sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

 


 

 

 

 

 

 

 

O cartesianismo.

 

 

Na Introdução de seu Discurso sobre o Método, publicado em 1637, Descartes impressiona quase tanto quanto no conteúdo. Nela, o autor comenta que se surpreendia ao ter melhores resultados acadêmicos do que colegas reconhecidamente mais inteligentes. Analisando o processo, identificou como causa o fato de ter intuitivamente adotado um método de análise dos problemas que lhe dava vantagens sobre os demais. O Discurso sobre o Método, ou método cartesiano, foi resultado desta observação. Baseava-se no ceticismo de nada aceitar como verdade sem questionar e submeter os problemas a um método    de avaliação básicas *.

 

O método cartesiano provocou uma revolução na Filosofia pelo estímulo aos questionamentos e à experimentação.  Mas, decorridos 383 anos da sua divulgação, ele ainda é ignorado nas práticas da vida por pessoas reconhecidamente bem equipadas intelectualmente. Há um certo empirismo, um comodismo mental que induz a não pensar diferentemente do tradicional. Passa-se por cima dos desafios e aceitam-se as propostas como verdades absolutas sem questioná-las. Com isto, despreza-se a premissa básica do cartesianismo com prejuízo dos resultados; o pensamento original é rejeitado em princípio. Não se ousa pensar fora das ideias que fujam do senso comum e desconsidera-se quem o faz.

 

A análise de um caso prático pode ser mais didática do que explorar abstrações teóricas. Assim vejamos, tomando como exemplo o trânsito de uma cidade caótica como São Paulo, que tem como desafio conseguir a melhor equação entre o fluxo dos veículos e a redução dos acidentes. As medidas adotadas são influenciadas pelos resultados conhecidos e pelo mimetismo. Como os acidentes calam mais na opinião pública, coloca-se em segundo plano o fluxo de veículos, cujos malefícios (perdas de tempo no trânsito, desgaste material, aumento dos custos do trabalho, rebaixamento das condições de vida...) não são quantificados. As velocidades vão sendo reduzidas a cada piora no resultado de acidentes. Evidentemente, com o aumento do número de veículos em circulação, os acidentes aumentam e os limites da velocidade são diminuídos até que, por ironia, alguém sugira proibir de vez o uso dos veículos*. 

 

Enquanto o Metrô não chega, outras medidas poderiam ser tomadas tendo em conta o princípio do questionamento e da experimentacao. Nesta linha,uma ideia, não conservadora, seria mudar de perspectiva  e tentar fazer o contrário: liberar a velocidade nas vias de ligação bairro/centro (23 de Maio, Marginais...) para aumentar o fluxo e aproveitar os momentos de baixo trânsito. Certamente os motoristas dariam preferência por estas vias, liberando as vias secundárias e assim melhorando o escoamento do trânsito na cidade** Cuidar-se-ia da Segurança, dando alternativas aos pedestres e orientação de prevenção. Em vez de proibir, orientar... e dar liberdade a cada um decidir o que entende como o mais adequado. Ninguém cuida de mim melhor do que eu mesmo!  Não faz sentido manter a cidade travada para tutelar cidadãos suicidas, à semelhança de proibir a venda de armas para reduzir os homicídios. O mal está no uso e não no instrumento, como o senso comum sabe.

 

descobrir quais são as conclusões possíveis e nunca aceitar nada como verdadeiro à primeira vista; fazer vários experimentos e dividir o problema em quantas partes for possível; analisar os resultados e pensar de forma ordenada; pegar as conclusões ( que devem estar de acordo com o passo 1 ) e, se possível, mixá-las para chegar a apenas 1 conclusão através da lógica, prestando atenção nos detalhes.

 

**Não só a ignorância de um método decisório é  a responsável por práticas irracionais, mas também falam alto a perda de arrecadação dos radares, que é a menina dos olhos dos governantes e das  empresas que exploram o serviço, que usam a prevenção de acidentes como pretexto.

 

***A Alemanha tem as autobahns, sem limite de velocidade há décadas, uma experiência válida sob todos os aspectos, inclusive de segurança.

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