sábado, 28 de março de 2020

Cenas De Faroeste.


Um cidadão, saído embriagado  do saloon, está no meio de um  tiroteio típico dos filmes de Hollywood. Zonzo, assustado, sem entender o que está acontecendo e nem para onde ir, acaba espatifando-se  no chão. Os pistoleiros  atiram, uns contra os outros, com munição que nunca acaba. Está em curso uma disputa entre os proprietários de terras pela cabeceira do rio. Em outro cenário, toda sociedade, ainda de ressaca  do porre petista, defronta-se com outro tipo de tipo de tiroteio. Está sob a disputa das próximas eleições,  em que os políticos estão usando de todo o arsenal disponível: fakenews, internet,  imprensa, conchavo...cujos efeitos são ampliados pelo clima de medo com a  atual  crise. Neste  cenário, propicio ao show, vai ganhar mais votos quem melhor pontaria tiver. A população, entorpecida pela ameaça à sua sobrevivência e a dos seus, cai no chão da perplexidade com a sensação de estar vivendo o fim do mundo

O mundo conheceu, com respeito à crise viral, duas abordagens estratégicas: a de Taiwan, que mostra ( ver nota no rodapé ) que uma democracia tem instrumentos para debelar a crise; e a da China, que usou de poderes autoritários  para,  primeiro, esconder a epidemia e depois impor  restrições draconianas de confinamento e locomoção das pessoas. O Brasil seguiu o exemplo Chinês, primeiro negando a epidemia e depois, para recuperação do tempo perdido, declarar um estado de calamidade pública. Como a China, deveremos debelar o mal, mas os  custos sociais e econômicos não serão desprezíveis, tanto que um afrouxamento seletivo ( confinamento vertical ) está em discussão.

O  momento é  excepcional e , como tal,  exige tratamento no mesmo nível. A escolha, boa ou má, foi feita, agora só nos resta tirar o melhor dela. E como sói acontecer, um intervencionismo sempre pede outro na sequência . No caso, ações agressivas para manter a economia funcionando e a confiança restabelecida, que deveriam incluir  medidas   de soltar as amarras burocráticas  que desistimulam  as empresas a investir. Um choque de liberdade econômica, que não sai do discurso para a prática, seria um poderoso incentivo ao investimento para criar renda e emprego. E isto só depende de vontade política. É eloquente, como exemplo,  mencionar a  existência de  um contencioso fiscal de quarto trilhões de reais, cujos efeitos são perversos, pois  negam  o CND - cadastro negativo de dívida , necessário para operar,  que atesta não ter a empresa  pendência fiscal, mesmo estando  sob-júdice,  em ações jurídicas na grande maioria provocadas  pela confusão tributária do país

O tiroteio permeou a sociedade. Há um clima de belicosidade no ar. Um partidarismo  maniqueísta prevalece nas trocas de opiniões. As ideias não  são avaliadas de per si, independentes dos formuladores. As críticas, as sugestões e os questionamentos estão sendo  tratados como traição aos ideais do grupo, não  como desejo de participação. A idolatria de  pessoas  é sempre uma aposta certa de  decepção! Os políticos, com raríssimas exceções, nunca estão identificados com os  nossos interesses, eles só têm em vista as próximas   eleições e nós as nossas  aflições. Neste cenário, nós  estamos no chão assustados, e eles serenos  trocando infindáveis  tiros  como em   uma das  clássicas cenas de faroeste.


As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
27 de março de 2020.

