domingo, 26 de dezembro de 2021

Um favelão chamado Brasil.


Todos conhecem, ainda que por fora, as nossas favelas * . Poucos se atrevem a entrar na maioria delas. São manchas negras em uma sociedade que se pretende civilizada. São territórios livres onde prevalece a lei do mais forte. Os casebres,  aproveitamento de restos de construção, de madeira, de caixotes e de papelão,  são precários, não oferecem a mínima proteção aos seus moradores. Neles não há nem segurança, nem privacidade e muito menos higiene. A insalubridade está a olhos vistos, nos esgotos a céu aberto, nos dejectos humanos, lama e animais  domésticos. As favelas são exemplos do que é uma condição sub- humana de vida. Como regra, não têm água encanada e a energia elétrica  vem de gambiarras, as quais são as causas de constantes incêndios. 


Antigamente as favelas estavam concentradas no Rio de Janeiro, capital da República à época da libertação dos escravos, que gerou uma primeira onda de favelados. Foi a solução adotada pelos  libertos, que não tendo onde morar,  viam nos morros espaço livre e proximidade aos  empregos. Carlos Lacerda**, o melhor governador da história do Rio de Janeiro, tentou eliminar as sete favelas então existentes ( hoje são setecentas ). Construiu, afastado da cidade, a Vila Kennedy, financiada pelo governo americano. Transferiu duas favelas sob forte resistência dos moradores.  Muitos foram forçados a mudar. Resistiram  por razões diversas: distância dos empregos, da praia e da vida social. O projeto morreu na praia!  A Vila Kennedy foi mais um exemplo de que a engenharia social não substitui a liberdade de cada um escolher a sua maneira de ser feliz.




Uma segunda onda aconteceu com a redução da população rural, que transferiu-se para as cidades provocada com a extensão das Leis Trabalhistas ao campo. Fato que gerou uma demissão em massa de trabalhadores rurais. Estas duas medidas, que visavam melhorar as condições dos trabalhadores, por não darem  um mínimo de amparo aos desalojados, acabou  penalizando-os. Ganharam a desejada alforria, mas a custa de serem lançados abruptamente ao relento.


Uma terceira onda está  acontecendo -  a  migração para as grandes metrópoles, que oferecem melhores condições de emprego. À densidade demográfica elevada juntou-se  uma política urbanística elitista*** , que jogaram os preços do metro quadrado da habitação a níveis inacessíveis às classes menos favorecidas. A consequência está no aumento das favelas, para os pobres, unidades minúsculas, para a classe média, e edifícios de alto luxo, para a classe privilegiada. A distância  entre o pico da pirâmide e a sua base continua aumentando.


Nada indica haver uma mudança na tendência de concentração nas grandes metrópoles. As classes mais baixas têm proles maiores e são elas que em maior número procuram as megalópoles à procura de emprego. Muito provavelmente alojando-se em uma favela. As megalópoles estão cada vez mais rodeadas de megafavelas - um retrato do que poderá ser um favelão chamado Brasil. A menos que os governos reduzam as exigências elitistas e tornem viáveis loteamentos e habitações simples, sem a ilusão do modelo que satisfaz aos sonhadores do mundo ideal. O excesso de intervencionismo governamental, por questões de sobrevivência, força o homem à marginalidade.




São Paulo, 26 de dezembro de 2021,

Jorge Wilson Simeira Jacob



*A origem do termo "favela" encontra-se no episódio histórico conhecido por Guerra de Canudos. A cidadela de Canudos foi construída junto a alguns morros, entre eles o Morro da Favela, assim batizado em virtude da planta Cnidoscolus quercifolius (popularmente chamada de favela) que encobria a região. 

Wikipedia 

** Carlos Lacerda, jornalista, político foi um dos maiores tribunos brasileiros. Fez excelente governo no Rio de Janeiro.

*** Os planos urbanísticos das cidades são elitistas por terem exigências de estrutura, dimensão e sofisticação, que marginalizam os mais pobres. A consequência é a favelização, onde os sonhos utópicos  dos urbanistas não é respeitado. É tipicamente o caso onde o ótimo inviabiliza o que seria o bom. Nem parece que somos um país imenso, com muito  espaço livre, que não é viável para os trabalhadores pela falta de transporte de massa e legislação urbana irrealista.Um cidadão de São Paulo, que mora na periferia, perde de 4 a 6 horas no trânsito diariamente. 


quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

 As festas de Ano Novo.


Um  ano vai-se pra outro poder vir.

Chega com alegria  pra  tristeza sair,

Como o dia que surge  pra noite cair.


Nossos anos têm as suas histórias, 

Recheados de frustrações e  glórias,

Que habitam o fundo das memórias,


Com um sonho pra cada coração, 

Uma esperança em cada ilusão, 

Uma cicatriz a cada decepção.


A vida não para, tem o seu tempo,

Como a chuva, o seu vento

E a felicidade, o seu momento.


O Ano Novo tem as suas celebrações,

Onde cada um de nós tem suas razões,

Que nutre com os frutos dos corações.



São Paulo , 23 de dezembro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob 







quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

 Um exemplo que fala por si só!


Antônio de Oliveira Salazar * foi o estadista que mais tempo governou Portugal. Como ditador  ( 1932 e 1933 ) e de forma autoritária, desde o início da Segunda República até ser destituído em 1968. Inspirado no fascismo e apoiando-se na doutrina social da Igreja Católica, Salazar orientou-se para um corporativismo de Estado, com uma linha de acção económica nacionalista assente no ideal da autarquia. Esse seu nacionalismo económico levou-o a tomar medidas de proteccionismo e isolacionismo de natureza fiscal, tarifária, alfandegária, para Portugal e suas colônias, que tiveram grandes impactos positivos e negativos durante todo o período em que exerceu funções. Salazar, seminarista por oito anos, respeitado professor de finanças na Universidade de Coimbra, assume o governo, convocado pelos militares, depois do golpe de 1926. 


