terça-feira, 4 de janeiro de 2022

 As desigualdades.


É sabido que nem todos os problemas têm solução. Um deles, tão velho quanto andar pra frente, é saber quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?  Os crentes no criacionismo, os que acreditam em Deus, não se empenham na  solução deste enigma. Nenhuma das alternativas interfere na sua concepção do mundo. Já os evolucionistas, os darwinistas, acreditam que um ovo, que sofreu uma transformação, deu origem à galinha como nova espécie. Como ninguém pode provar nada, ficam elas por elas.


Outro dilema que se coloca é saber se o homem nasce bom e é a sociedade que o corrompe, como queria Rousseau. Ou que  o homem, por natureza, não é bom, mas invejoso, ganancioso, individualista… enfim que o homem é o lobo do homem , como deu a entender Hobbes. Os marxistas seguem a linha rousseauniano - o homem é bom por natureza, mas pervertido pela luta de classes. Bastaria eliminá-las e teríamos um novo homem: generoso, desprendido e solidário. Haveria, pois, que se eliminar as desigualdades. 

Outros, os seguidores de Hobbes, acreditam que a natureza humana é imutável, ainda que possa ser moldada.


Marx previa que após o socialismo, uma fase de aclimatação, um novo homem surgiria. Estando regenerado, daria condições para a fase ideal desta evolução, o comunismo. Este ser humano bom, puro,  poria fim à necessidade de um governo. Seria a recuperação do paraíso perdido, que ensejaria  o ideal libertário de um governo mínimo. Neste estado, sem governo,  não haveria espaço para as religiões, pois deixaria de existir o pecado no mundo.Em síntese,  o fim das desigualdades redimiria a humanidade do pecado original


Não havendo   laboratório para testar-se a origem dos galináceos, a resposta permanece no campo das crenças pessoais.Os  criacionistas e  os evolucionistas vão seguir cada um com a opção que os agrade. Ao contrário do que acontece com os que acreditam no Novo Homem, fruto da  reforma da natureza humana, que puderam testar a sua hipótese. O socialismo foi praticado na União Soviética por setenta anos. As classes foram reduzidas a somente duas: o povo e a nomenclatura. Porém, a natureza humana não deixou de ser aquela que Thomas Hobbes descreveu e o homem bondoso de Rousseau, na experiência igualitária, não floresceu. O resultado foi a falência da experiência com o retorno  da sociedade de múltiplas classes.


Diante do  fracasso da tentativa socialista da redução das desigualdades, a ideia não perde a validade moral e social.  Em uma   sociedade civilizada,  moralmente responsável, um indivíduo com formação humanista, não dorme o sono dos justos. Não consegue dormir em uma   ilha cercado de miseráveis por todos os lados. Socialmente, um cidadão, não pode ignorar a insegurança de um estado assentado em uma gritante desigualdade socioeconômica. Mas não será com a utopia de alterar a natureza humana que se resolverá este desafio. Será, sim, com uma política focada no  combate à miséria, consequência de um estado dominado por uma nomenclatura que se beneficia dos cofres da nação. Uma política que faça distinção entre as duas causas das desigualdades: a negativa e a positiva.negativa, indesejável, é a resultante da desigualdade de todos perante a lei e das práticas de governo - que não premiam o mérito na  partilha da renda nacional, mas a mamata. A desigualdade positiva, desejável, é resultado do mérito: do trabalho, da poupança, da inovação e da iniciativa. Um Steve Jobs, símbolo de desigualdade, trilhionario, aumentou a desigualdade de forma positiva. Ele criou riqueza para si mesmo e para todos os clientes da Apple. Não fez ninguém menos feliz!


São Paulo, 02 de janeiro de 2022.

Jorge Wilson Simeira Jacob

Nenhum comentário:

Postar um comentário