Nota - carta publicada na The ECONOMIST, secção Letters de 28. 03. 2020

Taiwan’s response to covid-19 
Countries are indeed struggling to cope with covid-19 (“The politics of pandemics”, March 14th). But China’s approach is not the only way to suppress its spread. Taiwan has relatively few cases of the disease. Learning harsh lessons from the sars crisis in 2003, the government of Taiwan acted swiftly and established a central command centre in order to respond to the outbreak. Taiwan’s health minister held press conferences almost every day to provide updates and information. Tests on travellers from Wuhan, the Chinese city where the outbreak started, began in December, one month ahead of China. Technology using big-data analysis was applied for intensive health monitoring.
Despite being excluded from participating in the World Health Organisation because of pressure from China, Taiwan sent an early warning to the international health body about the risk of transmission of the coronavirus between humans at the end of December. However, the warning was not shared with other countries by the who because of its relationship with China. That error ultimately delayed the global response to the pandemic. The politics of pandemics, which exists inside the who as well as between states, should be unacceptable to any country that cares about public health.
The Chinese propaganda machine is trying to convince the world that its draconian response to the coronavirus is the only way to combat its spread; other countries are following its lead. Taiwan proves that democracies can successfully fight the virus without an authoritarian response. Given the nature of China’s autocratic system, Taiwan should serve as a better democratic model for managing pandemics.
DAVID LIN
Taipei Representative Office in the United Kingdom

London

quarta-feira, 25 de março de 2020


Até Onde? Até Quando?


As tropas estavam enfrentando violentas batalhas na frente de combate. A guerra já estava no seu quinto ano. Os soldados estavam  exaustos física e mentalmente. Nestes anos só tinham experimentado o lado amargo da vida. Jovens, como eram,  só viam, dia a  dia, a perda de companheiros e, com isto, da esperança. O único sonho que acalentavam era a chegada do dia de voltar para casa - inteiros, se possível. Um dos soldado tinha uma missão diferente. Ele era o motorista do comandante-chefe das forças armadas. Apanhava, logo cedo, o general para transportá-lo aos diversos pontos do campo de batalha. Retornava ao rancho, geralmente, ao entardecer. A sua chegada era ansiosamente aguardada pelos soldados. Todos o abordavam com a pergunta: Pedro, o general falou quando a guerra vai acabar? Quando iremos para casa? Dia após dia a resposta era a mesma: não, não disse nada. Após muito tempo, sem perda das esperanças, insistiram na pergunta: Pedro ele falou alguma coisa, hoje? Nesse dia Pedro suspirou fundo, ficou pensativo, mostrando preocupação antes de responder. Sim, hoje finalmente ele falou...disse Pedro. Todos arregalaram  os olhos, seguraram a respiração com receio da notícia. Finalmente um deles, o mais ansioso, pediu: Pedro, fale o que ele disse! Com ar desolado, Pedro diz: estávamos assistindo os bombardeios à distância, em silêncio, ele olha no fundo dos meus olhos e pergunta: Pedro, quando será que está guerra vai acabar?

A atual pandemia mal começou, segundo os entendidos. Estamos segregados sem previsão de retorno à vida normal. Ainda que poupados da moléstia, estamos sofrendo os males do isolamento (somos prisioneiros inocentes) . No tédio da solidão, cultivamos nossos hobbies e, no descanso deles, na prospecção do futuro. À ameaça do coronavírus , nos assusta também o possível  colapso da economia. Os fantasmas que habitam os porões da nossa mente são assustadores. Os exemplos lembrados, de situações comparáveis, são os das guerras, que trouxeram o desemprego, desabastecimento, falência dos serviços públicos e desagregação  social.  Diante  destas visões, duas preocupações são constantes : até onde? até quando? Respostas difíceis estando frente ao desconhecido e tendo em conta nos faltar uma liderança a inspirar confiança no futuro e assegurar estarmos no caminho certo. Acrescidas  pelo fato de que nas guerras, as  nações  caminham  unidas  e o inimigo é comum. Nesta, que vivenciamos, corre paralelamente  uma revolução. As nossas lideranças  estão digladiando-se. A disputa eleitoral está em plena vigência sobrepondo-se ao interesse da sociedade, não deixando espaço para as necessárias reformas do estado.

