quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

  






Preços altos, salários baixos.



Quiz - É certo ou errado: as grandes empresas  só pensam em vender caro e   pagar  salários baixos? Sim ou Não? 


Se a sua resposta ao teste for afirmativa, você faz parte de um grupo ultrapassado pela evolução da Economia. Se for negativa, você está atualizado com as modernas técnicas de comercialização. 


Antigamente, antes da Revolução Industrial, a produção era artesanal, uma operação caseira. Produzia-se pouco, o que dificultava a diluição dos custos e o ganho de algum lucro. Consequentemente a oferta de produtos era limitada, os empregos escassos e consequentemente  baixos os salários. Não havia a classe média, essa maravilhosa invenção do capitalismo. Eram os  camponeses, a aristocracia e  uns poucos burgueses. Não havia mercado consumidor em grande escala.


A linha de produção do fordismo viabilizou a produção em série, especializada, mas desde que em altos volumes. Os  custos caíram drasticamente, mas não havia poder aquisitivo para adquirir os volumes produzidos. A engenhosidade de Henry Ford equacionou o desafio reduzindo os preços de um carro de 3 mil dólares para 500, com isto visava ganhar no volume e não nas unidades. Deixou de ser uma butique. Fez mais. Anunciou nacionalmente um aumento substancial nos salários para criar poder aquisitivo. Com estas duas tacadas inventou um novo modelo de negócios.


O exemplo de Ford revolucionou não só a organização da produção, mas a prática empresarial de ganhar no volume. A economia nunca mais foi igual, mas ainda persistem em muitas cabeças a ideia errônea de que o melhor negócio são os preços altos e os salários aviltados. Evidentemente há limites. Há um piso para aumento dos salários  -  são os custos;  e outro para os preços  -  são os concorrentes. Portanto, se não se pratica preços mais baixos e salários mais altos não é por falta de querer, mas de poder. Um desafio ao aumento da produtividade tão genialmente enfrentado por Ford.



Porém , a história da evolução econômica não parou com o amadurecimento da Revolução Industrial. A produtividade está dando um outro salto com a Revolução Tecnológica em curso. Uma nova era está começando . Uma revolução econômica em que está despontando a China como  o futuro grande líder. Se antes eram as empresas que otimizam os resultados em grandes volumes, agora é a China que se estrutura ganhando pouco de cada empresa, cada consumidor,  para ganhar no volume. Usa e abusa de  um mercado interno de 1,5 bilhão de habitantes e externo de outros  bilhões, todos  ávidos por produtos de consumo à preços baixos. Alcançando escalas de produção  fantásticas  para coexistência de muitos  competidores. Com  as menores taxas de impostos do mundo ( 20% do PIB ); com uma mão de obra disciplinada e laboriosa, a China coloca-se como se fosse uma empresa, uma aventura empresarial, à nível de nação,  para competir de igual para igual com os líderes mundiais. Outras nações deixam que o desafio de enfrentar o mundo seja só das suas empresas e não um projeto nacional. Como o caso brasileiro, que exibe um excepcional desempenho agrícola, mas tem  a pior infraestrutura da porteira da fazenda para fora. Um  agricultor que  não tem no governo um aliado , mas um obstáculo. É um herói solitário!


Ao dizer Não ao Quiz inicial, a China está em linha com o que há de mais moderno na Economia. Revolucionando a produtividade, taxando pouco o cidadão, e com isto tirando   da miséria milhões de chineses ao criar  mais  empregos. Com a menor disponibilidade  de mão de obra, valorizou os salários, que  já superam  os dos países vizinhos. O governo chinês descobriu que é melhor ganhar pouco de muitos do que muito de poucos.




São Paulo, 21 de janeiro de 2022.

Jorge Wilson Simeira Jacob
















 


 






Preços altos, salários baixos.



Quiz - É certo ou errado: as grandes empresas  só pensam em vender caro e   pagar  salários baixos? Sim ou Não? Se a sua resposta ao teste for afirmativa, você faz parte de um grupo ultrapassado pela evolução da Economia. Se for negativa, você está atualizado com as modernas técnicas de comercialização. 


Antigamente, antes da Revolução Industrial, a produção era artesanal, uma operação caseira. Produzia-se pouco, o que dificultava a diluição dos custos e o ganho de algum lucro. Consequentemente a oferta de produtos era limitada, os empregos escassos e consequentemente  baixos os salários. Não havia a classe média, essa maravilhosa invenção do capitalismo. Eram os  camponeses, a aristocracia e  uns poucos burgueses. Não havia mercado consumidor em grande escala.


A linha de produção do fordismo viabilizou a produção em série, especializada, mas desde que em altos volumes. Os  custos caíram drasticamente, mas não havia poder aquisitivo para adquirir os volumes produzidos. A engenhosidade de Henry Ford equacionou o desafio reduzindo os preços de um carro de 3 mil dólares para 500, com isto visava ganhar no volume e não nas unidades. Deixou de ser uma butique. Fez mais. Anunciou nacionalmente um aumento substancial nos salários para criar poder aquisitivo. Com estas duas tacadas inventou um novo modelo de negócios.


O exemplo de Ford revolucionou não só a organização da produção, mas a prática empresarial de ganhar no volume. A economia nunca mais foi igual, mas ainda persistem em muitas cabeças a ideia errônea de que o melhor negócio são os preços altos e os salários aviltados. Evidentemente há limites. Há um piso para aumento dos salários  -  são os custos;  e outro para os preços  -  são os concorrentes. Portanto, se não se pratica preços mais baixos e salários mais altos não é por falta de querer, mas de poder. Um desafio ao aumento da produtividade tão genialmente enfrentado por Ford.



