Até Onde? Até Quando?
As tropas estavam enfrentando violentas batalhas na frente de combate. A guerra já estava no seu quinto ano. Os soldados estavam exaustos física e mentalmente. Nestes anos só tinham experimentado o lado amargo da vida. Jovens, como eram, só viam, dia a dia, a perda de companheiros e, com isto, da esperança. O único sonho que acalentavam era a chegada do dia de voltar para casa - inteiros, se possível. Um dos soldado tinha uma missão diferente. Ele era o motorista do comandante-chefe das forças armadas. Apanhava, logo cedo, o general para transportá-lo aos diversos pontos do campo de batalha. Retornava ao rancho, geralmente, ao entardecer. A sua chegada era ansiosamente aguardada pelos soldados. Todos o abordavam com a pergunta: Pedro, o general falou quando a guerra vai acabar? Quando iremos para casa? Dia após dia a resposta era a mesma: não, não disse nada. Após muito tempo, sem perda das esperanças, insistiram na pergunta: Pedro ele falou alguma coisa, hoje? Nesse dia Pedro suspirou fundo, ficou pensativo, mostrando preocupação antes de responder. Sim, hoje finalmente ele falou...disse Pedro. Todos arregalaram os olhos, seguraram a respiração com receio da notícia. Finalmente um deles, o mais ansioso, pediu: Pedro, fale o que ele disse! Com ar desolado, Pedro diz: estávamos assistindo os bombardeios à distância, em silêncio, ele olha no fundo dos meus olhos e pergunta: Pedro, quando será que está guerra vai acabar?
A atual pandemia mal começou, segundo os entendidos. Estamos segregados sem previsão de retorno à vida normal. Ainda que poupados da moléstia, estamos sofrendo os males do isolamento (somos prisioneiros inocentes) . No tédio da solidão, cultivamos nossos hobbies e, no descanso deles, na prospecção do futuro. À ameaça do coronavírus , nos assusta também o possível colapso da economia. Os fantasmas que habitam os porões da nossa mente são assustadores. Os exemplos lembrados, de situações comparáveis, são os das guerras, que trouxeram o desemprego, desabastecimento, falência dos serviços públicos e desagregação social. Diante destas visões, duas preocupações são constantes : até onde? até quando? Respostas difíceis estando frente ao desconhecido e tendo em conta nos faltar uma liderança a inspirar confiança no futuro e assegurar estarmos no caminho certo. Acrescidas pelo fato de que nas guerras, as nações caminham unidas e o inimigo é comum. Nesta, que vivenciamos, corre paralelamente uma revolução. As nossas lideranças estão digladiando-se. A disputa eleitoral está em plena vigência sobrepondo-se ao interesse da sociedade, não deixando espaço para as necessárias reformas do estado.
Não temos, como o motorista Pedro, um general de quem esperar uma perspectiva dos acontecimentos, nem que seja para mostrar a sua perplexidade. Estamos sós , debaixo do intenso bombardeio de fake news, que não ajudam a vislumbrar respostas às nossas ansiedades. Sem horizonte, as especulações vão do mínimo ao máximo. Como o medo exponencia os perigos, estamos considerando que só ficaremos livres do inimigo covid-19 quando a grande maioria tiver sido inoculada, o que significa ondas de redução e da retomada da epidemia e do confinamento por longo período. Neste tempo as atividades econômicas sofrerão recuos significativos em consequência do aumento do desemprego e perdas nos períodos de afastamento do trabalho. Com este cenário, nada promissor, chegaremos às eleições de 2022 fragilizados: a economia deprimida e as lideranças desprestigiadas. O ambiente será propício para o retorno dos demagogos que arrebentaram o país. Se antes, não cairmos no estado de anomia , no caos, que abrirá espaço para um governo forte.
As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
25 de março de 2020.
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