sábado, 31 de agosto de 2019

Todas as Desigualdades São Indesejáveis.

Toda desigualdade é indesejável.Porém, nem todas são evitáveis e nem todas são injustas. Há as inevitáveis, as que dependem da natureza. Nascer belo, inteligente e fisicamente perfeito é um benefício da natureza em prejuízo dos destituídos  destes dotes. Elas são desigualdades naturais de partida.  Como também são  a falta de estudos, ambiente doméstico, higiene, saúde ...  Em contrapartida há as desigualdades de chegada: as privilegiadas  condições econômicas e sociais. As desigualdades naturais de partida são imutáveis, as de chegada podem ser alteradas.  Como estas são  riquezas e posições adquiridas  elas podem  ser redistribuídas e com ela tudo o que o dinheiro e o poder podem adquirir.. 

Da desigualdade natural ninguém se rebela. Não há alternativa. Aceita-se passivamente a injustiça natural, mas não se aceita com a mesma resignação a considerada injustiça social. Esta tem aspectos inconvenientes. O mais sério deles é o de provocar nas economias subdesenvolvidas * a inveja - o que ameaça a harmonia na sociedade, sendo terreno propício para a exploração de políticos demagogos. Outro, e nada desprezível,  é  o sofrimento daqueles  que tem muito  pouco enquanto  outros  tem para esbanjar. Assim, do ponto de vista social, como humano, é indesejável uma desigualdade disparatada na sociedade.

A consciência deste problema é motivo crescente de preocupação, na medida que as massas começaram a ser ouvidas por pessoas sensíveis,  pelos  caçadores de votos  e políticos oportunistas.  O que alimenta    um movimento  de combate às desigualdades econômicas, ao em vez  de uma ação racional, objetiva,  contra a pobreza. Pois o diagnóstico correto  deveria  estar na eliminação da miséria e redução da pobreza e não na desigualdade. Evidentemente respeitado o voto de pobreza dos religiosos franciscanos - que tem o direito à  sua desigualdade.

A desigualdade na chegada  é condição inarredável  da liberdade econômica. A liberdade não coexiste com a igualdade na economia. São incompatíveis . Em regime competitivo ( liberdade econômica ) os melhores, mais competentes, mas favorecidos pela sorte, sempre acabam com o maior pedaço do bolo. Não há maratona onde todos chegam juntos. Só com restrições à liberdade se pode eliminar as desigualdades econômicas, como  aconteceu, com exceção da nomenclatura ,na URSS, em Cuba, na Venezuela...enfim , nos regimes totalitários.

Portanto, o real desafio a ser enfrentado deve ser a redução da pobreza. Este sim o problema. A  alternativa de desigualdade na riqueza é a  igualdade na miséria. A escolha está entre a  igualdade  de uma Venezuela e a de uma  das maiores desigualdades econômicas do mundo -  os  Estados Unidos, onde 1%  no pico da pirâmide têm patrimônio de 29,5 trilhões de dólares e os 50% na base tem apenas 0,2 trilhões. E os pobres de todo o mundo ambicionam viver lá.

Há que se registrar que, sem exceção, todas ações políticas de redução de desigualdade econômica foram com base no uso da força, do confisco e do calote público. E os desdobramentos foram perversos: desestímulo ao trabalho, à poupança e ao investimento. Ao cabo do qual acabaram sendo premiados os menos produtivos , em uma seleção feita às avessas , castigando os outros. Tendo como resultado final o empobrecimento geral e a emigração dos melhores.


Há, todavia, citados como exemplos de sociedades igualitárias,  a Escandinávia, baseada em alta tributação e uma forte ação social. Países com renda média bem distribuída, mas com perda de pujança econômica. O modelo, em processo de liberalização pelo desestimulo ao investimento e a emigração de empresas. Uma receita  que teve como virtude o   foco no investimento para  igualar as condições de partida - educação para todos, saúde e estamento governamental sem regalias superiores ao do  cidadão comum. O rei da Dinamarca anda de bicicleta nas ruas da cidade.  Não tem mordomias.  Um escandinavo nunca tenta levar vantagem de ninguém. Uma  cultura estóica  baseada na ética calvinista, em uma sociedade homogênea , pequena como uma família, onde o servidor público serve ao público e não se serve dele. Onde a arrecadação  é destinada ao cidadão e não à máquina do governo, o que elimina a pior das desigualdades.  Mas, mesmo assim, não se mostrou em modelo  de criação de riqueza,  de estímulo ao investimento capaz de  romper   a  atual estagnação da sua economia. Na verdade uma comprovação de que a socialização, quanto mais intensa, piores os resultados e  mais cedo  se exaurem. A Escandinávia não estatizou a economia como Cuba - o que explica a sua sobrevida.

