domingo, 15 de outubro de 2023

 Não há mais cruel tirania do que aquela que se exerce à sombra das leis e com as cores da justiça.

Montesquieu 



Entre as crenças de Rousseau ( Contrato Social )  e Hobbes ( Leviatã )  está a distância do bem e do mal.  O primeiro acreditava que o homem nasce bom , mas degenera na vida social. Ao contrário de Hobbes que via a maldade como parte da natureza humana. A história dá razão a este de que  o homem é o lobo do homem. No reino animal também há eventos de maldade, mas só os humanos a institucionalizaram.  O homem, a par dos inúmeros atos pessoais, na sua história, escreveu capítulos negros. O ser humano é mau por natureza.


Um indivíduo ou um ato mau pode ser , olhado com benevolência, uma exceção, uma degeneração, motivada pela  impulsividade .  Entretanto a maldade organizada, institucionalizada, como foram a escravidão, a Santa Inquisição e o holocausto, sem esquecer das tiranias comunistas, não merecem perdão. Não há como não pintar com as piores cores o crime praticado contra muitos ao longo do tempo.


A escravidão é de todas as violências a que mais tempo durou e mais vítimas fez. Foi praticada desde a antiguidade pelos assírios, egípcios, hebreus e só oficialmente foi abolida em 2007, na Mauritânia. A Santa Inquisição, instituída pelo Papa Gregório IX, em 1231, para combater os hereges, fez vítimas durante quatro séculos. Assim como a escravidão  não foi obra de um homem, mas de uma instituição. No que se diferencia do holocausto que teve vida mais curta ( de 1933 a 1945 )  e liderada pelos nazistas. Ainda que esta não tenha ficado nada a dever pela crueldade. Fez tantas vítimas, seis milhões nos campos de concentração, mas muito menos do que  nos setenta anos  de Stálin, Pol Pot e Mao Tse Tung ao longo dos governos comunistas.


De todas esses sacrifícios humanos a que tem merecido menos divulgação,  proporcional á sua dimensão,  a que mais vítimas fez e por  mais tempo foi praticada — foi a escravidão. Uma falha amenizada pelo livro “ Escravidão” do escritor Laurentino Gomes ( 1* volume da trilogia , 479 páginas, Editora Globo , $31,09  ), que aborda desde o primeiro leilão de escravos em Portugal , em 8 de agosto de 1444  até a morte de Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro de 1695. Uma leitura agradável. É um relato histórico com o sabor de  romance. Não só é rico sobre o trágico evento como entretém pelo texto leve e muito bem fundamentado. 


É uma leitura para entender boa parte da nossa história. O Padre Antônio Vieira dizia que: “ o Brasil tem seu corpo na América mas a alma na África. E tinha conhecimento de causa. Os jesuítas, irmandade à que pertencia, explorou em suas inúmeras fazendas, com a mesma crueldade dos colonizadores, o trabalho escravo. 




Somos hoje  a maior população negra no mundo, depois da Nigeria;  importamos 5 milhões de escravos africanos dos 12,5 vindos para a América no período de três séculos e meio; época houve que o número de negros escravizados superava a população branca ;  e fomos dos últimos a abolir a escravidão. O negro virou sinônimo de escravo no Brasil.


No processo escravizador, chocante foram  as perdas humanas, pelo maltrato, desde a captura na África até os leilões dos escravos. Mais da metade morria antes de serem vendidos. Os mais fracos eram lançados aos tubarões ainda vivos. A desumanidade ia a ponto de os marcar com ferro em brasa, como se faz com o gado.  Grande número morria de infecção no processo. A crueldade não tinha limites, como pode-se ler nessa rica história.


Nas palavras do autor: “ nenhum outro assunto é tão importante e definidor da nossa identidade nacional. Estudá-lo ajuda a explicar o que fomos no passado , o que somos hoje e também o que seremos daqui para a frente”.




São Paulo, 12 de setembro de 2023.

Jorge Wilson Simeira Jacob


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