Porém , a história da evolução econômica não parou com o amadurecimento da Revolução Industrial. A produtividade está dando um outro salto com a Revolução Tecnológica em curso. Uma nova era está começando . Uma revolução econômica em que está despontando a China como  o futuro grande líder. Se antes eram as empresas que otimizam os resultados em grandes volumes, agora é a China que se estrutura ganhando pouco de cada empresa, cada consumidor,  para ganhar no volume. Usa e abusa de  um mercado interno de 1,5 bilhão de habitantes e externo de outros  bilhões, todos  ávidos por produtos de consumo à preços baixos. Alcançando escalas de produção  fantásticas  para coexistência de muitos  competidores. Com  as menores taxas de impostos do mundo ( 20% do PIB ); com uma mão de obra disciplinada e laboriosa, a China coloca-se como se fosse uma empresa, uma aventura empresarial, à nível de nação,  para competir de igual para igual com os líderes mundiais. Outras nações deixam que o desafio de enfrentar o mundo seja só das suas empresas e não um projeto nacional. Como o caso brasileiro, que exibe um excepcional desempenho agrícola, mas tem  a pior infraestrutura da porteira da fazenda para fora. Um  agricultor que  não tem no governo um aliado , mas um obstáculo. É um herói solitário!


Ao dizer Não ao Quiz inicial, a China está em linha com o que há de mais moderno na Economia. Revolucionando a produtividade, taxando pouco o cidadão, e com isto tirando   da miséria milhões de chineses ao criar  mais  empregos. Com a menor disponibilidade  de mão de obra, valorizou os salários, que  já superam  os dos países vizinhos. O governo chinês descobriu que é melhor ganhar pouco de muitos do que muito de poucos.




São Paulo, 21 de janeiro de 2022.

Jorge Wilson Simeira Jacob
















 















segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

 Debutante na festa dos quinze anos.


Estreio, hoje,  nesta coluna, Contradição, tomado pela  emoção, como debutante na festa dos quinze anos. Como desconhecido  dos leitores, devo apresentar-me dizendo que  não tenho  formação teórica para explicar o mundo para os leitores deste grande jornal. Sou um autodidata, um curioso que questiona o mundo com as lentes de um detetive em busca de  verdades. Um dos que acreditam sermos  uma ilha cercados de falácias  por todos os lados.  E esta é a minha paixão: descobrir ,  com base na intuição e longa vivência, falsas ideias erroneamente responsabilizadas por seus  efeitos. Alguém, mantida as devidas proporções, como um Galileu a combater o geocentrismo. 


Talvez essa paixão tenha sido  a credencial que levou o Euler França Belém, diretor do jornal,  a oferecer-me a cobiçada oportunidade de ter uma coluna semanal no Jornal Opção. Euler  tomou conhecimento dos meus ensaios através do amigo comum Irapuan da Costa Júnior - amigo de longa data, que deve tê-lo influenciado.Desvanecido com o convite , aceitei de pronto. Nada mais honroso  para o  redator de um blog de pequena penetração, do que poder expor os seus pontos de vista em um órgão de prestígio nacional. Esta coluna está para o meu blog como um canhão  para um estilingue. Ganhei poder de fogo. Se tiver competência, quem sabe, servirei à verdade; se não, como Galileo terei que renegar as minhas convicções. 


Escreverei preferencialmente ensaios. Um gênero da literatura muito desenvolvido na Inglaterra, França e Estados Unidos. Os “ essays” , como são identificados, são textos geralmente curtos que usam da ironia, do sarcasmo e do jogo de ideias para formar/mudar opiniões. Os essays , segundo Lúcia Miguel Pereira * : … é guiado mais pelo senso comum, essa mistura de instinto e experiência, do que por leis e regras, prezando mais a liberdade do que a autoridade… Autores fizeram história com os seus Essays. Jonathan Swift, um dos expoentes do gênero,  mexeu com os seus contemporâneos com o clássico A Modest Proposal, onde propunha aos pobres aumentar as proles e engordá-las para vender como alimento aos ricos. Com isto acabaria com a pobreza e a fome na Irlanda. Swift nada tinha de maldade. Era um religioso. A sua intenção era escandalizar com ironia para mudar as perspectivas da sociedade indiferente à miséria reinante. Os essays também foram imortalizados na França nos  Ensaios de Montaigne e Frederic Bastiat. Os essays são muito valorizados, também, nas universidades americanas. Fazem parte do currículo de muitas delas antologias de essays.


Dediquei-me no meu blog a escrever essays, evidentemente encantado  com as leituras deles e percebendo o potencial   que tem como técnica de influenciar as opiniões. Adotei como prática, a cada tema que não me satisfazia  com a resposta, a escrever um essay sobre o assunto. Organizei as minhas ideias, principalmente após debates em que  não conseguia transmitir a essência do meu entendimento. Neste exercício,  na maior parte das vezes,  descobri que o meu insucesso devia-se  ao fato de não ter, no calor da discussão, desenvolvido uma síntese. As discussões soltas, sem teses e antíteses muito claras, geram muito calor e pouca luz. Só aprofundam a incompreensão. Assim dediquei-me aos ensaios. Como abundam as falácias, continuo a escrever essays, os quais agora    dividirei  com os leitores desta coluna. Levantarei, sempre  que possível,  falácias que o common sense  assume como verdade para  tentar levar o leitor a olhar os fatos por outra perspectiva, como tentou sem êxito Galileu.


* Lúcia Miguel Pereira, prefácio do livro Ensaístas Ingleses, dos Clássicos Jackson


São Paulo, 

Jorge Wilson Simeira Jacob





quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

 O mundo ficou muito melhor!


