segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

 O Capitalismo Criou A Classe Média.


Não há exagero em lembrar que nós respiramos o ar sem dar-nos conta da sua importância, a menos que ele nos falte. Habituados ao oxigênio em troca de nada, o temos como um direito adquirido. Assim também, como se natural fosse, contamos com o desenvolvimento econômico e social como uma fatalidade, que não  exige  contrapartida. Dizemos: É só questão de tempo!Acreditam muitos que dias melhores  sempre cairão do céu. Lamentavelmente a verdade é totalmente diversa. A  evolução positiva da riqueza das nações é uma exceção. A maior parte do mundo vive na pobreza há milênios. Entre elas muitas  com bom nível educacional e boa organização política. Sem contar as que retrocederam, como a Argentina, a Venezuela, a Grécia... 


Ao longo de milênios  predominou a estagnação.  A crença na possibilidade do desenvolvimento  é recente. Até  a revolução industrial, as atividades limitavam-se à pesca, à  caça e  à agricultura. A ocupação da mão de obra, então ociosa, só tinha, como alternativa ao trabalho o campo, alguma atividade artesanal, a dedicação à guerra e ao serviço religioso.Não havia a indústria e os serviços. Os camponeses , que eram a grande massa, viviam na penúria, enquanto a nobreza, uma minoria, vivia na ociosidade. O tempo era preenchido nas guerras, como extensão das caçadas. Os recursos eram investidos em pirâmides, castelos, igrejas e conventos para comprar para o rei a unção papal. Nada sobrava para a grande massa. Estas nasciam e morriam na miséria. O equivalente à atual classe média era restrito ao pequeno artesão burguês.


A situação só começou a mudar depois da Idade Média, época da trevas. O fator desencadeador  do novo modelo foi o período tido como o Iluminismo, época das luzes*.  Os iluministas ao desvendarem os segredos do Universo abalaram o carisma da igreja, como representantes de Deus na Terra . Enquanto a religião católica explicava a vida apelando para a fé e aos dogmas,  o Iluminismo usava  da razão e encontrava respostas na ciência. A perda da credibilidade da Igreja  foi seguida da menor capacidade de influenciar as massas e os próprios reis**. Com isto perdendo o poder de barganha política e econômica, que era negociado em troca da benção da Igreja. Não por outra razão o Vaticano ***usou de todos os recursos para calar a ciência, sendo os trezentos anos da Inquisição e as Cruzadas  marcas negras na sua história . Perdeu a Igreja e também os reinados com o fim  da crença de serem os reis uma concessão divina. Os  reinados sem  a sustentação divina  foram sendo substituídos por governos democráticos, dando ao povo o  poder de exigir  melhores condições de vida. 


A partir da  revolução industrial, propiciada pelas ideias dos iluministas, vem o advento  do capitalismo e o fim do feudalismo. As populações concentram-se  nas cidades criando   oportunidades de trabalho para  a mão de obra liberada dos exércitos, do serviço e das obras religiosas. A  produtividade, conseguida com as descobertas e inovações, trouxe aumento da oferta de produtos rurais  e industrializados com o salto na produtividade. A miséria começa a ser reduzida com a mudança do modelo econômico baseado no mercantilismo  para o capitalismo. A produção em massa exige consumo equivalente, o que força a redução dos preços para serem acessíveis a maior número de consumidores. O mercado exigiu das  empresas  métodos mais eficientes . Elas, pressionadas pela competição, encontram como a melhor solução para equacionar o desafio: a redução dos preços e o aumento dos  salários***.  E assim o capitalismo criou a classe média****.


  • Iluminismo ou o  “século das luzes”,  pode ser entendido como uma ruptura com o passado e o início de uma fase de progresso da humanidade. Essa fase é marcada por uma revolução na ciência, nas artes, na política e na doutrina jurídica, por exemplo. O Iluminismo foi um movimento intelectual europeu surgido na França no século XVII, que defendia o uso da razão sobre o da fé para entender e solucionar os problemas da sociedade, dando e as bases para o desenvolvimento do liberalismo.

**  Napoleão Bonaparte  toma a coroa imperial  das mãos do papa e auto-coroou-se desprezando a unção papal. Mas consciente  do poder da igreja, ao ser questionado se não temia a guerra, ...respondeu que não, desde que tivesse os bispos a seu favor. 

*** a história do Vaticano é semelhante à de outros impérios, que conheceram a ascensão e a queda . Até a idade média, organizada nos princípios de um reinado, com a sua corte, nobreza, exércitos, e coletores de dinheiro( os sacerdotes ) tinha hegemonia no Ocidente. Ao não disputar territórios, mas as almas, não colidiam com os outros impérios. Quando tinham interesses territoriais,  faziam uso ( mão de gato ) dos reis católicos, dependentes da sua unção, como nas Cruzadas. As exceções  foram as disputas pelas cidades-reinos da atual Itália , comandadas pelos Bórgias. O Iluminismo tirou, ao quebrar o carisma religioso e propiciar a revolução industrial, deu início a quebra da hegemonia católica e redução da miséria. Não pode ser esquecida a contribuição relevante da Reforma Protestante e atualmente a invasão dos crentes muçulmanos e dos pentecostais para a decadência do poder do Vaticano. A disputa pelos fiéis está intimamente vinculada ao poder econômico. Concordando ou não com Weber, a redução da miséria aconteceu nos países que se libertaram da influência religiosa do catolicismo.

**** O   capitalismo criou  a classe média, deixando para o passado a divisão entre a massa miserável e a nobreza. A pequena  burguesia, que Karl Marx prévia desapareceria,  foi mais uma das suas fracassadas profecias. Quanto  maior o desenvolvimento do modelo capitalista, maior e mais rica é a classe média. Ao contrário do comunismo, que continuou dividido em duas classes - a nomenclatura ( os nobres antigos ) e as massas.


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