sexta-feira, 20 de março de 2020

A Chegada Do Desencanto.


A vida no galinheiro corre tranquila como de costume. As frangas cuidam da alimentação e da  sedução do galo da sua preferência. As galinhas-mães estão focadas nos pintainhos a criar. O ambiente social é pacífico, ainda que  perturbado vez ou outra pela disputa de uma minhoca ou guloseima. Um observador externo só pode concluir que a natureza galinácea é pacífica, solidária e relativamente igualitária. Crença  abalada quando uma delas perde sangue em um ferimento. Aí a verdadeira índole do galinheiro aflora,  com violência feroz, todas ao mesmo tempo, avançam disputando  bicar o  sangramento

Como um grande galinheiro, a nossa vida social também corre pacificamente. Cada um de nós cuida do seu pedaço - alimentação, abrigo, diversão, vaidades, poder...para si e para os familiares. Se as condições foram muito favoráveis, há generosidade para a família ampliada, até para os mais necessitados. A convivência é cordial, mas, se um membro do grupo social fraqueja, os desafetos, os indiferentes e os maldosos  irão bicar as vítimas com as suas críticas, fofocas e segregação para atender a algum desejo não explicitado. Somos na verdade um grande galinheiro! Não só o maior deles, mas o pior se considerarmos o mundo da política, que inclui não só os eleitos mas também nós os eleitores.

Ilustrativa desse comportamento social frente a um ato de grandeza moral, mas  entendida como uma fraqueza, é a história de Amador Bueno ( 1641 ) - o homem que não quiz ser Rei de São Paulo, evitando com o seu desprendimento que tornássemos  uma colônia espanhola. Considerado um cidadão exemplar, gozando de posição sócio-econômica privilegiada, foi procurado em sua casa por uma   multidão para aclamá-lo.Diante da sua recusa, por lealdade à coroa portuguesa, a  turba contrariada se  desencanta e, ao extravasar a frustração tentam  linchá-lo. Foi obrigado  a refugiar-se em um convento  para salvar a própria vida. O  humor das massas é instável - quando encantado, endeusa, desencantado , apedreja. Estas mudanças de ânimo das massas tem  exemplos recentes em líderes aclamados como heróis amados, que foram  transformados em bandidos odiados e indesejáveis. Collor, Dilma e Lulla  foram execrados tão logo o carisma foi quebrado. Como  as galinhas, que quando  perdem a integridade são agredidas, os ídolos quando perdem o encanto são atacados pelos mesmos que, antes embevecidos,   soltaram rojões, e que agora  começam a bater panelas para anunciar a chegada do desencanto.

As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
20 de março de 2020.


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