sábado, 25 de junho de 2022

 A OPORTUNIDADE PERDIDA.


As empresas caminham para a morte.  Todas   têm um ciclo de vida: nascem, crescem e morrem. As empresas geralmente crescem baseadas em algum tipo de inovação.  Quando as inovações  são copiadas e multiplicadas, aumenta a competição, a lucratividade cai. Ou as empresas adaptam-se ou somem. Serão substituídas por novas  empresas ou administradas com novas ideias, vindas das inovações .

 

É de  Joseph Alois Schumpeter, economista austríaco,  a teoria do crescimento e desenvolvimento econômico, ao considerar a figura central dos homens de negócio, da inovação e da constante destruição como pilares do capitalismo. A “destruição criativa”, como denominada por ele, é que enseja o desenvolvimento econômico. Ideias morrem… e outras nascem.Empresas que não se adaptam são substituídas. Alimentando um círculo virtuoso.


Assim como as empresas, as nações ganham ou perdem a liderança no mercado mundial nas ondas inovadores . A história econômica recente registra uma série delas que alteraram as posições das nações no ranking  internacional. A Revolução Industrial , por exemplo, impulsionou o desenvolvimento da Inglaterra. O Fordismo alavancou a  economia americana. A Informática deu posições vantajosas aos países asiáticos.  A Globalização deu vida à indústria chinesa, colocando-a como a segunda potência econômica mundial. 


Agora, estamos vivenciando as consequências de uma nova    onda de inovação. A indústria asiática,  produtora de produtos de baixo valor agregado, começa a disputar os mercados de produtos sofisticados: telefonia 5 G, Chips, celulares e  computadores, Inteligência Artificial… E sua  vantagem competitiva não se limita ao domínio tecnológico, mas se completa com uma mão de obra qualificada, disciplinada e laboriosa. Toda a corrente de produção é produtiva  e confiável. Não há sobressaltos nos  acordos negociados. Os salários baixos, como razão única  da competitividade, é coisa do passado e os produtos têm tecnologia avançada e preços competitivos pela economia de escala. Por isto são  consumidos  mundo afora. 

 

Tudo ia bem até a “rebelião trumpiana” à ameaça chinesa, impondo barreiras e dificuldades aos importadores americanos. Foi um choque na  Globalização, que se amplificou com a guerra Russa-Ucrânia e a pandemia, que desestruturaram a cadeia de suprimentos e transportes. O que tem levado os grandes produtores mundiais a questionar o risco da concentração dos fornecimentos e desejar alternativas . As nações e as empresas precisam adaptar-se à nova realidade para sobreviver. 


Estamos, pois, neste momento da história, como em todas as crises geradas por mudanças radicais, frente a oportunidades e ameaças. A pergunta objetiva, diante deste desafio, é :  o Brasil beneficiar-se-a das oportunidades presentes?    A resposta seria um parcial “ sim”.  Parcial por termos um histórico de insistirmos ao longo da história em perder oportunidades. Somos campeões mundiais de ignorar a sorte.


É  provável melhorarmos a nossa competitividade na área da agricultura. Pois , podemos melhorar ( e estamos fazendo ), a produtividade agrícola. Poderíamos, (e  não estamos fazendo ) ter melhorias na   infraestrutura de escoamento da produção e a simplificação burocrática para as exportações. Estamos muito defasados em relação aos grande produtores agrícolas do mundo. Mas temos vantagens geográficas incomparáveis, uma fronteira agrícola expandível  e um empresariado agrícola muito competente, que torna provável tirarmos benefícios do momento.


Infelizmente, não é provável uma significativa melhoria na nossa competitividade industrial. Não somos um substituto confiável na economia globalizada para fornecedores da cadeia globalizada. As nossas instituições são do arco da velha: - as leis e  regulamentos são complexos, burocráticos e volúveis;  -  o nosso judiciário está congestionado . Temos dos  maiores   contenciosos judiciais do mundo; a qualificação profissional deixa a desejar; estamos atrasados em relação ao marco civilizatório e um dos maiores nível de violência urbana do mundo. Pontualidade, respeito ao contratado, rigor na qualidade do trabalho e a rapidez decisória nos colocam desconfortavelmente em posição de igualdade com os latinos em geral. A consequência é termos uma cadeia produtiva de baixa produtividade. Não só produzimos caro como somos lentos para atender as solicitações dos compradores. Uma consulta a uma empresa chinesa tem resposta em horas, na brasileira em meses. E na  competição, a velocidade é tão importante quanto a qualidade da decisão.


Quando Trump  criou barreiras às importações chinesas, pedindo que as empresas americanas substituíssem a China como fornecedor, recebeu como resposta  não existir alternativa à mão de obra disciplinada e competente chinesa. Não era questão de preço ou de querer. Portanto, a atual onda trará oportunidades, mas a indústria brasileira  não está preparado para tirar proveito dela. O nosso parque industrial nunca foi submetido  à competição internacional. Tanto assim que é insignificante no mercado global .Os Estados Unidos continuarão a depender da China. Ou irão produzir no próprio país. E nós , mais uma vez vamos correr o risco de perder o bonde da história ! 


Não há custo maior do que a oportunidade perdida! Por isto, de tanto perder  oportunidades, temos uma parte da  população na miséria.



Publicado no Jornal Opçāo,

Coluna Contradição, em 26.06.22

Jorge Wilson Simeira Jacob





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