Estatização das escolas de samba
Liberdade, liberdade!
Abra as asas sobre nós (bis)
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz
Samba enredo da Imperatriz Leopoldinense
Vencedora do Carnaval Carioca de 1989.
Tive um pesadelo nesta noite de carnaval — o presidente da República estatizou as escolas de samba em todo o território nacional, por considerá-las um patrimônio cultural da humanidade. Segundo o decreto-lei só poderão desfilar nas avenidas as escolas de samba do governo - é um monopólio ( o governo não gosta de concorrência ). Todos os dirigentes atuais serão substituídos por pessoas diretamente indicadas pelo governo.
Serão nomeados , no prazo de 60 dias do decreto, a diretoria, composta de oito membros e 12 conselheiros, escolhidos diretamente pelo presidente da república . A remuneração não poderá ultrapassar o teto salarial dos funcionários públicos. As organizações estarão subordinadas ao Ministério da Cultura , que terá um percentual obrigatório da arrecadação do imposto de renda a ser determinado de acordo com orçamento a ser aprovado.
Pesadelo porque as escolas de samba são um exemplo da eficiência e eficácia da iniciativa privada. Até aqui, o governo só coordena as regras ,de acordo com os dirigentes das escolas de samba , para disciplinar as exibições e determinar as vencedoras. A competição - que é a mãe do progresso ( não a necessidade ) , tem feito milagres. Os nossos desfiles das escolas de samba são admiradas internacionalmente.
As apresentações são uma atração sem igual. Sem a “ajuda” do governo dão um show de pontualidade, disciplina, coordenação e sobretudo criatividade. A dança, a música, a acrobacia, a moda, a magia… enfim todas as artes fazem parte do espetáculo.
É um pesadelo pensar que o feito de 1989, quando a Imperatriz Leopoldinense venceu o desfile do ano com o tema” Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós” , não se repetirá . Nada mais doloroso do que sonhar que vamos por a perder a liberdade de ação que permitiu uma escola usar dos seus talentos para ganhar o troféu do ano..
As escolas de samba são uma das melhores demonstrações da força da livre iniciativa. Um mínimo de regras as faz dar uma demonstração das inúmeras possibilidades que o engenho humano é capaz de realizar. Considerando o desafio de idealizar um projeto ( descobrir a oportunidade ) e colocá-lo em execução ( enredo, música, idealização e confecção de centenas de fantasias, carros alegóricos, ensaios por um ano, a pontualidade da exibição…) é um espetáculo artístico, uma mostra da capacidade empreendedora do ser humano em regime de liberdade.
O pesadelo foi antever um desfile das escolas de samba estatizadas: custo elevado, corrupção, desorganização, samba furado, atrasos e espaços vazios para enaltecer temas caros ao governo: “ gastar é vida, a nova economia, ministro bom é o que gasta, contabilidade criativa ” , … e por aí corre o samba enredo. As figuras de destaque são a Dilma como modelo de lucidez , o Mantega como mestre escola e o Lulla como Imperador de um país que pretende ser africano.
O auge do pesadelo é quando a incompetência, os desmandos, a corrupção tomarem conta e o resultado será a falência do nosso Carnaval. O sonho bom seria a privatização - que, por contrariar interesses, será tema dos próximos desfiles das escolas, que estatizadas vão criminalizar a liberdade valorizada pela iniciativa privada e pedir mais governo. E, se não tivermos menos governo, nunca mais se poderá esperar que a liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós.
São Paulo, 12 de fevereiro de 2024.
Jorge Wilson Simeira Jacob
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