segunda-feira, 23 de agosto de 2021

 Turbulência.


O comandante da aeronave avisa aos passageiros: estamos entrando em zona de forte turbulência, retornem aos seus assentos e afivelem os cintos. Os serviços de bordo estão suspensos. Os experimentados em voos sabem que turbulência não apresenta grande risco. Só algum desconforto, que, na  maioria das vezes,  são pequenos, passageiros ou até mesmo não acontecem. Um outro tipo de aviso, o do calendário político,  sinaliza a abertura da disputa eleitoral. São dois comunicados chamando  para um momento de atenção. Neste último, ninguém alerta o cidadão das turbulências eleiçoeiras * e dos previsíveis  desconfortos da temporada de caça dos eleitores, onde vale tudo. E o clima das disputas entre os candidatos vai aquecendo a cada etapa. Ataques e contra-ataques fazem parte do processo. De um lado, os  detentores do poder, candidatos à reeleição ou à novas posições,  qualificam-se exibindo as suas realizações e, para desqualificar os adversários, despertam  os fantasmas que estão adormecidos em nossas almas. Gritam como Louis XV para assustar os franceses: après moi, le déluge! ** 


Os opositores, não deixam por menos. Apontam as falhas reais e fantasiosas dos governantes. Prometem mundos e fundos. A imaginação só pára nos limites dos   desejos e da credulidade do eleitorado. Os candidatos, apresentando-se como  virtuosos e heróicos , os únicos com condições de nos livrar do dilúvio. O clima de terror, jogado em cima da sociedade,  cresce na medida em que, ao aproximar-se a eleição, aumenta  o risco da perda da posição desejada. Imaginemos, como comparação,  o ânimo dos passageiros se, ao lado da mensagem tranquilizadora do comandante, houvesse outra voz avisando: comecem a rezar, este comandante é um incompetente, desonesto, um ladrão… O  avião está avariado, sem combustível, há fogo nas turbinas, estamos voando em baixa altitude e a queda é inevitável. Rezem! Salve-se quem puder! 

Haja  coração para suportar esta  emoção!



A força do medo no ser humano é preponderante. Nada mexe mais conosco do que este sentimento. Jogando  com esse fato, nenhum candidato apresenta um  programa com pé e cabeça. O jogo é jogado no campo emocional. E o medo é tido como a mais eficaz das jogadas. Tudo bem se o medo  não fosse um mal conselheiro, justamente por sobrepor as emoções à razão. O pavor dos passageiros daquele voo e dos eleitores os tornam vítimas da insegurança e do desespero. Não importa quantas campanhas eleitorais vivenciamos, o medo não deixa de ser o mais forte instrumento de captar ou afastar os eleitores. Não há vacina para inocular os cidadãos contra a astúcia dos políticos em campanha. Sofremos e sempre estaremos em clima de ansiedade nas vésperas das eleições. Os nossos receios manifestam-se no valor da moeda, na limitação dos investimentos, na radicalização das nossas posições, enfim no medo do futuro.


Senhores apertem os cintos…estamos em plena campanha eleitoral. Não se deixem tomar pelas emoções. Os concorrentes aos cargos vão pintar em cores tristes o passado,  o presente e o futuro. Tudo, segundo eles,  está ou estará perdido, dependendo de quem disputa o seu voto. Neste momento crítico, em que os nervos veem à flor da pele, tomem os seus assentos, apertem os cintos, respirem fundo, mas, sobretudo, mantenham a calma. Depois da turbulência eleitoral, estaremos voando em céu de brigadeiro, sem ventos, sem nuvens , azul…Acabada a temporada de caça aos votos, os perdedores saem  de cena com os seus raios e trovões e os vencedores vão aparecer como tranquilizadores de todos os  passageiros, os que nele votaram ou não. E assim prosseguirá o nosso voo até que nas próximas eleições venhamos novamente a ser manipulados pelos profissionais da política.


Mas, na turbulência das eleições, rezem, pois nas mãos de qualquer um dos nossos políticos  a aeronave corre grande perigo, sendo  o maior deles cair nas mãos dos que se apresentam como donos das  almas mais puras do mundo.


  •  Eleiçoeiro é o verbete referente às eleições . Eleitoreiro,  aos eleitores. Não confundir.
  • Expressão atribuída ao Luiz XV, da França, significando o fim do mundo, o dilúvio.



São Paulo, 24 de agosto de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob



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