sexta-feira, 30 de julho de 2021

 Desfocando



Como tudo na vida, a administração pública e privada também estão  sujeitas a modismos. Estes surgem lentamente até ganharem notoriedade e atingir o exagero como se fosse a descoberta da pólvora. Com o tempo algumas inovações perecem, outras adaptam-se  para sobreviver. Assim será a trajetória da atual onda, que anuncia uma nova era - a do capitalismo stakeholders . A  última reunião do Fórum Econômico sacramentou a novidade. Foi  assumido que o   capitalismo clássico será substituído pelo  dos stakeholders. Este, um capitalismo  preocupado com a comunidade e com a biodiversidade, como se no passado as  empresas bem administradas não cuidassem da sua imagem. Em tempo algum as  administrações públicas e as privadas  mereceram o apoio da opinião pública se violentaram o meio ambiente e o respeito humano. Mas, agora, um selo ESG identifica, para o mercado, as  empresas com bom comportamento social. Pretende-se, destacando   a importância do meio ambiente, da ação social, induzir as administrações às boas práticas de preservação da natureza, principalmente o aquecimento global. Até aqui tudo bem, se o projeto limitar-se a ser um parâmetro de avaliação, um código de ética.Neste sentido nada a criticar. Porém merece crítica o risco de desfocar o objetivo da empresa, cujo objetivo deve ser o lucro e não o que deveria ser um parâmetro de comportamento ético.


O Nobel de Economia Milton Friedman, um modelo de objetividade, era categórico ao definir ser o lucro o objetivo da empresa capitalista.  O que leva ao entendimento de que tudo o mais  são acessórios à consecução deste objetivo. Não se  desprezam  estes valores, mas dá a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. Só  o lucro propicia bons salários, pesquisa, preservação ambiental… Sem ter quem pague a conta, o resto é poesia: encanta, rima, faz sonhar, mas não sobrevive à realidade. O lucro é o termômetro que mede a qualidade de uma administração. Uma prova é a recente demissão, pelos acionistas de uma empresa mundial, de seu presidente que tinha como foco o ESG, cujos lucros da empresa  foram decepcionantes. O seu programa de Relações Públicas recebeu aplausos da torcida, mas está não pagou as contas. Ele ao tirar o foco no lucro sacrificou o seu cargo. 


Aos governos cabem os cuidados com as externalidades. Os países podem, por jogo político,  bloquear produtos brasileiros a pretexto de defesa da Amazônia, mas as  empresas devem cuidar do que melhor satisfaz o consumidor. E atendendo o mercado com respeito à ética, cidadania, qualidade e preços o resultado será o lucro. Ficando, portanto, subentendido ser o lucro o carro chefe e as boas práticas os  instrumentos para atingir o  objetivo principal. O consumidor, se tiver liberdade de escolher, vai consumir a soja  que melhor atenda ao seu bolso e ao seu paladar. Ninguém  vai comprar o leite do seu bebê, se a qualidade comprometa a saúde dele, à despeito do selo ESG. Nenhum investidor vai colocar o seu dinheiro onde não há possibilidade de lucro. Um fundo de investimento pode alardear  preferir as ações de empresas com bom ESG para angariar  simpatia, mas só vai reter os seus clientes se pagar os dividendos. 



A especialização, que tantos benefícios proporcionou à humanidade, nada mais nada menos é do que  dar foco à ação. A proposta da nova economia, se tirar o lucro como foco, é um modismo que não terá vida longa. Quanto mais eficientemente for praticado, mais cedo será abandonado. Um ex-diretor, com passagem em duas grandes multinacionais, deu-me o seguinte testemunho: quando iniciei minha carreira como técnico na área de alimentos, este setor era o de maior poder nas empresas alimentícias. A qualidade dos produtos é que seduzia a clientela. Depois de um tempo, o poder deslocou-se para o marketing - esta era a moda. Agora são os profissionais da diversidade os que têm maior poder e melhores salários. As empresas perderam o foco e as áreas técnicas, a motivação.


A moda vai durar enquanto existirem lucros! O resto é poesia de visionários!


São Paulo, 30 de julho de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob




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