domingo, 3 de abril de 2022

 A única estatal boa.


As empresas  sob o comando governamental, as estatizadas, são  anomalias  no contexto político e econômico. Violentam o jogo do livre mercado. Corrompem o sistema político.Têm, comparáveis à Lua, duas faces: uma visível e uma  oculta. A diferença está em que a Lua é neutra. Não escamoteia e nem esconde nada. Já nas empresas estatais há muitos fatos que são camuflados para  passarem despercebidos . As estatais  são verdadeiras “ caixas pretas “. Estando,  em primeiro lugar, a serviço dos   interesses da própria burocracia e da classe política dominante. Têm os olhos voltados para o umbigo. A parte comprometedora das suas operações não são transparentes aos olhos do grande público. 



Há, como na Lua,  um lado oculto nas empresas estatais. Pouco é divulgado dos gastos abusivos com o seu quadro de colaboradores, que além de salários desproporcionais ao mercado, têm  planos  assistenciais escandalosos. Planos que dão cobertura generosa a parentes dos parentes … -  uma família ampliada. Ninguém controla os desvarios das benesses dos seus funcionários como não controlam os seus negócios estapafúrdios. Pasadena e as bandalheiras descobertas da Operação Lava Jato, na Petrobras e no BNDES, são pontas do grande iceberg. As falcatruas descobertas são  exceções de uma transparência que deveria ser a regra e não caso de polícia.


Os desmandos da Petrobras só não a levou à falência por ser um monopólio, que tem o suporte do Tesouro. Como monopólio transferiu aos consumidores, através de preços sem competição, os prejuízos com a  monumental  roubalheira . Só a ponta desse iceberg, que ninguém sabe o real tamanho, é razão mais do que suficiente para  privatizar a Petrobras. Roberto Campos, com muita clarividência, diferenciava as empresas privadas e as públicas. Segundo ele: “ as empresas privadas são as controladas pelo governo, as públicas são aquelas  que ninguém controla.”


Acresce a essas razões o fato de que os preços da Petrobras não são determinados pelo livre mercado. Seguem uma regra monopolista, rígida e imoral. Em  nenhuma empresa, em mercado competitivo, os preços são determinados pelos custos e mais o lucro. Nem são atrelados ao dólar como faz a Petrobras. Nas empresas privadas estes fatores são referências, mas é o mercado que determina os preços. Os lucros só são legítimos se retratam o diferencial da produtividade de uma  empresa em comparação aos seus concorrentes. Se não, é eticamente imoral, quer seja empresa pública ou privada.


Não é o que acontece nestas pragas. Os lucros do BNDES resultam dos recursos subsidiados do  Tesouro e da Petrobras, de um indesejável monopólio, que lhes  permite absorver  as suas ineficiências. Resultados que não retratam uma eficácia operacional. Se os  preços dos insumos importados sobem ou descem nos mercados internacionais; se o dólar oscila; ou se há desequilíbrio na oferta e procura , em mercado competitivo os ajustes podem ocorrer com reduções de custos,  melhor produtividade ou como investimento para ganho de market share. Por que a Petrobras transfere sempre nos preços para o consumidor as suas ineficiências ? É o monopólio que dá à empresa  esta condição privilegiada.


É imoral sim o sistema de formação de preços dos combustíveis no Brasil. Como mal, esta prática transcende a todas as mazelas comentadas: sinecuras, corrupção,  negócios tipo Pasadena… Os  inconvenientes da existência de uma empresa com poder de dar o  ritmo dos  preços básicos  na economia nacional deveria merecer melhor atenção do público em geral.


 A alternativa do governo interferir politicamente nos preços, tentação que está sempre no ar, não é a solução. Será nada mais do que mais uma distorção na ordem econômica. A empresa tem que vivenciar a sua realidade para  refletir a sua real eficácia nos demonstrativos contábeis e ter incentivo para melhoria da produtividade eliminando os desperdícios ou competindo  para ganhar a preferência do consumidor. A solução está na privatização!



“A única  estatal boa  é a que não existe”, disse J.R.Guzzo, no Estadao de 20. 03. 22


Jorge Wilson Simeira Jacob 

Publicado no Jornal Opção,

Coluna Contradição, 02.04.22


Nenhum comentário:

Postar um comentário