A aventura de ter um filho
A maior ousadia humana - muitas das vezes perpetrada de forma inconsciente - é a concepção de um filho. Ação se inicia na fecundação, mas a responsabilidade é ilimitada. Um filho, ao nascer, impõe um limite à nossa autonomia . Nunca mais a nossa felicidade será prioritária. Nosso compromisso não poderá ser outro senão a felicidade dele. O que não é pouco!
A aventura, e é disto que se trata, começa já no útero materno com o imperativo de garantir pela sua existência saúde física e mental. São tantos os desafios a serem superados que só sobrevivemos por um desses milagres da natureza. Mas sobreviver não é tudo. Uma vida para se completar depende da boa educação, da formação do caráter e do equilíbrio emocional.
A base de tudo começa em casa com o exemplo, com o cultivo de valores morais e se segue nas escolas com o desenvolvimento do conhecimento e da curiosidade. Todo este arsenal de recursos podem dar ao educando saúde, saber, valores morais - indispensáveis para o ajuste do homem na sociedade, como aprendemos na história da humanidade.
A Grécia antiga tinha conhecimento destas condições básicas para formação dos seus jovens e desenvolveu métodos diversos de educação. Duas cidades se destacaram adotando políticas diferentes. Atenas deu ênfase aos estudos , a valorização das artes e a humanização como política. Esparta, ao contrário, focou no fortalecimento da personalidade, na disciplina, no domínio da vontade, da mente sobre o físico. Uma formou intelectuais , a outra, guerreiros - o que a levou a dominar e subjugar os atenienses.
Esta supremacia política não desmerece o valor cultivado por Atenas, mas serve para sinalizar que, a par dos valores intelectuais e morais, há que se trabalhar a personalidade e o fortalecimento do caráter . O que tem muito a ver com a genética, mas que pode e deve ser temperada. Da mesma forma que o metal tem suas características básicas, que podem ser melhoradas pelo fogo, pela marreta, por mistura com outros materiais, nos possuímos um caráter que pode melhorar se for fortalecido o nosso temperamento.
Se Esparta trabalhava as personalidades, treinando à vontade com de jejuns prolongados seguidos de exposição frente a iguarias saborosas, sem poder saciar a fome, mas punindo com castigos severos os que cedessem à tentação. Exercício que nenhuma mãe imporia a um filho faminto. O que faz com que os pobres acabem criando personalidades mais bem temperadas pelo exercício das frustrações que os bem aquinhoados desconhecem.
A alternativa ao natural protecionismo familiar pode ser a prática do esporte. A competição esportiva tempera à vontade por reproduzir todas as situações da vida. Neste todos estão em igualdade frente aos desafios. Ainda que exista, como na vida, uma dose de sorte, mas geralmente vence o melhor. A prática esportiva exige muito esforço e tenacidade para pequena melhora. Sempre há alguém a superar as metas , os recordes. Ganhar e perder é uma constante. O ânimo de luta deve manter-se à despeito dos resultados. Controlar as emoções, nas vitórias não humilhando os vencidos e nas derrotas respeitando os vencedores, se aprende com a alternância das posições: hoje sou vencedor, amanhã posso ser o vencido.
Como corolário: tres são condições básicas para vencer na vida: saúde, competência e coragem.
Jorge Simeira Jacob
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