Portugal,  da implantação da República em 1910 até o golpe militar,  teve oito Presidentes da República, quarenta e quatro reorganizações de gabinete e vinte e uma revoluções. O primeiro Governo da República não durou dez semanas e o mais longo durou pouco mais de um ano. Várias personalidades políticas foram assassinadas. Pela Europa afora a palavra “revolução” passou a estar associada a Portugal. O custo de vida aumentou vinte e cinco vezes, a moeda caiu para 1/33 partes do seu valor relativamente ao ouro. O fosso entre ricos e pobres continuou sempre a aumentar. A Igreja Católica foi implacavelmente perseguida pelos maçons anticlericais. Os atentados terroristas e o assassinato político generalizaram-se. Entre 1920 e 1925, de acordo com dados oficiais da polícia nas ruas de Lisboa  explodiram 325 bombas. Com o país continuamente à beira de uma guerra civil, em 1926 dá-se um levantamento militar, sem derramamento de sangue e com a adesão de inúmeros sectores da sociedade portuguesa, desejosos de acabar com o clima de terror e violência que se tinha instalado no país. Ilustrativo do caos a que se tinha chegado é o fato do poeta Fernando Pessoa ter apelidado a Primeira República de regime de "conspurcação espiritual"  e em 1928 ter escrito "O Interregno Defeza e Justificação da Dictadura Militar em Portugal" onde afirmou que: “É hoje legítima e necessária uma ditadura militar em Portugal”.


Os militares, após o golpe,   convidaram Salazar para a pasta das finanças; mas passados treze dias Salazar renuncia ao cargo por falta de condições para trabalhar. Posteriormente é chamado de volta e acaba por assumir o cargo de Presidente do Conselho de Ministros. De forma autocrática, equilibrou as finanças e restabeleceu a ordem pública. Governou o país com punho de ferro. Organizou uma polícia secreta, PIDE,  com fins políticos, que perseguia e torturava os inimigos do seu governo. 


Salazar permaneceu solteiro. Alegava ter casado com Portugal. Ainda que houvesse comentários de alguns  amores, levava uma vida austera, toda ela  devotada à política.  O seu governo desconheceu a corrupção na economia, mas o país não desenvolveu-se. Perdeu o passo em relação ao mundo. O governo de Salazar é um modelo de que só a honestidade, por si só,  ainda  que fundamental, não é suficiente para o desenvolvimento. As políticas de economia fechada, autarquia, sem competição, estiolou o progresso do país. Portugal, com a austeridade de Salazar, que sufocou a liberdade política e econômica, acabou não tendo corrupção, mas também não desenvolveu-se. É um exemplo que fala por si só: combater a corrupção só não basta, ainda que indispensável e desejável. É necessária um Estado organizado, com respeito às leis, com liberdade econômica para tirar uma nação do subdesenvolvimento.Só uma Lava Jato, por mais moralizadora que seja,  não garante o futuro.


*Antônio de Oliveira Salazar

    Wikipédia 


São Paulo, 22 de dezembro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob 




quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

 


Os sub-proteicos e as eleições.



O eleitorado brasileiro será convocado ( o voto é obrigatório ) às urnas no final do próximo ano. A cidadania nos obrigará a escolher a chapa do próximo presidente. Dois candidatos já exerceram o cargo deixando amarga a boca dos eleitores não alinhados incondicionalmente. Lula que desponta nas pesquisas como o preferido, se nada mudar,  será eleito no primeiro turno. Prenunciando repetir o desastroso resultado das gestões petistas, não só no âmbito federal, mas também estadual e municipal. Todas  marcadas por corrupção e incompetência. O jeito petista de governar  colocou o país na UTI do SUS. 


Se errar é humano, perdoemos quem votou no Lula numa  fase da experiência. Mas depois do teste feito, com os péssimos resultados, como explicar uma fidelidade ao Lulla? Se repetir o erro é burrice, não tendo outra justificativa, só sobra mesmo atribuir à  ignorância. Quem sabe, por eufemismo,  possa-se pensar em sado-masoquismo. A psicologia reconhece haver prazer na automutilação em mentes perturbadas. Desvio psicológico que pode ser atribuível à parte da população sacrificada pela fome na infância - os sub-proteicos . Constatação, além de triste e vergonhosa, deveras pessimista. Como   o país não resolveu o desafio da miséria, vai continuar dependendo da escolha dos seus governantes aos  sub-proteicos.


A eleição do candidato Bolsonaro surgiu como uma antítese à tese da prevalência dos sub-proteicos na escolha dos candidatos. Doce ilusão. Ele não foi eleito pelo que se sabia dele, mas pelo que se desconhecia, sem contar a rejeição ao candidato petista. Além de que uma facada criminosa ( providencial para efeitos eleiçoeiros ) evitou a exposição do candidato. Ganhou as eleições pelo carisma, não pelo conteúdo. Ainda que tenha prometido um Posto Ypiranga, com um sortimento de ideias que atualizariam ao marco civilizatório a Nação. A sensação que este período de governo dá é a de fim de feira. Sobrou pouca coisa para se mostrar. O pouco que foi feito não foi o suficiente para recuperar o tempo perdido.


Estamos, assim, frente ao desafio do surgimento de um candidato à altura dos nossos desafios. Infelizmente nada promissor temos no mostruário de candidatos. Moro não tem carisma, é fraco de conteúdo e jejuno em eleições. Não chega lá! Doria fez um governo fraco, dividiu o seu partido, e desgastou o seu capital político mostrando-se, ao contrário do que apregoava, não ser um gestor, mas um político igual aos outros. Não chega lá! O resto é somente bucha para canhão. Não chegarão lá !


E agora José?! Em quem votar? Esta será a grande questão.


A solução que nenhum candidato divulga, obviamente por não lhes interessar, é o voto anulado. Ao anular o voto o eleitor está pedindo outros candidatos. Estará dizendo não querer  mais do mesmo. Anule-se a eleição e venham outros postulantes à Presidência do país. Só assim teremos em quem votar…se os sub-proteicos deixarem.


São Paulo, 16 de dezembro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob


quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

 Os pragmáticos e os idealistas.

Há assuntos, devido à sua importância, que não se pode deixar morrer. Entre os mais significativos está o respeito às Leis. O Estadão, no dia 14 de dezembro,  sob o título de As causas da impunidade,  não só revive o assunto como o faz de maneira contundente. Foi pertinente a abordagem  do jornal , tendo em conta que está difundida a discussão dos desvios da Lava Jato, provocada pela candidatura do ícone do movimento, Sérgio Moro. Enquanto os idealistas são contra os desvios da Lei, independente dos méritos, os pragmáticos , em nome de uma justiça, aceitam desvios para que os culpados sejam punidos.
 
