Cheiro De Enxofre.
Na Argentina há cheiro de enxofre no ar. O diabo, lembrando o inferno , está nas pesquisas eleitorais ao destacar na liderança a ex-presidente Kirshner para as próximas eleições. A reação do governo foi decretar um congelamento de preços. Sinal eloquente de desespero. O que a oposição explora como um exemplo de fracasso da economia de mercado.
Macri assumiu a presidência com a proposta de redução da intervenção governamental na economia, contenção dos gastos públicos, retorno da verdade nos dados estatísticos, restabelecimento do crédito no mercado internacional... Tudo de acordo com o ideário liberal.
O que deu errado?
Poucas promessas foram cumpridas. Consequentemente a realidade não mostrou resultados. A inação motivada pelo receio de que um choque reformador traria sacrifícios insuportáveis ou indesejados levou à moderação na implantação das promessas . O tempo passou sem o enxugamento do governo ( déficit de 7,2% do PIB e 45% de carga tributária ) e sem a redução do custo de transações. Uma política que deveria estimular a poupança e os investimentos. Ao contrário o país continuou pagando juros elevados para manter um governo inchado e uma crescente dívida pública. Sem as reformas e uma agenda positiva que minorasse o ajuste dos menos favorecidos, o ônus foi a queda da renda do cidadão em consequência dos preços ao consumidor, a baixa atividade econômica e a insatisfação do eleitorado.
Como regra a grande massa reage como São Tomé - só crê no que vê! não vendo as melhoras esperadas, sem um sopro de esperança, se tornou sensível ao discurso populista . Como visão de estadista não capta voto de quem passa fome, a ameaça está se materializando no retorno ao que era antes - a volta do populismo-estatizante.
O problema dos tratamentos contemporizadores, é o tempo - quanto mais gradual ou limitadas as reformas maior é o prazo necessário para surgirem os resultados. E como as eleições se sucedem rapidamente , estes projetos correm sérios riscos, como os que a duras penas está descobrindo o presidente Macri.
Está aqui posto o grande desafio de economias em crise no regime democrático com eleições de curto prazo. Tema constantemente abordado em reuniões liberais, que diante do desafio de reconstrução de uma economia se dividem em duas correntes: Tratamento de Choque ou Gradualista. A primeira , na linha de Machiavel, são a dos que acreditam que o esparadrapo deve ser arrancado de súbito, pois retardar os resultados dá tempo para o fortalecimento da oposição e pelo risco de não entregar resultados antes da próxima eleição; e a dos Gradualistas , ainda que convictos das práticas de mercado, entendem prudente se dar tempo para os agentes econômicos se adaptarem. Perguntam eles, com razão: como expor as empresas locais à competição se as condições estruturais são diversas dos concorrentes internacionais? Como competir com custos de transações, juros, insegurança jurídica ...que enfraquecem os nacionais?
Macri fez um mínimo de reformas , Gradualista, com resultados insuficientes. Erhardt, como Ministro da Economia da Alemanha, no pós guerra, adotou o Tratamento de Choque, que resultou no Milagre Alemão e o do Presidente Castelo Branco que resultou em uma década de grande desenvolvimento. Nenhum exemplo conheço de desenvolvimento sustentado com Tratamento Gradualista e menos ainda com um anêmico gradualismo - todos foram se deformando com o tempo - eternizando o atraso e a pobreza da nação.
Olhando para o nosso umbigo, diante da crítica situação da nossa economia, com a confiança no governo em queda, o tempo está contra nós. Faltam, só três anos para a próxima campanha eleitoral. Se não conseguirmos - independentemente das circunstâncias - melhorar a renda das famílias e a esperança dos agentes econômicos, o ar poderá cheirar enxofre e corrermos o risco de de sermos amanhã a Argentina de hoje.
Quem tem juízo, ao ver as barbas do vizinho ardendo, põe as próprias de molho!
Jorge Simeira Jacob
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