Algo está podre no reino da Dinamarca.
O mercado financeiro está nervoso. Os termômetros mostram a Bolsa em queda e o dólar em alta. O real foi a moeda com pior desempenho entre os países emergentes com alta de 1,46%, muito acima de cerca de 0,30% das moedas da Rússia, Peru e Argentina, as únicas a desvalorizarem frente ao dólar nesta sexta-feira ( 28.06.24 ).São sinais de desconfiança com a administração econômica do país.
Por debaixo dessa perda de credibilidade está o crescimento voraz da dívida pública. O setor público consolidado –formado por União, Estados, municípios e estatais– registrou déficit primário de R$1,062 trilhão no acumulado de 12 meses até maio. Esse foi o maior saldo negativo da série histórica, iniciada em 2002.
Mesmo excluindo o pagamento de juros da dívida, o rombo nas contas públicas está em alta e no maior valor desde junho de 2021. O déficit aumentou em maio no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mesmo com a arrecadação de R$203 bilhões no mês, que bateu recorde para o mês na série histórica, iniciada em 1995....
Acrescente-se que as divergências do Presidente da República com o Presidente do Banco Central contribuem para o aumento da insegurança. A relativa calmaria está cedendo vez ao nervosismo pelo fim do mandato do Roberto Campos Neto, que tem sido uma âncora para segurar a inflação . O final do seu mandato tem sido o estopim da atual crise.
Como a visão do Presidente assusta o mercado financeiro, a proximidade da troca do Presidente do Banco Central estimula as apostas mais pessimistas. A atual política do Banco Central tem sido um freio à equivocada ideia de ser o governo o indutor do crescimento.
O mercado não apagou da memória os tristes resultados do incompetente governo da Dilma Rousseff, que também acreditava que “ gastar é vida”.A Nova Matriz econômica do Ministro Mantega não suportou o teste da prática. Morreu de morte morrida para ser enterrado sem choro e nem velas.
A aposta de que as exuberantes reservas cambiais do Tesouro são uma âncora a assegurar a confiança dos mercados é uma quimera. Dinheiro não aguenta desaforo. Uma disseminação de desconfiança pode promover uma corrida contra o dólar e as reservas podem desaparecer em um instante.
Em situação semelhante, em que o mercado via com desconfiança a gestão da economia, George Soros derrotou o Banco na Inglaterra, que teve que suportar forte desvalorização da Libra. Apostar contra o mercado tem sido uma história de insucessos. E aqui não seria diferente. Acreditar em equilibrar-se em terreno escorregadio é mais do que otimismo, é ingenuidade.
O governo, em busca de um bode expiatório, acusa os especuladores como responsáveis pelo derretimento do real. Mas o que são esses “ especuladores” senão um valioso instrumento do mercado para inibir abusos à realidade econômica dos governos. Não são os especuladores que inventam oportunidades, eles tomam partido delas.
Ê a ação deletéria dos governos que criam as oportunidades para a especulação. Os especuladores com a sua virtuosa ação, antecipando -se aos fatos, provocam as correções de rumo das situações econômicas. A sua ação é um aviso para antecipar um fato indesejado. Como está acontecendo com o insuportável crescimento da dívida pública.
Em vez de buscar bodes expiatórios na ação dos possíveis especuladores, o sensato seria ver na sua ação um aviso premonitório de que algo está podre no reino da Dinamarca, como diria Hamlet.
São Paulo, 29 de junho de 2024.
Jorge Wilson Simeira Jacob
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