Não temos, como o motorista Pedro, um general de quem esperar  uma perspectiva dos acontecimentos, nem que seja para mostrar a sua perplexidade. Estamos sós , debaixo do intenso bombardeio de fake news,  que não ajudam a vislumbrar respostas às nossas ansiedades. Sem horizonte, as especulações vão do mínimo ao máximo. Como o medo exponencia  os perigos, estamos  considerando que só ficaremos livres do inimigo covid-19 quando a grande maioria tiver sido inoculada, o que significa ondas de redução e da retomada da epidemia e do confinamento por longo  período. Neste tempo  as atividades econômicas sofrerão recuos significativos em consequência do aumento do desemprego e perdas nos  períodos de afastamento do trabalho. Com este  cenário,  nada promissor, chegaremos às eleições de 2022 fragilizados: a economia deprimida e as lideranças desprestigiadas. O ambiente será propício para o retorno dos demagogos que arrebentaram o país. Se antes, não cairmos no estado de anomia , no caos, que abrirá espaço para um governo forte. 


As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
25 de março de 2020.



sexta-feira, 20 de março de 2020

A Chegada Do Desencanto.


A vida no galinheiro corre tranquila como de costume. As frangas cuidam da alimentação e da  sedução do galo da sua preferência. As galinhas-mães estão focadas nos pintainhos a criar. O ambiente social é pacífico, ainda que  perturbado vez ou outra pela disputa de uma minhoca ou guloseima. Um observador externo só pode concluir que a natureza galinácea é pacífica, solidária e relativamente igualitária. Crença  abalada quando uma delas perde sangue em um ferimento. Aí a verdadeira índole do galinheiro aflora,  com violência feroz, todas ao mesmo tempo, avançam disputando  bicar o  sangramento

Como um grande galinheiro, a nossa vida social também corre pacificamente. Cada um de nós cuida do seu pedaço - alimentação, abrigo, diversão, vaidades, poder...para si e para os familiares. Se as condições foram muito favoráveis, há generosidade para a família ampliada, até para os mais necessitados. A convivência é cordial, mas, se um membro do grupo social fraqueja, os desafetos, os indiferentes e os maldosos  irão bicar as vítimas com as suas críticas, fofocas e segregação para atender a algum desejo não explicitado. Somos na verdade um grande galinheiro! Não só o maior deles, mas o pior se considerarmos o mundo da política, que inclui não só os eleitos mas também nós os eleitores.

Ilustrativa desse comportamento social frente a um ato de grandeza moral, mas  entendida como uma fraqueza, é a história de Amador Bueno ( 1641 ) - o homem que não quiz ser Rei de São Paulo, evitando com o seu desprendimento que tornássemos  uma colônia espanhola. Considerado um cidadão exemplar, gozando de posição sócio-econômica privilegiada, foi procurado em sua casa por uma   multidão para aclamá-lo.Diante da sua recusa, por lealdade à coroa portuguesa, a  turba contrariada se  desencanta e, ao extravasar a frustração tentam  linchá-lo. Foi obrigado  a refugiar-se em um convento  para salvar a própria vida. O  humor das massas é instável - quando encantado, endeusa, desencantado , apedreja. Estas mudanças de ânimo das massas tem  exemplos recentes em líderes aclamados como heróis amados, que foram  transformados em bandidos odiados e indesejáveis. Collor, Dilma e Lulla  foram execrados tão logo o carisma foi quebrado. Como  as galinhas, que quando  perdem a integridade são agredidas, os ídolos quando perdem o encanto são atacados pelos mesmos que, antes embevecidos,   soltaram rojões, e que agora  começam a bater panelas para anunciar a chegada do desencanto.

As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
20 de março de 2020.


quinta-feira, 19 de março de 2020

Saúde, Coragem E Sorte.



A única coisa da qual devemos ter medo é do próprio medo.



Só os loucos desconhecem  o medo. Ele é uma defesa natural importante  para preservação da vida. Os insanos correm riscos desmedidos. Não há, portanto, motivo para sentir-se diminuído com este sentimento. Se o medo é natural, não o é o pânico. O pânico é irracional! Deixar-se dominar pelas ameaças  é aumentar o risco à  própria sobrevivência  e/ou aos  nossos projetos. Racional é ter consciência de que dependemos de três  condições para enfrentar  com chance de sucesso as batalhas da vida: a saúde, a coragem e a sorte. Manter-se saudável física e mentalmente e com determinação de enfrentar os desafios, sem esmorecer, são dois terços da guerra ganha, o restante depende da sorte - a qual só premia os que estão na luta. 

