domingo, 19 de junho de 2022

 CONCILIANDO O INCONCILIÁVEL.



O Dr. Irapuan da Costa Júnior, meu amigo pessoal , nome de prestígio no meio intelectual, social e político, colunista do Jornal Opçāo, repercutiu o meu ensaio -   A Razão e a Fé, em edição recente do Jornal. Fiquei feliz, pois a   pior coisa que pode acontecer a quem escreve é o silêncio dos leitores. A melhor é uma manifestação, que não importa se de agrado ou de desagrado. A escrita fica vazia quando não tem repercussão. É como o sermão aos peixes do Padre Vieira, por não ser ouvido pelos homens. 


O Dr. Irapuan deu vida ao meu texto. Agradeço, por isto, e,  pelo respeito e admiração que lhe dedico, sinto-me no dever de retribuir com algumas observações. Entre estas destaco  dois aspectos do seu comentário  que merecem uma análise. Uma é a divergência milenar da  discussão do confronto entre a  Ciência e a Religião.  História  quase tão antiga quanto a humanidade. Elas nos levaram das batalhas verbais  até as guerras. O que valida  a nossa  presente divergência de opinião.  A segunda,  é que  este tema foi  abordado por Herbert Spencer no seu livro - um clássico da filosofia - Os Primeiros Princípios, mostrando que  essas posições são conciliáveis. 


Diga-se de passagem que de  Spencer eu só conhecia o livro A Filosofia do Estilo e as frequentes citações das suas ideias. Tive a sorte de ser presenteado pelo tradutor, Dr. Irapuan , com um exemplar dos Primeiros Princípios,  e assim poder penetrar nas ideias desse filósofo inglês. Aqui atenho- me ao primeiro capítulo,  no tema  a Ciência e as Religiões, que o Dr. Irapuan sugere que os leitores conheçam. Segundo ele  Spencer mostra  que essas dualidades podem ser conciliadas - A Ciência e a Religião. O que no meu entendimento a Ciência explicaria as razões; e a Religião, daria a fé, que seriam conciliáveis . O que contraria o espírito do meu artigo. Até porque  faço distinção entre Religião e Espírito Religioso - que nem sempre andam juntos.


Realmente há uma diferença nas duas leituras, a do Dr. Irapuan e a minha. Nesse   primeiro capítulo,  Spencer dizia que: “ Se a Religião e a Ciência podem ( grifo meu ) conciliar-se , a base desta conciliação deve ser o mais profundo, amplo e acertado fato entre todos - o de que o Poder manifesto do Universo é completamente incognoscível  para nós*”.

Nesse posicionamento, na minha modesta opinião, o filósofo levanta uma hipótese - quando diz “podem”, não uma tese; e ao reconhecer a nossa limitação cognoscitiva, apela por um crédito: já que não está ao meu alcance… cedo. Não é isto um apelo à Fé?!


E é este o ponto da nossa divergência. Eu não sou um homem que age baseado na Fé. Se a Ciência não encontra razões, permaneço na dúvida. O Dr. Irapuan, sábio como é, transige. É um homem de boa fé. Aceita   o apelo de Spencer para a conciliação entre a Razão e a Fé.


Estas posições, evidentemente, simplificadas, não devem satisfazer plenamente aos leitores do Jornal. É tão somente uma posição que tomo em respeito aos meus leitores e ao meu mestre-amigo Irapuan da Costa Júnior. Com isto, as duas posições foram colocadas. Cabe agora aos leitores a leitura do livro Os Primeiros Princípios de Herbert Spencer e formarem a própria opinião  para terem a resposta de se é possível conciliar  o inconciliável. Uns continuarão como estão, outros poderão se juntar aos agnósticos — para nossa honra!


* Primeiros Princípios de Spencer , Página 15, Editora Ex Machina.


Jorge Wilson Simeira Jacob

Publicado no Jornal Opçāo,

Coluna Contradição, em 19.06.22


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