Envelhecer sem perder a juventude.

Sabemos que a juventude, apesar de muito desejada, não é eterna. A descoberta da Fonte da Eterna Juventude não passou de uma lenda. Permanece, assim, o desafio da busca da  juventude. Desafio de não deixar que a decadência física contamine a mental ou vice-versa . A medicina, responsável pelas nossas condições de vida  e longevidade, sabe  mais. Ela testemunha  que envelhecemos com maior ou menor velocidade e de forma desigual. Muitos vêm envelhecer primeiro um órgão do corpo e depois outro.  A uns  branqueiam os cabelos enquanto a  outros enruga-se  a pele, na mesma idade. O envelhecer não é um processo homogêneo. Todos temos órgãos desigualmente resistentes. Daí a crença de não existir um único caso de envelhecimento  simultâneo. No envelhecer  tudo é aleatório!

A  velhice é  inegável, é um fato visível  a olho nu. Para constatar a nossa perda de vitalidade  basta olhar em um espelho,  subir uma longa escada, observar  os lapsos de memória e a lentidão do raciocínio. Estas são as perdas físicas. Alem destas, temos também as  perdas do componente espiritual ( não no sentido religioso, mas de processos mentais ), que também envelhecem, ainda que nem sempre acompanhando o  do corpo. Corpo e espírito têm cada um o seu curso próprio de envelhecimento, independentes muitas vezes.

A convivência desses  dois componentes da vida  criam uma nova relação de forças, com inúmeros desdobramentos. Há pessoas fisicamente jovens com o espírito envelhecido ou o contrário. São os jovens idosos e os   idosos jovens. Raros são os casos daqueles que mantêm um envelhecimento harmônico, equilibrado. Raridade é um físico fraco em uma cabeça forte. Mas existe. A juventude é um estado de espírito.

Mente sã em corpo são, dizia o poeta romano Juvenal, referindo-se à influência do físico sobre a mente. Certamente ele não ignorava o inverso: corpo sadio em mente sã. Se o físico afeta a mente, esta também afeta o físico. As nossas reações emocionais em relação à vida somatizam-se refletindo em  nosso corpo. Uma mente  positiva  faz muita diferença. O corpo sofre as consequências de um espírito negativo, que só reclama de tudo e de todos. O espírito inquieto à procura das aventuras de : conhecer o mundo, novas ideias, sobretudo com a ambição de aprender e de ensinar, tem efeitos positivos consideráveis . Uma postura de elevada autoconfiança, não favorece a corcunda e o andar arrastando os pés. Aqueles em que uma batalha é considerada como a guerra perdida envelhecem  antes do tempo e afastam os conhecidos.

Manter-se mentalmente ativo é a descoberta da fonte da eterna juventude. A mente acomoda-se com a mesma facilidade que o físico. Um corpo poupado daquilo  que se apresenta como difícil, vai ver este desafio se tornar impossível. Evitar a dificuldade de amarrar os sapatos, colher um objeto do chão, dominar a nova tecnologia é o  difícil que se tornará o impossível no futuro. O órgão faz a função, física e mentalmente. Por isto a aposentadoria, com a redução do esforço físico e mental, mais  o isolamento das relações sociais é um perigoso inimigo do bom envelhecer. Fugir de novos desafios ou daqueles em que não se transita com facilidade é condenar-se à perda da memória, da flexibilidade e agilidade mental. Da mesma forma que a falta de exercício enfraquece as pernas, o pouco uso da mente a embrutece. O estar indolente nos leva a perda das nossas habilidades. A degeneração do espírito dá como primeiro sinal a perda da curiosidade. Quando um indivíduo perde o interesse em saber, conhecer, aprender, adaptar-se ao novo,  está perdendo o élan de viver. É o começo do fim! A vida é uma caminhada que termina quando 

se para, quando  se perde o entusiasmo de viver.

Se a vida é uma dádiva da natureza,  o envelhecer é uma   arte. É da nossa mente  o desafio de envelhecer sem perder a juventude.

Publicado no Jornal Opcao

Coluna Contradição de 27. 0322

Jorge Wilson Simeira Jacob