Neste  momento crítico mundial, o coronavirus  covid-19 ameaça o nosso tripé . Ao colocar em risco a nossa saúde e as nossas finanças acaba por  afetar o nosso ânimo. Mas ficar imobilizados à espera da sorte é a receita do azar. O  desafio do momento exige  tomar ao pé da letra as  medidas preventivas ao vírus :

 - não contaminar e evitar ser contaminado; 
 - e , como pregava Roosevelt, só ter medo do próprio medo.

A epidemia viral será superada em poucos meses. Na China durou três meses - janeiro a março - afetando gravemente os idosos ou pessoas enfraquecidas por problemas de saúde. A superação do mal foi obtida com limitar ao máximo o contato físico para conter o contágio. Esta  medida foi eficaz, mas teve sérias consequências econômicas e financeiras para as empresas e indivíduos, a tal ponto  que, para  evitar o colapso da economia (  desemprego em massa, desabastecimento, falência do serviço público ),  os governos - conscientes da gravidade da situação - veem dando folga financeira às empresas e auxílio aos trabalhadores. Nos Estados Unidos, como exemplo,  cada cidadão receberá um bônus de hum mil dólares para irrigar a economia e evitar uma depressão econômica, a qual em última instância atingiria o seu próprio orçamento. Algo semelhante deverá acontecer aqui.

Em fevereiro de  1966, em face da profunda crise  econômica, o ministro Roberto Campos tomou uma série de medidas de estímulo à economia: 

  • decretou  uma moratória geral. Todos os vencimentos de dividas foram prorrogados;  
  • e uma redução de 100% dos impostos sobre o consumo, que retornavam na base de 1/4 por mês. A partir de março a vida  econômica voltou à normalidade. Foi uma época dura em que só foram premiados pela sorte os que  conservaram a saúde e a coragem. Uma lição da história para os dias de hoje.

As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob

19 de março de 2020.

terça-feira, 17 de março de 2020

Small Is Beautiful.


Psicopata é um Transtorno de Personalidade caracterizado por traços audaciosos, desinibidos e egoístas. Uma designação atribuída a um indivíduo com um padrão comportamental e/ou traço de personalidade, caracterizada em parte por um comportamento antissocial, diminuição da capacidade de empatia/remorso e baixo controle comportamental ou, por outro, pela presença de uma atitude de dominância desmedida.

Wikipédia 


Pode ser exagero afirmar categoricamente que o mundo tem sido governado dominantemente por psicopatas. Mas que dá vontade dá, tantas são as evidências. Basta olhar na história a  disputa pelo poder, quer nas democracias quer nas ditaduras, para ver que a  política é uma competição selvagem. Não é um jogo fácil para quem tem estômago fraco. Um indivíduo psicologicamente sadio tem parâmetros  éticos, morais e humanísticos a pautar as suas ações, o que o coloca em desvantagem nas disputas pelo poder. O mesmo não ocorre com psicopatas. Não tendo, como ensina a teoria, nem empatia e nem remorsos, não conhecem parâmetros para satisfazer uma ambição desmedida. Carentes de  superego, não tem escrúpulos e jogam até  última cartada, cujas apostas estão no limite dos seus egos.  Não faltam exemplos de assassinatos, traições, roubos nas trajetórias de inúmeros líderes políticos. É um vale-tudo! A amoralidade exarcebada não impede a conciliação entre inimigos, quando os interesses convergem. Aperta-se a mesma mão que antes o apunhalou; apunhala-se o  que antes o afagou! . Nada deixa magoa pessoal - a agressão à sua honra e à sua vida fazem parte do jogo. Não se passa recibo, como dizem.

