domingo, 30 de julho de 2023

 Os Homens Que Vendem A Alma.



Contada como piada, mas na verdade um retrato do caráter dos humanos, é a história do conquistador barato abordando uma possível vítima. Ele insistente diz “ Você é muito bonita! Gostaria de levá-la para uma noitada. Vamos marcar? Ao que ela indignada refuta: “Sou uma mulher casada, tenho princípios éticos e morais, sou uma pessoa de  convicções. Passe bem…”.


O conquistador não se deu por vencido e diz: “ Escuta a minha oferta. Eu lhe dou um casaco de peles e uma noite no Ritz” . Ela vira a cara com desprezo. Ele promete um automóvel. Nada. Aumenta a oferta  até prometer 1 milhão de dólares, pagos adiantados. Ela   balançou. E responde: “ Quando seria essa tal noitada?”


Foi surpreendida com a resposta: “ Nunca! Só queria saber o preço das suas conveniências para abrir mão das suas convicções. Agora sei: “você se vende por um milhão de dólares”.



Cabe  perguntar como sequência desta pilhéria : Todos temos um preço para as nossas convicções?


Thomás Morus não. Foi  decapitado por recusar-se a pagar esse preço. Lord Chanceler do Rei Henrique Viii - o barba azul - não abriu mãos do princípio da Igreja de ser o casamento  um sacramento sagrado, ao recusar intermediar com o Vaticano a dissolução do matrimônio do rei. Ficou na história o seu encontro na prisão da Torre de Londres, quando a sua filha suplicava que cedesse ao desejo real para não ser decapitado . Argumentava: “ se não for por você, o faça por nós, a sua família”.  Ele permaneceu irredutível: “ Minha filha, a grande maioria dos homens deixa-se levar pelas conveniências. Poucos, pela convicção. Eu quero ser um deles. E teve a cabeça decepada, mas não cedeu às conveniências. “Eu não vendo a minha alma!”


Aí estão dois casos, uma piada e um fato histórico , que fazem toda a diferença. Os homens de convicções são confiáveis. Pode-se prever as suas ações. Estão fundeados em bases sólidas , independentemente de estarem certos ou errados. Já os seres de conveniência não o são. Mudam de posição de acordo com o seu oportunismo. Se a nossa personagem  que inicia este ensaio, tivesse como convicção a infidelidade e não a fidelidade,  a sua decisão não seria incoerente. Seria natural. Mas as suas convicções eram relativas às oportunidades. Portanto, não há de haver razão para confiar num adepto das conveniências . Eles têm o seu preço para cada situação.


Na história da humanidade os homens de convicções fizeram a história, para o bem e para o mal. Os homens de conveniências só serviram para o mal. Como é natural somos governados pela maioria - os oportunistas, que agem de acordo com os seus interesses pura e exclusivamente. Raros são os líderes que se podem equiparar  a um Thomás Morus. A maioria pauta-se como a moça da piada. Vendem até a alma.


É raro entre nós, dando destaque a prática política,  heróis das convicções . Em recente entrevista a uma rádio gaúcha ,o Presidente Lula, entre outras das suas costumeiras escorregadelas, disse duas que desapontam.  Disse ele : “ A democracia é relativa “ e “ acredito na democracia por conseguir me eleger, senão não acreditaria”. Em outra ocasião relativizou a condenação por crime de roubo de um pão . Se tudo é relativo, nada é absoluto - tudo é permitido. Nada é crime, nada é pecado. 


Olhadas essas declarações , sob a  ótica psicanalítica, elas serão  classificadas como fortes sinais de um caráter moldado nas conveniências. As oportunidades determinam o curso das ações. Um pragmático vê o  bom no  que convém , independente de valores ético- morais. Um idealista,  no que está de acordo com as suas convicções. 


Como confiar em um homem que vende a alma?


São Paulo, 26 de julho de 2023.

Jorge Wilson Simeira Jacob




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