OS OTIMISTAS E OS PESSIMISTAS.
Hitler não guardava segredo dos seus planos de perseguir os judeus. Tanto que muitos deram-se conta e saíram da Alemanha enquanto era possível. O que fez todo o sentido. O que não fez nenhum foram os milhões de judeus que esperaram pelas câmeras de gás. Qual a razão dos que se deram conta do perigo e fugiram enquanto era tempo? Por que estes agiram e outros não? Estas foram indagações que ao longo do tempo incomodaram os que tentaram entender essa dualidade do comportamento humano.
Os livros sobre a perseguição nazista aos judeus esclarecem a dúvida. Os judeus ricos e poderosos acreditaram que aproximando-se de Hitler, inclusive financiando o nazismo ( nacional socialismo ) ,como amigos seriam poupados. Outros, por falta de condições econômicas e ligações no exterior, simplesmente não tinham à mão a alternativa de emigrar. Alguns tinham posições de prestígio — juízes, professores universitários, políticos e grandes empresários — o que impactava muito na decisão de abandonar os seus patrimônios e começar uma nova vida no desconhecido.
Seria ignorar a natureza humana atribuir somente ao apego aos bens materiais como a causa única da decisão. Os aspectos sociais, família, amigos, companheiros, e de cultura, hábitos, valores, são raízes que nos prendem ao solo. Sendo ainda considerável a “ lei do menor esforço” e o “wishful thinking”. Gostamos, como autoengano, acreditar ser as ameaças momentâneas e passageiras.
Os que permaneceram na Alemanha foram os que tinham propriedade e/ou prestígio a perder. Para não perder os anéis perderam os dedos. Alimentaram um otimismo que custou a vida e sofrimento de milhões. Salvaram-se os pessimistas, que acreditavam nas ameaças, e aceitaram o sacrifício de começar uma vida nova longe das suas raízes. Saíram da Alemanha com a roupa do corpo e o apoio de familiares e amigos no exterior.
Estamos, portanto, diante de duas visões de mundo: a dos otimistas e a dos pessimistas. Os primeiros, em geral, são cegos que se recusam a ver. Atém-se a árvore e não enxergam a floresta. Ao contrário da visão pessimista que não se limita à árvore mas está atenta à floresta. Estas considerações são oportunas diante dos resultados das últimas eleições no Brasil. Elas mostraram uma sociedade rachada pela metade: cinquenta e um por cento com valores socialistas, populismo estatizante, e o restante adeptos dos valores conservadores e liberais. É um país dividido também entre norte e sul, em tal proporção que faz temer uma indesejada possível secessão em dois mundos distintos.
Certamente os otimistas vão fundamentar as suas esperanças nas suas boas relações com o governo, que podem ter apoiado nas eleições, na crença de que este ou aquele poder não permitirá situações extremadas, e o atual governo já é conhecido e no passado não foi revolucionário. Assim sendo, não assusta. É um tigre de papel. Deixam de lado a floresta, a história da América Latina com setenta anos de tirania em Cuba, e décadas de socialismo-estatizante na Argentina e Venezuela.
Já os pessimistas vão preocupar-se com o fato de ter o atual líder do governo uma idade avançada, uma conta a acertar com aqueles que o perseguiram e a experiência de viver as amarguras de estar na oposição nos últimos quatro anos. Portanto não deverá haver ânimo para ficar nas meias medidas. A sustentação do poder exige ser implantado com rapidez e profundidade as ideias socialistas-estatizantes. Antes que seja tarde. Acreditam que o partido no poder não voltou para quatro anos, mas como os outros membros do Fórum São Paulo para perpetuar-se no poder.
Neste momento os pessimistas perguntam: está na hora de abandonar o Brasil? Pergunta a ser ignorada pelos otimistas, que têm as suas razões para apostar no futuro. Mas a ser considerada pelos pessimistas ao ponderar as ameaças veladas embutidas na promessa de mais governo a interferir na vida econômica e social. E ao incremento da divisão — o nós e eles — que bons frutos não darão. Pois quem planta a cizânia , colhe tempestade. Raios e trovões a cair nas cabeças dos que serão responsabilizados pelos fracassos políticos previsíveis.
Entretanto, a nossa geração não tem a escolha de emigrar. Lutamos até agora e não vamos jogar o bebê fora com água do banho. Vamos continuar na briga, cada um com as suas forças, pelo bem da nossa pátria. Aqui estão as nossas raízes e o nosso coração. Não podemos desistir do país, ainda que a luta seja de longo prazo, como tudo leva a crer. Temos que continuar nas nossas trincheiras lutando pela ressurreição das ideias corretas para salvar o Brasil.
Essa é a nossa determinação e vontade. Sentimo-nos , entretanto, impotentes frente os jovens que estão saindo das faculdades e manifestam desilusão com o país. Questionam como será o futuro em um país em que o melhor emprego está na carreira de funcionário público ou no exterior. Por que não emigrar para outras pragas, business friendly, onde o mérito é reconhecido e respeitado?
O que responder quando nos confrontam com a história dos judeus otimistas, mortos nas câmaras de gás, e dos pessimistas, que enriqueceram em Nova York?
Não tenho a resposta.
São Paulo, 31 de outubro de 2022.
Jorge Wilson Simeira Jacob
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