Tudo depende da perspectiva de quem olha. Um  elefante  olhando-se  de frente tem uma tromba, de trás, um rabo. A perspectiva da vida atual é uma para um idoso e outra para um adolescente. O idoso carrega uma carga histórica que dá parâmetros à  sua visão de mundo. Viu a   população do Brasil triplicar, em sete décadas, para  210 milhões. Não havia megalópoles, a grande maioria vivia na zona rural. Havia muito mais espaço para respirar. O mercado era menor como também a concorrência. Tudo acontecia perto e em reduzida velocidade. Até as informações, as boas e as más, tomavam tempo para chegar. Com a explosão demográfica, nas cidades  tudo ficou mais difícil, porém outras oportunidades surgiram. Para complicar a velocidade de tudo se  acelerou.  As  notícias são real time. Nada nos escapa. Nada se pospõe. 


Com isto, o ponto de vista do idoso mudou. Antes, defrontava-se com situações que dominava por serem familiares…era confortável. Sabia  tirar proveito dos recursos disponíveis. A leitura ocupava muito do seu interesse de entretenimento. Havia tempo para uma literatura detalhista com retratos escritos dos personagens e do seu ambiente. Os filmes os distraiam com romances de amor,  de suspense e alguma ficção científica, em salas de cinema que eram locais de  encontro social. As visitas aos amigos para uma rodada de fofoca e de bate-papo eram costumeiras. O telefone raramente tocava. As ruas eram silenciosas e o trânsito acessível. Vivia-se em câmara lenta. Não se tinha tanta pressa, ansiedade e angústia. O futuro era tranquilo e previsível. Hoje vive assustado com o encaminhando da vida para a qual não mais sente-se preparado e nem em condições de adaptar-se. O futuro o preocupa. A  perspectiva o assusta. Pergunta, sem ter resposta: — para onde estamos indo? Não tem  esperança de dias melhores. Olha e vê a  explosão demográfica, a degradação política, as massas miseráveis nas favelas,  tudo  levando ao caos. Sente- se inseguro. 


Já de outro ponto de vista, o dos adolescentes, é outra a perspectiva. Os jovens da classe média ( nem-nem, nem estudam e nem trabalham ),  não se sentem desafiados pela vida. A liberdade sexual os liberou da necessidade do casamento, o celular os mantém ligados ao mundo sem sair do quarto, o conhecimento vem em doses simplificadas pela internet, basta apelar para o Google. O cuidado com a aparência mudou, status é ter celular, estar nas redes sociais. Como não têm história, projetam a vida com os valores do presente. Vêm como natural  a miséria na periferia, os desafios da tecnologia, a velocidade da vida… e, enfim, reduzem  às mídias sociais as suas relações com a sociedade. Auto suficientes interagem com as máquinas. Para eles o mundo ficou pequeno, está ao alcance das suas mãos. Não há tempo para plantar. Tudo está aí para ser colhido. O mundo não poderia ser melhor! O trabalho, essa maldição divina, será substituído pela Inteligência Artificial, pelos robôs e ficar bilionário é montar uma Startup e lançá-la no mercado. O mundo regurgita de dinheiro fácil e de  crédulos em qualquer coisa  de que não entenda. Vêm o futuro com otimismo, pois as oportunidades estão à vista.


Se o idoso olha  o futuro, com apreensão, o jovem não.  Ele não têm um  passado como referência e nem um futuro como preocupação, só tem o presente. E este exige pouco dele. Crê que um  novo mundo está à sua disposição. A diferença de perspectivas é de uma geração que plantava duro para colher e outra que só aprendeu a  colher. Se terminar bem, eles têm razão para o otimismo: o mundo ficou muito melhor!


São Paulo, 20 de janeiro de 2022.

Jorge Wilson Simeira Jacob


terça-feira, 18 de janeiro de 2022

A soberania do consumidor.


Há décadas o Brasil encantou-se com  a falácia do   Estado Empresarial. Havia pouca resistência aos governos que se metiam em aventuras empresariais. Ignorava-se ,como ainda hoje , que a administração desta  atividade  exige características de personalidade, talento e sorte. Subestima-se os desafios de um empreendimento para sobreviver à competição. Um  negócio é uma aventura tão arriscada quanto  um bilhete de loteria, onde muitos apostam, mas poucos ganham. 


Entretanto,   a falácia do Estado Empresário sobrevive  cartéis e monopólios. Em regime de competição não fica em pé uma única estatal. Elas não são  centros de competência - sem exceção! Os seus dirigentes não são escolhidos entre os melhores do setor, mas os bem relacionados com o Poder. É puro nepotismo!


Uma falácia  muito difundida para justificar o Estado Empresário era a escassez de  capital para grandes projetos  de desenvolvimento. A prática  mostrou justamente o contrário. É  mundial a  escassez de recursos para os governos investirem e , ao contrário, eles abundam na iniciativa privada. As maiores empresas do mundo foram capitalizadas no mercado. E as nossas empresas estatais, apesar do Tesouro, foram privatizadas pela  incapacidade dos governos  suportarem os seus elevados prejuízos. Nos países, que não se deixaram encantar com a falácia do Estado Empresário , as estatais são poucas. Eles não se meteram nas produtoras de eletricidade, petróleo, meios de comunicação, sistema financeiro … e nunca faltou capital para desenvolver as  empresas. Ficando assim desmoralizado o argumento dos intervencionistas. A criatividade do sistema capitalista criou mecanismos de arrecadação como os Fundos de Pensão, Mercado de Ações e os de Investimentos com recursos ilimitados. Não faltando, portanto, capital  em havendo oportunidades. 