O pragmatismo, na essência, é amoral, atemporal e , se conviniente, ilegal Os pragmáticos, aqui entendidos os que consideram válido aquilo que atendem aos seus interesses, oscilam de acordo com as circunstâncias. São erráticos. Eles justificam o desvio aos procedimentos legais pois , em sendo os acusados detentores do poder, donos da habilidade de não deixar rastros,   ser impossível a  punição dos crimes seguindo o rigor da Lei. Segundo entendem, as leis são promulgadas por eles com vistas à  própria impunidade. Estariam assim validando as condenações da Lava Jato e contra a desconsideração das condenações dos crimes cometidos contra os cofres da Petrobras, Boi Barrica e outras prevaricações contra o bem público.

Já os idealistas, como o Estadão, têm uma visão conceitual, colocam acima de tudo a defesa do indivíduo. Frederic   Bastiat, na A Lei, um clássico, definia que as Leis devem existir para proteger o cidadão contra o poder do Estado. Sem Leis o indivíduo está à mercê dos governantes. Mesmo os inocentes que, hoje , pode ser alguém , amanhã, poderá ser um de nós. Esta concepção vem completar a ideia da divisão dos poderes de Montesquieu influenciados pelos abusos do  Poder Absolutista reinante em suas épocas. Mas válida ainda em nossos dias… e sempre!


Se para os pragmáticos, a Lei é relativa, para os idealistas, ela deve ser absoluta. Se não atende aos interesses da sociedade, deve ser mudada. Mas enquanto Lei deve ser respeitada - doa a quem doer! E é a ilegalidade que o articulista do jornal condena. Pois o contrário seria a ideia maquiavélica de que os fins justificam os meios. Para os idealistas,  a turma da Lava Jato  barbarizou a legislação, o que mancha as suas imagens  como responsáveis pelo cumprimento da Lei - independente de ser ou não correta a condenação. Ademais, por desrespeitarem os protocolos jurídicos prestaram um desserviço à Justiça. Todas as condenações foram anuladas por não atenderem ao processo legal. O que está certo: um crime não justifica um outro!




São Paulo, 15 de dezembro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

 



A medida do socialismo.

Duas grandes correntes de pensamento superaram os desafios dos últimos séculos : o socialismo e o capitalismo. O ideal comunista, de triste memória, morreu com a fracassada experiência da falida União Soviética. Ela não festejou um centenário, mas deixou um monumento na história da humanidade como a  ideia que mais gente matou, mais injustiças praticou e mais miséria criou. Essas  duas  ideias adaptaram-se aos tempos para sobreviver. O socialismo deixou de ser o caminho para o comunismo e reduziu a ambição inicial de eliminar as desigualdades socioeconômicas, diante dos limites impostos pela realidade. Mesmo os países escandinavos não só têm reduzido a interferência governamental nas suas  economias,  como dão uma liberdade de ação às empresas muito superior ao que temos na maioria dos países capitalistas. Testemunho neste sentido deu o presidente da Vivino, que manifestou-se negativamente surpreso com a burocracia brasileira. Ao inaugurar uma filial no Brasil, disse: os impostos na Dinamarca são altos, a  burocracia é mínima, não há corrupção, mas as empresas tem muita liberdade para trabalhar*. 

Afinal são elas que pagam as contas.

O conceito básico é ser o socialismo  um sistema político e econômico que tem como principal fundamento a igualdade. O objetivo do sistema é uma sociedade igualitária, com a transformação desta, através da distribuição de renda para diminuir a desigualdade social. No aggiornamento do socialismo para a sobrevivência,  dosagens diferentes de intervenção governamental  têm sido  praticadas. Nem todos os socialistas são iguais, alguns são mais do que os outros. O que sugere imaginar uma régua para medir as diferenças. Uma medida dos diversos  níveis de  socialismos, que vicejam mundo afora,  é o tamanho do orçamento do governo. De uma maneira singela, poderíamos ter como ilustração  ser o tamanho de um Orçamento de governo igual ao nível de socialismo. Assim  um  Orçamento de 100% do PIB  ( como foi na URSS ) equivaleria a igual nível de socialismo;  como  58% do PIB do Brasil,  seria a medida do nosso socialismo. Com esta régua, a China que tem um Orçamento ** de 20% do PIB é só 20% socialista, menos do que os Estados Unidos da América. O mesmo critério pode ser estendido às pessoas. Um  indivíduo que postula uma dosagem de redistribuição de renda é socialista ao nível da  intervenção que defende. 

O mal do socialismo é que  nenhum governo produz nada, a não ser burocracia, e para   reduzir as desigualdades têm que tomar de alguém . Os que produzem são submetidos aos impostos ( de imposição) , pois de outra forma não abririam as suas carteiras. Mas a tributação tem limites, acima de certo nível  ( Curva de Lafer ) produz resultados indesejáveis. O que se reflete na capacidade distributivista dos governos.  Já o capitalismo, com a inegável condição de criar riquezas e de  reduzir a pobreza,  aceita  como naturais as desigualdades. A China, cujo capitalismo selvagem, tão criticado, valorizando o gato que caça o rato , tirou mais chineses da miséria  do que matou Mao Tse Tung. Como sempre, a realidade a longo prazo impõe-se:  a  igualdade em  Cuba, na Venezuela… ( excepto os nobres da nomenclatura ), não mata o sonho de emigrar para os Estados Unidos. Simplesmente porque a  flagrante desigualdade da sociedade americana não fez pior a vida da grande massa. Como a centena de  bilionários chineses não impediu a redução da pobreza do país***.  

Em resumo, como disse o mestre de frases de efeito e commom  sense , Milton Friedman, mantenha os seus olhos em uma  única coisa e somente uma coisa: quanto o governo está gastando.  

Esta é a medida do socialismo! 


