O céu não é o limite.
Um certo grau da complexidade das coisas cria espaço para a especialização. Desde de Adam Smith, que defende a separação das tarefas, o mundo vem generalizando a sua prática. Surgem divisões dedicadas a diferentes campos : nas ciências, a sociologia, a economia..; na medicina, a oncologia, a geriatria…. E por aí vai o mundo se subdividindo em partes menores para permitir a busca do maior domínio do assunto.
Na mesma sequência surgem as empresas especializadas em avaliação de risco financeiro: Moody’s, Fitch, Standard & Poor’s ( The Big Three ). Elas encontraram um nicho entre os investidores que, impotentes para dominar todas as informações dos participantes do mercado, levam em conta as suas notas ( ratings ) dos captadores de recursos financeiros públicos e privados.
Os denominados “ graus de investimento” cujo nível superior se situa no triplo A ( AAA ) e descem 20 degraus até às junk . A avaliação leva em conta fatores como histórico de solvência, nível de endividamento, estabilidade política, segurança jurídica , entre outros. Os países economicamente mais desenvolvidos e que tenham o seu endividamento em sua própria moeda ( Japão e Estados Unidos ) têm proporcionalmente melhor espaço para endividar-se.
Um país ou empresa têm que remunerar o mercado de acordo com o grau de avaliação das Big Three para conseguir tomadores. Um exemplo recente é o da Alemanha, que coloca os seus bonds com taxas inferiores aos da Itália, ambas na mesma moeda euro - o que exclue o possível efeito inflacionário.
Entre todos os players do mercado, os Estados Unidos levam a vantagem de ser o emissor do dollar, que é reserva e meio de troca preferido pelo mundo. Tendo, ao contrário dos outros países, a opção de emitir a sua moeda em caso de não conseguir endividar-se no mercado. É uma situação ímpar, o que lhe dá credibilidade internacional e uma receita excepcional ( a impressão de uma nota, que colocada no mercado por 100 dólares, deve custar ao Tesouro talvez 1% desse valor ).
Entretanto, apesar das enormes vantagens de ser o emissor da moeda de preferência internacional, o dollar não tem o céu como limite. Consciência deste risco demonstrou Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, o mais bem sucedido banco do mundo, em recente debate em Washington com o Bipartisan Policy Center. Ele chama atenção para o crescente endividamento do tesouro americano, que já atingiu o número estratosférico de 34 trilhões de dólares , o equivalente a 120% do PIB, mas crescendo progressivante. Nesse cenário, o Congressional Budget Office estimou que o pagamento de juros sobre a dívida dos EUA possa superar as receitas totais do governo até 2030. Dimon diz : “ a proporção da dívida do país poderá chegar a 130% até 2035. Temos um pouco de tempo. Mas quando começar( uma escalada ) os mercados do mundo todo vão se revoltar".
Se “ revoltar” significa a fuga pelos mercados do dollar , os Estados Unidos poderão desencadear um choque político e econômico internacional. Pois terá que reduzir os seus gastos dramaticamente . Dimon teme o pior: “a redução do orçamento de defesa que ameaçaria o poderio militar do país, com sérios riscos para a segurança mundial”.
E, por consequência, provocaria um desarranjo na ordem economica internacional. Como aconteceu com o Império Britânico após o endividamento público para custear a Segunda Guerra Mundial. Será que Dimon pensou, mas não ousou dizer ser esse talvez o fim do Império Americano?
O endividamento público , que tem sido sustentado por taxas de juros que não refletem o risco dos tomadores, alimentaram a crença de que ,“ gastar gera progresso “. A Argentina é um exemplo prático. O céu não é o limite!
São Paulo, 31 de janeiro de 2024.
Jorge Wilson Simeira Jacob
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