quinta-feira, 28 de maio de 2020

O Cavalo Do Inglês 

Era uma vez um inglês que decidiu treinar o seu cavalo a não mais comer. As vantagens eram evidenciadas na economia com  os alimentos, a redução do trabalho e a  eliminação do estrume. O desafio era desacostumar o semovente do mau hábito. Começou diminuindo as porções , como não   percebeu diferença no comportamento do animal, alternou a alimentação a dia sim, dia não. Os resultados mostravam que a sua experiência estava no caminho certo. Depois de seguidas reduções, com visível sucesso, limitou de vez o trato a somente água, até que uma manhã encontrou o cavalo morto. Surpreso, lamentou: Pena que ele morreu antes de adaptar-se ao jejum absoluto. Estava indo tão bem!

Era uma vez, a nossa , um grupo de governantes  que decidiu combater um  coronavírus forçando a mudança de hábitos da população para evitar contágios. Proibir  as pessoas de trabalhar, do convívio social e de circular, eram vantagens indiscutíveis, pois estariam diluindo no tempo a contaminação - desde que não existia cura e nem vacina disponível para o vírus. Ao contrário do caso do cavalo, que iludiu o inglês, esta experiência foi só desilusão. A adesão ao projeto foi  decepcionante. Os sacrifícios eram injustos, discriminatórios: o isolamento só existia na prática para as camadas privilegiadas ( uma minoria ), que tem a dispensa abastecida e a casa quase vazia. As  empresas viam-se caindo no abismo de braços amarrados, sem horizonte a não ser demitir e fechar as portas, deixando espaço para concentração no setor ao sacrificar as  pequenas e as médias. Ademais o  bicho humano, um ser gregário, necessita de contato social, de carinho e de vida amorosa. Certamente uma desvantagem à docilidade do equino à castração.

Esta tentativa de castrar a sociedade  gerou reações:

 - primeira , o questionamento à imposição ditatorial dos  políticos, que tratam a sociedade como a de seres incapazes. Apoiando-se no parecer de ditos cientistas, sem unanimidade e nem comprovação matemática, com achismos, como se infalíveis eles fossem.  Vale lembrar que a ciência, a exemplo de Ptolomeu, Copérnico  e Galileu, defendeu inúmeras falácias e colocou-se  no lado errado em alguns  capítulos cruciais na história da humanidade;
 - segunda, os resultados não foram  convincentes, vis a vis com experiência não ditatorial de outros países, cujos resultados não diferem * da quarentena ou não;
 -  terceira ,a percepção de uma  crise em que  os políticos estão desacreditados, pois visivelmente exibem-se ao  público com vistas às próximas eleições;  
- quarta, como  explicar  que a única solução para enfrentar a pandemia seja a receita da época da peste, arguia Selma Santa Cruz **.  E, para completar, o próprio governo batiza  a sequência do confinamento como “inteligente”, reconhecendo que o anterior não o foi.


A reação manifesta-se na desobediência civil em curso,  com o risco de uma crise social indesejável, encontrando  razões  nas ameaças  da fome, do tédio , da servidão e para não  ser sacrificado pelo confinamento, como o cavalo do inglês,  que morreu antes de adaptar-se ao jejum absoluto, na experiência que  estava  indo tão bem!

As Minhas Reflexões 
Jorge Wilson Simeira Jacob
28 de maio de 2020


** Revista Oeste, edição de 22.05.2020, Uma Quarentena Sem Fim, de Selma Santa Cruz.

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