São Paulo, 24 de novembro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob


* Veja a Dinamarca, que é um país muito bom para fazer negócios. Os impostos são muito altos para algumas coisas, mas há pouquíssima burocracia, não há corrupção e o governo realmente fica fora do caminho a maior parte do tempo. Isso é crucial. É realmente um grande problema quando os governos ficam interferindo.... - Veja mais em https://economia.uol.com.br/reportagens-especiais/uol-lideres-heini-zachariassen-vivino/index.htm#brasil-tem-impostos-e-precos-dificeis-de-entender.


** PEQUIM - O total obtido na arrecadação de impostos na China em 2006 atingiu o valor recorde de US$ 482,5 bilhões, 21,9% a mais que no ano anterior, informou hoje o jornal oficial "China Daily".O número, que não inclui as tarifas nem os impostos agrícolas, foi publicado pela Administração Estatal de Impostos, e representa 18% do Produto Interno Bruto (PIB), um ponto percentual acima do resultado de 2005.

*** Segundo Stanley Tsung, chinês residente nos Estados Unidos, repercutindo este artigo,  escreveu: Concordo em gênero, número, e grau. A China foi o país que mais tirou gente da pobreza nos últimos 30 anos e que tb mais bilionários criou. É um povo muito trabalhador pois a concorrência é avassaladora.…Lá realmente colhe-se o que planta...  o difícil é plantar algo que alguém já não plantou. 

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

 A semi-virgindade.


Um dos mais marcantes traços do caracter brasileiro é a tendência à contemporização. Não é incomum  ter  como resposta a uma pergunta o  clássico  mais ou menos. A assertividade anglo-saxônica , quando aqui praticada, não é bem vista. Não gostamos de ouvir um  não e menos ainda, dizer:  não sei. Contemporizamos tudo, ou postergando uma resposta ou com escapismos: vou pensar, quem sabe, depois a gente se fala… e por aí vai. Há, porém,  situações que são absolutas, não permitem o meio termo, a protelação. A virgindade é uma delas. Não há o mais ou menos. Ou é ou não é.  É inegável que essa nossa maleabilidade torna o convívio social mais harmonioso, suave, mas, não indo ao cerne do assunto, não se vai  à solução final. Evitamos bater de frente. A  verdade, porém, com essa nossa flexibilidade diante da  ordem estabelecida, esse nosso  jeitinho encontra espaço para não se levar a lei à sério. Por isto, as nossas leis são como as vacinas - umas pegam outras, não.


Com essas e outras, o resultado é haver uma confusão  generalizada na consciência coletiva com respeito à ordem estabelecida. Começando pela organização do Estado, a sociedade aceita com naturalidade o desrespeito de um dos poderes com relação aos outros. Se fosse desfile de escolas de samba, seríamos desclassificados por ter deixado o samba enredo atravessar.  Haja visto o atual comportamento dos nossos  poderes.  O judiciário atravessa o samba legislando, o legislativo faz-se de morto, o executivo ameaça não obedecer uma lei que o desagrade… e o conúbio entre os poderes constituídos é imoral.  Em vez de cumprir as leis, que é a sua função,  o judiciário, faz uma pretensa justiça, a título de corrigir desigualdades sociais ou atender às crenças pessoais. E o povo ainda reclama de não haver justiça, quando o de que carecemos é do cumprimento das leis. Se uma lei  não é adequada,  não  cabe ao judiciário desrespeitá-la, mas ao legislativo mudá-la. 


Nessa confusão organizacional, a tal ponto está chegando a interferência/desvirtuamento  do judiciário nos assuntos de governo, sob o olhar complacente do legislativo, que vozes esclarecidas como a do Gal. Paulo Chagas, um legítimo democrata-liberal, alertam a Nação para o risco de uma ditadura deste poder. Por falta de sorte, a sociedade não faz coro a este pedido de respeito às leis e aceitam o samba atravessado.  Mais ainda, uma  massa de bem intencionados aceita que,  em vez do rigor da lei, se faça justiça - como se esta fosse a função do judiciário. Este entendimento acomodatício  faz lembrar a famosa advertência de Rui Barbosa:  a pior das ditaduras é a do judiciário, pois deste não há a quem recorrer. 


Esse samba atravessado está nos levando à  semi-virgindade. Estamos  inventando a democracia relativa ou a semi-ditadura, como sistema no nosso governo. Fugimos da  democracia clássica, que está assentada na  divisão do governo  entre três poderes - executivo, legislativo e judiciário; do  check and balance que  foi a solução de Montesquieu para proteger as nações do perigo da concentração do poder.  Ele certamente leu Hobbes e apreendeu que o  Leviatã cresce na medida do seu poder.  O poder absoluto, com os faraós, imperadores, reis, que precedeu a democracia, deixou um enredo pouco edificante. Lição que os democratas não devem esquecer.


Rui Barbosa, entretanto, estava equivocado. Não levou em conta o papel das FFAA de defesa da Constituição. Cabe a elas, além de cuidar da nossa soberania, a ordem constitucional. Elas não podem permitir, usando a força, se for o caso, uma ditadura, seja de qual dos poderes for.  O desequilíbrio vigente entre os três poderes criou  um novo modelo de organização do Estado, a democracia relativa, semi-ditadura,  para sermos vistos pelo mundo como os inventores da semi-virgindade.


São Paulo, 221 de novembro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob 

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

 



Uma Obra Prima Da Fofoca.


São poucas as  coisas íntimas que compartilhamos. Do restante, passamos a vida falando de tudo, dos nossos sonhos, das nossas conquistas e das nossas frustrações. Somos uma sociedade oral. Sobretudo saboreamos com luxúria uma boa fofoca. Aliás, quanto mais alta a posição sócio-econômica das vítimas, quanto maior o desastre, mais interesse temos em ouvir e passar adiante uma fofoca.  Há casos que são patológicos. Há uma fofoqueira incansável, que não espera pelas novidades. Vai atrás . Circula por todos os cantos com as antenas ligadas. Caça uma maledicência com a volúpia de um caçador de leões. Uma fofoca para ela tem o mesmo valor  que as presas de um  elefante para um caçador. Esta fofoqueira  é tão focada no seu objetivo que, ao aproximar-se de alguém, mal cumprimenta. Vai logo perguntando: 

  • vc tem alguma novidade para me contar? Se não tem resposta positiva, vai caçar em outro sítio. Mas, se puder,   destila algum veneno, do tipo:
  • fiquei sabendo de um caso envolvendo gente importante . Quando a bomba estourar, ninguém vai acreditar! É daquelas  de fazer ondas no mar. Aguardem! O efeito será  imediato. Todos em coro perguntarão:

é o fulano?a fulana?  é traição ? é calote? A comoção é geral.


