quinta-feira, 18 de julho de 2019

A aventura de ter um filho


A maior ousadia humana - muitas das vezes perpetrada  de forma inconsciente - é a concepção de um filho. Ação  se inicia na fecundação, mas a responsabilidade  é  ilimitada. Um filho, ao nascer, impõe  um limite à nossa autonomia . Nunca mais a nossa felicidade será prioritária. Nosso compromisso não poderá ser outro  senão a felicidade dele. O que não é pouco!

A aventura, e é disto que se trata, começa já no útero materno  com o imperativo  de garantir pela  sua existência    saúde  física e mental.  São tantos os  desafios a  serem superados  que só sobrevivemos por um desses milagres da natureza. Mas sobreviver não é tudo. Uma vida para se completar depende da boa educação, da formação do caráter e do  equilíbrio emocional.

A base de tudo começa em casa com o exemplo, com o  cultivo de valores morais e se segue nas escolas com o desenvolvimento do conhecimento e da curiosidade. Todo este arsenal de recursos podem dar ao educando saúde, saber, valores morais - indispensáveis para o ajuste do homem na sociedade, como aprendemos na história da humanidade.

A Grécia antiga  tinha conhecimento destas condições básicas para formação dos seus jovens e desenvolveu métodos diversos de educação. Duas cidades se destacaram adotando  políticas diferentes. Atenas deu ênfase aos  estudos , a  valorização das artes e a humanização como política. Esparta, ao contrário, focou  no fortalecimento da personalidade, na disciplina, no domínio da vontade, da mente sobre o físico. Uma formou intelectuais , a outra, guerreiros  - o que a levou a dominar e subjugar os atenienses.

Esta supremacia política não desmerece o valor cultivado por Atenas, mas serve para sinalizar que, a par dos valores intelectuais e morais, há que se trabalhar a personalidade e o fortalecimento do caráter . O que   tem   muito a ver com a genética, mas que pode e deve ser temperada. Da mesma forma que o metal tem suas características básicas, que podem ser melhoradas  pelo fogo, pela marreta, por mistura com outros materiais, nos possuímos   um caráter  que pode melhorar se for fortalecido o nosso temperamento.

Se Esparta trabalhava as personalidades, treinando à vontade com  de jejuns prolongados seguidos de exposição  frente a iguarias saborosas, sem poder saciar a fome, mas  punindo com castigos severos os que cedessem à tentação. Exercício que nenhuma  mãe imporia  a um filho faminto. O que faz com  que os pobres acabem criando personalidades mais bem temperadas pelo exercício das frustrações que os bem aquinhoados  desconhecem.

A alternativa ao natural protecionismo familiar pode ser a prática do esporte. A competição esportiva tempera à vontade por reproduzir todas as situações da vida. Neste todos estão em igualdade frente aos desafios. Ainda que exista, como na vida,  uma dose de sorte, mas geralmente vence o melhor. A prática esportiva  exige muito esforço e tenacidade para pequena melhora. Sempre há alguém a superar  as metas , os recordes. Ganhar e perder é uma constante. O ânimo de luta deve manter-se à despeito dos resultados. Controlar as emoções, nas vitórias não humilhando os vencidos e nas derrotas respeitando os vencedores, se aprende com a alternância das posições: hoje sou vencedor, amanhã posso ser o vencido.

Como corolário: tres  são condições básicas para vencer na vida: saúde, competência  e coragem.


Jorge Simeira Jacob

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