O desafio, portanto, é eliminar a miséria e a pobreza e não violentar a desigualdade consequente do trabalho honesto, do uso da inteligência e do prêmio ao risco. O que deveria contemplar eliminar as desigualdades de partida e as que são  fruto das sinecuras, cartéis, mamatas, empreguismo e regalias da nomenclatura. 

Todas as desigualdades são indesejáveis, mas umas são mais do que as outras, tanto no socialismo como no capitalismo, como o são os   privilégios  da nomenclatura. 


Nota de rodapé - nos Estados Unidos, em vez de invejados,  os bens sucedidos são admirados como ídolos a serem seguidos.


terça-feira, 27 de agosto de 2019


Conundrum 


Imagine se  de repente, após um piscar de olhos, surge um clarão e tudo fica diferente. Os efeitos  deixam de corresponder às causas. O sol brilha na noite e a lua no dia; os gatos ladram  e os cães miam...Diante destes fenômenos,  a reação humana seria de perplexidade. Teríamos ficado loucos? Ou mudaram os paradigmas?

A crise de 2008, após a quebra da Lehman Brothers, foi como um   piscar de olhos e , sem ser exercício de imaginação, os efeitos econômicos se descolaram das causas. A primeira reação de estupefação foi a do Chairman Do Federal Reserve , Alan Greenspan, que antes da eclosão da crise, diante do aquecimento da economia, se recusava a elevar os juros para esfriar a economia por considerar estarmos vivenciando um momento especial - uma “ irracional exuberância”. Entendia o caso como  “ um cunundrum”,  explicável pelos ganhos de produtividade da revolução tecnológica: internet, computação, algoritmos... e deixou a bola rolar.

A bola rolou até estourar. Como  sequência aos fatos, as ações governamentais para conter o contágio, que havia atingido o sistema financeiro internacional,  se basearam em encampar instituições financeiras “ too big too fail” , inundar os mercados com liquidez sem limites e levando a níveis negativos os juros reais. Passados 11 anos, os juros continuam negativos e a liquidez inunda os mercados. Em  vez da esperada inflação se teme a deflação e uma ameaça de recessão.  O instrumento clássico de controle da inflação  , a taxa de juros, perdeu a eficácia . O excesso de liquidez nem gerou  inflação e nem estimulou a economia. 

Passada a crise, após injeção de trilhões de dólares na economia, os juros vão de ridículos a negativos, de maiores a menores ao longo do prazo e a inflação contida com alguns sinais de deflação. Perdida  está com os juros negativos o recurso de estimular a economia com redução das taxas de juros. Condição agravada com o endividamento sem limites dos países,  em consequência do baixo custo  e liquidez abundante  para  carregamento da dívida. Dívida de gastos desmedidos dos governos. Só  os Estados Unidos carrega 20 trilhões de dólares de passivo, que cresce 1 trilhão ao ano e o dólar continua se fortalecendo.  Situação que deveria  preocupar, pois, em caso de reversão  à taxas de juros de antes da crise , 5% ao ano, o déficit anual iria ao dobro do atual - que seria certamente coberto com equivalente emissão da moeda.

Nada indica que um tsunami esteja à vista, embora exista temor de uma recessão,  mas as grandes tempestades geralmente são precedidas de uma calmaria. Porém, esta nova “irracional exuberância” poderá ser mantida enquanto o dólar continuar a merecer a confiança dos mercados. Enquanto isto ,para os investidores, na ausência de  outra moeda com as suas características, a diversão será para ativos reais - com sérias distorções na alocação dos recursos e da valorização dos ativos.  Distorções que hoje já geram suspeitas sobre uma possível sobrevalorização dos imóveis , ações  e startups. Como ficarão os preços dos ativos se houver melhora no retorno das aplicações financeiras?

As crises são subestimadas até a hora em que acontecem.

Greenspan, após a crise, reconheceu que subestimou a incompetência  do mercado financeiro de  administrar  adequadamente os riscos envolvidos nas sua operações . Estaríamos outra vez administrando inadequadamente a economia? Como saber se os paradigmas foram  perdidos e com estes  perdemos as referências? Como  orientar-se  diante de sol no meio do dia? Cão miando e gato latindo...?   Estaríamos, hoje, - diante de outro “ conundrum? Ou fiquei louco?







domingo, 25 de agosto de 2019

                  Cada Macaco No Seu Galho.