Pode parecer exagero, uma caricatura,  essa caracterização dos humanos, mas é um retrato do nosso comportamento social. Exclusivamente humano. Nem o papagaio, que fala, diz  mal da vida alheia.  Se alguém pensa ser exagero  o cultivo da intriga, da fofoca e da bisbilhotice, faça o seguinte teste. Aproxime-se de uma roda de conhecidos  nas pontas dos pés. Segure a respiração como se sem ar estivesse. Olhe de um lado para o outro, com olhar inteligente, como  detetive em busca da solução de um crime.  Quando a roda de conhecidos der  uma pausa na conversa, diga à meia voz no ouvido do mais próximo: 

- Tenho uma fofoca do balacubaco. Estou sobressaltada. Nunca imaginei um escândalo igual. Principalmente envolvendo gente cheia de pose e de falsa moralidade. Ainda não posso contar, mas um dia todo mundo vai saber. E tente sai de mansinho, se é que a curiosidade do grupo permitir.


Uma fofoca que deu grande Ibope foi a da ida dos Amoreiras a um cirurgião plástico,  o famoso Dr.Pitanga. Uma fofoqueira conhecida, que aguardava a vez de ser atendida, ficou intrigada, pensou:

 - O que o casal Amoreira, beirando os noventa anos, quer desse cirurgião. Ficou de ouvidos abertos e ouviu a seguinte entrevista, que depois esparramou para o mundo:


Dr. Pitanga - Bom dia! em que posso servi-los?


Amoreira - a minha mulher fez uma plástica com o Sr. há muitos anos. O rejuvenescimento mudou a vida dela para melhor. Ficou mais sociável e até teve uma forte melhora do libido. Nunca mais teve enxaqueca quando a procuro na cama. A sua cirurgia teve um efeito psicológico incrível. O Sr. sabe que o desempenho sexual depende não só da condição física, mas também da psicológica. A melhora estética ressuscitou a minha mulher. E é por isto que estamos aqui. Desejo fazer uma cirurgia plástica.


Dr. Pitanga - Sr. Amoreira, operei a sua esposa quando a idade dela permitia. Infelizmente, não vou poder operá-lo. Vejo a  idade na sua ficha, 85 anos. Seria muito arriscada uma cirurgia. Eu não o aconselho. Ademais, como está a sua glicemia? a pressão arterial? a próstata? o desempenho sexual? Estes fatores são importantes para a avaliação da capacidade do paciente submeter-se ao trauma de uma grande intervenção cirúrgica.


Amoreira - A minha saúde é perfeita. Não levanto à noite para urinar; a pressão é boa; não tenho diabetes; e sou ativo sexualmente. Compareço todos os dias. Ainda que sejam tentativas todas fracassadas, mas procuro manter a chama acesa. Acredito que a natureza só tem interesse em nós  enquanto damos sinais positivos para a preservação da espécie, por isto não desisto. E é por isto que estamos aqui. Não estou querendo tirar as rugas do rosto. Não. A minha mulher convenceu-me de que deveria fazer uma plástica no penis.


Dr. Pitanga - alongamento? Não !!! Esta não é a minha especialidade. Posso até indicar quem faça.


Amoreira - Não é isto, não. Eu quero um embelezamento: tirar rugas, dobras e pelancas. Espero com isto ter o mesmo efeito psicológico que teve a minha mulher. Se isto não acontecer, se o penis continuar não tendo outra função que seja a decorativa, que pelo  menos tenha uma bonita aparência, que seja uma obra prima. 


Na sala de espera do Dr. Pitanga, entre as fotos dos rostos das personalidades que operou, está em destaque o membro viril, operado, do Amoreira, com a dedicatória do feliz casal.



São Paulo, 04 de novembro de 2021

Jorge Wilson Simeira Jacob

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

 Brincando Com Fogo.


Como crianças descuidadas,  estamos brincando com fogo sem atentar para os possíveis riscos. A falta de consciência do perigo pode resultar em queimadoras graves. Assim também como brincar com o tamanho do governo pode causar estragos indesejáveis. Há no consciente coletivo a medida dos perigos de uma queimadura, mas não as há com respeito ao tamanho do governo. Não há consciência de que os males indesejáveis, desigualdade, miséria, estagnação da economia, têm como uma das causas o custo da máquina governamental e a burocracia decorrente. O  carrapato ficou maior do que a vaca e o fazendeiro não se deu conta. Nem a falta do leite nem a perda de peso do animal o sensibilizou. Como não  se sensibilizaram os cidadãos  com a inviabilização da economia. Não faltam os que, diante das perspectivas negativas, advoguem aumentos dos gastos governamentais em atividades não produtivas. O que temos de sobra são opiniões de que diante de uma população carente, deveríamos acelerar o nosso passo em direção a mais  socialismo. O imediatismo e a irracionalidade tomaram conta. As emoções estão sobrepostas à razão. Acreditam que a solução está na dose do socialismo praticado e não na  concepção em si. Mais ou menos como acreditar que é o  aumento de velocidade que vai salvar um avião em queda e não a mudança da sua direção.


Vamos aos fatos. Em 2021, segundo o Portal Da Transparência * ,  o orçamento da União foi de 4,325 trilhões de reais para um PIB de 7,4 trilhões - ou seja 58,5% por cento é o tamanho do carrapato. Como a arrecadação está acima do limite do suportável, o déficit está sendo bancado pelo aumento e pela desvalorização inflacionária da dívida pública. Só em 2021, a dívida do Tesouro  deverá crescer 800 bilhões,  16% sobre a de 2020, no valor estimado de  5,8 trilhões. O  PIB de 7,4 Trilhões já não consegue pagar nem os juros de uma  divida de quase o mesmo tamanho, e ainda  ameaça não poder nem pagar o principal, se permanecer a atual tendência de alta. A Selic, estima o mercado, deverá chegar aos dois dígitos em 2022, o que aumentará o custo de carregamento da dívida. Haja inflação para corroer o endividamento ou mais recessão para conter a inflação. Poderemos caminhar para o círculo vicioso do  cão a tentar morder o rabo. Sem se mencionar o risco maior da perda  do controle monetário ( dominância fiscal ), que se seguiria à piora dos ratings do risco Brasil.