Não é necessário um Freud para explicar um Bórgia, Hitler, Stálin, Fidel, Trump... sem mencionar os nossos - que não são poucos. Todos com fortes sinais de Transtorno de Personalidade. Vargas Lhosa conta no livro Peixe Fora D’Agua a sua experiência como candidato à Presidência do Peru, em que foi enganado e vencido pelo atual presidiário, o  inescrupuloso ex-presidente Fujimori. Descobrindo ele, na pratica,  que a  política é uma praia diferente,  voltou a escrever seus maravilhosos textos,  agora na sua água. De outro lado, nós, não como candidatos, mas como eleitores, não aprendemos com Lhosa a lição da história e, por isto, continuamos como peixes fora d’água votando em sedutores psicopatas. E depois ficamos frustrados quando, no governo, eles ignoram as promessas eleitoreiras para só cuidar da permanência no poder e  no culto da vaidade pessoal.

Não somos, porém,  impotentes, como cidadãos podemos mudar ( influenciar ) o curso da história, mas nem nós e nem os psicólogos o somos para  alterar a natureza humana. Como  ela é imutável, resta-nos para  adaptação  ao jogo ter  consciência do risco  na escolha de um candidato. À margem de erro é grande. Eles só se mostram de corpo inteiro quando assumem  o poder. Assim, o bom senso encaminha-nos, como defesa,  a não apostar em pessoas, mas nas instituições. Limitar o poder do governo - eleições livres para poder eliminar os indesejáveis e o sistema de checks and balances ( executivo, legislativo e judiciário ), a par de um governo mínimo,  é priorizar as instituições e não as pessoas. Ao poder  executivo, que é onde os psicopatas podem causar maior estrago, pela concentração de poder e influência, deve-se  delegar  o mínimo necessário para governar. O nosso voto tem muito valor para darmos  poder para um indivíduo ( talvez um psicótico ) fazer o mal. Mas como o governo é um mal necessário, quanto menor, melhor - por isto o governo deve ser Small  para ser  Beautiful.




As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob

17 de março de 2020.

terça-feira, 10 de março de 2020


Cisne Negro.

Como Evitar O Vírus Sem Perder Os Amigos


  • Nada de contato físico , apertos de mãos, abraços  e beijos, coloque a mão sobre o coração e basta - antes que o vírus nos separe!

Jorge






Cisne Negro.

Um  Cisne Negro é  um evento raro, tem um grande impacto na sociedade e é explicável, porém impossível de ser previsto apenas analisando o passado. Não era possível prever que o Cisne Negro existia antes de ele ter sido visto pela primeira vez, quando da descoberta da Austrália.
Eventos raros como o primeiro Cisne Negro ocorrem com mais frequência do que imaginamos, e nossas mentes são programadas para lidar apenas com o que já vimos antes.

Nascim Nicholas Taleb


Todos os que viveram muitos anos e vivenciaram as surpresas da vida, ainda que não tivessem a facilidade de batizar o fenômeno como o filósofo Taleb, no seu livro do mesmo nome, descobriram por conta própria a existência de  Cisnes Negros. Muitas vezes, quando tudo parecia calmo e sereno, um evento inesperado virou tudo de cabeça pra baixo, colocando tudo a perder,  dando-nos conta do fator sorte nas nossas decisões. Se alguém ainda não tenha tido esta experiência, está aí o coronavírus para mostrar que, como um tsunami,  um evento inesperado pode mudar planos de vida dos países, das empresas e de indivíduos. Na China, onde tudo começou, as medidas preventivas à moléstia reduziram a produção, o consumo e a liberdade de locomoção, que, pela sua importância econômica, desencadeou reações em todo o mundo: redução do consumo de petróleo, guerra de preços entre Arábia Saudita  e Rússia, crise nas empresas de transporte aéreo, desabastecimento, hotéis...e finalmente o pânico nas Bolsas de Valores.

