam a dos outros é que dão valor à que tem e  descobrem  os méritos de quem as carrega. Na vida, a felicidade está na sabedoria de aceitar a sua cruz.


As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
07.07.2020