 As nossas primeiras aventuras como Estado Empresário foram:  a Companhia Siderúrgica Nacional e a Fábrica Nacional de Motores, que foram fontes constantes de prejuízo e corrupção. A CSN, como era conhecida, antes da privatização produzia poucas chapas perfeitas e muitas com supostos defeitos que eram vendidas aos atravessadores, que as vendiam como perfeitas -   com enormes lucros.  A FNM morreu  por produzir mais prejuízos do que caminhões. Estes eram  um péssimo produto, que não suportou a chegada da concorrência. Estas experiências iniciais , que geram renda e poder aos partidos políticos, estimularam a estatização de empresas. Seguiu-se a Petrobras com a  falácia  de ser  estratégico o setor de energia, não poderia estar em mãos privadas. O governo, acreditam os ingênuos, tem o monopólio do patriotismo e os burocratas são seres  diferenciados, não são gananciosos como os empresários. Crenças desmoralizadas com o Petrolão, que mostrou que os dirigentes das empresas estatais são feitos da mesmo barro que Adão e Eva, são normais.



Não bastassem as novas  estatais, foram estatizadas, entre outras,   a Companhia Paulista de Estrada de Ferro. Um modelo de pontualidade, serviço atencioso e limpeza. Já existia, portanto, a ela não se aplicava a desculpa esfarrapada de necessitar de capital. Esta privatização  desestimulou o  transporte ferroviário e  tornou o país refém de caminhoneiros grevistas. Outro  foi o tratamento dado à pioneira Light & Power, que explorava o fornecimento de energia elétrica, bondes em São Paulo e Rio de Janeiro, que foi castrada com congelamento das tarifas e consequente descapitalização. Também a  Companhia Telefônica Brasileira,  estatizada  pelos militares,  foi um desastre.Um telefone   chegava  a custar tanto quanto um automóvel. Um cabo telefônico para atender uma indústria era caríssimo e pago antecipadamente. As inscrições para novas linhas  tinham  dois dias nas filas de espera. Hoje são  as concessionárias que fazem filas  para vender um aparelho. O resultado palpável é  que, em regime de competição,  nas empresas privadas  a  soberania é do consumidor ( nós) ; na estatizada, é a do vendedor ( eles ). 


São Paulo, 18 de janeiro de 2022.

Jorge Wilson Simeira Jacob



 





domingo, 16 de janeiro de 2022

 Igualdade de todos perante as leis.


Nada mais civilizado do que o preceito constitucional que assume que todos deveriam ser  iguais  perante a lei. Na prática, porém, sabemos que uns são menos iguais do que os outros. Neste jogo de poder participam dois grupos de atores. De um lado os algozes, que  têm o poder de influenciar as leis, decretos e regulamentos governamentais. Do outro lado as vítimas, que são os cidadãos de segunda classe, os anônimos. Uma divisão que situa o mundo  entre  nós eles. Ente eles inclui-se  a igreja católica que sempre  teve grandes privilégios no país e ainda hoje exerce forte influência na política nacional. Até  o Decreto nº 119-A, de 07/01/1890, de autoria de Ruy Barbosa, o catolicismo era a nossa religião oficial, sendo as outras somente toleradas em cerimônias caseiras. Felizmente, com a separação entre a igreja e o estado , além de assegurar a liberdade religiosa, muito da sua condição privilegiada  foi reduzida. 


Como agnóstico, que não acredita em nenhuma religião, entendo o estado laico como uma grande conquista liberal, uma  condição fundamental na preservação da liberdade individual. Ninguém deve ser forçado ou coagido a seguir nenhuma crença, nem religiosa e nem política. Se ao longo da  história alguém violentou a vontade do indivíduo foram as religiões e as crenças políticas. Elas  não economizaram esforços para subjugar a vontades dos rebeldes. Em especial, as religiões escreveram um enredo macabro de autoritarismo, com perseguições, crimes e barbaridades. A disputa pelos crentes sempre terminou em guerras. Ora são os politeístas romanos contra os cristãos, ora os católicos contra os muçulmanos, ora são os protestantes contra os católicos ora são…. As mais nefastas práticas de fanatismo são as das religiões. Superam em tudo e por tudo os outros tipos de fanatismos. Talvez na política  a bandeira do comunismo tenha mais manchas de sangue de inocentes ,do que a das religiões , por terem acontecido quando a população mundial era menor. Mas os dois séculos da  Santa Inquisição,  as Cruzadas para combater a expansão dos  muçulmanos,  a Inquisição protestante na Alemanha, a guerra religiosa nas duas Irlandas, superaram  em crueldade as perseguições políticas . 


Todo autoritarismo é indesejável, principalmente para nós cidadãos de segunda classe, anônimos. Somos indefesos contra os fanatismos de qualquer tipo. Felizmente com o estado laico, a liberdade religiosa prosperou aqui. Mas resquícios ainda existem, que devem ser eliminados. Ficamos no meio do caminho para tentar fazer valer a condição de serem todos iguais perante as leis. Esta igualdade  exige que se cancele todos os  feriados religiosos ou que se comemore com igualdade de condições o dia da ascensão  da mãe de Buda aos céus, o nascimento de Moisés,  Maomé , Alan Kardek e outras efemérides . O ideal seria  cancelar do calendário nacional todos os feriados religiosos, pois isto são resquícios de um estado religioso. 


O Brasil tornou-se legalmente um Estado laico, na prática a desigualdade  diminuiu mas não acabou.  Há  vestígios a serem apagados. O ideal de igualdade seria atingido se todas as regalias religiosas fossem eliminadas: isenção de todos impostos, feriados religiosos, retratos de santos em sítios do governo… Não é igualitário que um agnóstico pague a parte dos impostos que caberiam aos religiosos pagar,  que comemore as datas das outras religiões .