O quadro torna-se preocupante, sob o aspecto principalmente social, com a atual perspectiva de  uma recessão, crescimento igual ou inferior ao crescimento demográfico,  e nenhum ação para redução dos gastos ( malversação do dinheiro público ), que continuam crescendo. Mas mais grave do que os números é a complacência  de uma sociedade hedonista, onde o  importante é estar bem, se possível levando vantagem, acreditando no milagre de que a solução dos problemas sociais, se transferida ao governo, não tem custo e nem limite. Responsabilidade individual é  para os anglo-saxônios que não a trocam  por uma aventura de irresponsabilidade social. Brincar com fogo é lúdico, mas suportar as queimaduras é sofrimento. 


Enquanto perdurar essa cultura, o espelho do Brasil é a Argentina, que está em decadência há setenta anos sem aprender nada. O populismo-socializante está aqui 

 há bem menos tempo, portanto há espaço para piorarmos  ainda mais… ou até que a vaca morra de inanição. Índia, África e parte da Ásia, a maioria dos países do mundo, têm estado, há milênios, economicamente inviáveis, os que estão viáveis são uma exceção São aqueles  em que o governo é o mínimo. Eles não brincam com fogo!


São Paulo, 03 de novembro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob


* https://www.portaltransparencia.gov.br/orcamento

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

 




Um Sonho Impossível.



Sonhar o sonho impossível

Combater o inimigo imbatível

Suportar uma dor insuportável

Ir aonde os corajosos não se atrevem ir


Corrigir o erro incorrigível

Ser muito melhor do que se é

Tentar com os braços exaustos

Alcançar a estrela inalcançável


Esta é minha busca, seguir aquela estrela

Não importa quão sem esperança

Não importa quão distante

Lutar pelo que é certo

Sem questionar ou repousar

………………………………..

O mundo será melhor por isto!

Elvis Presley



Não consigo ouvir esta canção sublime sem pensar nos grandes desafios das nossas vidas. Inspiro-me nela para os casos pessoais, profissionais e especialmente no do meu país. Afastando-me do pessoal, ela coloca- me diante do desafio da maioria dos  inconformados com a miséria de muitos de nossos concidadãos-irmãos. Inconformismo legítimo tendo em conta termos sido abençoados com as  melhores condições de território, clima, povo…para o desenvolvimento econômico. Só temos, como paralelo para comparação, o país mais poderoso do mundo - os Estados Unidos da América. Então o que tem feito o nosso  desejo legítimo de sermos uma nação próspera parecer um sonho impossível?


A nossa economia não cresce há duas décadas. A renda per capita é inferior à da decadente  Argentina. Os nossos assalariados disputam remunerações miseráveis. Temos a pior das desigualdades: salários, vantagens e regalias à nomenclatura e miséria à camada menos favorecida. O mérito, que deveria ser o critério de premiação, está desvirtuado. Não se premia  o  espírito empreendedor, talento inventivo, esforço físico, mas os  “amigos do rei”. Em consequência, nestas décadas, o que prosperou foi o tamanho do governo. Desde a proclamação da República ( 1889 )  o custo do governo subiu de 7% do PIB para estimados 50% ( incluindo déficit público e inflação) * . Destes  97% são desperdiçados com o custeio da máquina e uma migalha com gastos sociais. O resultado, sem ter investimentos,  é a atual estagnação da economia. A qualidade de vida da maioria não melhorou e a infraestrutura deixa a desejar.


Porém, a coisa poderia ser menos ruim. Um governo sem recursos para investir poderia ter como compensação investimentos da iniciativa privada, que tem sido a salvação da “ lavoura “ , mas esta está castrada pela burocracia, insegurança jurídica e instabilidade política. Chegamos, assim, a inviabilizar a economia mais propícia de ser viabilizada - a do Brasil. A tal ponto chegamos que os brasileiros atravessam o deserto do México para ser trabalhadores clandestinos nos Estados Unidos e outros  têm depositados US $400 bilhões  no exterior, que poderiam estar investidos aqui para dar emprego àqueles que emigram.


O Brasil se tornou, politicamente falando, um travesti. Nem é uma administração centralizada e nem é o  modelo de  federação, que copiamos dos americanos. Em uma federação  os estados têm autonomia e o governo central cuida das funções básicas, respeitando a independência dos estados. Mas, no nosso caso, fazemos um jogo duplo: a União duplica todas as funções existentes nos estados. Não só duplicam-se os custos como multiplica-se a burocracia estatizante. O ideal do modelo federativo, o princípio da subsidiariedade,  é a descentralização tendo em conta  o respeito às características regionais. Nem sempre o que é bom para um estado é bom para os  demais. O poder de decidir é mais eficaz quanto mais perto está do fato. E os fatos acontecem nos municípios, estados e só depois na União. Este modelo surgiu nos Estados Unidos , como diz  o próprio nome, por terem se formado da união de estados independentes , 13 no início, mas foi deformado aqui por termos  surgido de uma monarquia sobre um território único. No modelo travesti  o país do futuro está inviável!



Um sonho impossível seria voltarmos à ideia original republicana de  sermos realmente uma Federação. Neste sonho,  Brasília teria no máximo 6 ministérios, Defesa, Economia, Relações Exteriores,  Higiene e Saúde, Meio Ambiente e Casa Civiil, que coordenariam as ações de carácter nacional, mas respeitando a independência dos secretários estaduais de cada função. Brasília , em vez de 3,1 milhões de habitantes, teria a população de Washington  ( capital do mundo ) de 690 mil. Com a redução do patrimonialismo, da burocracia e da corrupção o governo seria o mínimo desejável. A arrecadação federal poderia ser reduzida tornando a economia competitiva - o que hoje não o é em termos internacionais. Esta deve ser  a  nossa busca : “ sonhar o sonho impossível… seguir aquela  estrela, não importa quão sem esperança, não importa quão distante, mas lutar pelo que é certo… O mundo será melhor por isto! “


São Paulo, 29 de outubro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob


* “Há um século, a renda per capita argentina era superior a quase todos os países europeus. Mas os gastos públicos, que nos anos 40 correspondiam a 10% do PIB, chegaram a 30% nos anos 70 e em 2015 atingiram 46%”

 . 

