quarta-feira, 25 de agosto de 2021

 O fruto proibido.


Quando foi expulsa do Paraíso por comer o fruto proibido, Eva,  perplexa com o desemprego, fez pela primeira vez na história a clássica pergunta: e agora, Adão?  Adão e a humanidade descobriram, desde então,  a necessidade de antever o futuro para sobreviver. Os gregos iam ao Oráculo de Delfos, os indígenas ouviam os pajés, as  ciganas liam as cartas, as mãos ou as bolas de cristal. Nós escutamos os cientistas políticos, os economistas, os meteorologistas,  modernos  futurólogos, que  organizados em  profissões,  estudam os fatos e, com as leis da sua ciência  tentam prever o porvir.


Uma Eva moderna, muito assustada com as  notícias políticas e econômicas, frustrada com o paraíso perdido, repete a  pergunta: e agora Adão? O que será do  futuro do Brasil? O que será deste país se a melhor alternativa à presidência é um populista-conservador, despreparado e belicoso. Incapaz de livrar-nos do Centrão e do governo obeso? 


Adão -   Eva, a situação está tão caótica que  nem os futurólogos profissionais, com as suas modernas bolas de cristal, sabem prever o que vem pela frente. Quando muito eles desenham cenários alternativos, mas deixam a  cada um fazer a sua aposta. Vou apresentar-lhe  algumas e você exercerá a sua opção. Antes de mais nada, enfatizo que, para mim ,  o grande desafio é uma revolução cultural do povo brasileiro. A causa das causas reside em uma cultura populista-socialista. A estabilidade política, a qualidade dos três poderes, dependem dos eleitores repudiarem esta crença. Só assim melhoraremos o nível de governança. Sem uma mudança  cultural dos eleitores, o Brasil nunca será o decantado país do futuro. Os políticos são o espelho do povo que representam. Se não mudar as ideias do povo, continuaremos  reféns  de uma classe política com viés populista-socialista, uma máquina de governo que administra em benefício próprio, e uma insegurança jurídica absoluta. A saída desta armadilha deveria ser pelas eleições. Neste momento as possibilidades são negativas, analisemos  os modelos disponíveis para as próximas eleições:

1 -  modelo populista-socialista , com a eleição de um Lulla, o que deverá nos enquadrar na situação de cada dia pior, sem perspectiva de melhoras. Seria um presidente manchado pela corrupção e formação de quadrilha. Culturalmente, um desastre!

2 -  modelo populista-conservador, reeleição do Bolsonaro, será mais do mesmo que já temos. Não entregou o choque cultural com as prometidas reformas: a política, a administrativa e a desestatização de cem por cento das estatais - para desamarrar as travas ao desenvolvimento. Não tem competência, visão, liderança, para reformar o país . Sem esta,  repetiremos o erro do governo Macri, fraco, mas melhor do que o de Bolsonaro, que devolveu o governo ao peronismo por não atacar o essencial que é mudar as perspectivas dos eleitores. Será um governo remendo, não uma promessa de estabilidade política. Nada mais do que um remendo!

3 -  modelo Temer, a chamada terceira via dificilmente vencerá as eleições e se vencer será um governo  moderado, sem grandes avanços , mas sem nenhum desastre. Será a manutenção do país no subdesenvolvimento. O Centrão continuará dando as cartas para viabilizar o “ governo de coalizão”.  

4 - modelo chileno/Chinês ou o venezuelano seria consequente de um golpe ou contragolpe, tema do momento. Estes modelos  de ditadura tem duas variantes: com ou sem liberdade econômica . Os ditadores, por natureza, por cacoete, tendem a intervir no livre funcionamento dos mercados. No Chile, uma exceção, Pinochet não interviu; na China, Xi faz  incursões episódicas, quando sente-se ameaçado; e na Venezuela, a economia, semi-estatizada,  foi entregue aos militares, que dão sustentação ao governo.  Nestes modelos o risco é enorme. A democracia é, a longo prazo, a melhor defesa da economia de mercado. E só a economia de mercado  pode tirar o Brasil da miséria, do desemprego e da desesperança. O risco é sério, pois os ditadores  são por índole intervencionistas e nada democráticos.  Se for uma ditadura militar, o risco será ainda maior. Deixarão de ser a garantia da Constituição. Os seis mil militares, já no governo, e outros que virão para dar suporte à ditadura, não abrirão mão das benesses gratuitamente. Neste modelo,  estaríamos   no pior dos mundos! 


Eva,  a desejada estabilidade política  e desenvolvimento são projetos para uma geração. E isto depende da sociedade repudiar o populismo-socializante, que hoje permeia a alma coletiva. Com essas alternativas que vimos, tudo dá razão ao pessimismo. Afinal, Eva, como os modernos futurólogos, só ofereço alternativas, mas a escolha é sua. O avanço da ciência está sendo insuficiente para prever o futuro. Estamos, outra vez, dependentes das  bolas de cristal. A nossa insatisfação e a tranquilidade continuam  dependendo menos da ciência e mais da estamina para suportar os dias angustiantes que enfrentaremos. Talvez o amadurecimento cultural que nos falta surgirá da descoberta de que a mãe de nossos males foi ter comido o fruto proibido da árvore do populismo-socializante. Agora teremos que comer o pão que o diabo amassou,  até purgar os nossos pecados. Enquanto isto, vamos comendo o fruto proibido!


 São Paulo, 26 de agosto de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob




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