Como também não o é que nós, os de segunda classe, paguemos impostos para sustentar uma máquina pública ineficiente e perdulária que se beneficia desigualmente da burras do Tesouro.



São Paulo, 16 de janeiro de 2020.

Jorge Wilson Simeira Jacob


quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

 As nossas múltiplas almas.



Os desígnios da natureza são inexplicáveis. De vez em quando acontecem coisas que fogem à normalidade. São berros da natureza, como diziam os antigos. Nascem animais  com duas cabeças , bananas felipe , pés com seis dedos … e gêmeos totalmente diferentes. Não só fisicamente há os berros. Os há também nas almas.Nós acreditamos que cada nascituro tem um corpo e uma alma. A história da medicina e das religiões nunca haviam registrado um berro como o nascimento de uma única criança com duas almas. Como este  caso  recentemente divulgado.


Aconteceu com  João. Até os dois anos de idade, era  uma criança cheia de caprichos e contradições,  próprias de um temperamento rebelde. Algumas vezes, para ilustrar, chorava de fome, quando lhe era dado o peito  recusava e se insistiam  mordia ferozmente como se contrariado estivesse. Em alguns momentos era dócil, tranquilo, dormia bem, em outros era agitado, chorava sem parar e nada o acalmava. Passava o tempo e ele ficava cada vez mais incoerente. Isto mesmo - incoerente: queria e não queria ao mesmo tempo, mas algumas vezes, diga-se de passagem, quando desejava alguma coisa o fazia com fúria.


A mãe, mulher simples da zona rural de Pernambuco, chegou a procurar conselho com o vigário da sua vila. Ele sugeriu batizar novamente o menino, com outros padrinhos, pois os anteriores frequentavam o Centro Espírita Alan Kardek, eram  hereges para a Igreja Católica. Isto foi feito. Nada mudou. Em não havendo resultado, as comadres sugeriram que fosse rezar para a imagem do “ Padim Cícero “. O resultado foi pior do que nulo. João tornou-se um problema para ele mesmo. Ignorava ter duas almas que  viviam em conflito. Não conseguia levar avante um namoro, uma relação de amizade… As suas almas tinham ciúmes uma da outra. O que o fazia um sujeito volúvel, instável, portanto, imprevisível. E, conforme ia ganhando idade, os conflitos aumentavam. Ele era infeliz. Duas  almas equivalem a uma dupla personalidade. Até que um dia, o seu primeiro padrinho, o herege, acompanhando o drama, resolveu levá-lo a uma seção  espírita. A família, católicos fervorosos, ficou revoltada, mas , por incrível que pareça, as almas de João estavam de acordo.  Em uma  noite, em  reunião para ouvir as almas do além, João fez-se presente.Sentou-se entre o  médium e o padrinho. Reduzida a iluminação, após a tradicional abertura,  a sessão  teve início. O médium entrou em transe, baixou o espírito do Padim Cícero, que disse: - conheço o sofrimento do João .Esse moço veio a mim. Não pude acalmar a sua angústia por não se tratar de um mal do corpo. Aqui, entre crentes, que cuidam das almas, animei-me a vir atender a este caso. Acontece que  João tem duas almas, que vivem em conflito por estarem incorporadas em um único corpo. Basta uma querer uma coisa para a outra se opor. Se fossem dois corpos com uma única alma ( que se vê nas chamadas almas gêmeas ), a solução seria a eliminação de um deles. Os humanos, ainda que pecado, podem eliminar um corpo, mas não uma alma. Elas  pertencem a Deus. Só ele pode matar uma. Porém, João não é um caso atípico.  Este  destacou- se por ter extrapolado os limites da mente, assim como muitos outros que se manifestam na loucura, nos desvarios e até casos menos conflitantes como os de dupla personalidade. Acontece que todos nós temos múltiplas almas , que atuam como sombras, nos fazendo  instáveis, incoerentes e infiéis a nos mesmos. Perfeitos, se existissem, seriam   os corpos de uma alma só ! 


São Paulo, 12 de janeiro de 2022.

Jorge Wilson Simeira Jacob






 




domingo, 9 de janeiro de 2022

 


Pondo o bom a perder.


Na natureza há muitos elementos concretos.  Perceptíveis são as florestas com as suas espécies animais e vegetais, é o ar que respiramos, é a mudança climática…sabidamente essenciais para a sobrevivência da vida no planeta.  A Ecologia, muito acertadamente, é hoje uma preocupação universal. Felizmente, tomamos consciência da  importância da sua preservação e da inconveniência da intromissão humana no seu funcionamento. A natureza  encontra o seu esplendor sem a ação humana. No seu estado natural dispensa a mão do homem.Equilibra-se por si só. As  interferências externas são perturbadoras da sua ordem. Sem, com isto, poder-se afirmar que não ocorram situações de desequilíbrio, mas estas recuperam-se  com o tempo, se respeitada a sua integridade. Quando o homem interfere, tentando  melhorar o que é perfeito, o resultado são remendos sem fim. São como raizes de Tiririca, uma  puxa a outra. Portanto, quanto menos a humanidade interferir na natureza, melhor. E, havendo necessidade,   que o faça atuando nas causas  e não no seu efeito. Por exemplo, a camada de ozônio não deve ser eliminada  evitando os automóveis, estes não são a causa, mas o combustível. Como, aliás, acertadamente  está sendo feito com os carros elétricos.


