quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Uns e Outros.


Atordoado, como ao despertar de um sono profundo, estou de    frente a um monte de recordações.  Dou-me conta que de repente a vida está chegando ao fim. Vejo, em avaliação cuidadosa, como ela foi boa e está terminando bem. 

Ainda mal acordado, num relance , constato como foi agradável o convívio com aqueles que amo;  a alegria compartilhada com os  amigos; a adaptação sem sofrimento às  limitações da idade; e  - ainda que  menos importantes - a satisfação no combate travado nos campos dos negócios e dos esportes.

Este  e os anos precedentes  foram períodos felizes por terem sido vivenciados  sem nos causar  mágoas, frustrações, amarguras e tédio. Não prejudicando, portanto, o lado belo e bom da vida.   Deles não tenho  a mínima lembrança de um momento de inveja ou de rancor .  Restando-me tão somente o sentimento da realização, do destemor, e do ter sido útil. Sem que isto tenha um travo de presunção ou vaidade pueril.



Nada disto! Pois há evidência de não ser este sentimento de felicidade uma conquista exclusivamente minha. Muitos compartilham desta mesma emoção. Outros, como  a necessária exceção, para confirmar a regra,  chegam ao ocaso da vida  com o sentimento de tempo perdido, de sonhos frustados e de poucas esperanças pelo futuro. Não ousando ao menos sonhar com uma possível dose  de sorte!

O que divide estes dois segmentos de uma mesma sociedade? Os copos quase cheios e os quase vazios?



Uns, positivamente, colocam os holofotes no lado bom dos acontecimentos.  Saboreiam e se encorajam à cada conquista. À cada êxito se segue uma comemoração!  Não permitem que estas caiam na caixa do esquecimento. Ao contrário, fazem das vitórias, por pequenas que sejam, as razões do seu ânimo, da sua alegria . Abrigam, no íntimo,  a virtude do bom humor, por ser ele  o húmus da felicidade,  e, na aparência , a sabedoria expressa nas rugas da face e nos cabelos brancos.

Os outros, negativamente, mastigam, ruminam, regurgitam para reiniciar infinitamente o processo digestivo  e angustiante das derrotas, dos fracassos, e das batalhas perdidas . Fazem das suas mazelas a base das suas constantes manifestações de revolta , contrariedades e rabugices. Combatendo  o mundo, como num bumerangue, derrotando a si mesmos.


Um exemplo de positivo enfrentamento da vida, deu um campeão de golfe que, entrevistado, negou ter errado uma só tacada em toda a sua carreira. Ao ser confrontado com um dos seus comprovados erros ,disse categoricamente ao entrevistador:

 - "Este lance não foi meu! Não me lembro dele. Das minhas tacadas só registro as boas. Aliás, se ficasse pensando nos meus erros, nunca  seria um campeão".

Assim são uns e os outros!


Jorge Simeira Jacob



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