O velho lobo do mar.
A piada é antiga e mesmo sendo muito boa não justifica repetí-la pelo humor, mas sim para ilustrar uma situação. Vamos à parábola : A caravela aporta. Os marinheiros depois de meses no mar, com o recebimento dos soldos, correm para os bordeis do porto para saciar as necessidades. O velho lobo do mar, adianta-se aos marujos e comanda com autoridade: para lá, a primeira garota é minha! Todos cedem a vez. O velho lobo do mar despe-se, deita-se com a companheira, mas a ereção não acontece. Ele não tem dúvidas. Está faltando o balanço do mar, afinal a terra firme o afeta. Manda que a garota balance com força a cama . Nada acontece. Também faltam os assobios dos ventos. A garota, além de balançar a cama, imita os fortes ventos nas velas. Sem alteração, manda que ela entre as carícias , os assobios, o balançar da cama, emita os rugidos das madeiras. Fracasso total. Levanta-se, xinga a mãe da prostituta, dá-lhe um bofetão e berra: também com uma zorra desta quem é que pode exibir a virilidade?
Não só do mar aportam os velhos lobos . Podem vir de toda parte e muitos da política. A nossa história recente nos lembra de alguns. Jânio Quadros, aos desembarcar da caravela no Porto de Brasília, depois de uma eleição em que prometeu mundos e fundos, como fazem todos os candidatos, frustrou-se com os resultados. Pois, a sua presidência perdeu-se em coisas miúdas, como proibir biquínis nas praias, fechar as rinhas de galos e multar motoristas nas ruas. Sem outro projeto que não fosse uma ditadura, transferiu às forças ocultas as causas da sua impotência… e renunciou. Lulla, em arroubos megalomaníacos, gabava-se da sua ignorância, da sua pureza e atribuía aselites os seus fracassos. Fernando Henrique não teve pudor de comprar a reeleição, que agora renega, com o despudor de não ter tido tempo suficiente para realizar o seu programa socialista, que deixou incompleto. E agora, o Bolsonaro, cujo único projeto é a reeleição, como o velho lobo do mar, atribui a responsabilidade da sua inoperância aos outros poderes do estado. Mas, apesar de reconhecer que não consegue governar, por culpa das outros, pleiteia um novo mandato. Seria como se o velho lobo do mar, trocando de quarto, ou de companheira, ganhasse a virilidade perdida. Alegar que haverá melhoria no judiciário e no legislativo, com a nova eleição, é um me engane que eu gosto. Os eleitores e as suas aspirações não mudarão e os togados e os seus interesses também não . Será mais do mesmo!
Uma reeleição só servirá para retardar o acerto de contas com a realidade. Se as causas das causas, que é a cultura populista-socialista, não forem extirpadas da sociedade, não mudaremos a tendência declinante do nosso desenvolvimento. Só os de pouca ambição, os de visão curta, acreditam que os biquínis, as rinhas de galo, o covid 19 , são suficientes para salvar um governo. Uma reeleição só servirá para que os satisfeitos com o jogo miúdo deste governo durmam tranquilos mais alguns anos, para acordarem daqui a pouco, na mesma. É uma ilusão a de que fazer alguma coisa nos faz mudar para melhor. Os socialistas e os nazistas nunca foram acusados de omissos, pelo contrário, foram muito laboriosos. Eles são criticados por terem trilhado o caminho errado. Pior do que andar devagar na direção certa, é ir acelerado na direção errada. Insistir nas soluções paliativas, sem concentrar-se na causa das causas, é perder tempo precioso. Ou temos um candidato capaz de enfrentar o desafio de provocar um choque cultural ou é melhor deixar que a natureza siga o seu curso *. Será o que Deus quiser!
* Nota - respeito a clássica decisão de alguns de votar no menos ruim dos atuais candidatos, desde que com a consciência de que não será a salvação, mas tão somente protelar a solução das nossas mazelas.
São Paulo, 27 de agosto de 2021.
Jorge Wilson Simeira Jacob
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