Outro fator importante para as condições da vida humana é a Economia.  No sistema econômico há muitos mais elementos abstratos. Uma floresta existe concretamente.  Os mecanismos de mercado, não. O que torna  o seu funcionamento menos inteligível. Não é possível, ver, pegar, cheirar para prever os possíveis efeitos da emissão da moeda, das taxas de juros, da oferta e procura… todos fatos que se refletem no chamado mercado. Uma figura de ficção, pois o mercado é tão somente aonde acontecem as  relações entre os agentes econômicos. O mercado é como o palco de um teatro onde atores se interagem. Desta ação  é   que resulta o  espetáculo. O palco como o mercado são  neutros. Já a queima de fósseis é  um fato de consequências previsíveis. Não o sendo os bilhões de transações que ocorrem no mercado. Muitas realizadas somente verbalmente. O mercado, portanto,  é um retrato da natureza. Pela sua imponderabilidade deve  ser deixado intocado para encontrar o  próprio equilíbrio.  


Entretanto, é pacífico que o ideal, na  ecológica e na economia,  é que o homem não interfira  no seu livre  funcionamento. Mas, na prática isto não ocorre. Na ecologia o homem destrói espécies, na economia, distorce o  seu funcionamento, ambos podendo provocar reações indesejáveis. Faz sentido, portanto,  a necessidade de quem defenda a  ordem natural. Neste aspecto, a consciência ecológica existe e luta-se  pela preservação da  natureza. Infelizmente, a mesma consciência de defesa da outra ordem natural - a econômica - é limitada a poucos. Não são muitos os que reconhecem que as distorções de mercado devem ser combatidos na causa e não nos  seus efeitos. Efeitos negativos que se manifestam na  ação predatória dos  monopólios, dos cartéis, do patrimonialismo… O que  legitima  uma intervenção corretiva, que será positiva se for na direção de defender :  na natureza, a ordem natural;  e na economia, a competição livre em bases éticas. Aceitando que os ajustes, como é próprio da natureza,  pedem algum tempo para mostrar resultados e que os  desequilíbrios serão momentâneos e passageiros. A economia e a ecologia devem ser preservadas no estado natural, o mais possível. Ecológico  é  o governo  limitar-se a defender a ordem natural, na natureza e no mercado,   dos seus predadores. Na verdade, quando os intervencionistas  interferem no mercado procurando o  ótimo, acabam pondo o bom  a perder.


São Paulo, 10 de janeiro de 2022.

Jorge Wilson Simeira Jacob


sábado, 8 de janeiro de 2022

 O suicídio do narcisismo.


Na  mitologia grega, Narciso, jovem de beleza estonteante,  encanta-se com a sua imagem refletida nas águas de um rio. Eco, uma ninfa, apaixona-se por ele, mas, desprezada o amaldiçoa ao suicídio. Não só da própria  beleza as pessoas podem apaixonar-se. Há as paixões baseadas em outros fatores como a do próprio  poder. Entre elas está o caso dos sindicatos dos mineradores de carvão da Inglaterra. Os sindicatos britânicos  tinham forte ascendência política, desafiando os governos com as suas seguidas greves. Uma atrás da outra. Usavam a  importância do carvão como fonte de energia e o número expressivo de sindicalizados para fazerem o jogo político. Desde a revolução industrial, o carvão mineral era essencial para a vida dos britânicos.  Não só a dependência do produto, mas principalmente pela  força dos seus 200.000 sindicalizados, eram fatores de peso nos cálculos eleiçoreiros dos políticos. Era um poder de fogo  que submetia   os políticos populistas às suas vontades.

Exceção foi o governo da primeira ministra  Margareth Thatcher. Quando teve o seu   projeto de governo contestado  pelo sindicato dos mineiros, ela o enfrentou e derrotou.  Com o prestígio de ser o presidente do mais poderoso dos sindicatos, Arthur Scargill, inicia uma  feroz campanha contra o governo, opondo-se   ao fechamento das  usinas deficitárias. Thatcher não cedeu à pressão. As  minas de carvão britânicas eram improdutivas e dependiam de subsídios para sobreviver. O custo do carvão nacional custava no mercado 25% acima dos preços internacionais. Cargill , às medidas tomadas pela ministra, reagiu convocando  uma greve geral, certo de que o desabastecimento dobraria a vontade do governo. A greve durou tensos  16 meses ( 1984 a 1985 ) e o sindicato  acabou sendo reduzido a pó ao render-se à  Dama de Ferro.Ao quebrar o então mais poderoso sindicato do país, Thatcher fez valer seu programa de fechar as minas, mas conseguiu mais do que isso - ganhou o respeito da nação.Daquele ponto em diante, todos os sindicatos do país sabiam que não era possível chantagear o governo com greves.Este fato resultou no fim da ditadura dos sindicatos. As greves morreram.





Como Narciso, os sindicatos  estavam encantados pelo  poder, que acreditavam ainda ter. Ignoravam  que os tempos eram outros: havia novas  alternativas de  fontes de energia e o país tinha no comando uma estadista de convicções sólidas , um Churchill de saias. O sindicato dos mineiros ingleses subestimaram o seu poder desafiando o governo e perderam tudo. Aqui os funcionários públicos federais, crentes na sua força , entregam  os cargos de chefia,  para forçar aumento salarial. Ignoram haver com a nova tecnologia substitutivos à mão de obra. Além de ser uma ação arriscada, pois a opinião publica sente-se  desconfortável ao saber que  o governo não tem poder sobre uma categoria de servidores da nação. Se não desta vez, mas um dia deverá haver estadista que dê um basta para que  o exemplo  não  frutifique: amanhã ou serão os caminhoneiros ou a Petrobras ou…  O que se configura como desgoverno . Neste momento, o tiro saíra  pela culatra. A  rebeldia  pode ensejar a oportunidade de enxugar a obsoleta máquina pública, dando  uma demonstração de que o país não pode ficar refém da vontade daqueles que ganham para servi-lo e não para servir-se.  Ao fazer  pouco caso do amor da ninfa, como Narciso que só pensava na força da sua beleza, os paredistas  podem  precipitar  a hora de um  estadista, como Thachter , dar um   basta, provocando   o suicídio do narcisismo.