Nada como a distância  para neutralizar emoções  e racionalizar  a  análise  de um fato. A proximidade da  árvore obstrui  a visão da floresta. Lá atrás, afastado no  tempo, quando da formação da Siderúrgica Nacional (CSN) e da Petrobras os  nacionalistas defendiam o monopólio estatal com o argumento de não existir nem empresários interessados e nem capital disponível para tal aventura. Só o governo tinha capital para o investimento e poder de monopólio para enfrentar a concorrência internacional. Então um bicho-papão.

Como os  argumentos, sem base real, não se sustentaram,  eles  foram , como macacos,  sendo pulados  de galho em galho. Ao passar o primeiro momento, enfrentando as estatais   enormes prejuízos, resultantes das más administrações,  mudaram as razões: 
  - “ não se deve colocar o filé na boca do leão, no caso o controle de produtos estratégicos como o aço e o petróleo”. Mesmo tendo sido a CSN financiada  pelos Estados Unidos.

Na privatização da Cia. Telefônica Brasileira - de triste memória - levantava-se o  risco  das regiões mais pobres,  por não darem retorno sobre os investimentos , ficarem sem telefonia e de ser a comunicação um fator estratégico.

Como consolo, este  intervencionismo não é um cacoete só dos subdesenvolvidos. Há anos passados, a venda de propriedades  foi um tema que emocionou a opinião pública americana. O ponto crítico foi a venda do Empire States de Nova York  para um grupo japonês. 

- “Como ?!,  reagiam indignados os nacionalistas americanos, vamos entregar um símbolo nacional para estrangeiros?”

Assim também aqui foi  considerado  abrir mão da nossa soberania entregar  parte do nosso território ao Projeto Jari, no Pará , que, após alguns anos,  voltou de graça para os brasileiros.

 E assim, de sofisma em sofisma,  foi o povo sendo enganado. Mas a realidade se impôs desmentindo todos as alegadas razões. E as estatais, ao contrário das virtudes prometidas,   se mostraram fontes de corrupção, de vultosos prejuízos ao erário,  má administração... e nada tinham de estratégicas. O sonho virou um pesadelo. Temos agora que desfazer o mal feito.

 Privatizar tudo  deixou de ser opção, mas, um imperativo, uma questão de sobrevivência. As estatais   tem que ser vendidas para quem tem capital de risco  para investir e capacidade de administrar - a quem é do ramo.

Certamente, as viúvas da privatização vão mudar de galho e pretextar novas razões para justificar os seus empregos, mamatas e falso patriotismo.


quinta-feira, 22 de agosto de 2019




O Simples Assusta o Néscio.

falácias cercando-nos por todos os lados. Somos uma ilha rodeada por elas. Por questões óbvias, as mentiras declaradas são inofensivas, não enganam a ninguém e as verdades são imortais, sobrevivem ao tempo, aos questionamentos e enfrentam até cara feia. 

Já as falácias ou meias-verdades, assunto deste texto, deveriam ter vida curta - segundo Lincoln. Para ele “pode-se enganar muitos por pouco tempo ou poucos por muito tempo, mas é  impossível   enganar todos por todo o tempo”.

Acontece, porém, contra a opinião de Lincoln, que há meias-verdades enganando muitos por muito tempo. Basta lembrar a crença milenar no geocentrismo, que levou Galileu a abjurar à crença no hélio-centrismo para escapar à fogueira da Santa Inquisição; e a fé centenária no socialismo, que seus adeptos alimentam propondo à cada ação governamental fracassada maior dose do mesmo remédio, nunca menor ou sua eliminação.

As   aparências de verdade enganam na exata proporção da convicção dos seus defensores: os inquisidores e os estatófilos. Eles sofrem de cegueira mental, que dá vida longa às falácias por serem vítimas das piores cegueiras - o não querer ver ou a defesa do seu quinhão.

Exceção à regra e mestre no desmentir as falsidades econômicas foi Frederic Bastiat. Não só queria ver, mas, sobretudo, sabia ver, tinha visão aguçada. Seus artigos nos jornais e seus discursos na Assembleia Francesa, no século 19, chocavam pela clareza e pela simplicidade com que enfrentava problemas complexos.

Incrível, porém, que mesmo depois de tantos anos de sua pregação, suas ideias ainda não foram totalmente assimiladas. Certamente por serem a transformação do complexo em simples. O simples assusta o néscio! Este adora complicar!

Bastiat assusta por descomplicar. Transmite a impressão de não encarar os problemas na dicotomia de fáceis ou difíceis, mas na de simples ou complexos. O que nos leva a concluir que sua sabedoria foi   transformar o complexo em simples. Isto, sim, é difícil.

Nessa sabedoria estava sua genialidade. Como a de Isaac Newton que, diante da complexidade do funcionamento do universo simplificou-a na Lei da Gravidade, fazendo o que era difícil se tornar-se simples a qualquer criança.

