quarta-feira, 4 de março de 2020


A Próxima Vítima.



Tentar transferir a responsabilidade de um fato para outrem são cenas comuns no dia a dia das nossas vidas. Nada mais humano do que esquivar-se dos  fracassos ou das suas ameaças. Poucos suportam uma realidade negativa. Não só as crianças chutam a cadeira na qual tropeçam, adultos quebram raquetes ao errar uma jogada no tênis... As desculpas e os bodes expiatórios  sao  defesas psicológicas para não assumir as consequências dos   erros , para fugir de uma demonstração da própria  incompetência ou candidamente sair da cena . Este governo não está sendo exceção à regra.

O Presidente, mestre na arte da encenação , não suportando por formação autoritária ou falta de capacidade, furta-se a   liderar  todo o sistema de governo, mas, pelo contrário,  hostiliza o Congresso e atribui aos políticos  o pífio desempenho da sua administração - devida e indevidamente - dizendo como os repórteres da televisão :  eu fiz a minha parte, agora é com vocês!

Este procedimento têm em comum  com o da criança que chuta a cadeira e o tenista que quebra a raquete - a  transferência de uma responsabilidade. De incomum entre eles é que este  o faz por malícia para camuflar o seu jogo político. O  repúdio à má política de passado recente, não autoriza não praticar a boa política - a formação de uma base de apoio, o compartilhar o poder para viabilizar os programas de interesse nacional - a qual pode evitar a desfuncionalidade do exercício democrático.

 Myra Y Lopes, ensinava no seu livro Os Quatro Gigantes Da Alma que há três maneiras de  obter-se resultados - a imposição, a sedução e o convencimento. Cada uma delas tem a sua indicação e oportunidade. Destas três ações, neste período de governo, só temos assistido a aplicação de uma delas - a imposição. Como o Poder não é absolutista, pois dividido com o Legislativo e o Judiciário, o resultado tem sido frustrante para o Presidente e para todos nós, torcedores do seu governo.

O regime democrático exige  um líder que assuma como sua a  responsabilidade  de agregar  todos em torno do  objetivo comum de  governar o país no interesse da nação. A democracia é o regime da arte da negociação, da convivência, do diálogo e da busca do consenso. O absolutismo  não negocia, impõe. Neste impasse em que estamos, a derradeira esperança é que o Presidente, tire lições dos resultados e use do seu poder de persuasão e sugestão para viabilizar o governo evitando que  a democracia possa ser a próxima vítima.


As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
03 de março de 2020.


Um comentário:

  1. Prezado Jorge, li com certa surpresa seu artigo. Pensava-o bolsonarista ardoroso, como milhões. Reconforta-me ver que
    a lucidez toma conta de parte de formadores de opinião no Brasil.
    Chega de mitos medíocres, precisamos de estadistas ! Sds.

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