O mundo ficou muito melhor!
Tudo depende da perspectiva de quem olha. Um elefante olhando-se de frente tem uma tromba, de trás, um rabo. A perspectiva da vida atual é uma para um idoso e outra para um adolescente. O idoso carrega uma carga histórica que dá parâmetros à sua visão de mundo. Viu a população do Brasil triplicar, em sete décadas, para 210 milhões. Não havia megalópoles, a grande maioria vivia na zona rural. Havia muito mais espaço para respirar. O mercado era menor como também a concorrência. Tudo acontecia perto e em reduzida velocidade. Até as informações, as boas e as más, tomavam tempo para chegar. Com a explosão demográfica, nas cidades tudo ficou mais difícil, porém outras oportunidades surgiram. Para complicar a velocidade de tudo se acelerou. As notícias são real time. Nada nos escapa. Nada se pospõe.
Com isto, o ponto de vista do idoso mudou. Antes, defrontava-se com situações que dominava por serem familiares…era confortável. Sabia tirar proveito dos recursos disponíveis. A leitura ocupava muito do seu interesse de entretenimento. Havia tempo para uma literatura detalhista com retratos escritos dos personagens e do seu ambiente. Os filmes os distraiam com romances de amor, de suspense e alguma ficção científica, em salas de cinema que eram locais de encontro social. As visitas aos amigos para uma rodada de fofoca e de bate-papo eram costumeiras. O telefone raramente tocava. As ruas eram silenciosas e o trânsito acessível. Vivia-se em câmara lenta. Não se tinha tanta pressa, ansiedade e angústia. O futuro era tranquilo e previsível. Hoje vive assustado com o encaminhando da vida para a qual não mais sente-se preparado e nem em condições de adaptar-se. O futuro o preocupa. A perspectiva o assusta. Pergunta, sem ter resposta: — para onde estamos indo? Não tem esperança de dias melhores. Olha e vê a explosão demográfica, a degradação política, as massas miseráveis nas favelas, tudo levando ao caos. Sente- se inseguro.
Já de outro ponto de vista, o dos adolescentes, é outra a perspectiva. Os jovens da classe média ( nem-nem, nem estudam e nem trabalham ), não se sentem desafiados pela vida. A liberdade sexual os liberou da necessidade do casamento, o celular os mantém ligados ao mundo sem sair do quarto, o conhecimento vem em doses simplificadas pela internet, basta apelar para o Google. O cuidado com a aparência mudou, status é ter celular, estar nas redes sociais. Como não têm história, projetam a vida com os valores do presente. Vêm como natural a miséria na periferia, os desafios da tecnologia, a velocidade da vida… e, enfim, reduzem às mídias sociais as suas relações com a sociedade. Auto suficientes interagem com as máquinas. Para eles o mundo ficou pequeno, está ao alcance das suas mãos. Não há tempo para plantar. Tudo está aí para ser colhido. O mundo não poderia ser melhor! O trabalho, essa maldição divina, será substituído pela Inteligência Artificial, pelos robôs e ficar bilionário é montar uma Startup e lançá-la no mercado. O mundo regurgita de dinheiro fácil e de crédulos em qualquer coisa de que não entenda. Vêm o futuro com otimismo, pois as oportunidades estão à vista.
Se o idoso olha o futuro, com apreensão, o jovem não. Ele não têm um passado como referência e nem um futuro como preocupação, só tem o presente. E este exige pouco dele. Crê que um novo mundo está à sua disposição. A diferença de perspectivas é de uma geração que plantava duro para colher e outra que só aprendeu a colher. Se terminar bem, eles têm razão para o otimismo: o mundo ficou muito melhor!
São Paulo, 20 de janeiro de 2022.
Jorge Wilson Simeira Jacob
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