sexta-feira, 15 de outubro de 2021

 O Concorde


O consórcio Airbus lançou com grande alarido o Concorde. O primeiro avião  supersônico a voar.   O entusiasmo com as promessas de fazer o breakfast em Londres e almoçar em Nova York eram manchetes nos jornais. Finalmente superar a velocidade do som tornou-se viável. A realidade, porém, mostrou-se perversa. Ainda que viável tecnicamente, a inovação mostrou-se inviável comercialmente. O consumo  exigia estoque tal de combustível, que limitava a carga ( passageiros e bagagem ) e o tempo de voo. Mal dava para movimentar a carcaça . Uma década decorrida e o sonho do mais veloz que o som aterrizou para não mais voar.  


Restou dessa aventura a informação de ser possível voar-se superando a barreira do som, mas também que, ainda que tecnicamente viável, é inviável algo em que a produtividade está perto de negativa. O supersônico, como operação comercial, mostrou-se  inviável. A sua ressureição, se um dia acontecer,  dependerá da melhoria da equação: menor consumo por quilômetro/carga voada. É um desafio à produtividade.


O Brasil viveu um sonho semelhante, ser um êmulo da riqueza e poderio da América do Norte. Um sonho que fazia manchetes nos jornais. Tecnicamente, pensando em termos de território, população, clima…, tudo corroborava com esse sonho. Pudemos sonhar crescer em velocidade supersônica. O que aconteceu até duas décadas atrás. Mas, a nossa estrutura administrativa tornou-se altamente improdutiva. O potencial de riqueza  brasileiro, ainda que favorecido por Deus,  foi estragado pelo homem. Como o Concorde, no Brasil o   consumo de combustível é gasto só para impulsionar a máquina e assim mesmo para voos de galinha. Não sobra espaço para carga, passageiros e nem autonomia econômica de voo. O resultado é, economicamente e politicamente falando, ter se tornado uma operação inviável.


A sabedoria popular sabe que o primeiro passo para a solução de um problema é reconhecer a sua existência. Não serão os visionários/otimistas que apostam em suposta proteção divina e nem os que se satisfazem com pequenas conquistas, ainda que significativas,  que farão o Brasil realizar o seu potencial. Foram eles, que ignorando a produtividade, fizeram voar o Concorde e provocaram um rombo gigantesco nas contas da Airbus. São eles que nos farão perder tempo, satisfazendo-se com eventos que, ainda que positivos, não resolvem um problema estrutural. Uma maquiagem encobre as rugas, mas não as elimina. Ou o Brasil melhora a produtividade da sua administração ou terá o destino do Concorde.


Infelizmente, nem todos os problemas têm solução, e este será um deles,  se não se descobrir como desmontar uma máquina que consome todo o combustível consigo mesma. Onde quer que se olhe, a improdutividade é uma marca nacional, nos três poderes. Por isto, o Brasil está inviável…mesmo sendo muito viável.




São Paulo, 15 de outubro de 2021.


Jorge Wilson Simeira Jacob

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