O povo escolhido por Deus.
As Igrejas diferenciam-se das outras formas de associação pela postura exclusivista. Os religiosos consideram-se “ donos da verdade”. Das outras formas associativas a que mais se aproxima das religiões, neste exclusivismo, são as agremiações políticas, que são menos intolerantes. Um simpatizante de um partido político não fecha as portas do céu para um adversário. Aliás os seus líderes trocam de partido e de ideias como de camisas e , se democratas, aceitam, ainda que contrariados, a alternância no poder. A religião não! Ela é maniqueísta: ou professa a minha crença ou estará condenado. No Deuteronômio, Moisés disse aos judeus: - vocês são o povo escolhido pelo Senhor, nosso Deus; entre todos os povos da terra ele escolheu vocês para serem somente dele. Marginalizando, assim, nós, os não judeus que, segundo ele, estaríamos excluídos da proteção Divina.
A história aparentemente comprova que Moisés tinha razão. Os judeus parecem ter a benção Divina. Eles destacam-se nas ciências, nos negócios e na politica. Como uma expressiva minoria ( 1% da população) têm mais prêmios do Nobel que qualquer outro povo? Isso sinalizaria serem os judeus geneticamente superiores - privilegiados como o povo escolhido por Deus? Se sim: Como explicar o destaque dos orientais nas universidades americanas? Estaríamos, nós, os não judeus, marginalizados na Terra e excluídos do Céu? Esta, por ser uma avaliação, sob o aspecto científico, superficial e, sob o religioso, supersticiosa, foi questionada em artigo no New York Times, na seção Opinião, de 27.12.2019, sob o título “The Secrets of Jewish Genius”. Escreveu o colunista, Bret Stephens : - A cultura e a história são fatores cruciais nas realizações dos judeus… Na melhor das hipóteses, o Ocidente pode honrar o princípio do pluralismo racial, religioso e étnico não como uma acomodação relutante para com estranhos, mas como uma afirmação de sua própria identidade diversa. Nesse sentido, o que torna os judeus especiais é que eles não são. Eles são representativos no questionar as premissas e repensar o conceito ; perguntar por quê ( ou por quê não ) tão frequentemente como por quê não) ; ver o absurdo no mundano e o sublime no absurdo . Onde os judeus têm vantagens é no pensar diferente. Existe uma tradição religiosa que, além de outras, induz o crente não somente seguir e obedecer, mas também discutir e discordar. Não existe um status confortável de ser judeu em lugares onde são a minoria - intimamente familiares com os costumes do país, mas ao mesmo tempo mantendo uma distância crítica deles.
Este treino de distanciar-se emocionalmente dos fatos é que permite analisá-los com isenção de ânimos. No caso específico, o não envolvimento emocional dos judeus, por estarem acostumados, por história, a serem perseguidos e despojados dos seus bens, dá-lhes uma visão cética das coisas. É um pertencer, mas ao mesmo tempo um não pertencer àquela sociedade. É ter intimidade, mas não comprometimento incondicional com os acontecimentos. A história judaica os ensinou a estar atentos ao que está nas entrelinhas. É uma cultura milenar.
Essas considerações, se levadas à sério, podem nos libertar do estigma de Moisés de sermos, os gentios, rejeitados, tanto na Terra como no Céu. E nos convencer de que devemos estimular em casa e nas escolas o hábito da reflexão, do questionamento em busca de entender as causas sem se deixar levar pelo efeito. Uma dose de ceticismo é um ingrediente necessário para a sabedoria no viver. O ceticismo não deveria ser repelido por princípio, como é dos nossos costumes. São os que , de qualquer raça, que duvidam, questionam, ponderam , sem emoção, que podem olhar as situações por um outro ângulo e perceber as ameaças e as oportunidades. São eles, os céticos, orientais ou ocidentais, que descobrem uma nova verdade. Os judeus só são mais treinados para esta cultura de pensar diferentemente.
A verdade absoluta não existe. Depois de Einstein , acreditam muitos, tudo é relativo. Até a existência de um povo escolhido por Deus!
São Paulo, 20 de julho de 2021.
Jorge Wilson Simeira Jacob
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