O Brasil copia o modelo que inviabilizou a Argentina.

Fonte: O Estado de São Paulo, A14, 17 de novembro de 2021.


quinta-feira, 21 de outubro de 2021

 A Cognição.


A cognição é a capacidade do cérebro perceber, raciocinar e armazenar as informações captadas pelos sentidos.

Dicionário Oxford Languages


Um dos maiores desafios da humanidade é a transmissão do conhecimento. A cognição é um processo lento, sujeito a interpretações e a enorme resistência. Uma parte da humanidade, uma elite, tem a compreensão dos fatos significativos da vida, outra,  os medianos, tem o entendimento, e uma grande massa vive alienada. A elite tem a clareza das causas mais profundas. Ela vai à raiz dos fatos, domina  os conceitos. Os outros entendem as causas primeiras, superficiais, mas não apreendem os conceitos básicos. Já a grande massa  é motivada pelas emoções, sobrevivendo na ignorância.

Desconhecem as razões por não terem sido educadas, mas  condicionadas. Agem intuitivamente por mimetismo ou reflexo. Estas são constatações e não discriminação, pois limitam-se a identificar as diversas reações frente às provocações cognitivas.


Por necessidade de  obter resultados, os responsáveis pelo ensino, pais, mestres, líderes, simplificam a transmissão do conhecimento. Não se ensina a pensar, a refletir e a  questionar. Em casa e nas escolas  ensina-se a obediência, a disciplina e a memorização. Em vez de estimular a compreensão,  limitam-se a fazer entender ou apelam para os sentimentos. É mais fácil fazer sentir o calor de uma chama do que que explicar os efeitos do calor. Demanda esforço, tempo e talento desenvolver o gosto pelo domínio dos conceitos para compreender o entendido. Frente a uma frase em grego, um néscio nada sente, os medianos entendem, mas é  a elite, que  ao dominar o idioma, apreende a mensagem e os seus desdobramentos.


Como desde o nascimento estamos todos em processo de aprendizado, somente avançam intelectualmente, sobressaindo da grande massa, os atentos às causas dos efeitos.  Newton, dizem, não se limitou a ver a maçã cair, viu a causa da queda e deduziu a lei da gravidade.  A ele e a muitos outros, a humanidade deve a sua  sobrevivência na face da terra, por não terem se  limitado a sentir a maçã na cabeça, a entender o fato, mas ao ter dominado a causa da queda.


A natureza foi pródiga com os humanos ao nos dotar, além da razão e do sistema nervoso, de cinco sentidos ( seis se considerarmos a intuição).  Se não tivéssemos estes recursos,  não teríamos sobrevivido como espécie. De todos os instrumentos de transmissão do conhecimento, sao as sensações os mais eficazes, principalmente as que nos causam gosto, desgosto, prazer, tristeza, euforia ou dor. As massas entendem mais por estas  emoções do que pela razão. Ainda que as emoções não levem à compreensão. Uma foto diz mais que mil palavras; um exemplo influencia do mais do que uma aula; e uma derrota ensina mais do que um treinamento. Está assim exemplificado um processo cognitivo.



Se a natureza nos propiciou elementos para a nossa sobrevivência, coube às sociedades criar   instrumentos para transmissão das nossas descobertas.  O uso da razão, incentivando a observação, análise e conclusão, é um recurso limitado a uma elite intelectual. A necessidade de motivar  as camadas não pensantes nos levaram a desenvolver uma arte de comunicação. Surge assim o teatro , a literatura, a pintura, o discurso político… A arte complementou a razão. Todos nós somos influenciados por algum tipo de arte. É maior a  probabilidade de uma ideia ser transmitida por um artista , um líder carismático, do que por um gênio intelectual. Este, ao tentar transmitir um conceito básico, uma teoria, não atinge o emocional … e se o homem comum não se emociona,  ele não se motiva. As grandes ideias necessitam de ser   traduzidas em forma que sensibilizem as massas - só assim caminha a humanidade. E é aproveitando disto que vivem  os demagogos e os demais artistas!


São Paulo, 20 de outubro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob




sexta-feira, 15 de outubro de 2021

 O Concorde


O consórcio Airbus lançou com grande alarido o Concorde. O primeiro avião  supersônico a voar.   O entusiasmo com as promessas de fazer o breakfast em Londres e almoçar em Nova York eram manchetes nos jornais. Finalmente superar a velocidade do som tornou-se viável. A realidade, porém, mostrou-se perversa. Ainda que viável tecnicamente, a inovação mostrou-se inviável comercialmente. O consumo  exigia estoque tal de combustível, que limitava a carga ( passageiros e bagagem ) e o tempo de voo. Mal dava para movimentar a carcaça . Uma década decorrida e o sonho do mais veloz que o som aterrizou para não mais voar.  


Restou dessa aventura a informação de ser possível voar-se superando a barreira do som, mas também que, ainda que tecnicamente viável, é inviável algo em que a produtividade está perto de negativa. O supersônico, como operação comercial, mostrou-se  inviável. A sua ressureição, se um dia acontecer,  dependerá da melhoria da equação: menor consumo por quilômetro/carga voada. É um desafio à produtividade.


O Brasil viveu um sonho semelhante, ser um êmulo da riqueza e poderio da América do Norte. Um sonho que fazia manchetes nos jornais. Tecnicamente, pensando em termos de território, população, clima…, tudo corroborava com esse sonho. Pudemos sonhar crescer em velocidade supersônica. O que aconteceu até duas décadas atrás. Mas, a nossa estrutura administrativa tornou-se altamente improdutiva. O potencial de riqueza  brasileiro, ainda que favorecido por Deus,  foi estragado pelo homem. Como o Concorde, no Brasil o   consumo de combustível é gasto só para impulsionar a máquina e assim mesmo para voos de galinha. Não sobra espaço para carga, passageiros e nem autonomia econômica de voo. O resultado é, economicamente e politicamente falando, ter se tornado uma operação inviável.


