Infinito Enquanto Dure...
Que não seja imortal, posto que é chama,
mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Morais
Acabo de render-me ao socialismo. Descobri, no final de uma longa vida, as vantagens do paternalismo governamental. Bastou um mês em casa, sem trabalhar, protegido de cobrança de aluguel, impostos, taxas, para ver como a vida pode ser mais fácil. Gostei da experiência! Aderi ao lema - relax and enjoy, deixe que o governo cuida! Enquanto isto, durmo como anjo, leio tudo o que sempre tive vontade (mas não tinha tempo ), assisto a filmes maravilhosos, ouço música ( lamento a cobrança da Netflix - o lazer deveria ser um direito constitucional ). Depois desta experiência, sou um socialista convertido. Antes tarde do que nunca! Finalmente dei-me conta de que essa história de economia de mercado contraria a lei do menor esforço. O confortável é ter um governo-pai, que, prioritariamente, cuide do bem estar social: saúde grátis, férias prolongadas, mesadas sem contrapartida e empréstimos à mão cheia - a serem pagos com emissão de títulos do tesouro e de moeda. Afinal a riqueza deve estar à serviço da felicidade e não para ficar empoçada no patrimônio de uma minoria privilegiada.
A história da humanidade anda muito devagar, mas avança . Estamos deixando para traz a subordinação à maldição bíblica de ganhar o pão com o suor da testa, que nos escravizou com falsas ilusões da necessidade do trabalho, da poupança e da temperança. Ideias que embasaram o ideário do regime capitalista , valorizando a liberdade individual e a responsabilidade como condição pela própria sobrevivência. Tudo em nome de valores abstratos - dignidade, honra e liberdade, que exigiam não se viver do trabalho alheio. Agora, com as férias da quarentena, despertei o paladar para a proposta socialista. Em vez da ética capitalista de criar riqueza, com o trabalho duro, encantou-me a ideia de direitos sem deveres para redução das desigualdades e à serviço do bem estar social. Estamos, pois, avançando para um futuro promissor, em que usaremos o nosso tempo para o lazer, cujo resultado será uma sociedade mais instruída, mais solidária e menos neurótica.
Este futuro, depois da pandemia , fará parte do novo normal, ficando estabelecido que o velho normal ficou no passado. Vamos daí em frente pautar as nossas vidas por outros paradigmas. O novo normal, no sentido das relações sociais, será o governo robusto, o Big Brother onipotente, onipresente, onisciente , que cuidará paternalisticamente de todos os cidadãos...e não só do funcionário público. Ele disciplinará quando e quem pode trabalhar, onde e quando circular, determinanará os pinos das tomadas elétricas, as caixas de socorro nos carros, o sal na comida, o uso de máscaras...Ele escolherá a nossa maneira de ser feliz. Ele pensara por cada um de nós . Ele e os burocratas, que não falham, não tem ambições e interesses, eliminarão as falhas de mercado que são a expressão da vontade dos consumidores , uns infantiloides sem capacidade de fazer escolhas racionais. A quarentena abriu os meus olhos. Viver sem compromissos com contas a pagar, com mesadas do governo, sem funcionários e clientes a atender...estando em casa dedicado ao lazer, sem horário a cumprir, realmente converte qualquer capitalista ao socialismo. O novo normal será o dar a volta por cima à maldição bíblica - nem mais suor na testa e nem menos gula pelo fruto proibido. Vamos todos usufruir das vantagens da irresponsabilidade. A dignidade não enche barriga- viva o socialismo! Que seja infinito enquanto dure a tripa cheia e a oferta de papel higiênico no super mercado.
As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
07 de maio de 2020.
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