sexta-feira, 30 de setembro de 2022

 



O CORROSIVO DA DEMOCRACIA.


Desde as primeiras ideias de democracia na Grécia Antiga até aos nossos dias muita coisa mudou. Idealizada para ser um  governo de filósofos eleitos por uma  elite - os homens livres e proprietários de terras, não é mais. Com a dinâmica da sua evolução tem agora  os governos eleitos pelo voto universal - um voto sem qualificação. O poder mudou de mãos.


 Platão ( 428 a.C - 348 a.C ) filósofo ateniense, autor do livro  A República, temia o  governo eleito pelas massas. Tinha restrições a dar poder de voto ao povo.  Democracia sim, mas qualificada. Segundo ele, o governo deveria ser exercido pelos filósofos - Sofocracia ou “governo dos sábios”, que entendiam da administração. Em defesa da sua tese, ele perguntava: - “ a quem deve ser entregue o comando de um navio? Ao mais qualificado ou a um escolhido pelos marinheiros?” Antevia por intuição a ameaça do populismo.


O norte-americano James Madison, Jr (1751-1836)  conhecido na história de seu país como  um dos Pais Fundadores da nação e considerado   o principal dos redatores da Constituição americana, externava também preocupação com a democracia popular. Previa que a nação poderia tornar-se “uma massa de carentes ávidos por apropriar-se dos bens alheios”. 


Até a criação dos Estados Unidos da América ( 1 776 ) , com a libertação da Inglaterra,  a  organização das nações sob a égide da democracia praticamente caiu  em desuso. O mundo, desde a experiência grega, foi por séculos governado por regimes autoritários: ditaduras e monarquias. A democracia só ressuscitou na recém criada nação americana, que inspirou as nações libertadas das monarquias. Entre elas o Brasil.


Após a Proclamação da República ( 1 889 ) não se praticou a democracia por aqui. Os  governos brasileiros foram exercidos por ditadores ou escolhidos em eleições manipuladas, sendo notórios os currais eleitorais, o voto de cabresto e a política café com leite, que alternava o poder entre São Paulo e Minas Gerais. Com o fim  da ditadura Vargas, tem início a prática de eleições democráticas no país, excetuada a intervenção militar ( 1 964-1 985 ).


As previsões de Platão e de Madison, das maiorias avançarem sobre  as minorias,  realizaram-se , primeiramente na Itália com Mussolini e predominantemente na América Latina. Os demagogos tiraram proveito do populismo. Destacando-se Vargas no Brasil e Peron na Argentina. O populismo encontrou terreno fértil na região : ignorância, pobreza, uma cultura propensa ao “pai protetor” e ao líder carismático. Neste sentido Vargas , “ pai dos pobres “ foi um precursor  com as suas políticas populistas, o welfare state  inspiradas em Bismarck , cuja herança maldita foram as Leis Trabalhistas e a Justiça do Trabalho. 


Peron, na Argentina, foi  um populista mais ousado do que  Vargas. Por isto os danos foram maiores. Os “descamisados” avançaram na riqueza acumulada *  e destruíram a que foi uma das mais ricas e desenvolvidas das nações  do mundo. O seu governo é um  exemplo   dos estragos do populismo. Distribuiu  riqueza acumulada para gerar pobreza. 


O populismo , na  perspectiva histórica , tem vida curta no Brasil, mas plena de presidentes  demagogos. O suficiente para estiolar o dinamismo da economia. O populismo é uma moléstia de vida longa. Não morre de morte natural. E é altamente contagioso. Está em prática, além dos exemplos citados, em muitos países, ameaçando inclusive os Estados Unidos da América - que tem sido o modelo de democracia.


Como registro, por ser uma  exceção à regra,  há que se citar  o Chile, que conheceu o populismo de Allende, superou o populismo do governo Michelle Bachelet, votando esmagadoramente contra uma nova  constituição populista. Não por menos tem a maior renda per capita da América Latina. Enquanto a Argentina decreta feriado nacional, com milhares  de simpatizantes nas ruas,  para “ comemorar” o atentado com revólver de brinquedo contra a vice-presidente. O Chile faz por merecer ser rico…


O populista é um líder carismático, que tem como único objetivo o culto à sua personalidade e a manutenção do poder. Apresentam-se com a imagem de vítimas, perseguidos, mas capazes de realizar a redenção dos sofredores. Não tem compromissos com ideias e ideais, são oportunistas. Tanto os há com viés de esquerda como de direita. 


O populismo coroe a democracia. É como uma ferrugem que corrói os metais. Tomei emprestado, para nomear este texto, o título   do  ensaio  -  O POPULISMO : O CORROSIVO DA DEMOCRACIA** , do autor Fernando Flora, do qual sintetizo o decálogo do populismo:


 1 - o populismo exalta o líder carismático. 

 2 - O populista não só usa e abusa das palavras, ele se apodera delas.

 3 - O populismo fabrica a verdade.

 4 - O populista, na variante latino-americana, utiliza de forma discricionária os fundos públicos, até levar os negócios públicos à falência .

 5 - O populista reparte  a riqueza. Fica com a parte do leão e atira migalhas ao povo.

 6 - O populista alimenta o ódio de classes.

 7 - O populista mobiliza permanentemente os grupos sociais.

 8 - O populismo fustiga o inimigo exterior. Nada como ter um bode expiatório.

 9 - O populista despreza a ordem legal.

10 - O populista considera-se “especial”. Destinado a se perenizar no poder. Tem natureza totalitária, daí ser perigoso para a democracia.


Nos bons tempos o inimigo do Brasil era a saúva. Bons tempos!!! Agora são os populistas.  Tristes tempos!!! Ou  o Brasil acaba com os populistas ou eles vão acabar com o Brasil!





Notas

*Ao início do governo Perón, o Banco Central Argentino tinha reservas em ouro, o equivalente ao gasto pelo Plano Marshall , que recuperou toda a Europa dos estragos da segunda guerra mundial.

** O POPULISMO: O CORROSIVO DA DEMOCRACIA, ensaio de Fernando Flora, Kindle.



São Paulo, 05 de setembro de 2 022


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