Bastiat desmitificava falácias econômicas com contundência, com exemplos práticos, com elegante ironia e argumentação irrefutável. Apesar disto, os sofismas econômicos não foram eliminadas, nem no mundo nem na sua terra, a França - onde predicou.

Entre as falácias sobreviventes ao seu discurso, que ainda encontra muito eco, está a de que a economia necessita da intervenção do governo para corrigir as imperfeições do mercado. Como se o mercado, abstração que é apenas um retrato das ações humanas, pudesse ser o ator no processo e não um simples cenário.

A economia anda par a par com a ecologia: quanto menos interferência externa, mais exuberante. Ambas têm a sua natureza, são ecológicas; se respeitadas, mantêm-se em equilíbrio. Ambas, a ecologia e a economia, como é inerente à natureza, reagem às intromissões e aos predadores. Qualquer ação externa tem consequências que podem desencadear reações nem sempre as desejadas. E o mercado, como a natureza, tarda mas não falha.

Entender a simplicidade das leis da economia de mercado é dose para um Bastiat. O simples assusta o néscio. Descomplicar é difícil, complicar é muito mais fácil!os lados. Somos uma ilha rodeada por elas. Por questões óbvias, as mentiras declaradas são inofensivas, não enganam a ninguém e as verdades  são imortais, sobrevivem ao tempo, aos questionamentos e enfrentam até cara feia. 

Já as falácias ou meias-verdades, assunto deste texto,  deveriam ter vida curta - segundo Lincoln. Para ele “pode-se   enganar muitos por pouco tempo ou   poucos por muito tempo, mas é  impossível   enganar todos por todo o tempo”.

Acontece, porém, contra a opinião  de Lincoln, que há meias-verdades  enganando   muitos por muito tempo. Basta lembrar a crença milenar no geocentrismo, que levou Galileu a abjurar à  crença no heliocentrismo  para escapar  à fogueira da Santa Inquisição ; e  a fé  centenária no socialismo, que seus adeptos  alimentam  propondo, à cada ação governamental fracassada  maior dose do  mesmo remédio  e nunca  menor ou a sua eliminação.

As   aparências de verdade  enganam na exata proporção da convicção dos seus defensores: os inquisidores e os estatófilos. Eles sofrem das piores cegueira mental,  que dá vida longa às falácias por serem vítimas  das piores das cegueiras - o não querer ver ou a defesa do seu quinhão.

Exceção à regra e mestre no desmentir as falsidades econômicas foi Frederic Bastiat. Não só queria ver, mas, sobretudo, sabia ver,  tinha visão aguçada. Seus artigos nos jornais e  Seus discursos na Assembleia Francesa, no século 19 ,chocavam pela clareza e pela simplicidade com que enfrentava  problemas   complexos.

Incrível, porém, que mesmo depois de  tantos anos de sua pregação ,  suas ideias ainda não foram totalmente assimiladas. Certamente  por  serem a  transformação do complexo em simples. O simples assusta o néscio! Este adora complicar!

Bastiat assusta por descomplicar. Transmite a impressão de não encarar  os problemas na dicotomia  de fáceis ou difíceis, mas na de  simples ou complexos. O que nos leva a concluir que a sua sabedoria foi   transformar o complexo em simples. Isto, sim, é  difícil.

Nessa sabedoria estava  a sua genialidade. Como a de   Issac Newton que diante da complexidade do  funcionamento do universo   simplificou-a na  Lei  da Gravidade, fazendo o que era difícil  tornar-se  simples  à qualquer criança.

  Bastiat  desmitificava  falácias econômicas  com contundência, com exemplos práticos, com   elegante ironia   e   argumentação irrefutável. Apesar disto,  os sofismas econômicos não foram eliminadas, nem no  mundo e nem na sua terra, a França - onde predicou.

Entre as falácias sobreviventes ao seu discurso, que ainda encontra muito eco,  está a de que a  economia necessita da intervenção do governo para corrigir as imperfeições do mercado. Como se o mercado, esta abstração  que só é um retrato das  ações humanas , pudesse ser o ator no processo e não um simples cenário.

A economia anda par a par com a ecologia, quanto menos interferência externa mais exuberante. Ambas têm a sua natureza, são ecológicas , se respeitadas  mantém-se em   equilíbrio. Ambas, como é inerente à natureza, a ecologia e a economia reagem  às intromissões e aos predadores. Qualquer ação externa tem consequências que podem   desencadear reações nem sempre as desejadas. E o mercado, como a natureza, tarda mas não falha.

