Conundrum
Imagine se de repente, após um piscar de olhos, surge um clarão e tudo fica diferente. Os efeitos deixam de corresponder às causas. O sol brilha na noite e a lua no dia; os gatos ladram e os cães miam...Diante destes fenômenos, a reação humana seria de perplexidade. Teríamos ficado loucos? Ou mudaram os paradigmas?
A crise de 2008, após a quebra da Lehman Brothers, foi como um piscar de olhos e , sem ser exercício de imaginação, os efeitos econômicos se descolaram das causas. A primeira reação de estupefação foi a do Chairman Do Federal Reserve , Alan Greenspan, que antes da eclosão da crise, diante do aquecimento da economia, se recusava a elevar os juros para esfriar a economia por considerar estarmos vivenciando um momento especial - uma “ irracional exuberância”. Entendia o caso como “ um cunundrum”, explicável pelos ganhos de produtividade da revolução tecnológica: internet, computação, algoritmos... e deixou a bola rolar.
A bola rolou até estourar. Como sequência aos fatos, as ações governamentais para conter o contágio, que havia atingido o sistema financeiro internacional, se basearam em encampar instituições financeiras “ too big too fail” , inundar os mercados com liquidez sem limites e levando a níveis negativos os juros reais. Passados 11 anos, os juros continuam negativos e a liquidez inunda os mercados. Em vez da esperada inflação se teme a deflação e uma ameaça de recessão. O instrumento clássico de controle da inflação , a taxa de juros, perdeu a eficácia . O excesso de liquidez nem gerou inflação e nem estimulou a economia.
Passada a crise, após injeção de trilhões de dólares na economia, os juros vão de ridículos a negativos, de maiores a menores ao longo do prazo e a inflação contida com alguns sinais de deflação. Perdida está com os juros negativos o recurso de estimular a economia com redução das taxas de juros. Condição agravada com o endividamento sem limites dos países, em consequência do baixo custo e liquidez abundante para carregamento da dívida. Dívida de gastos desmedidos dos governos. Só os Estados Unidos carrega 20 trilhões de dólares de passivo, que cresce 1 trilhão ao ano e o dólar continua se fortalecendo. Situação que deveria preocupar, pois, em caso de reversão à taxas de juros de antes da crise , 5% ao ano, o déficit anual iria ao dobro do atual - que seria certamente coberto com equivalente emissão da moeda.
Nada indica que um tsunami esteja à vista, embora exista temor de uma recessão, mas as grandes tempestades geralmente são precedidas de uma calmaria. Porém, esta nova “irracional exuberância” poderá ser mantida enquanto o dólar continuar a merecer a confiança dos mercados. Enquanto isto ,para os investidores, na ausência de outra moeda com as suas características, a diversão será para ativos reais - com sérias distorções na alocação dos recursos e da valorização dos ativos. Distorções que hoje já geram suspeitas sobre uma possível sobrevalorização dos imóveis , ações e startups. Como ficarão os preços dos ativos se houver melhora no retorno das aplicações financeiras?
As crises são subestimadas até a hora em que acontecem.
Greenspan, após a crise, reconheceu que subestimou a incompetência do mercado financeiro de administrar adequadamente os riscos envolvidos nas sua operações . Estaríamos outra vez administrando inadequadamente a economia? Como saber se os paradigmas foram perdidos e com estes perdemos as referências? Como orientar-se diante de sol no meio do dia? Cão miando e gato latindo...? Estaríamos, hoje, - diante de outro “ conundrum? Ou fiquei louco?
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