A sabedoria popular sabe que o primeiro passo para a solução de um problema é reconhecer a sua existência. Não serão os visionários/otimistas que apostam em suposta proteção divina e nem os que se satisfazem com pequenas conquistas, ainda que significativas,  que farão o Brasil realizar o seu potencial. Foram eles, que ignorando a produtividade, fizeram voar o Concorde e provocaram um rombo gigantesco nas contas da Airbus. São eles que nos farão perder tempo, satisfazendo-se com eventos que, ainda que positivos, não resolvem um problema estrutural. Uma maquiagem encobre as rugas, mas não as elimina. Ou o Brasil melhora a produtividade da sua administração ou terá o destino do Concorde.


Infelizmente, nem todos os problemas têm solução, e este será um deles,  se não se descobrir como desmontar uma máquina que consome todo o combustível consigo mesma. Onde quer que se olhe, a improdutividade é uma marca nacional, nos três poderes. Por isto, o Brasil está inviável…mesmo sendo muito viável.




São Paulo, 15 de outubro de 2021.


Jorge Wilson Simeira Jacob

domingo, 3 de outubro de 2021

 Educação e cultura.



Sem a mínima possibilidade de serem contestados, os defensores dos investimentos em educação podem defendê-la como um elemento importante para o desenvolvimento pessoal e nacional. Uma nação ou indivíduo sem boa educação  levará desvantagem diante de outros com melhor nível. Tanto a educação formal, acadêmica,  como a social adquirida na vivência, têm valores incontestáveis. O melhor investimento de um país ou de uma família é o destinado à educarão. Não só em termos de retorno, mas principalmente por ser o único patrimônio que, nos possíveis azares da vida, não se perde. Ninguém tira o que se sabe ! Nada é mais eloquente para mostrar a consciência do valor da educação no desenvolvimento do que o sacrifício pessoal de uma  multidão de estudantes, que trabalham de dia e estudam de noite. Este é um heroísmo que só se justifica pela importante contribuição dela para  forjar o futuro.


Entretanto, a educação por si só não é garantia de resultados. Basta olhar ao redor e ver exemplos de homens, em todas as profissões, com elevado nível educacional e  rica vivência, que não exibem sucesso econômico; e países, como o Brasil, que investiram em educação, mas  perderam a pujança. Nas últimas décadas, o país  passou a fazer companhia à Argentina, que é mais educada hoje, mas menos próspera do que antigamente. Ambos os países copiaram modelos educacionais  incompletos para satisfazer o   esnobismo  dos novos ricos, dos imigrantes pobres, de dar um  título de doutor para os filhos, em busca da ascensão social. Ao contrário da Alemanha, que a par dos cursos de excelência para uma elite, generalizou  cursos profissionalizantes para uma mão de obra com vocação ao trabalho. Esta deu ensejo a uma próspera  economia de pequenas empresas, melhorando a distribuição de renda e sendo o sustentáculo do poderio desenvolvimentista alemão. Na Alemanha, a erudição caminhou, passo a passo, com o  conhecimento prático. Nela, os seus usos e costumes privilegiam uma cultura que gera o progresso. No Brasil o ensino profissionalizante não está generalizado, limita-se ao Sesc,  Senai e ao treinamento nas empresas. 


Se a educação é importante para o desenvolvimento, a cultura é fundamental. Cultura no sentido de usos e costumes, de valores éticos e morais. Sem uma ordem de valores que privilegie o trabalho, a poupança e o investimento; sem  uma ética de respeito ao mérito; e sem o respeito à moralidade, nem o indivíduo e nem a  nação prosperam. A confiança nas leis e na ordem é elemento fundamental para o desenvolvimento de um país.


O Brasil era predominantemente uma economia agrícola até o fim da Segunda Guerra

 Mundial.  O café representava setenta por cento das nossas exportações . As nossas importações iam desde de trigo, arroz,  frutas argentinas a produtos básicos industrializados. A nossa agricultura e indústria era minimamente diversificadas. Durante a guerra havia racionamento de sal, açúcar, trigo… Após, o  governo Dutra deu uma abertura na economia, a que se seguiu um “porre” de importações, devido a um câmbio artificialmente baixo, mas deu início à industrialização. Com esta,  as cidades cresceram explosivamente, esvaziando os campos. O crescimento demográfico e a explosão da migração do campo para as cidade constituem-se em caso único no mundo. O Brasil fez a proeza de acolher nas zonas urbanas 158 milhões de habitantes* em poucos anos. Um fenômeno migratório inédito no mundo, cujo ônus foram as favelas e a  deterioração dos serviços públicos. Esta transição ocorreu sob a cultura de uma ética capitalista, onde imperou a meritocracia. O Brasil  prosperou!  Depois, na sequência, transitando para a ética do populismo-estatizante de inspiração  peronista, do reino da mediocracia, do assistencialismo social, o Brasil estagnou. Com o governo inchado, esterilizando algo como metade do PIB, agravou-se a qualidade de vida. Não foi, porém, um brasileiro menos educado o responsável pela perda do dinamismo da nossa economia, mas a cultura socialista. O Brasil melhorou com o cultivo da  meritocracia e está decadente com a cultura da mediocracia**. 



  • Segundo o Censo, em 1940 a população brasileira era de 40 milhões, sendo 31% nas cidades. Em 2020, estima-se um total de 212 milhões, sendo 41 milhões no campo e 170 milhões nas cidades. Entre 1940 e 2020 as cidades absorveram aproximadamente 158 milhões de habitantes. População maior do que a Rússia e o México em 2020.


    Ano                   população           urbana                           rural.                ( todos números arredondados )

    1940.                40 milhões.         12 milhões  ( 31% )        28 milhões 

    2020                213 milhões.       170 milhões ( 80%)         40 milhões 

    Acréscimos.    173 milhões.       158 milhões.                    12 milhoes


Fontes: Embrapa,  IBGE e Intercultural. O 


** Mediocracia , de medíocres. Governo dos medíocres. 


São Paulo, 02 de outubro de 2021. Milhões 

Jorge Wilson Simeira Jacob