Entender a simplicidade das  leis da economia de mercado é  dose para um Bastiat. O simples assusta o  néscio. Descomplicar é difícil, complicar é muito mais fácil!






domingo, 18 de agosto de 2019

CONSENTIR OU NÃO CONSENTIR

A vida limita as opções.
O governo limita a liberdade.
Charles Murray

Nenhum ser humano consciente põe em risco a sua dignidade. A perda dela significa a ignomínia, a desonra e a vergonha; a sua maior ameaça é a perda da liberdade individual. Só está pode permitir a defesa da nossa honra. Infelizmente,  o  homem livre, dono da sua vontade, com o poder de escolher a sua maneira de ser feliz, é um ideal não realizado, impedido por duas limitações: a escravidão e a servidão.
Se a escravidão é a imposição da vontade pela força, pelo terror, na servidão o é pela aceitação, pela barganha e  a sedução. Na escravidão  o indivíduo ou o grupo são  impedidos de escolher o  sistema político e/ou os seus  governantes. Ficando , politicamente impedidos de  decidir sobre a melhor aplicação para o seu talento, engenho,  patrimônio e  manifestar livremente ideias e ideais.
Na servidão  não se verifica o uso da força, mas a alienação ao direito de escolha. Nesta há uma troca consentida. Entrega-se um pouco de autonomia  em troca de   um naco de pão, de sossego , de prestígio, de prazer... Trocar   um pedaço da própria liberdade é dar preço à própria dignidade. Quem se vende, independente do preço, está determinando o seu valor. 
O que diferencia o escravo do servo é o consentimento. O ato de consentir é o que macula a liberdade, a honra, uma mancha sempre presente na servidão e nunca na escravidão. A escravidão é uma limitação absoluta e total - quem não tem escolha não merece nem prêmio nem castigo. A servidão é, assim, mais abjeta do que a escravidão. Antes escravizado do que servil. Zumbi morreu herói porque não submeteu o seu espirito à vontade alheia, não negociou a sua liberdade.

         A servidão, porém deve ser qualificada. Há as doces e as amargas. As primeiras são as do amor, às quais nos submetemos com deleite: o desvelo da  mãe, o beijo da amada, o abraço do amigo... Quantas coisas fazemos, contra nossa tendência, ao não resistir a um olhar amoroso, um afago no momento oportuno, o sorriso de um bebê, a uma ajuda na dificuldade? Quem resiste à ser assim seduzido?
          Já a servidão amarga é aquela à qual somos submetidos pelo governo. São os milhares de leis, decretos, normas impossíveis de se 
 seguir e de submissão  absurda . Em nome da minha proteção ( que não pedi ) tenho que ter  (onerando os preços )  acessórios no meu carro totalmente dispensáveis, tomadas elétricas não compatíveis com as da casa, controles de movimentação financeira que mais  complicam a minha vida do que impedem o crime... e por aí vai! Por que não deixar ao arbítrio do cidadão assumir os seus riscos, desde que não ameace o alheio? Por que não ter como limite da liberdade individual prejudicar a de outro?
            A  servidão doce não humilha quem a aceita - por ser doce. Mas a  amarga fere a nossa dignidade, se a aceitamos passivamente. A alforria dela depende da redução ao mínimo dos  grilhões do governo. O governo nos priva a liberdade de escolher e obrigando-me a adquirir produtos que ele acha adequado à minha saúde, a meu transporte, a minha casa, onerando os preços das minhas compras. É a vida e não ele  que deve ser limite ao talento, ao  engenho e ao patrimônio. Quando o governo limita a nossa liberdade, resta-nos optar entre consentir ou não consentir. Nisto estará a diferença entre ser livre ou servo!
A servidão é o mal destes séculos, a liberdade individual a sua vítima e o governo o seu instrumento.










sábado, 17 de agosto de 2019

Fazendo de Conta.


As empresas estatizadas ficaram marcadas como indesejáveis. Atribuir aos governos populistas toda a má fama delas é subestimar o longo processo de desgaste sofrido na mente da população. É verdade que os desmandos - roubalheira ilimitado, má gestão e patrimonialismo - aceleraram o desmanche das estatais. Os escândalos foram tantos e de tamanha proporção que não deu mais para esconder. As raposas comeram todas as galinhas do galinheiro. Agora não  há mais galinhas e nem desculpas esfarrapadas  a justificá-las.

