domingo, 26 de dezembro de 2021

Um favelão chamado Brasil.


Todos conhecem, ainda que por fora, as nossas favelas * . Poucos se atrevem a entrar na maioria delas. São manchas negras em uma sociedade que se pretende civilizada. São territórios livres onde prevalece a lei do mais forte. Os casebres,  aproveitamento de restos de construção, de madeira, de caixotes e de papelão,  são precários, não oferecem a mínima proteção aos seus moradores. Neles não há nem segurança, nem privacidade e muito menos higiene. A insalubridade está a olhos vistos, nos esgotos a céu aberto, nos dejectos humanos, lama e animais  domésticos. As favelas são exemplos do que é uma condição sub- humana de vida. Como regra, não têm água encanada e a energia elétrica  vem de gambiarras, as quais são as causas de constantes incêndios. 


Antigamente as favelas estavam concentradas no Rio de Janeiro, capital da República à época da libertação dos escravos, que gerou uma primeira onda de favelados. Foi a solução adotada pelos  libertos, que não tendo onde morar,  viam nos morros espaço livre e proximidade aos  empregos. Carlos Lacerda**, o melhor governador da história do Rio de Janeiro, tentou eliminar as sete favelas então existentes ( hoje são setecentas ). Construiu, afastado da cidade, a Vila Kennedy, financiada pelo governo americano. Transferiu duas favelas sob forte resistência dos moradores.  Muitos foram forçados a mudar. Resistiram  por razões diversas: distância dos empregos, da praia e da vida social. O projeto morreu na praia!  A Vila Kennedy foi mais um exemplo de que a engenharia social não substitui a liberdade de cada um escolher a sua maneira de ser feliz.




Uma segunda onda aconteceu com a redução da população rural, que transferiu-se para as cidades provocada com a extensão das Leis Trabalhistas ao campo. Fato que gerou uma demissão em massa de trabalhadores rurais. Estas duas medidas, que visavam melhorar as condições dos trabalhadores, por não darem  um mínimo de amparo aos desalojados, acabou  penalizando-os. Ganharam a desejada alforria, mas a custa de serem lançados abruptamente ao relento.


Uma terceira onda está  acontecendo -  a  migração para as grandes metrópoles, que oferecem melhores condições de emprego. À densidade demográfica elevada juntou-se  uma política urbanística elitista*** , que jogaram os preços do metro quadrado da habitação a níveis inacessíveis às classes menos favorecidas. A consequência está no aumento das favelas, para os pobres, unidades minúsculas, para a classe média, e edifícios de alto luxo, para a classe privilegiada. A distância  entre o pico da pirâmide e a sua base continua aumentando.


Nada indica haver uma mudança na tendência de concentração nas grandes metrópoles. As classes mais baixas têm proles maiores e são elas que em maior número procuram as megalópoles à procura de emprego. Muito provavelmente alojando-se em uma favela. As megalópoles estão cada vez mais rodeadas de megafavelas - um retrato do que poderá ser um favelão chamado Brasil. A menos que os governos reduzam as exigências elitistas e tornem viáveis loteamentos e habitações simples, sem a ilusão do modelo que satisfaz aos sonhadores do mundo ideal. O excesso de intervencionismo governamental, por questões de sobrevivência, força o homem à marginalidade.




São Paulo, 26 de dezembro de 2021,

Jorge Wilson Simeira Jacob



*A origem do termo "favela" encontra-se no episódio histórico conhecido por Guerra de Canudos. A cidadela de Canudos foi construída junto a alguns morros, entre eles o Morro da Favela, assim batizado em virtude da planta Cnidoscolus quercifolius (popularmente chamada de favela) que encobria a região. 

Wikipedia 

** Carlos Lacerda, jornalista, político foi um dos maiores tribunos brasileiros. Fez excelente governo no Rio de Janeiro.

*** Os planos urbanísticos das cidades são elitistas por terem exigências de estrutura, dimensão e sofisticação, que marginalizam os mais pobres. A consequência é a favelização, onde os sonhos utópicos  dos urbanistas não é respeitado. É tipicamente o caso onde o ótimo inviabiliza o que seria o bom. Nem parece que somos um país imenso, com muito  espaço livre, que não é viável para os trabalhadores pela falta de transporte de massa e legislação urbana irrealista.Um cidadão de São Paulo, que mora na periferia, perde de 4 a 6 horas no trânsito diariamente. 


quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

 As festas de Ano Novo.


Um  ano vai-se pra outro poder vir.

Chega com alegria  pra  tristeza sair,

Como o dia que surge  pra noite cair.


Nossos anos têm as suas histórias, 

Recheados de frustrações e  glórias,

Que habitam o fundo das memórias,


Com um sonho pra cada coração, 

Uma esperança em cada ilusão, 

Uma cicatriz a cada decepção.


A vida não para, tem o seu tempo,

Como a chuva, o seu vento

E a felicidade, o seu momento.