São Paulo, 08 de janeiro de 2022.

Jorge Wilson Simeira Jacob



quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

 Tudo é relativo!


Consta que pediram a Einstein que traduzisse de forma inteligível para os neófitos a teoria da relatividade. Com a genialidade que o tornou famoso, ele explicou: - se você sentar-se em uma chapa quente um minuto parecerá uma hora; mas se uma moça bonita sentar-se no seu colo  uma hora parecerá um minuto. Na vida tudo é relativo, como demonstra a minha teoria.


Realmente a relatividade apresenta-se em todos os aspectos da nossa vida. Como aconteceu com Ana Clara e Maria José. Elas nasceram gêmeas em uma bela manhã da primavera. Filhas de pais amorosos e bem situados social e economicamente, tiveram educação de princesas. A mãe, católica beata, deu-lhes uma sólida formação religiosa. O pai, funcionário público federal, pode proporcionar-lhes colégios particulares, estágios no exterior, clube da elite paulistana e todos os sonhos de consumo da juventude rica.


Todos os domingos a família Moreira dos Santos ia à missa da Igreja São Pedro e São Paulo, no bairro do Morumbi. Por coincidência no dia de Santo Antônio, padroeiro dos namorados, Ana Clara notou que um rapaz nos seus vinte anos a olhava fixamente. Sentiu-se atraída  por ele. Mas, recatada, evitava retribuir aos olhares. A cena repetia-se em todas as missas. Até que um dia, saindo bem depois dos pais, deu-se ao lado do Paulo ( este era o nome do flerte ). Ele apresentou-se: sou seu fã . Ela, surpreendida com a súbita declaração, quase morreu. O seu coração batia forte, o sangue fervia em suas veias, a voz ficou embargada. Ficou muda. Paulo, temeroso de ter sido inoportuno, quiz saber se podia acompanhá-la. Ela gaguejante diz que sim. 


Deste primeiro encontro seguiu-se o namoro, noivado e casamento. Evidentemente na mesma igreja com o vigário que era amigo da família. À benção religiosa, seguiu-se a clássica declaração: Unidos por Deus até que a morte os separe! Na mesma ocasião casou-se Maria José com Sérgio, um primo do Paulo. Foi uma festa só!


Paulo e Ana Clara viveram muitos felizes. Paulo, por influência do sogro, entrou para o serviço público, o que lhes proporcionava uma vida de classe média alta, mas com as regalias e segurança que só os funcionários públicos podem ter. O casal vivia para a família. Paulo era um marido perfeito: carinhoso, protetor, caseiro, sem vícios…era todo amor. Já Sérgio não era nada disto. Vivia para os amigos e não perdia uma happy hour. Chegava tarde em casa alcoolizado e pouca atenção dava à esposa. Não poucas vezes a torturava com palavras e mesmo fisicamente. Saltava de emprego em emprego. Nunca para melhor. Até  necessidades a família passava. Maria José, fiel aos votos do casamento, mantinha-se companheira para as alegrias e as dores. Mesmo sem ter alegrias, só dores.


O tempo passou. Paulo faleceu de um infarto, subitamente. A vida tornou- se um suplício para a mulher. De tão mimada que tinha sido, não conseguia sobreviver à ausência do que tinha sido o melhor marido do mundo. Tornou-se uma mulher infeliz, triste, amarga! Sérgio não durou muito mais. Foi assassinado pelo marido que o flagrou com a amante. Ao contrário da irmã, a vida voltou a sorrir para Maria José. Aliviada do traste do marido, tornou-se uma mulher feliz, alegre e doce!  Paulo foi um peso para a viúva por ter sido bom e perfeito como marido. Sérgio deixou a vida sem fazer a mulher sofrer, o marido ideal para uma viúva.  Pare para pensar: não é mesmo tudo relativo?


São Paulo, 06 de janeiro de 2022.

Jorge Wilson Simeira Jacob


quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

 A obesidade é um  mal do dinheiro !



Não é fácil deixar de seguir a manada. Onde o boi vai a vacada  vai atrás. É impressionante o poder da inércia no comportamento das pessoas. Basta observar o trânsito nas avenidas nas quais há faixa exclusiva para ônibus, exceto nos finais de semana. Nos sábados e domingos poucos são os que trafegam nestas faixas, ficam desnecessariamente em fila. Mesmo quando alguns se atrevem a usar as faixas de ônibus, poucos são os que percebem a oportunidade.O que demonstra como, por hábito , deixamos de questionar as decisões a tomar. 


Pensar criticamente é um desafio à lei do menor esforço. Não só o hábito nos condiciona, mas também a moda. Há modismos como tatuagem, jeans rasgados ou desbotados, que se espalharam pelo mundo. O mimetismo nivela a grande maioria,  que não para para pensar. Pertencer à tribo dá conforto. Mesmo a moda sendo ridícula como a tatuagem, que encobre peles bonitas, e extravagante como pagar altos preços por uma grife, que é uma tolice,  ela tem seguidores. Aderir a uma tribo é renunciar à individualidade, a cultivar a própria personalidade. 


A influência social atinge todos os campos: da saúde, da estética,  da cultura… a tal ponto que há medicamentos, cosméticos, modismos de valor duvidoso,  que são de apelo generalizado. A vaidade humana não conhece limites. Vai a ponto de sujeitar pessoas  a delicadas cirurgias para alterar partes do corpo que nada têm de feios ou errados. Simplesmente por não estar no gosto do momento.