Sair portanto desse mal se tornou óbvio e desejável até para o  menos esclarecido cidadão -  evidentemente com exclusão das mentes ideologizadas ou dos seus gigolôs . Assim a privatização é   aceita como uma solução perfeita. O que não é verdade absoluta. Pois há  dois tipos de privatização: a  pura  e a viciada. Esta, por pior que seja, é melhor do que nenhuma. Um exemplo  da viciada foi a da Rússia, cujo processo de venda das empresas do estado foi  uma negociata nos  padrões comuns às  coisas do governo. As empresas   foram entregas para os “amigos do rei” ,em condições de  monopólio,   à serviço do jogo político do Czar de plantão, Putin.

O Brasil foi mais feliz nas privatizações. Houve real melhoria nas estradas, redução de prejuízos e melhora do desempenho  de grandes indústrias  e do serviço de telefonia. Neste há o registro negativo da   concessão suspeita de beneficiar, com financiamento público , um grupo da política dominante - hoje falido. O  serviço de telefonia  atual satisfaz  em comparação à porcaria que era a antiga Telefônica. Admitir a melhora dos serviços não significa  estarem estes  a par da melhor tecnologia disponível . Nosso avanço foi bom em relação ao seu  histórica, mas longe da qualidade dos serviços, da acessibilidade e dos custos dos países mais avançados. Estamos, mal e mal,  no 3G em vez do 5G e a operação é bastante falha.

O que está errado no  nosso modelo de  privatização? Privatizamos os meios,  não a nossa mentalidade. Continuamos com o velho cacoete de vender concessões, de regular em detalhes e de controlar as  privatizadas. Esta mentalidade patrimonialista  afasta bons operadores por duas razões: o intervencionismo e o ágio. Alguém é candido o suficiente para acreditar que a burocracia  das agências reguladoras não é cooptada pelas fiscalizadas, de que  excesso de regulação mais onera os custos do que  controla o essencial, que o  ágio cobrado  em leilão ( * nota de rodapé) não será pago pelo consumidor ? Certamente todos os pensantes têm certeza de pagar os ágios  em tarifas e em serviço de pior qualidade. Estas barreiras à entrada reduzem a competição e consequentemente os benefícios ao consumidor. A menos que por um milagre não seja  mais do couro que saia a correia  ou que São Francisco Assis transmudado em empresário veio fazer caridade por aqui.

A privatização dará todos os seus frutos ( oxalá) no dia em que deixe de ser mais um instrumento disfarçado de arrecadação ( mais um imposto acrescentado aos muitos existentes ) e passe ser um  instrumento da produtividade.

Enquanto isto, vamos fazendo de conta que aderimos à economia de mercado, mas  lamentando o  custo Brasil.

Jorge Simeira Jacob 




Nota - * o ágio tem sido usado como critério de seleção. Questionasse qual seria a alternativa. Uma ideia foi a escolha da melhor oferta em termos de serviço e menor ônus ao consumidor. O governo transferiria o benefício ao mercado.
Cheiro De Enxofre.


 Na Argentina há cheiro de enxofre no ar. O diabo,  lembrando o  inferno , está nas pesquisas eleitorais ao destacar na liderança a ex-presidente Kirshner para as próximas eleições. A reação  do governo foi decretar um  congelamento de preços. Sinal eloquente de desespero. O que a oposição explora como  um exemplo de fracasso  da economia de mercado. 

Macri  assumiu a presidência    com a proposta de  redução da intervenção governamental na economia,  contenção dos gastos públicos, retorno  da verdade nos dados estatísticos, restabelecimento do crédito no mercado internacional... Tudo de acordo com o ideário  liberal.

O que deu errado? 

Poucas promessas foram cumpridas. Consequentemente a realidade não mostrou resultados. A  inação motivada pelo receio de que um choque reformador traria sacrifícios insuportáveis ou indesejados levou à moderação na implantação das promessas . O  tempo passou  sem o  enxugamento do governo ( déficit de 7,2% do PIB e 45% de carga tributária )  e sem  a redução do  custo de  transações.  Uma política que deveria estimular  a poupança   e os  investimentos. Ao contrário o país continuou pagando  juros elevados para manter um governo inchado e uma crescente dívida pública. Sem as reformas  e uma agenda positiva que minorasse o ajuste dos menos favorecidos,  o ônus  foi a queda da renda do cidadão em consequência dos preços ao consumidor, a baixa atividade econômica e a insatisfação do eleitorado.

Como regra a grande massa reage como São Tomé - só crê no que vê! não vendo as melhoras esperadas, sem um sopro de esperança, se tornou  sensível ao discurso populista . Como visão  de estadista não capta voto de quem passa fome, a ameaça está se materializando no retorno ao que era antes - a volta do populismo-estatizante.

O problema dos tratamentos contemporizadores, é o tempo - quanto mais gradual ou limitadas as reformas maior é o prazo  necessário para surgirem os resultados. E como as eleições se sucedem rapidamente , estes projetos correm sérios riscos, como os que a duras penas está descobrindo o presidente Macri. 