O Ano Novo tem as suas celebrações,

Onde cada um de nós tem suas razões,

Que nutre com os frutos dos corações.



São Paulo , 23 de dezembro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob 







quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

 Um exemplo que fala por si só!


Antônio de Oliveira Salazar * foi o estadista que mais tempo governou Portugal. Como ditador  ( 1932 e 1933 ) e de forma autoritária, desde o início da Segunda República até ser destituído em 1968. Inspirado no fascismo e apoiando-se na doutrina social da Igreja Católica, Salazar orientou-se para um corporativismo de Estado, com uma linha de acção económica nacionalista assente no ideal da autarquia. Esse seu nacionalismo económico levou-o a tomar medidas de proteccionismo e isolacionismo de natureza fiscal, tarifária, alfandegária, para Portugal e suas colônias, que tiveram grandes impactos positivos e negativos durante todo o período em que exerceu funções. Salazar, seminarista por oito anos, respeitado professor de finanças na Universidade de Coimbra, assume o governo, convocado pelos militares, depois do golpe de 1926. 


Portugal,  da implantação da República em 1910 até o golpe militar,  teve oito Presidentes da República, quarenta e quatro reorganizações de gabinete e vinte e uma revoluções. O primeiro Governo da República não durou dez semanas e o mais longo durou pouco mais de um ano. Várias personalidades políticas foram assassinadas. Pela Europa afora a palavra “revolução” passou a estar associada a Portugal. O custo de vida aumentou vinte e cinco vezes, a moeda caiu para 1/33 partes do seu valor relativamente ao ouro. O fosso entre ricos e pobres continuou sempre a aumentar. A Igreja Católica foi implacavelmente perseguida pelos maçons anticlericais. Os atentados terroristas e o assassinato político generalizaram-se. Entre 1920 e 1925, de acordo com dados oficiais da polícia nas ruas de Lisboa  explodiram 325 bombas. Com o país continuamente à beira de uma guerra civil, em 1926 dá-se um levantamento militar, sem derramamento de sangue e com a adesão de inúmeros sectores da sociedade portuguesa, desejosos de acabar com o clima de terror e violência que se tinha instalado no país. Ilustrativo do caos a que se tinha chegado é o fato do poeta Fernando Pessoa ter apelidado a Primeira República de regime de "conspurcação espiritual"  e em 1928 ter escrito "O Interregno Defeza e Justificação da Dictadura Militar em Portugal" onde afirmou que: “É hoje legítima e necessária uma ditadura militar em Portugal”.


Os militares, após o golpe,   convidaram Salazar para a pasta das finanças; mas passados treze dias Salazar renuncia ao cargo por falta de condições para trabalhar. Posteriormente é chamado de volta e acaba por assumir o cargo de Presidente do Conselho de Ministros. De forma autocrática, equilibrou as finanças e restabeleceu a ordem pública. Governou o país com punho de ferro. Organizou uma polícia secreta, PIDE,  com fins políticos, que perseguia e torturava os inimigos do seu governo. 


Salazar permaneceu solteiro. Alegava ter casado com Portugal. Ainda que houvesse comentários de alguns  amores, levava uma vida austera, toda ela  devotada à política.  O seu governo desconheceu a corrupção na economia, mas o país não desenvolveu-se. Perdeu o passo em relação ao mundo. O governo de Salazar é um modelo de que só a honestidade, por si só,  ainda  que fundamental, não é suficiente para o desenvolvimento. As políticas de economia fechada, autarquia, sem competição, estiolou o progresso do país. Portugal, com a austeridade de Salazar, que sufocou a liberdade política e econômica, acabou não tendo corrupção, mas também não desenvolveu-se. É um exemplo que fala por si só: combater a corrupção só não basta, ainda que indispensável e desejável. É necessária um Estado organizado, com respeito às leis, com liberdade econômica para tirar uma nação do subdesenvolvimento.Só uma Lava Jato, por mais moralizadora que seja,  não garante o futuro.


*Antônio de Oliveira Salazar

    Wikipédia 


São Paulo, 22 de dezembro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob 




quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

 


Os sub-proteicos e as eleições.



O eleitorado brasileiro será convocado ( o voto é obrigatório ) às urnas no final do próximo ano. A cidadania nos obrigará a escolher a chapa do próximo presidente. Dois candidatos já exerceram o cargo deixando amarga a boca dos eleitores não alinhados incondicionalmente. Lula que desponta nas pesquisas como o preferido, se nada mudar,  será eleito no primeiro turno. Prenunciando repetir o desastroso resultado das gestões petistas, não só no âmbito federal, mas também estadual e municipal. Todas  marcadas por corrupção e incompetência. O jeito petista de governar  colocou o país na UTI do SUS. 


