quinta-feira, 7 de maio de 2020

Infinito Enquanto Dure...


Que não seja imortal, posto que é chama,
mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Morais

Acabo de render-me ao socialismo. Descobri, no final de uma longa vida, as vantagens do paternalismo governamental. Bastou um mês em casa,  sem trabalhar, protegido de cobrança de aluguel, impostos, taxas,  para ver como a vida pode ser mais fácil. Gostei da experiência! Aderi ao lema - relax and enjoy, deixe que o governo cuida! Enquanto isto, durmo como anjo, leio tudo o que sempre tive vontade (mas não tinha tempo ),  assisto a filmes maravilhosos, ouço música ( lamento a cobrança da Netflix - o lazer deveria ser um direito constitucional ). Depois desta experiência, sou um socialista convertido. Antes  tarde do que nunca! Finalmente dei-me conta de que essa história de economia de mercado contraria a lei do menor esforço.  O confortável é ter  um governo-pai, que, prioritariamente, cuide do bem estar social: saúde grátis, férias prolongadas,  mesadas sem contrapartida  e empréstimos à mão cheia -   a serem pagos com emissão de títulos do tesouro e de moeda. Afinal a  riqueza deve estar à serviço da felicidade e não para ficar empoçada no patrimônio de uma minoria privilegiada.

A história da humanidade anda muito devagar, mas avança . Estamos deixando para traz a subordinação  à maldição bíblica de  ganhar o pão com o suor da testa, que nos escravizou  com falsas ilusões  da necessidade do trabalho, da poupança e da temperança. Ideias  que embasaram o ideário do regime  capitalista , valorizando a liberdade individual e a   responsabilidade como condição pela  própria  sobrevivência. Tudo  em nome de valores abstratos - dignidade, honra e liberdade, que exigiam não se  viver  do trabalho alheio.  Agora, com as férias da quarentena,  despertei  o paladar para a proposta socialista. Em  vez da ética capitalista de criar riqueza, com o trabalho duro, encantou-me a ideia  de direitos sem deveres para redução das desigualdades e  à serviço do bem estar social. Estamos, pois, avançando para um  futuro promissor, em que usaremos o nosso tempo para o lazer, cujo resultado será uma sociedade mais instruída, mais solidária e menos neurótica. 


Este futuro, depois da pandemia , fará parte do  novo normal, ficando estabelecido que o  velho normal ficou no passado. Vamos daí em frente pautar as  nossas vidas por outros paradigmas. O novo normal, no  sentido das relações sociais, será o governo robusto, o Big Brother onipotente, onipresente, onisciente , que cuidará paternalisticamente de todos os cidadãos...e não só do funcionário público. Ele disciplinará quando e quem pode trabalhar, onde e quando circular, determinanará  os pinos das tomadas elétricas, as caixas de socorro nos carros, o sal na comida, o uso de máscaras...Ele escolherá a nossa maneira de ser feliz. Ele pensara por cada um de nós . Ele e os burocratas, que não falham,  não tem ambições e interesses,  eliminarão as falhas de mercado que são a  expressão da vontade dos  consumidores , uns infantiloides sem capacidade de  fazer escolhas racionais. A quarentena abriu os meus olhos. Viver sem compromissos com contas a pagar, com mesadas do governo, sem funcionários e clientes a atender...estando em casa dedicado ao lazer, sem horário a cumprir,  realmente converte qualquer capitalista ao socialismo. O novo normal será o dar  a volta por cima à maldição bíblica -  nem mais suor na testa e nem menos gula pelo fruto proibido. Vamos todos usufruir das vantagens da irresponsabilidade. A dignidade não enche barriga- viva o socialismo! Que seja infinito enquanto dure a tripa cheia e a oferta de papel higiênico no super mercado. 


As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob

07 de maio de 2020.

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