A Chegada Do Desencanto.
A vida no galinheiro corre tranquila como de costume. As frangas cuidam da alimentação e da sedução do galo da sua preferência. As galinhas-mães estão focadas nos pintainhos a criar. O ambiente social é pacífico, ainda que perturbado vez ou outra pela disputa de uma minhoca ou guloseima. Um observador externo só pode concluir que a natureza galinácea é pacífica, solidária e relativamente igualitária. Crença abalada quando uma delas perde sangue em um ferimento. Aí a verdadeira índole do galinheiro aflora, com violência feroz, todas ao mesmo tempo, avançam disputando bicar o sangramento
Como um grande galinheiro, a nossa vida social também corre pacificamente. Cada um de nós cuida do seu pedaço - alimentação, abrigo, diversão, vaidades, poder...para si e para os familiares. Se as condições foram muito favoráveis, há generosidade para a família ampliada, até para os mais necessitados. A convivência é cordial, mas, se um membro do grupo social fraqueja, os desafetos, os indiferentes e os maldosos irão bicar as vítimas com as suas críticas, fofocas e segregação para atender a algum desejo não explicitado. Somos na verdade um grande galinheiro! Não só o maior deles, mas o pior se considerarmos o mundo da política, que inclui não só os eleitos mas também nós os eleitores.
Ilustrativa desse comportamento social frente a um ato de grandeza moral, mas entendida como uma fraqueza, é a história de Amador Bueno ( 1641 ) - o homem que não quiz ser Rei de São Paulo, evitando com o seu desprendimento que tornássemos uma colônia espanhola. Considerado um cidadão exemplar, gozando de posição sócio-econômica privilegiada, foi procurado em sua casa por uma multidão para aclamá-lo.Diante da sua recusa, por lealdade à coroa portuguesa, a turba contrariada se desencanta e, ao extravasar a frustração tentam linchá-lo. Foi obrigado a refugiar-se em um convento para salvar a própria vida. O humor das massas é instável - quando encantado, endeusa, desencantado , apedreja. Estas mudanças de ânimo das massas tem exemplos recentes em líderes aclamados como heróis amados, que foram transformados em bandidos odiados e indesejáveis. Collor, Dilma e Lulla foram execrados tão logo o carisma foi quebrado. Como as galinhas, que quando perdem a integridade são agredidas, os ídolos quando perdem o encanto são atacados pelos mesmos que, antes embevecidos, soltaram rojões, e que agora começam a bater panelas para anunciar a chegada do desencanto.
As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
20 de março de 2020.
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