domingo, 11 de julho de 2021

 O Dono Do Martelo.


Para quem só sabe usar um martelo, tudo se resolve  com pregos.

—  Abraham Maslow


As vantagens da divisão do trabalho em tarefas específicas, defendidas por Adam Smith no seu livro A Riqueza das Nações, contagiou todos os campos do conhecimento. A medicina, a advocacia e a engenharia reorganizaram-se em especialidades. Um médico especialista em  mãos não atende casos referentes ao braço. Um criminalista não cuida de um problema tributário e um engenheiro de produção não se dedica à construção civil. Porém, como as moedas, tudo na vida tem duas faces. A especialização foi um avanço na melhora dos desempenhos em geral, mas não deixa de embutir  o mesmo perigo do indivíduo que vê a árvore sem considerar a floresta. Sem uma visão política, estratégica, sem olhar o todo, corre-se o risco de incorrer na crítica formulada por Maslow - tudo se  resolve com pregos.



Nenhum profissional está isento de cair nesse erro, nem os economistas, que se dedicam a um campo do conhecimento cheio de ciladas. Desde a proclamação da república brasileira,  os orçamentos do governo tem sido equilibrados, atendendo aos  gastos e investimentos, com aumento dos impostos. O orçamento do Império  era coberto com uma arrecadação de oito porcento do PIB *. Hoje estima-se que, considerando a tributação, inflação e endividamento, o governo abocanha perto de cinquenta por cento. Ao longo deste tempo, os políticos, cegos de um olho, donos de uma única solução, o martelo, cobriram os gastos , aumentando a arrecadação, como se prego fosse. E haja aumento dos impostos ou da inflação ou do endividamento. Por questões de justiça, em tempos recentes houve uma excessão no governo do Presidente Castelo Branco, que apoiou a dupla Roberto Campos e Otávio Gouveia de Bulhões na reorganização da economia com a racionalização dos gastos públicos.


Uma grande esperança surgiu na campanha para a eleição do Presidente Bolsonaro. Ao assumir, com elogiável modéstia, que, por não entender de economia, daria carta branca ao Ministro Paulo Guedes, mas apoiaria  politicamente  o  seu ( dele ) programa. Programa com objetivo definido e uma visão estratégica . Haveria a reorganização do governo para redução dos dispêndios e aumento os investimentos. Foi um sonho de uma noite de verão para os que desejam ver o Brasil eliminar a miséria. Uma política dos  que consideram o uso de todas as ferramentas , além de um martelo. 


Entre as reformas previstas estaria contemplada uma reforma tributária, que racionalizaria um sistema reconhecidamente irracional. Decepção total, nada  aconteceu. Nem  no  próprio  ministério  houve um enxugamento dos gastos e redução da burocracia que onera e emperra a economia. Ao contrário, como todos os outros donos de martelos, o ministro defende, sob a máscara de uma  racionalização, implantar  um aumento voraz dos impostos para equilibrar os gastos. Mais uma vez, mais do mesmo!  Tudo feito sem cerimônia e nenhum  respeito ao compromisso de campanha, como se o céu fosse o limite para saquear o produto do trabalho de quem produz. Como trocados há a promessa de dar-se algumas  migalhas à Bolsa Família. Porém, não só quem  tem um martelo tudo resolve com pregos, também os ambiciosos de uma reeleição, cujos pregos são os votos nas urnas. Assim, com o  costumeiro aumento de impostos, de prego em prego, os donos dos martelos vão  matando o desenvolvimento, com os consequentes desemprego e pobreza. Mas talvez vençam as próximas eleições, enterrando os nossos sonhos.


As despesas totais do governo…  Ao término do II Reinado, atingiriam 186,2 mil contos ( corresponderam a cerca de 8% do PIB na primeira metade da década de 1850, chegando a 10,5% ao final do período monárquico, com um pico de cerca de 14,4% do PIB à época da Guerra do Paraguai. (Goldsmith, 1986, p. 71-2). Exceto em seis ocasiões (1845-6, 1846-7, 1852-3, 1856-7, 1871-2 e 1888) o governo central apresentou déficits em todos os anos financeiros entre 1840-1 e 1889.28 Estes déficits, por sua vez, foram financiados por uma combinação de endividamento interno e externo, bem como o recurso à emissão de moeda.

Distribuição regional das receitas e despesas do Governo Central no II Reinado, 1844-1889*

André Villela - Professor do Mestrado em Economia Empresarial (UCAM) e da EPGE/FGV.


São Paulo, 10 de julho de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob

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