Está aqui  posto o grande desafio de economias em crise no  regime democrático com eleições de  curto prazo. Tema constantemente abordado em reuniões liberais, que diante do desafio de reconstrução de uma economia se dividem em duas correntes:   Tratamento de Choque ou Gradualista. A primeira  , na linha de Machiavel, são a dos que acreditam que o esparadrapo deve ser arrancado de súbito, pois retardar os resultados dá tempo para o fortalecimento da oposição e pelo risco de   não entregar resultados antes da próxima eleição; e a dos  Gradualistas , ainda que convictos  das práticas de mercado,  entendem prudente  se dar tempo para os agentes econômicos  se adaptarem. Perguntam eles,  com razão: como expor as empresas locais à competição se as condições estruturais são diversas dos concorrentes internacionais? Como competir com   custos de transações, juros, insegurança jurídica ...que enfraquecem os nacionais?

Macri fez   um mínimo de reformas , Gradualista, com resultados insuficientes.  Erhardt, como Ministro da Economia da Alemanha, no pós guerra,  adotou  o    Tratamento de Choque, que resultou no Milagre Alemão e  o do Presidente Castelo Branco que resultou em uma década de grande desenvolvimento. Nenhum exemplo conheço de  desenvolvimento sustentado com Tratamento Gradualista e menos ainda com um  anêmico gradualismo - todos foram se deformando com o tempo -  eternizando o atraso e a pobreza da nação. 

Olhando para o nosso umbigo, diante da crítica situação da nossa economia, com a confiança no governo em queda, o tempo está contra nós. Faltam, só três anos para a próxima campanha eleitoral. Se não conseguirmos  - independentemente das circunstâncias - melhorar a renda das famílias e a esperança dos agentes econômicos, o ar poderá cheirar enxofre e corrermos  o risco de de sermos amanhã  a Argentina  de hoje.

Quem tem juízo, ao ver as barbas do vizinho ardendo, põe as próprias de molho!
Jorge Simeira Jacob












segunda-feira, 12 de agosto de 2019




Das Asas De Uma Borboleta.


Todo falso profeta ( será que existe algum que não o seja? ) é na essência um presunçoso. E quando penso em profetas não estou focando os religiosos, que, em se tratando de teologia,  de assuntos do  além, não correm, por óbvio,  o risco de serem desmentidos. Penso nos visionários de situações políticas, sociais  e/ou econômicas. Entre os quais  incluo a mim mesmo e a muitos dos meus interlocutores, pois estamos sempre fazendo  previsões e profecias, a maioria das quais é  desmentida pela realidade. Quem já não teve esta experiência que atire a primeira pedra!

Mas e os acertos? São raros, mas existem, todos  explicáveis pela Teoria do Caos -  segundo a qual , conforme  Edward Lorenz, seu teórico, um  desvio casual no início ou no meio do processo pode determinar resultados totalmente imprevisíveis, como :” o bater das asas de uma borboleta no Brasil  poderia  causar uma tempestade nos Estados Unidos “;  da queda de uma maçã na cabeça de Newton   resultou diferente das milhares caídas em milhões de outras cabeças; uma facada em um candidato em plena campanha  pode tê-lo favorecido nas  eleições... Um bater das asas, a queda de uma maçã, um atentado    podem  ser um  evento causal a alterar  resultados, ou seja,  todos eventos fortuitos podem  desviar o curso da história e favorecerem algumas profecias. 

E os desacertos? Estes infinitamente mais numerosos do que o seu contrário, não fogem à regra. Mas mesmo a soma dos acertos e dos desacertos  não enfraquecem o nosso ímpeto de  ler o futuro.  Ignoramos  o adagio segundo o qual   o futuro a Deus pertence. Porém, projetar o porvir, que  é um  exercício especulativo  necessário de planejamento , não é o mesmo que profetizar. Este, ao contrário da especulação, é categórico e assumido dogmaticamente . Nele não há o elemento dúvida, erro que   Lorenz não cometeu ao questionar os  resultados das  suas experimentações. Fosse outro metereologista, alguém sem a sua sólida formação de matemático, aceitaria   o primeiro resultado   como a verdade final. E não teria elaborado a Teoria do Caos - que é um estímulo à dúvida.

Temos assim a  lição de que  à cada tentação de profetizar deve ser seguida da   lembrança de que um simples bater das asas pode mudar tudo . Questionar  tudo, inclusive nós mesmos, é  o princípio da sabedoria . Os ignorantes tendem às certezas, daí o apego  ao fanatismo de todas as espécies e o poder de persuasão das ideologias,  daí o perigo dos atos de fé, dos dogmas  tipo: Deus é brasileiro! , ninguém segura este país ! Eles podem levar-nos   a crer  que fazendo tudo errado ou tudo certo o resultado será o desejado. Contrariando a ideia de Anatole France  que ensinava : “ devemos duvidar de tudo, até das dúvidas”

Segundo   a Teoria do Caos  é possível e , da mesma forma,  impossível que um Presidente estabanado, impulsivo, despreparado possa , escrever reto em linhas tortas como Deus. Tudo dependendo do bater das asas de  uma borboleta. Se na direção certa... estaremos salvos do atual caos, como teorizado. Se na errada...



sábado, 10 de agosto de 2019

A Nascente - oferta grátis.

Pedro Luis Ribeiro, responsável pela tradução do texto A Nascente, oferece por meu intermédio, gratuitamente,  alguns exemplares desta  obra clássica de Ayn Rand para os leitores deste blogue.

Reproduzo a seguir uma nota do Pedro e uma resenha do livro para despertar interesse. 

Os interessados devem manifestar-se pelo e-mail jwsjbr@gmail.com , anotando nome e endereço. Os livros poderão serão entregues por portador ou retirados com Alessandra, no seguinte endereço:

310 Rua dos Três Irmãos
Sao Paulo SP
05615-190
Tel 3512-7004

Jorge





                     Nota do Tradutor


O livro é para quem gosta muito de ler, extenso e complexo. Até hoje, tanto Atlas Shrugged como esse, são leituras obrigatórias nas boas escolas americanas. Embora o cerne do objetivismo não tenha “pegado” a gente vê idéias da Ayn Rand nos pensadores políticos liberais de hoje. Meu filho Fabio é objetivista roxo, e é um dos  contribuidores do pensamento do Partido Novo.

Aqui vai um texto que traduzi: (Ha quem diga que o personagem principal foi inspirado em Frank Lloyd Wright).

The Fountainhead é um romance de 1943 da autora russo-americana Ayn Rand, seu primeiro grande sucesso literário. O protagonista do romance, Howard Roark, é um jovem arquiteto individualista que projeta edifícios modernistas e se recusa a comprometer-se com um estabelecimento arquitetônico que não quer aceitar inovações. Roark personifica o que Rand acreditava ser o homem ideal, e sua luta reflete a crença de Rand de que o individualismo é superior ao coletivismo.

Roark se opõe ao que ele chama de "funcionários de segunda mão", que valorizam a conformidade em detrimento da independência e da integridade. Estes incluem o ex-colega de classe de Roark, Peter Keating, que consegue seguir estilos populares, mas pede ajuda a Roark para problemas de design. Ellsworth Toohey, um crítico de arquitetura socialista que usa sua influência para promover sua agenda política e social, tenta destruir a carreira de Roark. A editora de tablóides Gail Wynand procura moldar a opinião popular; ele se torna amigo de Roark, depois o trai quando a opinião pública se volta em uma direção que ele não pode controlar. O personagem mais controverso do romance é o amante de Roark, Dominique Francon. Ela acredita que a não-conformidade não tem chance de vencer, então ela alterna entre ajudar Roark e trabalhar para prejudicá-lo. Críticas feministas condenaram o primeiro encontro sexual de Roark e Dominique, acusando Rand de endossar o estupro.

Doze editores rejeitaram o manuscrito antes que um editor da Bobbs-Merrill Company arriscasse seu emprego para publicá-lo. As opiniões dos revisores contemporâneos foram polarizadas. Alguns elogiaram o romance como um poderoso hino ao individualismo, enquanto outros o consideravam muito longo e sem personagens simpáticos. As vendas iniciais foram lentas, mas o livro ganhou seguidores de boca em boca e se tornou um best-seller. Mais de 6,5 milhões de cópias do The Fountainhead foram vendidas em todo o mundo e o livro foitraduzido para mais de 20 idiomas. O romance atraiu um novo público para Rand e teve uma influência duradoura, especialmente entre arquitetos, conservadores americanos e libertários de direita.

O romance foi adaptado em outros meios de comunicação várias vezes. Uma versão ilustrada foi publicada em jornais em 1945. A Warner Bros. produziu uma versão cinematográfica em 1949; Rand escreveu o roteiro e Gary Cooper interpretou Roark. Os críticos criticaram o filme, que não recuperou seu orçamento; vários diretores e escritores consideraram o desenvolvimento de uma nova adaptação cinematográfica. Em 2014, o diretor teatral belga Ivo van Hove criou uma adaptação para o palco, que recebeu principalmente críticas positivas.

Obrigado

Pedro