A moda é volúvel. Antigamente a beleza feminina era a mulher gorda. Uma delas, muito obesa, ganhava do marido 100 dólares a cada quilo que engordasse. Agora a moda está favorecendo a magreza tipo manequim - sem traseiro, sem seios e sem carne - só ossos. O que criou um enorme mercado para os profissionais das clínicas de emagrecimento. Dietas existem para todos os gostos: só de proteínas, a do abacaxi, a de não misturar alhos com bugalhos…


Em comum as dietas partem de uma contabilidade de calorias :  ingestão e consumo. Os nutricionistas fornecem tabelas do valor calórico de cada alimento. Os resultados só surgem com enormes sacrifícios. Ainda assim, mesmo com a força da moda, a população dos países ricos está cada vez mais obesa. Com este resultado não estaria na hora de questionar se realmente a base da obesidade seria o controle das calorias?


Certamente não serão os profissionais do emagrecimento que irão abandonar a crença nos regimes. Como não serão os guardas do trânsito que irão avisar- nos  a trafegar na faixa de ônibus, nos domingos. Nós , os instintivos e dotados do senso comum, é que devemos parar para criticar esses tratamentos. Fiz isto! Das minhas observações, conclui  que a melhor dieta e a mais fácil de controlar, não deve ser a que mede calorias, mas a despesa. Em vez de 2000 calorias , adote-se um valor monetário de poucos reais/dia. O que engorda, na verdade, não são as calorias, mas pagar a conta. Como não há ( ou há pouco ) almoço grátis, o resultado será um corpinho enxuto. A prova: obesidade é um mal do dinheiro, tanto que os miseráveis são magros. Comida de graça não engorda! Engorda é pagar a conta! Coma à vontade…só se for grátis…e seja esbelto e feliz.


São Paulo, 05 de janeiro de 2022.

Jorge Wilson Simeira Jacob




terça-feira, 4 de janeiro de 2022

 As desigualdades.


É sabido que nem todos os problemas têm solução. Um deles, tão velho quanto andar pra frente, é saber quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?  Os crentes no criacionismo, os que acreditam em Deus, não se empenham na  solução deste enigma. Nenhuma das alternativas interfere na sua concepção do mundo. Já os evolucionistas, os darwinistas, acreditam que um ovo, que sofreu uma transformação, deu origem à galinha como nova espécie. Como ninguém pode provar nada, ficam elas por elas.


Outro dilema que se coloca é saber se o homem nasce bom e é a sociedade que o corrompe, como queria Rousseau. Ou que  o homem, por natureza, não é bom, mas invejoso, ganancioso, individualista… enfim que o homem é o lobo do homem , como deu a entender Hobbes. Os marxistas seguem a linha rousseauniano - o homem é bom por natureza, mas pervertido pela luta de classes. Bastaria eliminá-las e teríamos um novo homem: generoso, desprendido e solidário. Haveria, pois, que se eliminar as desigualdades. 

Outros, os seguidores de Hobbes, acreditam que a natureza humana é imutável, ainda que possa ser moldada.


Marx previa que após o socialismo, uma fase de aclimatação, um novo homem surgiria. Estando regenerado, daria condições para a fase ideal desta evolução, o comunismo. Este ser humano bom, puro,  poria fim à necessidade de um governo. Seria a recuperação do paraíso perdido, que ensejaria  o ideal libertário de um governo mínimo. Neste estado, sem governo,  não haveria espaço para as religiões, pois deixaria de existir o pecado no mundo.Em síntese,  o fim das desigualdades redimiria a humanidade do pecado original


Não havendo   laboratório para testar-se a origem dos galináceos, a resposta permanece no campo das crenças pessoais.Os  criacionistas e  os evolucionistas vão seguir cada um com a opção que os agrade. Ao contrário do que acontece com os que acreditam no Novo Homem, fruto da  reforma da natureza humana, que puderam testar a sua hipótese. O socialismo foi praticado na União Soviética por setenta anos. As classes foram reduzidas a somente duas: o povo e a nomenclatura. Porém, a natureza humana não deixou de ser aquela que Thomas Hobbes descreveu e o homem bondoso de Rousseau, na experiência igualitária, não floresceu. O resultado foi a falência da experiência com o retorno  da sociedade de múltiplas classes.


Diante do  fracasso da tentativa socialista da redução das desigualdades, a ideia não perde a validade moral e social.  Em uma   sociedade civilizada,  moralmente responsável, um indivíduo com formação humanista, não dorme o sono dos justos. Não consegue dormir em uma   ilha cercado de miseráveis por todos os lados. Socialmente, um cidadão, não pode ignorar a insegurança de um estado assentado em uma gritante desigualdade socioeconômica. Mas não será com a utopia de alterar a natureza humana que se resolverá este desafio. Será, sim, com uma política focada no  combate à miséria, consequência de um estado dominado por uma nomenclatura que se beneficia dos cofres da nação. Uma política que faça distinção entre as duas causas das desigualdades: a negativa e a positiva.negativa, indesejável, é a resultante da desigualdade de todos perante a lei e das práticas de governo - que não premiam o mérito na  partilha da renda nacional, mas a mamata. A desigualdade positiva, desejável, é resultado do mérito: do trabalho, da poupança, da inovação e da iniciativa. Um Steve Jobs, símbolo de desigualdade, trilhionario, aumentou a desigualdade de forma positiva. Ele criou riqueza para si mesmo e para todos os clientes da Apple. Não fez ninguém menos feliz!


São Paulo, 02 de janeiro de 2022.

Jorge Wilson Simeira Jacob