Um exemplo que fala por si só!
Antônio de Oliveira Salazar * foi o estadista que mais tempo governou Portugal. Como ditador ( 1932 e 1933 ) e de forma autoritária, desde o início da Segunda República até ser destituído em 1968. Inspirado no fascismo e apoiando-se na doutrina social da Igreja Católica, Salazar orientou-se para um corporativismo de Estado, com uma linha de acção económica nacionalista assente no ideal da autarquia. Esse seu nacionalismo económico levou-o a tomar medidas de proteccionismo e isolacionismo de natureza fiscal, tarifária, alfandegária, para Portugal e suas colônias, que tiveram grandes impactos positivos e negativos durante todo o período em que exerceu funções. Salazar, seminarista por oito anos, respeitado professor de finanças na Universidade de Coimbra, assume o governo, convocado pelos militares, depois do golpe de 1926.
Portugal, da implantação da República em 1910 até o golpe militar, teve oito Presidentes da República, quarenta e quatro reorganizações de gabinete e vinte e uma revoluções. O primeiro Governo da República não durou dez semanas e o mais longo durou pouco mais de um ano. Várias personalidades políticas foram assassinadas. Pela Europa afora a palavra “revolução” passou a estar associada a Portugal. O custo de vida aumentou vinte e cinco vezes, a moeda caiu para 1/33 partes do seu valor relativamente ao ouro. O fosso entre ricos e pobres continuou sempre a aumentar. A Igreja Católica foi implacavelmente perseguida pelos maçons anticlericais. Os atentados terroristas e o assassinato político generalizaram-se. Entre 1920 e 1925, de acordo com dados oficiais da polícia nas ruas de Lisboa explodiram 325 bombas. Com o país continuamente à beira de uma guerra civil, em 1926 dá-se um levantamento militar, sem derramamento de sangue e com a adesão de inúmeros sectores da sociedade portuguesa, desejosos de acabar com o clima de terror e violência que se tinha instalado no país. Ilustrativo do caos a que se tinha chegado é o fato do poeta Fernando Pessoa ter apelidado a Primeira República de regime de "conspurcação espiritual" e em 1928 ter escrito "O Interregno Defeza e Justificação da Dictadura Militar em Portugal" onde afirmou que: “É hoje legítima e necessária uma ditadura militar em Portugal”.
Os militares, após o golpe, convidaram Salazar para a pasta das finanças; mas passados treze dias Salazar renuncia ao cargo por falta de condições para trabalhar. Posteriormente é chamado de volta e acaba por assumir o cargo de Presidente do Conselho de Ministros. De forma autocrática, equilibrou as finanças e restabeleceu a ordem pública. Governou o país com punho de ferro. Organizou uma polícia secreta, PIDE, com fins políticos, que perseguia e torturava os inimigos do seu governo.
Salazar permaneceu solteiro. Alegava ter casado com Portugal. Ainda que houvesse comentários de alguns amores, levava uma vida austera, toda ela devotada à política. O seu governo desconheceu a corrupção na economia, mas o país não desenvolveu-se. Perdeu o passo em relação ao mundo. O governo de Salazar é um modelo de que só a honestidade, por si só, ainda que fundamental, não é suficiente para o desenvolvimento. As políticas de economia fechada, autarquia, sem competição, estiolou o progresso do país. Portugal, com a austeridade de Salazar, que sufocou a liberdade política e econômica, acabou não tendo corrupção, mas também não desenvolveu-se. É um exemplo que fala por si só: combater a corrupção só não basta, ainda que indispensável e desejável. É necessária um Estado organizado, com respeito às leis, com liberdade econômica para tirar uma nação do subdesenvolvimento.Só uma Lava Jato, por mais moralizadora que seja, não garante o futuro.
*Antônio de Oliveira Salazar
Wikipédia
São Paulo, 22 de dezembro de 2021.
Jorge Wilson Simeira Jacob
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