Espécies exóticas.
Há não muito tempo atrás, haviam situações que eram tão normais, que passavam despercebidas. Hoje elas são motivo de espanto. Antigamente apontava-se o dedo para um casal divorciado, como se exóticos fossem, tão poucos eram. Nos dias presentes, não mais. Agora são os casamentos duradouros que despertam a atenção. É a sua excentricidade, que poderá um dia colocá-los em zoológicos como espécies exóticas. Esta situação é fruto da ( nova ) cultura desenvolvida pelos milênios *, resultado da velocidade com que as coisas estão mudando. Uma rapidez que implica na simplificação de tudo, com a sua consequente superficialidade. As relações humanas estão se tornando superficiais. Tem-se pouco interesse em tudo e em todos, e menos ainda com as relações humanas. Os namoros e até sexo eventual são recrutados virtualmente. Não há o encantamento, a sedução, a conquista. O romance está sendo assassinado! O casamento , no sentido tradicional, é encarado como uma aventura, uma tentativa, não um compromisso de formação de uma família. Também não se quer mais ler textos com detalhes sobre os personagens, os ambientes e os fatos. Os leitores preferem resumos e frases de efeito. As mensagens não fazem mais uso do vernáculo, mas de ideogramas e palavras cifradas. É uma outra língua. Os meios de comunicação não tem mais o calor humano, são frios, virtuais. A linguagem materna está deteriorando-se. Ninguém se importa, não há tempo a perder.
As relações amorosas, que eram a essência da nossa felicidade, a vida conjugal com prole, são reminiscências dos saudosistas. Não dos milênios. Eles questionam se : um casamento de muitos anos não é monótono, enfadonho …? O que demonstra o choque de uma crise de valores. Não mais o casamento, na cultura tradicional, deixou de ter como objetivo constituir uma família, onde a felicidade de cada um era a de todos, mas o da satisfação pessoal e imediata. Esta era a opção pelo desprendimento pessoal em benefício da família. Agora, transformou-se este projeto de amor em um programa de aventuras , de experiências lúdicas. Sem dúvidas os milênios, com a anseia da velocidade propiciada pela internet, ganharam tempo, mas perderam profundidade e emoções. Tudo é visto e considerado, nesta mentalidade, pela superficialidade e pelas aparências.
Um contrato de vida entre duas pessoas, que se amam, mesmo assim só vence o tempo, se estiver baseado na identidade de valores: a família acima de tudo. As emoções e os sonhos têm a sua fonte na vivência familiar. A gravidez , o sorriso do bebê, a sua primeira caminhada, ida à escola, o seu diploma…formam emoções inesquecíveis e saudáveis. Não há monotonia se vivenciamos juntos a evolução dos nossos filhos; se juntos enfrentamos as adversidades e comemoramos os triunfos. Em não havendo o compromisso com a felicidade familiar, não pessoal, ninguém deve considerar um casamento. Sobrevalorizar a happy hour , o individualismo, as aventuras, são objetivos de vida que não se coadunam com um casamento. Ele será um fracasso se não for um projeto comum. Uma relação duradoura não coexiste com o egocentrismo. A felicidade deve estar assentada na abnegação de si em benefício daqueles que se ama. Os dessa geração são os que se perguntam, frequentemente surpresos, ao não ver atrativos em um casal: O que ele viu nela ? O que ela viu nele? Eles viram os valores que lhes são comuns!
Se o mundo será melhor com os novos costumes, só o tempo dirá. Talvez, no futuro, o número de lares estáveis, com filhos vivendo com pai e mãe , seja uma minoria, dentro de uma nova realidade - a tendência ao decréscimo populacional. Usando, como recurso de retórica, uma argumentação forte ( reductio ad absurdum ) - se prevalecer nas novas gerações a busca das satisfações pessoais e imediatas, em detrimento da família, poderá o mundo voltar aonde começou — no Paraíso, tendo só um Adão à espera de uma Eva para sair da sua grande melancolia.
- A geração Y, também chamada geração do milênio, geração da internet, ou milênicos é um conceito em Sociologia que se refere à corte dos nascidos após o início da década de 1980 até, aproximadamente, o final do século. Wikipédia
São Paulo, 18 de julho de 2021.
Jorge Wilson Simeira Jacob
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