Se errar é humano, perdoemos quem votou no Lula numa  fase da experiência. Mas depois do teste feito, com os péssimos resultados, como explicar uma fidelidade ao Lulla? Se repetir o erro é burrice, não tendo outra justificativa, só sobra mesmo atribuir à  ignorância. Quem sabe, por eufemismo,  possa-se pensar em sado-masoquismo. A psicologia reconhece haver prazer na automutilação em mentes perturbadas. Desvio psicológico que pode ser atribuível à parte da população sacrificada pela fome na infância - os sub-proteicos . Constatação, além de triste e vergonhosa, deveras pessimista. Como   o país não resolveu o desafio da miséria, vai continuar dependendo da escolha dos seus governantes aos  sub-proteicos.


A eleição do candidato Bolsonaro surgiu como uma antítese à tese da prevalência dos sub-proteicos na escolha dos candidatos. Doce ilusão. Ele não foi eleito pelo que se sabia dele, mas pelo que se desconhecia, sem contar a rejeição ao candidato petista. Além de que uma facada criminosa ( providencial para efeitos eleiçoeiros ) evitou a exposição do candidato. Ganhou as eleições pelo carisma, não pelo conteúdo. Ainda que tenha prometido um Posto Ypiranga, com um sortimento de ideias que atualizariam ao marco civilizatório a Nação. A sensação que este período de governo dá é a de fim de feira. Sobrou pouca coisa para se mostrar. O pouco que foi feito não foi o suficiente para recuperar o tempo perdido.


Estamos, assim, frente ao desafio do surgimento de um candidato à altura dos nossos desafios. Infelizmente nada promissor temos no mostruário de candidatos. Moro não tem carisma, é fraco de conteúdo e jejuno em eleições. Não chega lá! Doria fez um governo fraco, dividiu o seu partido, e desgastou o seu capital político mostrando-se, ao contrário do que apregoava, não ser um gestor, mas um político igual aos outros. Não chega lá! O resto é somente bucha para canhão. Não chegarão lá !


E agora José?! Em quem votar? Esta será a grande questão.


A solução que nenhum candidato divulga, obviamente por não lhes interessar, é o voto anulado. Ao anular o voto o eleitor está pedindo outros candidatos. Estará dizendo não querer  mais do mesmo. Anule-se a eleição e venham outros postulantes à Presidência do país. Só assim teremos em quem votar…se os sub-proteicos deixarem.


São Paulo, 16 de dezembro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob


quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

 Os pragmáticos e os idealistas.

Há assuntos, devido à sua importância, que não se pode deixar morrer. Entre os mais significativos está o respeito às Leis. O Estadão, no dia 14 de dezembro,  sob o título de As causas da impunidade,  não só revive o assunto como o faz de maneira contundente. Foi pertinente a abordagem  do jornal , tendo em conta que está difundida a discussão dos desvios da Lava Jato, provocada pela candidatura do ícone do movimento, Sérgio Moro. Enquanto os idealistas são contra os desvios da Lei, independente dos méritos, os pragmáticos , em nome de uma justiça, aceitam desvios para que os culpados sejam punidos.
 
O pragmatismo, na essência, é amoral, atemporal e , se conviniente, ilegal Os pragmáticos, aqui entendidos os que consideram válido aquilo que atendem aos seus interesses, oscilam de acordo com as circunstâncias. São erráticos. Eles justificam o desvio aos procedimentos legais pois , em sendo os acusados detentores do poder, donos da habilidade de não deixar rastros,   ser impossível a  punição dos crimes seguindo o rigor da Lei. Segundo entendem, as leis são promulgadas por eles com vistas à  própria impunidade. Estariam assim validando as condenações da Lava Jato e contra a desconsideração das condenações dos crimes cometidos contra os cofres da Petrobras, Boi Barrica e outras prevaricações contra o bem público.

Já os idealistas, como o Estadão, têm uma visão conceitual, colocam acima de tudo a defesa do indivíduo. Frederic   Bastiat, na A Lei, um clássico, definia que as Leis devem existir para proteger o cidadão contra o poder do Estado. Sem Leis o indivíduo está à mercê dos governantes. Mesmo os inocentes que, hoje , pode ser alguém , amanhã, poderá ser um de nós. Esta concepção vem completar a ideia da divisão dos poderes de Montesquieu influenciados pelos abusos do  Poder Absolutista reinante em suas épocas. Mas válida ainda em nossos dias… e sempre!


Se para os pragmáticos, a Lei é relativa, para os idealistas, ela deve ser absoluta. Se não atende aos interesses da sociedade, deve ser mudada. Mas enquanto Lei deve ser respeitada - doa a quem doer! E é a ilegalidade que o articulista do jornal condena. Pois o contrário seria a ideia maquiavélica de que os fins justificam os meios. Para os idealistas,  a turma da Lava Jato  barbarizou a legislação, o que mancha as suas imagens  como responsáveis pelo cumprimento da Lei - independente de ser ou não correta a condenação. Ademais, por desrespeitarem os protocolos jurídicos prestaram um desserviço à Justiça. Todas as condenações foram anuladas por não atenderem ao processo legal. O que está certo: um crime não justifica um outro!




São Paulo, 15 de dezembro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob