quinta-feira, 25 de novembro de 2021

 



A medida do socialismo.

Duas grandes correntes de pensamento superaram os desafios dos últimos séculos : o socialismo e o capitalismo. O ideal comunista, de triste memória, morreu com a fracassada experiência da falida União Soviética. Ela não festejou um centenário, mas deixou um monumento na história da humanidade como a  ideia que mais gente matou, mais injustiças praticou e mais miséria criou. Essas  duas  ideias adaptaram-se aos tempos para sobreviver. O socialismo deixou de ser o caminho para o comunismo e reduziu a ambição inicial de eliminar as desigualdades socioeconômicas, diante dos limites impostos pela realidade. Mesmo os países escandinavos não só têm reduzido a interferência governamental nas suas  economias,  como dão uma liberdade de ação às empresas muito superior ao que temos na maioria dos países capitalistas. Testemunho neste sentido deu o presidente da Vivino, que manifestou-se negativamente surpreso com a burocracia brasileira. Ao inaugurar uma filial no Brasil, disse: os impostos na Dinamarca são altos, a  burocracia é mínima, não há corrupção, mas as empresas tem muita liberdade para trabalhar*. 

Afinal são elas que pagam as contas.

O conceito básico é ser o socialismo  um sistema político e econômico que tem como principal fundamento a igualdade. O objetivo do sistema é uma sociedade igualitária, com a transformação desta, através da distribuição de renda para diminuir a desigualdade social. No aggiornamento do socialismo para a sobrevivência,  dosagens diferentes de intervenção governamental  têm sido  praticadas. Nem todos os socialistas são iguais, alguns são mais do que os outros. O que sugere imaginar uma régua para medir as diferenças. Uma medida dos diversos  níveis de  socialismos, que vicejam mundo afora,  é o tamanho do orçamento do governo. De uma maneira singela, poderíamos ter como ilustração  ser o tamanho de um Orçamento de governo igual ao nível de socialismo. Assim  um  Orçamento de 100% do PIB  ( como foi na URSS ) equivaleria a igual nível de socialismo;  como  58% do PIB do Brasil,  seria a medida do nosso socialismo. Com esta régua, a China que tem um Orçamento ** de 20% do PIB é só 20% socialista, menos do que os Estados Unidos da América. O mesmo critério pode ser estendido às pessoas. Um  indivíduo que postula uma dosagem de redistribuição de renda é socialista ao nível da  intervenção que defende. 

O mal do socialismo é que  nenhum governo produz nada, a não ser burocracia, e para   reduzir as desigualdades têm que tomar de alguém . Os que produzem são submetidos aos impostos ( de imposição) , pois de outra forma não abririam as suas carteiras. Mas a tributação tem limites, acima de certo nível  ( Curva de Lafer ) produz resultados indesejáveis. O que se reflete na capacidade distributivista dos governos.  Já o capitalismo, com a inegável condição de criar riquezas e de  reduzir a pobreza,  aceita  como naturais as desigualdades. A China, cujo capitalismo selvagem, tão criticado, valorizando o gato que caça o rato , tirou mais chineses da miséria  do que matou Mao Tse Tung. Como sempre, a realidade a longo prazo impõe-se:  a  igualdade em  Cuba, na Venezuela… ( excepto os nobres da nomenclatura ), não mata o sonho de emigrar para os Estados Unidos. Simplesmente porque a  flagrante desigualdade da sociedade americana não fez pior a vida da grande massa. Como a centena de  bilionários chineses não impediu a redução da pobreza do país***.  

Em resumo, como disse o mestre de frases de efeito e commom  sense , Milton Friedman, mantenha os seus olhos em uma  única coisa e somente uma coisa: quanto o governo está gastando.  

Esta é a medida do socialismo! 


São Paulo, 24 de novembro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob


* Veja a Dinamarca, que é um país muito bom para fazer negócios. Os impostos são muito altos para algumas coisas, mas há pouquíssima burocracia, não há corrupção e o governo realmente fica fora do caminho a maior parte do tempo. Isso é crucial. É realmente um grande problema quando os governos ficam interferindo.... - Veja mais em https://economia.uol.com.br/reportagens-especiais/uol-lideres-heini-zachariassen-vivino/index.htm#brasil-tem-impostos-e-precos-dificeis-de-entender.


** PEQUIM - O total obtido na arrecadação de impostos na China em 2006 atingiu o valor recorde de US$ 482,5 bilhões, 21,9% a mais que no ano anterior, informou hoje o jornal oficial "China Daily".O número, que não inclui as tarifas nem os impostos agrícolas, foi publicado pela Administração Estatal de Impostos, e representa 18% do Produto Interno Bruto (PIB), um ponto percentual acima do resultado de 2005.

*** Segundo Stanley Tsung, chinês residente nos Estados Unidos, repercutindo este artigo,  escreveu: Concordo em gênero, número, e grau. A China foi o país que mais tirou gente da pobreza nos últimos 30 anos e que tb mais bilionários criou. É um povo muito trabalhador pois a concorrência é avassaladora.…Lá realmente colhe-se o que planta...  o difícil é plantar algo que alguém já não plantou. 

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

 A semi-virgindade.


Um dos mais marcantes traços do caracter brasileiro é a tendência à contemporização. Não é incomum  ter  como resposta a uma pergunta o  clássico  mais ou menos. A assertividade anglo-saxônica , quando aqui praticada, não é bem vista. Não gostamos de ouvir um  não e menos ainda, dizer:  não sei. Contemporizamos tudo, ou postergando uma resposta ou com escapismos: vou pensar, quem sabe, depois a gente se fala… e por aí vai. Há, porém,  situações que são absolutas, não permitem o meio termo, a protelação. A virgindade é uma delas. Não há o mais ou menos. Ou é ou não é.  É inegável que essa nossa maleabilidade torna o convívio social mais harmonioso, suave, mas, não indo ao cerne do assunto, não se vai  à solução final. Evitamos bater de frente. A  verdade, porém, com essa nossa flexibilidade diante da  ordem estabelecida, esse nosso  jeitinho encontra espaço para não se levar a lei à sério. Por isto, as nossas leis são como as vacinas - umas pegam outras, não.


Com essas e outras, o resultado é haver uma confusão  generalizada na consciência coletiva com respeito à ordem estabelecida. Começando pela organização do Estado, a sociedade aceita com naturalidade o desrespeito de um dos poderes com relação aos outros. Se fosse desfile de escolas de samba, seríamos desclassificados por ter deixado o samba enredo atravessar.  Haja visto o atual comportamento dos nossos  poderes.  O judiciário atravessa o samba legislando, o legislativo faz-se de morto, o executivo ameaça não obedecer uma lei que o desagrade… e o conúbio entre os poderes constituídos é imoral.  Em vez de cumprir as leis, que é a sua função,  o judiciário, faz uma pretensa justiça, a título de corrigir desigualdades sociais ou atender às crenças pessoais. E o povo ainda reclama de não haver justiça, quando o de que carecemos é do cumprimento das leis. Se uma lei  não é adequada,  não  cabe ao judiciário desrespeitá-la, mas ao legislativo mudá-la. 


Nessa confusão organizacional, a tal ponto está chegando a interferência/desvirtuamento  do judiciário nos assuntos de governo, sob o olhar complacente do legislativo, que vozes esclarecidas como a do Gal. Paulo Chagas, um legítimo democrata-liberal, alertam a Nação para o risco de uma ditadura deste poder. Por falta de sorte, a sociedade não faz coro a este pedido de respeito às leis e aceitam o samba atravessado.  Mais ainda, uma  massa de bem intencionados aceita que,  em vez do rigor da lei, se faça justiça - como se esta fosse a função do judiciário. Este entendimento acomodatício  faz lembrar a famosa advertência de Rui Barbosa:  a pior das ditaduras é a do judiciário, pois deste não há a quem recorrer. 


Esse samba atravessado está nos levando à  semi-virgindade. Estamos  inventando a democracia relativa ou a semi-ditadura, como sistema no nosso governo. Fugimos da  democracia clássica, que está assentada na  divisão do governo  entre três poderes - executivo, legislativo e judiciário; do  check and balance que  foi a solução de Montesquieu para proteger as nações do perigo da concentração do poder.  Ele certamente leu Hobbes e apreendeu que o  Leviatã cresce na medida do seu poder.  O poder absoluto, com os faraós, imperadores, reis, que precedeu a democracia, deixou um enredo pouco edificante. Lição que os democratas não devem esquecer.


Rui Barbosa, entretanto, estava equivocado. Não levou em conta o papel das FFAA de defesa da Constituição. Cabe a elas, além de cuidar da nossa soberania, a ordem constitucional. Elas não podem permitir, usando a força, se for o caso, uma ditadura, seja de qual dos poderes for.  O desequilíbrio vigente entre os três poderes criou  um novo modelo de organização do Estado, a democracia relativa, semi-ditadura,  para sermos vistos pelo mundo como os inventores da semi-virgindade.


São Paulo, 221 de novembro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob 

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

 



Uma Obra Prima Da Fofoca.


São poucas as  coisas íntimas que compartilhamos. Do restante, passamos a vida falando de tudo, dos nossos sonhos, das nossas conquistas e das nossas frustrações. Somos uma sociedade oral. Sobretudo saboreamos com luxúria uma boa fofoca. Aliás, quanto mais alta a posição sócio-econômica das vítimas, quanto maior o desastre, mais interesse temos em ouvir e passar adiante uma fofoca.  Há casos que são patológicos. Há uma fofoqueira incansável, que não espera pelas novidades. Vai atrás . Circula por todos os cantos com as antenas ligadas. Caça uma maledicência com a volúpia de um caçador de leões. Uma fofoca para ela tem o mesmo valor  que as presas de um  elefante para um caçador. Esta fofoqueira  é tão focada no seu objetivo que, ao aproximar-se de alguém, mal cumprimenta. Vai logo perguntando: 

  • vc tem alguma novidade para me contar? Se não tem resposta positiva, vai caçar em outro sítio. Mas, se puder,   destila algum veneno, do tipo:
  • fiquei sabendo de um caso envolvendo gente importante . Quando a bomba estourar, ninguém vai acreditar! É daquelas  de fazer ondas no mar. Aguardem! O efeito será  imediato. Todos em coro perguntarão:

é o fulano?a fulana?  é traição ? é calote? A comoção é geral.


Pode parecer exagero, uma caricatura,  essa caracterização dos humanos, mas é um retrato do nosso comportamento social. Exclusivamente humano. Nem o papagaio, que fala, diz  mal da vida alheia.  Se alguém pensa ser exagero  o cultivo da intriga, da fofoca e da bisbilhotice, faça o seguinte teste. Aproxime-se de uma roda de conhecidos  nas pontas dos pés. Segure a respiração como se sem ar estivesse. Olhe de um lado para o outro, com olhar inteligente, como  detetive em busca da solução de um crime.  Quando a roda de conhecidos der  uma pausa na conversa, diga à meia voz no ouvido do mais próximo: 

- Tenho uma fofoca do balacubaco. Estou sobressaltada. Nunca imaginei um escândalo igual. Principalmente envolvendo gente cheia de pose e de falsa moralidade. Ainda não posso contar, mas um dia todo mundo vai saber. E tente sai de mansinho, se é que a curiosidade do grupo permitir.


Uma fofoca que deu grande Ibope foi a da ida dos Amoreiras a um cirurgião plástico,  o famoso Dr.Pitanga. Uma fofoqueira conhecida, que aguardava a vez de ser atendida, ficou intrigada, pensou:

 - O que o casal Amoreira, beirando os noventa anos, quer desse cirurgião. Ficou de ouvidos abertos e ouviu a seguinte entrevista, que depois esparramou para o mundo:


Dr. Pitanga - Bom dia! em que posso servi-los?


Amoreira - a minha mulher fez uma plástica com o Sr. há muitos anos. O rejuvenescimento mudou a vida dela para melhor. Ficou mais sociável e até teve uma forte melhora do libido. Nunca mais teve enxaqueca quando a procuro na cama. A sua cirurgia teve um efeito psicológico incrível. O Sr. sabe que o desempenho sexual depende não só da condição física, mas também da psicológica. A melhora estética ressuscitou a minha mulher. E é por isto que estamos aqui. Desejo fazer uma cirurgia plástica.


Dr. Pitanga - Sr. Amoreira, operei a sua esposa quando a idade dela permitia. Infelizmente, não vou poder operá-lo. Vejo a  idade na sua ficha, 85 anos. Seria muito arriscada uma cirurgia. Eu não o aconselho. Ademais, como está a sua glicemia? a pressão arterial? a próstata? o desempenho sexual? Estes fatores são importantes para a avaliação da capacidade do paciente submeter-se ao trauma de uma grande intervenção cirúrgica.


Amoreira - A minha saúde é perfeita. Não levanto à noite para urinar; a pressão é boa; não tenho diabetes; e sou ativo sexualmente. Compareço todos os dias. Ainda que sejam tentativas todas fracassadas, mas procuro manter a chama acesa. Acredito que a natureza só tem interesse em nós  enquanto damos sinais positivos para a preservação da espécie, por isto não desisto. E é por isto que estamos aqui. Não estou querendo tirar as rugas do rosto. Não. A minha mulher convenceu-me de que deveria fazer uma plástica no penis.


Dr. Pitanga - alongamento? Não !!! Esta não é a minha especialidade. Posso até indicar quem faça.


Amoreira - Não é isto, não. Eu quero um embelezamento: tirar rugas, dobras e pelancas. Espero com isto ter o mesmo efeito psicológico que teve a minha mulher. Se isto não acontecer, se o penis continuar não tendo outra função que seja a decorativa, que pelo  menos tenha uma bonita aparência, que seja uma obra prima. 


Na sala de espera do Dr. Pitanga, entre as fotos dos rostos das personalidades que operou, está em destaque o membro viril, operado, do Amoreira, com a dedicatória do feliz casal.



São Paulo, 04 de novembro de 2021

Jorge Wilson Simeira Jacob

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

 Brincando Com Fogo.


Como crianças descuidadas,  estamos brincando com fogo sem atentar para os possíveis riscos. A falta de consciência do perigo pode resultar em queimadoras graves. Assim também como brincar com o tamanho do governo pode causar estragos indesejáveis. Há no consciente coletivo a medida dos perigos de uma queimadura, mas não as há com respeito ao tamanho do governo. Não há consciência de que os males indesejáveis, desigualdade, miséria, estagnação da economia, têm como uma das causas o custo da máquina governamental e a burocracia decorrente. O  carrapato ficou maior do que a vaca e o fazendeiro não se deu conta. Nem a falta do leite nem a perda de peso do animal o sensibilizou. Como não  se sensibilizaram os cidadãos  com a inviabilização da economia. Não faltam os que, diante das perspectivas negativas, advoguem aumentos dos gastos governamentais em atividades não produtivas. O que temos de sobra são opiniões de que diante de uma população carente, deveríamos acelerar o nosso passo em direção a mais  socialismo. O imediatismo e a irracionalidade tomaram conta. As emoções estão sobrepostas à razão. Acreditam que a solução está na dose do socialismo praticado e não na  concepção em si. Mais ou menos como acreditar que é o  aumento de velocidade que vai salvar um avião em queda e não a mudança da sua direção.


Vamos aos fatos. Em 2021, segundo o Portal Da Transparência * ,  o orçamento da União foi de 4,325 trilhões de reais para um PIB de 7,4 trilhões - ou seja 58,5% por cento é o tamanho do carrapato. Como a arrecadação está acima do limite do suportável, o déficit está sendo bancado pelo aumento e pela desvalorização inflacionária da dívida pública. Só em 2021, a dívida do Tesouro  deverá crescer 800 bilhões,  16% sobre a de 2020, no valor estimado de  5,8 trilhões. O  PIB de 7,4 Trilhões já não consegue pagar nem os juros de uma  divida de quase o mesmo tamanho, e ainda  ameaça não poder nem pagar o principal, se permanecer a atual tendência de alta. A Selic, estima o mercado, deverá chegar aos dois dígitos em 2022, o que aumentará o custo de carregamento da dívida. Haja inflação para corroer o endividamento ou mais recessão para conter a inflação. Poderemos caminhar para o círculo vicioso do  cão a tentar morder o rabo. Sem se mencionar o risco maior da perda  do controle monetário ( dominância fiscal ), que se seguiria à piora dos ratings do risco Brasil.


O quadro torna-se preocupante, sob o aspecto principalmente social, com a atual perspectiva de  uma recessão, crescimento igual ou inferior ao crescimento demográfico,  e nenhum ação para redução dos gastos ( malversação do dinheiro público ), que continuam crescendo. Mas mais grave do que os números é a complacência  de uma sociedade hedonista, onde o  importante é estar bem, se possível levando vantagem, acreditando no milagre de que a solução dos problemas sociais, se transferida ao governo, não tem custo e nem limite. Responsabilidade individual é  para os anglo-saxônios que não a trocam  por uma aventura de irresponsabilidade social. Brincar com fogo é lúdico, mas suportar as queimaduras é sofrimento. 


Enquanto perdurar essa cultura, o espelho do Brasil é a Argentina, que está em decadência há setenta anos sem aprender nada. O populismo-socializante está aqui 

 há bem menos tempo, portanto há espaço para piorarmos  ainda mais… ou até que a vaca morra de inanição. Índia, África e parte da Ásia, a maioria dos países do mundo, têm estado, há milênios, economicamente inviáveis, os que estão viáveis são uma exceção São aqueles  em que o governo é o mínimo. Eles não brincam com fogo!


São Paulo, 03 de novembro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob


* https://www.portaltransparencia.gov.br/orcamento