Os Cisnes Negros não são ameaças só a idosos, mas também às  organizações enfraquecidas - empresas e países. Um organismo fragilizado ou sobrevivendo acima das sua possibilidades está mais vulnerável para  enfrentar uma crise, se um fato político ou econômico inesperado funcionar como um estopim. Estes fatos  surgem sempre quando menos se espera. O governo Temer praticamente acabou  depois da divulgação da gravação feita no encontro com o dono da Friboi; a quebra da Lehman Brothers desencadeou a crise de 2008... Entre muitos, estes foram acidentes de percurso que mudaram o curso da história.  Geralmente na ante-sala das crises há uma postura wishful thinking, não se quer ver as ameaças e racionaliza-se no famoso - desta vez é diferente!  Realmente, no atual episódio , o  diferente foi punir os poupadores com juros negativos, conseguidos de forma arbitrária,  para cobrir, sem ônus, o desequilíbrio orçamentário de governos perdulários e distorcendo a alocação econômica dos recursos. O que não é diferente é a reação do mercado, que em busca de legítima defesa do patrimônio, adota soluções alternativas, correndo para a especulação financeira e imobiliária - o que torna os investidores mais susceptíveis a sustos. As violações ao funcionamento natural dos mercados vão bem até que um Cisne Negro se apresente. Aí ao  tsunami se segue o pânico, como estamos presenciando.

O coronavírus será eliminado em alguns meses, mas o efeito deste  Cisne Negro permanecerá  como marco de alteração do  curso da economia mundial. Ou  desta vez será diferente?! Um coisa é certa - este  Cisne  Negro não  passará em branco. 


As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob

10 de março de 2020.

quarta-feira, 4 de março de 2020


A Próxima Vítima.



Tentar transferir a responsabilidade de um fato para outrem são cenas comuns no dia a dia das nossas vidas. Nada mais humano do que esquivar-se dos  fracassos ou das suas ameaças. Poucos suportam uma realidade negativa. Não só as crianças chutam a cadeira na qual tropeçam, adultos quebram raquetes ao errar uma jogada no tênis... As desculpas e os bodes expiatórios  sao  defesas psicológicas para não assumir as consequências dos   erros , para fugir de uma demonstração da própria  incompetência ou candidamente sair da cena . Este governo não está sendo exceção à regra.

O Presidente, mestre na arte da encenação , não suportando por formação autoritária ou falta de capacidade, furta-se a   liderar  todo o sistema de governo, mas, pelo contrário,  hostiliza o Congresso e atribui aos políticos  o pífio desempenho da sua administração - devida e indevidamente - dizendo como os repórteres da televisão :  eu fiz a minha parte, agora é com vocês!

Este procedimento têm em comum  com o da criança que chuta a cadeira e o tenista que quebra a raquete - a  transferência de uma responsabilidade. De incomum entre eles é que este  o faz por malícia para camuflar o seu jogo político. O  repúdio à má política de passado recente, não autoriza não praticar a boa política - a formação de uma base de apoio, o compartilhar o poder para viabilizar os programas de interesse nacional - a qual pode evitar a desfuncionalidade do exercício democrático.

 Myra Y Lopes, ensinava no seu livro Os Quatro Gigantes Da Alma que há três maneiras de  obter-se resultados - a imposição, a sedução e o convencimento. Cada uma delas tem a sua indicação e oportunidade. Destas três ações, neste período de governo, só temos assistido a aplicação de uma delas - a imposição. Como o Poder não é absolutista, pois dividido com o Legislativo e o Judiciário, o resultado tem sido frustrante para o Presidente e para todos nós, torcedores do seu governo.

O regime democrático exige  um líder que assuma como sua a  responsabilidade  de agregar  todos em torno do  objetivo comum de  governar o país no interesse da nação. A democracia é o regime da arte da negociação, da convivência, do diálogo e da busca do consenso. O absolutismo  não negocia, impõe. Neste impasse em que estamos, a derradeira esperança é que o Presidente, tire lições dos resultados e use do seu poder de persuasão e sugestão para viabilizar o governo evitando que  a democracia possa ser a próxima vítima.


As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
03 de março de 2020.