sábado, 5 de junho de 2021

 O país do passado.


O Brasil tem um enorme passado pela frente.

Millor Fernandes.


Era uma vez um país que se acreditou seria o  país do futuro. Quem quer que avaliasse  esta promessa acabava concordando: o Brasil estava condenado a ser o país do futuro.Stefan Zweig, renomado escritor exilado em Petrópolis, executando uma encomenda do ditador Getúlio Vargas, cunhou esta expressão  em convincente texto. O livro correu o mundo e implantou a crença de que o futuro estaria aqui. Argumentava o autor de que de cada ângulo que se olhasse tudo aqui mostrava oportunidades.  Ele só enganou-se ao não considerar a nossa vocação de tirar vantagem de tudo. O que deu espaço para o socialismo-populista.


Stefan Zweig , judeu austríaco, fugindo do nazismo veio para o  Brasil. Incrível que  sendo vítima de uma ditadura tenha escolhida a de Vargas para viver. À par da distância da guerra, o território nacional  era na época reconhecido pela sua  potencialidade. A ditadura vigente tinha  os seus crimes políticos, mas eram poucos em relação às outras tiranias. Havia um clima de liberdade no ar: o governo era mínimo, os impostos baixos, e as instituições favoráveis ao espirito empreendedor. Doutra parte a  índole do povo era pacífica e sociável. Era visível que, com o desenvolvimento  iniciado nos Estados Unidos, o Brasil estava destinado a um lugar importante no cenário econômico mundial. Tudo estava a favor e nada contra. Mas , países com tudo contra, sem recursos naturais, território limitado, cultura diversa da ocidental como Japão, Correia do Sul, deixaram  a nossa economia para trás. Sem esquecer da China, um grande território  com uma população imensa e miserável, que dá passos largos para ser a maior economia mundial.


O Brasil conseguiu a proeza de ser mais dinâmico economicamente no passado do que no presente. Nossas posições relativas nas escalas de aferição de desenvolvimento, de qualidade de vida, de renda per capita  e de nível educacional veem caindo ano a ano. De oitava economia no mundo, hoje somos a décima segunda. As nossas instituições governamentais  fazem parte da vergonha nacional. Mas nem tudo está perdido! Podemos (ironicamente) argumentar  que antigamente tínhamos uma elite muito preparada intelectualmente e uma massa dominante de analfabetos. Agora estamos reduzindo as  desigualdades educacionais. Com a piora do nível de ensino, o pior do mundo,  e  as cotas de admissão nas universidades, baixando o nível dos discentes,  seremos uma nação igualitariamente de semianalfabetos. Hoje já é raro quem saiba interpretar uma leitura. Não só se lê pouco, de baixa qualidade e o entendimento é superficial, não se apreende os conceitos básicos. O que esperar de semianalfabetos além da eleição do mesmo  socialismo-populista, que comprometeu o nosso futuro? Assim, hoje, de cada ângulo que se olhe , ao contrário da visão de Zweig, o que mais se vê são as oportunidades perdidas. Realmente surpreendemos os otimistas conseguindo ser o país do passado sem ter chegado a ser o do futuro. 




O que se passou?


Pura e simplesmente castramos o espírito empreendedor. Não somos mais uma economia de impostos mínimos , a nossa legislação trabalhista desestimula empregar e a nossa burocracia desincentiva o investimento e a produtividade . A nossa  insegurança jurídica só é comparável às piores do mundo. No final, os sacrificados são os desempregados e a classe média. Só não estamos no nível dos países atrasados africanos devido à nossa agricultura, que por sorte o governo ainda não decidiu proteger e regulamentar. 


A The Economist, cujas matérias de capa, no passado, tiveram coberturas entusiastas ao Brasil, na ultima edição, afirma com desalento que: poucos países caíram tão depressa. Para recuperar-se, o Brasil tem de reconhecer o que deu errado * . Infelizmente a nação recusa-se a cair na real, continua dormindo em berço esplêndido sob um céu azul e resplandecente abençoado por Deus.


Acorda Brasil para deixar o estigma de ser um país com enorme passado pela frente.


São Paulo, 04 de junho de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob



*Brazil’s dismal decade

Few countries have fallen so fast. To recover, Brazil must recognise what went wrong.

Above all, the government needs to serve the public rather than itself. That means reducing the privileges of public-sector workers, which eat up an unsustainable share of government spending. Politicians must not spare themselves either. Office holders should have fewer legal protections. They should shake up the electoral and party systems to let new blood into Congress.


On the latest pisa tests of learning among 15-year-olds, Brazil came 57th out of 79 countries in reading. One analysis estimated that it would take 260 years to reach the oecd average. After 15 months without in-person classes, the outlook is worse. Some 15% of six- to 17-year-olds may have dropped out of school.


The Economist, 05 de junho de 2021.



Este blogue respeita o seu tempo. Por favor, caso não tenha interesse em receber estas reflexões, solicite a exclusão pelo e-mail jwsjbr@gmail.com . Basta digitar a palavra NÃO.

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