Debutante na festa dos quinze anos.
Estreio, hoje, nesta coluna, Contradição, tomado pela emoção, como debutante na festa dos quinze anos. Como desconhecido dos leitores, devo apresentar-me dizendo que não tenho formação teórica para explicar o mundo para os leitores deste grande jornal. Sou um autodidata, um curioso que questiona o mundo com as lentes de um detetive em busca de verdades. Um dos que acreditam sermos uma ilha cercados de falácias por todos os lados. E esta é a minha paixão: descobrir , com base na intuição e longa vivência, falsas ideias erroneamente responsabilizadas por seus efeitos. Alguém, mantida as devidas proporções, como um Galileu a combater o geocentrismo.
Talvez essa paixão tenha sido a credencial que levou o Euler França Belém, diretor do jornal, a oferecer-me a cobiçada oportunidade de ter uma coluna semanal no Jornal Opção. Euler tomou conhecimento dos meus ensaios através do amigo comum Irapuan da Costa Júnior - amigo de longa data, que deve tê-lo influenciado.Desvanecido com o convite , aceitei de pronto. Nada mais honroso para o redator de um blog de pequena penetração, do que poder expor os seus pontos de vista em um órgão de prestígio nacional. Esta coluna está para o meu blog como um canhão para um estilingue. Ganhei poder de fogo. Se tiver competência, quem sabe, servirei à verdade; se não, como Galileo terei que renegar as minhas convicções.
Escreverei preferencialmente ensaios. Um gênero da literatura muito desenvolvido na Inglaterra, França e Estados Unidos. Os “ essays” , como são identificados, são textos geralmente curtos que usam da ironia, do sarcasmo e do jogo de ideias para formar/mudar opiniões. Os essays , segundo Lúcia Miguel Pereira * : … é guiado mais pelo senso comum, essa mistura de instinto e experiência, do que por leis e regras, prezando mais a liberdade do que a autoridade… Autores fizeram história com os seus Essays. Jonathan Swift, um dos expoentes do gênero, mexeu com os seus contemporâneos com o clássico A Modest Proposal, onde propunha aos pobres aumentar as proles e engordá-las para vender como alimento aos ricos. Com isto acabaria com a pobreza e a fome na Irlanda. Swift nada tinha de maldade. Era um religioso. A sua intenção era escandalizar com ironia para mudar as perspectivas da sociedade indiferente à miséria reinante. Os essays também foram imortalizados na França nos Ensaios de Montaigne e Frederic Bastiat. Os essays são muito valorizados, também, nas universidades americanas. Fazem parte do currículo de muitas delas antologias de essays.
Dediquei-me no meu blog a escrever essays, evidentemente encantado com as leituras deles e percebendo o potencial que tem como técnica de influenciar as opiniões. Adotei como prática, a cada tema que não me satisfazia com a resposta, a escrever um essay sobre o assunto. Organizei as minhas ideias, principalmente após debates em que não conseguia transmitir a essência do meu entendimento. Neste exercício, na maior parte das vezes, descobri que o meu insucesso devia-se ao fato de não ter, no calor da discussão, desenvolvido uma síntese. As discussões soltas, sem teses e antíteses muito claras, geram muito calor e pouca luz. Só aprofundam a incompreensão. Assim dediquei-me aos ensaios. Como abundam as falácias, continuo a escrever essays, os quais agora dividirei com os leitores desta coluna. Levantarei, sempre que possível, falácias que o common sense assume como verdade para tentar levar o leitor a olhar os fatos por outra perspectiva, como tentou sem êxito Galileu.
* Lúcia Miguel Pereira, prefácio do livro Ensaístas Ingleses, dos Clássicos Jackson
São Paulo,
Jorge Wilson Simeira Jacob
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