Xô, xô, Satanás!
Uma parte da nação brasileira sofre do complexo de vira-latas, na conhecida classificação do escritor Nelson Rodrigues. A outra parte, sofre do complexo de corinthiano*, de minha autoria. Vira-latas é um complexo de inferioridade do brasileiro em relação ao resto do mundo. Ele só percebe as mazelas do país e as deficiências do nosso povo, ignorando as suas conquistas. Qualquer insucesso ou críticas derrubam a baixa estima dos vira-latas, deprimindo-os. É uma deficiência emocional exarcebada pela incapacidade de sopesar racionalmente todos os fatos em busca do possível equilíbrio. Na última Grande Guerra, a máquina de propaganda nazista, como parte da guerra psicológica , para abalar o moral, fazia transmissões radiofônicas dirigidas aos nossos expedicionários como macaquinhos mal amestrados incapazes de enfrentar a elite militar germânica, Não tão longe, nem tão distante, um presidente de país vizinho para enaltecer a etnia do seu povo, menosprezava a nos brasileiros e aos mexicanos como tendo vindo das selvas, enquanto eles vieram de barcos.
Contrapondo-se aos vira-latas, temos no outro extremo os corinthianos. Corinthianismo é o complexo de superioridade sobre os demais. É um estado de espírito. Não é uma escolha racional, mas um fanatismo religioso. Nada abala a sua devoção. Até a exibição de ignorância de um ex-presidente do Clube era apreciada. ( Não por menos o Lulla é corinthiano! ) Nada abate a autoestima desta gente. É de admirar a sua resiliência psicológica, mas deve preocupar a falta de equilíbrio emocional. Falta a eles a serenidade para enfrentar a realidade, a qual está em constante mudança. Pois, como tudo na vida, erros acontecem e ajustes são necessários. Com isto, é válido para ambas as correntes psicológicas questionar os resultados. Mas o fanático é cego, e o maior deles é o que não quer ver!
Nesta altura do texto, torna-se necessário dar-se nome aos bois, fazendo melhor uso do nosso idioma, traduzindo as classificações acima usadas:
- Vira-latas ou negativistas/derrotistas - complexo de inferioridade que leva os indivíduos a fixar-se só os aspectos negativos dos fatos, chegando mesmo, em casos mórbidos, a torcer pelo pior. Vivem em estado de absoluto desalento. Na história da pátria negam-se a ver os avanços da sociedade, mas só focam os aspectos negativos: corrupção, semi-analfabetismo, desorganização, demagogia, desemprego…
- Corinthianos ou ufanistas/utópicos - complexo de superioridade que leva o indivíduo a olhar só os aspectos positivos, chegando ao extremo de negar a realidade, se o fato contraria a sua crença. Estão sempre em estado de alerta para defesa das sua posições. Qualquer conquista ou possibilidade dela é razão suficiente para referendar o seu discurso. Sistematicamente não se rendem à realidade de uma posição fracassada e à validade de busca de um outro caminho. E quando pioram as situações, em vez de dúvidas, mais fanáticos ficam.
Estes extremismos, causaram uma confusão semântica. Distorceram o sentido do termo otimismo tornando-o, na linguagem popular, o politicamente correto - uma obrigação. Este deixou de ser uma escolha, uma posição para ser vista como uma virtude, independentemente de estar assentado em fundamentos emocionais. Já o termo pessimismo transformou-se no politicamente incorreto . O vocábulo perdeu a conotação de uma visão crítica, quando racional, para ser vista como um vício. Geralmente não se faz a distinção entre o ser e o estar otimista ou pessimista. Um referir-se-ia à natureza do indivíduo, outro às circunstâncias. As causas destas distorções devem ser explicadas: os complexos pela psicologia e a confusão vernacular pela filologia.
Xô, xô Satanás que, com as suas confusões, está matando a virtude da racionalidade.
- a torcida conrinthiana não é, na essência, diferente das outras, mas tem a fama de ser a mais fanática.
São Paulo, 14 de junho de 2021.
Jorge Wilson Simeira Jacob
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