segunda-feira, 14 de junho de 2021

 


Xô, xô, Satanás!



Uma parte da nação brasileira sofre do complexo de vira-latas, na conhecida classificação do escritor Nelson Rodrigues. A outra parte, sofre do complexo de corinthiano*, de minha autoria. Vira-latas é um complexo de inferioridade do brasileiro em relação ao resto do mundo. Ele só  percebe as mazelas do país e as deficiências do nosso povo, ignorando as suas conquistas. Qualquer insucesso ou críticas derrubam a baixa estima dos vira-latas, deprimindo-os. É uma deficiência emocional exarcebada pela incapacidade de sopesar racionalmente todos os fatos em  busca do possível equilíbrio. Na última Grande Guerra, a máquina de propaganda nazista, como parte da guerra psicológica , para abalar o  moral, fazia transmissões radiofônicas dirigidas  aos nossos  expedicionários como macaquinhos mal amestrados incapazes de enfrentar a elite militar germânica, Não tão longe, nem tão distante, um presidente de país vizinho para enaltecer a etnia do seu povo, menosprezava a nos brasileiros e aos mexicanos como tendo vindo das selvas,  enquanto eles vieram de barcos.


Contrapondo-se aos vira-latas, temos no outro extremo os  corinthianos.  Corinthianismo é o complexo de superioridade sobre os demais. É um estado de espírito.  Não é uma escolha racional,  mas um fanatismo religioso. Nada abala a sua devoção. Até a exibição de ignorância de um ex-presidente do Clube era apreciada.  ( Não por menos o Lulla é corinthiano! ) Nada abate a autoestima desta gente. É de admirar a sua resiliência psicológica, mas  deve preocupar  a falta de equilíbrio emocional. Falta a eles a serenidade para enfrentar a realidade, a qual está em constante mudança. Pois, como tudo na vida, erros acontecem  e  ajustes  são necessários. Com isto, é válido para ambas as correntes psicológicas  questionar os resultados. Mas o fanático é cego, e o maior deles é o que não quer ver!



Nesta altura do texto, torna-se necessário dar-se nome aos bois,  fazendo melhor uso do nosso idioma,  traduzindo as classificações acima usadas: 


  • Vira-latas ou negativistas/derrotistas - complexo de inferioridade  que leva os indivíduos  a fixar-se  só os aspectos negativos dos fatos, chegando mesmo, em casos mórbidos, a torcer pelo pior. Vivem em  estado de absoluto desalento. Na história da pátria negam-se  a ver os avanços da sociedade, mas só focam  os aspectos negativos: corrupção, semi-analfabetismo, desorganização, demagogia, desemprego…


  • Corinthianos ou ufanistas/utópicos - complexo de superioridade que leva o indivíduo a olhar só os aspectos positivos, chegando ao extremo de negar a realidade, se o fato contraria a sua crença. Estão sempre em estado de alerta para defesa das sua posições. Qualquer conquista ou possibilidade dela é razão suficiente para referendar o seu discurso. Sistematicamente não se rendem à realidade de uma posição fracassada e à validade de busca de um outro caminho. E quando pioram as situações, em vez de dúvidas, mais  fanáticos ficam. 



Estes extremismos,  causaram  uma confusão semântica. Distorceram o sentido do termo otimismo tornando-o, na linguagem popular,  o politicamente correto -  uma obrigação. Este deixou de ser uma escolha, uma posição para ser vista como uma virtude, independentemente de estar assentado em fundamentos  emocionais. Já o termo pessimismo transformou-se no politicamente incorreto . O vocábulo   perdeu a conotação de uma visão crítica, quando racional,  para ser vista como um vício. Geralmente não se faz a distinção entre o ser e o estar otimista ou pessimista. Um referir-se-ia à natureza do indivíduo, outro às circunstâncias. As causas destas distorções devem ser explicadas: os complexos pela psicologia e a confusão vernacular pela filologia.  


Xô, xô  Satanás que,  com as suas confusões, está matando a virtude da racionalidade. 


  • a torcida conrinthiana não é, na essência,  diferente das outras, mas tem a fama de ser a mais fanática.


São Paulo, 14 de junho de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob 



Este blogue respeita o seu tempo. Por favor, caso não tenha interesse em receber estas reflexões, solicite a exclusão pelo e-mail jwsjbr@gmail.com . Basta digitar a palavra NÃO.

Nenhum comentário:

Postar um comentário