O beabá da espiga de milho.
Na biografia de Issac Newton consta que a dedicação às suas teses o levou a introduzir um estilete no globo ocular para, alterando a sua circunferência, aferir a lei da refração dos raios de luz, não satisfeito que estava com as suas demonstrações em um prisma. Na medicina, os cientistas fazem testes com ratos, lebres, cobaias de ciclo de vida curta, que permitem conhecer os desdobramentos completos dos seus experimentos. Os biólogos segregam o micróbio, bacilo ou vírus, para estudar o seu comportamento e testar drogas. A Economia, como ciência, não tem esses recursos para testar novas ideias. **. É como a vida, não tem ensaio. Nelas não existe como isolar novas hipóteses e nem como testá-las em pouco tempo em um ciclo de começo, meio e fim. Uma decisão política que altere os dados econômicos só é comprovável na prática, com base nas leis da economia e no uso da intuição. O grande desafio está no fato de que as ações, que mexem com gente, provocam reações imprevisíveis e sujeitam-se a fatores externos que podem interferir nos resultados. As relações de causa/efeito não são cristalinas, irrefutáveis e nem imediatas. O congelamento de preços no governo Sarney emocionou a maioria dos brasileiros, mas só durou o tempo suficiente para mostrar a loucura da decisão: desabastecimento, embaralhamento dos dados econômicos com perda de referências para as decisões da administração do dia a dia e dos investimentos. Desorganizou a economia. Como foi implantado com rigor ditatorial, os resultados foram na mesma proporção, mais do que o suficiente para resultar em uma grande decepção. Terminando, por desespero, com a polícia indo caçar boi no pasto - uma piada, uma chacota de curso internacional. Esta não foi uma experiência, mas uma ignorância. Há na história registro de quatro mil anos de congelamentos de preços*, sem exceção, todos fracassados, desde Hamurabi, no antigo Egito. É da ignorância não aprender com os erros alheios, sabe-se errar sozinho!
As leis da economia por sua complexidade não são inteligíveis às massas. Até a maioria dos nossos políticos as desconhecem: um presidente congela preços, um legislador pede a revogação da lei da oferta e da procura, outro cogita proibir as empresas de demitir … Se eles não têm percepção da realidade econômica , de que a cada ação se contrapõe uma reação, o que esperar do cidadão comum? O ideal , ainda que utópico, seria dar ao menos um mínimo de raciocínio econômico para o povo na tentativa de minimizar o imediatismo . Mas popularizar uma noção de macroeconomia exige a tradução das complexas leis da economia para formas reduzidas e simplificadas, fazendo entender quais políticas levam à pobreza ou à riqueza da nação. Dando asas a imaginação , com liberdade quase poética, poderíamos enfrentar o desafio, escrevendo uma cartilha, um beabá , com uma metáfora simples , a do destino de uma espiga de milho. Seria algo assim: um cidadão tem uma espiga de milho e encara o dilema de consumir ou plantar , uma parte ou o todo. Pondera os resultados, o consumo dará satisfação no momento e escassez no futuro; o plantio, a contenção imediata e a fartura mediata. A decisão entre o consumo e o investimento moldará o porvir da sua família e da nação. Por óbvio, esta somatória de ações humanas dos seus cidadãos, incluindo os governos , fará a diferença no presente e no futuro. Se a maioria decidir consumir as espigas de milho da produção nacional - PIB - a nação será pobre; e, se ao contrário, plantar para colher, será rica. Este seria o beabá da espiga de milho.
O Brasil, pela riqueza do seu território e engenhosidade do seu povo , tinha muitas espigas de milho no bornal. Enquanto, as riquezas potencias foram sendo exploradas e parte dos recursos investidos em infraestrutura, higiene, educação e segurança, o país cresceu .O desenvolvimento ficou evidente no aumento da classe média. Ela é o termômetro de uma nação desenvolvida. Os países subdesenvolvidos têm fraca classe média, exibindo os extremos de muitos pobres e de ricos muito poderosos. A Índia não tem expressiva classe média, lá os marajás estão cada vez mais ricos e os pobres mais pobres. A Índia é um espelho para o Brasil. Estamos candidatando-nos, se não mudarmos o curso das coisas, a ser, como a Argentina, Venezuela, exemplos clássicos de involução vindo do enriquecimento para a estagnação e empobrecimento. Enquanto houve investimentos, o país prosperou e uma classe média emergiu. Com a utópica Constituição de 1988 , voltada à “justiça social”, aos direitos sem contrapartida , e o crescimento da máquina de governo, a economia perdeu o vigor, a classe média minguou. A diferença entre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento é determinada pelos que consomem as espigas de milho e os que plantam as suas sementes. É isto o que ensinaria a cartilha do beabá da espiga de milho.
Forty Centuries of Wage and Price Controls (Quarenta Séculos de Controles de Preços e Salários), livro de Robert Schuettinger e Eamon Butler.
** A dificuldade de testar novas ideias econômicas realmente difere dos testes da física e da medicina. Como as cobaias são seres humanos, cujo comportamento é errático ( há influências emocionais ) e o ciclo longo, são imprevisíveis as reações. A experiência populista da Argentina durou mais do que a vida de Peron, da URSS, mais do que Lenin. A repetição de uma ideia já fracassada, não é considerada neste artigo como uma inovação, mas a persistência na burrice.
São Paulo, 01 de julho de 2021.
Jorge Wilson Simeira Jacob
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